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Para alguns autores, esta perspectiva de acusação social que recai sobre os actos praticados pelos jovens deve-se, simplesmente, ao modo como os adultos observam o relacionamento grupal existente neste período de desenvolvimento e maturação juvenil.

Constata-se frequentemente que a culpabilização parental de determinados

comportamentos desviantes causados por jovens, incide maioritariamente na “pressão dos colegas” (Sprinthall & Collins, 2008, p. 357), ou seja, entende-se com isto que a crescente socialização do jovem com os seus colegas e amigos resulta numa diminuição da influência da família sobre o adolescente, acabando, com o passar do tempo, por surgir o conflito da autonomia vs. dependência.

Não é só na adolescência que se presencia a influência que um determinado grupo exerce a um indivíduo. Enquanto adultos, continuamos a agir, falar e vestir de acordo com determinados códigos sociais que nos possibilitem uma constante integração e normatividade social. Desejamos ser aceites e ambicionamos agradar a todos aqueles que nos rodeiam, temendo qualquer possibilidade de sermos postos de parte, pois é inquestionável que, apesar de desejarmos ser independentes e ter uma personalidade autónoma que não seja contaminada por imposições sociais, a verdade é que a determinada altura nos deparamos com questões que nos levam a pensar de que forma podemos agradar a terceiros. Faz parte da natureza humana, seja qual for o ambiente em que se encontra integrado, moldar-se ao meio em que está inserido. Esta condição verifica-se particularmente nas mudanças a que o Homem está sujeito ao longo da sua vida, seja por mudar de residência, de escola, de emprego, etc… Quando se assiste às migrações regionais (principalmente no caso português) em que algumas pessoas abandonam o seu meio rural e mudam para um grande centro urbano, verifica-se que apesar das suas raízes, do seu crescimento e educação, estas mesmas pessoas apagam parte da sua anterior identidade e criam uma nova como forma de se adaptarem socialmente pois a sua sobrevivência dependerá disso. Independentemente do local para onde vá, espera-se que o ser humano consiga camuflar-se, tal como o camaleão, ao ambiente que o rodeia de forma a integrar-se e sobreviver dentro da nova atmosfera social que o recebeu.

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No que respeita ao adolescente, o grupo de colegas, juntamente com a família e a escola, representam as principais fontes de formação que o jovem tem ao seu dispor para desenvolver características pessoais e de que necessitará na vida adulta (Sprinthall & Collins, 2008). Talvez este seja o motivo pelo qual Marques (2001) afirma o “receio” que os adultos têm relativamente aos grupos juvenis, pois só o facto de se agruparem acaba por resultar numa perda de autoridade e influência dos adultos face aos seus educandos. Além do receio da superior influência que um grupo tem sobre o jovem, constata-se também que este passa mais tempo com colegas da sua idade do que propriamente com a sua família (Sprinthall & Collins, 2008), situação que difere da realidade que o jovem vivia enquanto criança, quando passava mais tempo com os adultos do que com outras crianças da sua idade. Esta situação de alargamento do mundo social é o que preparará o jovem para os desafios futuros de uma sociedade que lhe exige uma constante adaptação e modelação ao sistema em que se encontra, sendo obrigado a alargar as relações intra-pessoais como forma “sobrevivência”.

Nesta luta pela aceitação social, o jovem encarará em alguns momentos da sua vida a face da rejeição, obrigando-o a reconstruir a sua personalidade adaptando-a novamente aos objectivos em causa, integração social. Tal como é salientado por Sprinthall e Collins (2008), não é possível caracterizar objectivamente de que forma o jovem pode ser aceite ou rejeitado aquando da sua intenção de se integrar e ser aceite no seio de um grupo, sabe-se apenas que a aceitação social envolve, na maior parte das situações, a atracção física e certos padrões de comportamento que demonstrem amizade, sociabilidade e competência. Apesar de os mesmos autores referirem que as atitudes desviantes e os comportamentos negativos conduzem habitualmente a situações de rejeição, verifica-se que em determinados casos o jovem que desempenha um papel de “bad boy” e rufia pode conseguir ser respeitado e admirado por aqueles que o rodeiam, levando a que o mesmo não precise de se integrar num grupo mas aqueles que o admiram façam tudo para estar ao seu lado e conquistar o mesmo estatuto que ele, isto é, admiração e respeito social. O que não é visível, porém, é que apesar de tudo, este jovem rebelde e problemático que é alvo de admiração, também ele presta provas diariamente, e adapta o seu comportamento e as suas atitudes de forma a continuar a ser admirado, respeitado e receado pelo universo juvenil. Contudo, para Sprinthall e Collins (2008) ser aceite socialmente não significa o mesmo que ser “popular”, pois neste último caso a popularidade refere-se à forma como alguém é activamente procurado pelos outros surgindo assim um sentimento de admiração que poderá levar à modelagem da personalidade, ou seja, aqueles que admiram alguém

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moldarem a sua personalidade para serem como o seu “ídolo” e poderem vir, também eles, a ser admirados. Já a aceitação social diz respeito à circunstância de possuir características que são consistentes com as dos membros de determinado grupo (Sprinthall & Collins, 2008). Nesta situação o jovem luta não para ser popular mas, simplesmente, para pertencer a um grupo. Enquanto o “popular” é seguido e imitado, o socialmente aceite apenas quer ter o seu grupo e sentir-se integrado, não deseja por isso ser seguido ou admirado mas sim sentir-se integrado. Para que esta aceitação grupal resulte, o adolescente socorre-se da assunção de papéis como ferramenta para compreender quem lhe interessa “atingir” e, desta forma, conseguir ser aceite.

Esta luta e pressão diária a que o jovem está sujeito, leva a que o mesmo sinta necessidade de fazer tudo aquilo que ache mais correcto para concretizar os seus objectivos, visualizando apenas o seu sonho e não as consequências que daí possam advir. Tal como foi referido, ao afastar-se da família tendo o objectivo de lutar por um estatuto social, o jovem tornar-se-á numa presa fácil de grupos cujo caminho os levará para o desvio e, consequentemente, a delinquência.

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