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Influência das características da água no desempenho das

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2 PREVISÃO DAS CAPACIDADES DAS ETA EM ESTUDO

5.2.2 Influência das características da água no desempenho das

No tratamento de água para consumo são múltiplos e inconstantes os fatores que podem afetar as eficiências dos tratamentos físico-químicos e/ou biológicos (Rosa et al., 2009). Os AdV não fogem a essa regra e, como referido no sub-capítulo anterior, estima-se que as características da água possuam um papel importante na remoção integrada deste contaminante pelas diversas OPU do tratamento convencional empregues em ETA.

No contexto da ação da pré-oxidação e da desinfeção final na remoção de AdV, a NOM é um dos fatores que mais condiciona o desempenho dos dois processos na

medida em que consome também oxidante, tendo assim por conseguinte influência direta sobre as remoções do contaminante pelas duas etapas. Essa constatação foi, como referido anteriormente, comprovada por Albinana-Gimenez et al. (2009) quando observou que a desinfeção com ozono numa água clarificada teve êxito na inativação viral do contaminante, enquanto que á cabeça da mesma sequência de tratamento a etapa de pré-oxidação com cloro não teve qualquer efeito nesse sentido.

Pese embora a água bruta tratada pelas ETA em estudo possuírem baixas concentrações de TOC no período de recolha dos dados (como referido em 5.1), é possível que até mesmo esses níveis de NOM tenham alguma influência no tratamento de AdV, dado que, como refere Rosa et al. (2009), “a NOM apresenta-se sempre numa

gama de concentrações muito superior à dos microcontaminantes presentes na água (pelo menos mais do que três ordens de grandeza acima dos contaminantes naturais ou sintéticos)”.

Assim, a mesma lógica pode ser utilizada no contexto da desinfeção final, mesmo tendo em conta que nesse ponto a água já será menos rica em NOM, relativamente à etapa de pré-oxidação, por já ter sido clarificada. Essa situação ocorre de facto nas ETA da AdA em estudo, tal como indicam as Tabela 39 e 40:

Tabela 39– Características da água clarificada da ETA de Tavira

Parâmetro de Qualidade Unidades Média Observada (IC 95%) Intervalo de Valores DOC mg/l 1,33 ± 0,40 1,16 – 1,48 TOC mg/l 1,31 ± 0,47 1,11 – 1,49 pH - 6,9 ± 0,2 6,8 – 7,2 Turvação NTU 0,11 ± 0,02 0,10 – 0,12 UV254 m-1 1,15 ± 0,44 0,96 – 1,31 SUVA l/mg m 0,87 ± 0,08 0,83 – 0,89

Tabela 40 – Características da água clarificada da ETA da Alcantarilha

Parâmetro de Qualidade Unidades Média Observada (IC 95%) Intervalo de Valores DOC mg/l 1,24 ± 0,19 1,08 – 1,39 TOC mg/l 1,23 ± 0,22 1,05 – 1,45 pH - 7,3 ± 0,1 7,2 – 7,4 Turvação NTU 0,14 ± 0,03 0,06 – 0,22 UV254 m-1 0,94 ± 0,14 0,83 – 1,12 SUVA l/mg m 0,77 ± 0,14 0,60 – 0,85

Deste modo, a NOM pode também afetar o desempenho da desinfeção final na remoção de AdV nas ETA em estudo, mesmo estando os níveis de TOC mais baixos do que na água bruta (Tabelas 29 e 30). Assim sendo, para uma eficiente remoção do contaminante em estudo, seriam necessárias aplicar doses de desinfetante que permitissem, em simultâneo, inativar AdV e outros microcontaminantes, tendo em conta a presença de NOM nessa água. Contudo, há que ter em conta que normalmente as doses usadas na etapa de desinfeção final são também minimizadas de modo a prevenir a produção excessiva de sub-produtos, cumprindo de qualquer forma o estipulado em legislação.

Importa assim para a remoção eficiente de AdV na água para consumo garantir uma remoção eficiente de NOM previamente à desinfeção final, mesmo tendo em conta que a NOM existe sempre na água (embora em maior ou menor concentração e com diferentes naturezas), e que não pode ser totalmente removida por uma ETA (Rosa et al. 2009).

Por outro lado, nas suas experiências de remoção de AdV por coagulação, Abbaszadegan et al. (2007) observaram globalmente maiores remoções do contaminante para amostras de água com altos níveis de DOC e turvação baixa, em comparação com uma água com DOC ligeiramente mais baixo e turvação muito mais alta (Tabela 10), o que indica que altos níveis de turvação podem ser um fator que dificulta a remoção de AdV por coagulação, até mais do que NOM e pH.

A remoção da turvação é um fator que deve também ser tido em conta para uma remoção integrada de AdV devido ao cariz protetor conferido aos organismos virais por essas partículas. No caso das ETA da AdA em estudo, a turvação da água bruta nos períodos de recolha de amostras é baixa (< 5 NTU), pelo que não é de expectável que esse parâmetro possa causar dificuldades maiores na remoção de AdV na coagulação, que eventualmente causaria se esses níveis fossem mais altos, tal como se verifica em Abbaszadegen et al. (2007).

Já em relação ao efeito da turvação da água em tratamentos posteriores à coagulação, LeChevallier & Au (2004) admite que “a cloragem inactiva efetivamente

vírus se a turvação da água for menor ou igual a 1 NTU, sendo necessários para esse efeito, pelo menos um residual de 1 mg/l por 30 minutos, e um pH não superior a 8,0”.

AdV, pois o tratamento das ETA em estudo é bastante eficaz a remover turvação para níveis muito baixos.

Também o pH e a temperatura são conhecidos por desempenharem um papel importante principalmente para os processos de inativação viral na desinfeção (EPA, 2001). Nas experiências laboratoriais de inativação viral de AdV, quer por ozono (Tabela 12), quer por cloro (Tabelas 17, 18 e 19), foram alternadas condições de temperatura e pH. Em relação às inativações por ozono, as condições usadas foram fixadas em pH 7 e 5 ºC, o que em relação às condições das ETA da AdA constitui uma enorme diferença em relação à temperatura (entre 15ºC e 25ºC). O mesmo se pode aferir sobre as experiências de inativação por cloragem, que compreenderam valores de pH entre 6, 7 e 8, e temperaturas de 5 ºC e 15ºC.

Relativamente à temperatura, ensaios com temperaturas baixas (5ºC) requereram baixos CT de ozono e cloro para atingir remoções virais de AdV de entre 2 a 4 log, observando-se assim que a atuação dos desinfetantes foi mais eficiente para temperaturas mais baixas. Na mesma lógica, nas inativações com cloro realizadas a 15ºC verificou-se a necessidade de CT muito maiores para atingir as remoções estabelecidas, em comparação com inativações observadas a 5ºC.

No cômputo geral, o tratamento da água realizado pelas ETA da AdA opera em águas com temperaturas mais altas em relação àquelas referenciadas, pelo que terá teoricamente dificuldade em atingir remoções significativas de AdV com baixos CT, tanto de ozono como de cloro.

Já em relação ao pH, tendo em conta os padrões ilustrados nas Tabelas 17, 18 e 19 relativas à inativação de AdV com cloro, revelam que remoções de AdV foram mais eficientes para valores de pH mais baixos, o que se encontra na lógica de que “a

desinfeção com cloro é mais eficiente na inativação de vírus a pH mais baixo”

(AWWA, 1999).

Tendo em conta que as ETA em estudo operam essencialmente a pH neutro, tal implica que a eficiência da pré-oxidação e desinfeção final no que concerne ao pH poderá eventualmente ser melhorada se os processos foram conduzidos a pH mais ácido, por estes aparentemente favorecerem a ação dos desinfetantes na remoção viral. Contudo, reconhece-se que não é de todo viável as ETA da AdA operarem com águas de tal cariz de pH.