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Influência dos Níveis Socioeconómico e Cultural (NSEC) das Famílias e outras Variáveis na Participação Escolar

No documento A Relação Família-Escola (páginas 56-59)

CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3. Teorias sobre a Família

2.3.2. Influência dos Níveis Socioeconómico e Cultural (NSEC) das Famílias e outras Variáveis na Participação Escolar

Os pais, enquanto educadores, são os sujeitos que participam no processo educativo dos filhos, que põem em prática estratégias educacionais na sua interação com a criança. Estes “(…) tanto os pais como os professores são produtores de educação, são educadores, são parceiros. Todos têm competências educacionais (embora distintas)”

(Silva, 2003, p. 87). Assim, esta perspetiva nega a falta de competência educacional dos pais, que muitos professores acreditam existir, garantindo um estatuto de equidade, baseado no reconhecimento de que cada grupo possuí competências específicas que se complementam. Isto é, pais também são educadores.

Pais e professores têm de aprender a colaborar mutuamente, pois esta colaboração beneficia muito os educandos. Deixa-se assim claro, que a família é um dos mais importantes elos entre o indivíduo e a sociedade, além de ser fulcral no desenvolvimento geral da criança.

2.3.2. Influência dos Níveis Socioeconómico e Cultural (NSEC) das

(…) a escola apresenta-se como um espaço complexo e pouco convidativo, onde a sua presença é requerida, na maioria das vezes, em situações problemáticas e onde a comunicação escola-família é feita num registo negativo, associado à comunicação de problemas de comportamento e de resultados escolares negativos (Araújo, 2015, p. 101).

Os programas de colaboração/envolvimento parental são geralmente feitos para/atraem pais da classe média e isso pode levar à criação de um fosso de desigualdades sociais prejudicial às crianças provenientes de famílias de classes sociais mais baixas.

Neste sentido, Bourdieu e Passeron (1970) demonstram que a escola e o próprio sistema de ensino, são como mecanismos de manutenção dos paradigmas sociais estabelecidos pelo grupo dominante, excluindo aqueles que estão fora dos paradigmas (grupos e/ou classes baixas) e neutralizando as diferenças. Os autores utilizam o conceito de “violência simbólica”, ou seja, a imposição arbitrária do sistema simbólico da cultura dominante, assim como os interesses e as relações de poder, nos restantes membros da sociedade. Segundo os autores, na escola os alunos mais “ajustados” ao modelo cultural imposto, isto é, pertencentes às classes sociais mais altas, são os que têm mais oportunidades de inclusão social. Já os pertencentes às classes mais baixas ou que demonstrem comportamentos desviantes, acabam por ser excluídos do convívio ou marginalizados.

Para estes autores, o processo educativo é baseado na ação pedagógica, que é a representação da violência simbólica. Ou seja, a ação pedagógica é considerada o meio através do qual as escolas submetem os alunos e a sua individualidade, educando-os de acordo com os moldes pré-determinados pela cultura dominante. Todas as ações pedagógicas, nesta perspetiva, são vistas como violência simbólica. Este processo decorre através da ação de uma autoridade pedagógica, neste caso, dos professores. Assim, a escola é responsável pela reprodução social.

Também a forma como as famílias de classe mais baixa são vistas pelos docentes podem prejudicar o seu envolvimento. Davies (1989) no seu estudo realizado relativamente a atitudes de professores dos 1º e 2º ciclos do ensino básico, concluiu que os docentes não estavam muito recetivos à participação dos EE na gestão, planificação e tomadas de decisão em contexto escolar, argumentando que os EE poderiam interferir na sua profissão, não reconhecendo neles competências ou conhecimentos para participarem de tais funções. Verificou também que uma quantidade significativa de docentes, tinha e

exprimia atitudes e opiniões negativas e elitistas relativamente aos EE de baixo estatuto socioeconómico.

Além do estatuto socioeconómico e cultural, muitos professores acreditam que os pais não se interessam pelo processo educativo dos filhos, desculpabilizando-se pela falta de procura de envolvimento e pela sua não contribuição à tentativa de ultrapassar estas dificuldades. Benavente (1990), tendo em conta as suas investigações, afirma que a maioria dos professores veem o papel dos pais como meramente consultivo ou colaborativo e de apoio, nas alturas e formas em que estes assim o determinam, sendo a participação dos pais condicionada pelos interesses da escola. As famílias têm efetivamente o dever de promover nos filhos a valorização da escola e de ajudar as crianças nas suas tarefas escolares, proporcionando um ambiente adequado ao seu desenvolvimento para a realização das atividades escolares e organizando o seu quotidiano, mas nem todas as famílias têm capacidades para tal, e a escola também tem de rever os seus valores e os procedimentos com que gerem a relação. A participação dos pais no processo educativo dos filhos, decorre a partir da compreensão de que este acompanhamento faz parte dos seus papéis enquanto pais, do que sentem relativamente às suas capacidades e competências para darem o auxílio adequado ao processo de aprendizagem, e das solicitações/convites que são feitos pela escola para participarem.

Ou seja, é necessário que a escola e os professores também acompanhem o percurso escolar dos educandos considerando os seus contextos familiares.

Tendo em conta as últimas décadas, segundo Benavente (1990), os pais aparentam ter mais disponibilidade para contactos com a escola do que o contrário. A autora refere também que os docentes tendem a atribuir mais as dificuldades escolares dos alunos às suas caraterísticas individuais ou às do seu meio sociofamiliar, do que a aspetos do funcionamento da escola. Mas, de acordo com Epstein (1992), os docentes podem ajustar práticas e mudar as suas atitudes para com as famílias, uma vez que a maioria dos pais corresponde às informações e orientações necessárias para ajudarem os filhos no processo de aprendizagem escolar, desde que sejam solicitados e envolvidos/orientados no processo.

A Constituição da República Portuguesa defende no 3º ponto do Artigo 36º

“Família, casamento e filiação” que “Os cônjuges têm iguais direitos e deveres quanto à capacidade civil e política e a manutenção e educação dos filhos”. Entre os progenitores, a mãe é a figura parental mais ativa no acompanhamento das atividades escolares dos filhos. Ela preocupa-se com o desenvolvimento de condições adequadas, que satisfaçam

necessidades dos filhos, tanto pessoais como a nível académico. O pai tem a tendência a limitar o seu papel, surgindo mais em situações, tendo em conta o sucesso ou insucesso escolar, de incentivo ao estudo ou problemas comportamentais, havendo uma espécie de

“detenção do poder” por parte do progenitor masculino.

Relativamente ao papel da criança em toda a relação, esta desempenha um papel ativo central, desenvolvendo interações produtivas entre os contextos familiar e escolar, que contribuem para a melhoria do aproveitamento escolar, da auto-estima, aquisição de atitudes positivas relativamente à aprendizagem, independência, entre outros comportamentos positivos e de sucesso. Esta participação dos alunos é desenvolvida pelo que estes absorvem como sendo as manifestações de interesse dos pais pela escola. As relações que a criança/jovem estabelece na escola são segundo Araújo (2015) “(…) parcialmente reguladas pela qualidade das suas interações familiares” (p. 60). Se os pais se demonstrarem interessados, colaborando com os professores e motivando as crianças, ao transmitir esse mesmo interesse e motivação aos filhos, estes ficarão com a ideia de que a escola é importante, valorizando-a. Por outro lado, se demonstrarem pouco ou nenhum interesse, este irá se refletir no pensamento e nas atitudes da criança para com a escola e o seu processo educativo. Ou seja, os comportamentos e atitudes que os pais têm, segundo Araújo (2015, p. 200) “(…) contribuem, em grande parte, para a motivação e para o desempenho académico dos filhos”.

Todas as famílias, independentemente dos seus estatutos socioeconómicos e culturais, são importantes e deviam sentir-se como tal. Segundo (Araújo, 2015) “As práticas de colaboração devem ser desenvolvimentais e responder às necessidades das famílias em geral e de cada família em particular, de modo que todas se sintam igualmente aceites” (p. 108). Para que as crianças se desenvolvam de forma bem-sucedida, as escolas têm de tratar todas as famílias por igual, equiparando-as tanto nos tratamentos feitos quando estes vão à escola quanto nas ajudas prestadas.

No documento A Relação Família-Escola (páginas 56-59)