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Influência do processo supervisivo nas práticas educativas dos educadores

2 ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL DO ESTUDO 4

4.9 Influência do processo supervisivo nas práticas educativas dos educadores

Considerando a importância da dimensão supervisiva, pretendemos compreender a prespetiva dos entrevistados acerca da possível influência do processo supervisivo na prática profissional dos educadores cooperantes. Na análise de conteúdo emergiram, como era de esperar, duas subcategorias: as mudanças nas práticas e o desenvolvimento humano e profissional, que abaixo exemplificaremos.

Foram oito as EC que referiram que todo o processo de SP provoca mudanças nas suas práticas, com exceção da EC 5, que mais uma vez reconhece a pouca experiência que tem, derivada do curto tempo em que exerceu as funções. Relativamente á EC 6, não temos dados que contribuam para este item, desta forma, verificamos que 8 das participantes, ou seja a maioria das EC considera que o exercício das funções de SP contribui para as mudanças das suas práticas. As entrevistadas identificam alguns pontos mais precisos que nos levam a um melhor entendimento:

 Consciência real do que fazemos (um outro olhar sobre a prática)

 Novas informações (modos de fazer mais atuais)

 Reflexão na e sobre a ação

 Pesquisa (investigação-ação)

 Colaboração

Tomando como referência os critérios identificados pelas entrevistadas, e mais concretamente pelas EC que identificaram estas mudanças, é claramente revelador que as educadoras assumem a mudança, e conseguem também identificar os pontos principais onde essa mudança atua. Day (2001), diz-nos que, para que haja mudanças, os profissionais têm de

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demonstrar que têm vontade de mudar, pelo que a vontade de mudar poderá estar ao alcance de todos, desde que o professor não se isole (Alarcão e Tavares, 2000). Perante as unidades de registo que temos não nos parece que estas educadoras estejam isoladas, tanto mais que evidenciam os processos colaborativos como um dos fatores que emergem do ensino da prática pedagógica.

“Houve uma mudança. Foi influenciada por ela mas era uma coisa que eu própria gostava muito de poder concretizar e fazer mais vezes só que faltava coragem”. (EC 2, p.18)

“Depois também vamos pesquisar, procurar para tornar aquele projeto mais viável, mais atrativo e mais educativo logo ai estamos a evoluir”. (EC 4, p.30)

A estratégia de reflexão, evidenciada pelas EC, a partir da consciência que têm (de ter alguém na sala que também os observa), constitui-se também como um fator de mudança gradual nas suas práticas. A resposta da EC 7 é bastante esclarecedora quanto a este ponto:

“Qualquer contato com elementos externos cria mudança, porque há um processo reflexivo”. (p. 48)

O contributo da EC 4 também é muito importante porque põe em evidência o carater investigativo que emerge dos processos de SP, isto é, a educadora considera que existe uma evolução e mudança na prática porque, enquanto EC, tem a “obrigação” de pesquisar e procurar novas informações sobre os temas que estão a trabalhar com as crianças.

Relativamente aos contributos das entrevistas para o critério de desenvolvimento pessoal e profissional, é significativo que também aqui as oito EC revelem questões importantes, a partir do processo de supervisão. Aliás, para uma melhor compreensão das unidades de registo, apresentamos os pontos que identificámos:

 Formação – a partir das novas aprendizagens das alunas

 Desenvolvimento profissional - a partir do olhar crítico sobre a nossa prática

 Partilha de experiências/práticas/informações

As EC 1, 2, 4, 10 demonstram através das suas respostas que consideram o processo de supervisão favorável ao seu desenvolvimento profissional, e para isso muito contribui a aprendizagem que fazem com as alunas nas suas salas, dado que elas possuem saberes teóricos até então desconhecidos das EC, o que as faz pesquisar e procurar formações, para que também elas aprendam esses saberes:

“Há sempre mudanças … elas já têm outras aprendizagens muito mais produtivas muito mais enriquecedoras para a sociedade e para as crianças que não foi dessa forma que nós aprendemos Nós educadoras cooperantes aprendemos mais e temos gosto por aprender mais”. (EC 1, p. 10)

“Acho que sou melhor educadora agora do que há uns anos atrás embora … não é só a parte das estagiárias é também ter outras colegas na mesma instituição que também

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trabalham com alunas estagiárias e com quem partilhamos muita informação (…) ajuda-nos a crescer enquanto seres humanos e profissionais…

Estou sempre há procura de coisas para eles fazerem e não era assim, embora nunca me tivesse acomodado e damos outras responsabilidade e isso ajuda-nos a crescer enquanto seres humanos e profissionais. (EC 10, p, 62, 63)

A EC 1 e a EC 2 partilham estas ideias, o que nos faz ponderar que o facto de a EC 2 estar a frequentar o mestrado em SP a deixa mais “desperta” para estas questões. A EC 1, apesar de não ter formação nesta área, referiu anteriormente que gosta muito de ser EC e considera que este processo a faz pesquisar e procurar novos conhecimentos.

As EC 4 e EC 10, sendo das mais experientes na área da educação de infância e sendo das mais velhas do grupo, revelam que a atualização dos seus conhecimentos é fundamental para o seu desenvolvimento profissional, porque não se querem acomodar, tanto mais, que também elas fizeram formação complementar, ao nível da educação de infância (complemento cientifico e pedagógico).

AS EC 3, 7 e 8 evidenciam a importância do “olhar critico” que emerge das alunas que têm nas suas salas e que as faz refletir acerca das suas práticas, o que eventualmente as poderá ajudar a aperfeiçoar a sua identidade profissional, e que será facilitadora da construção do seu próprio conhecimento e do desenvolvimento profissional. Ponte (1998) assume o desenvolvimento profissional como “uma necessidade incontornável”, pelo que deve ser o próprio indivíduo a procurar novas formas de adquirir saberes.

Destacamos o contributo da EC 9 que salienta a partilha que advém do processo e que se transforma no motor de melhoria das práticas e também do desenvolvimento pessoal e profissional. Ela revela que as EC trabalham em parceria com as suas alunas, e que estas alunas partilham os saber-fazer de outras cooperantes, o que as faz refletir, crescer e desenvolver profissionalmente. Sem dúvida que esta educadora revela conseguir aprender e desenvolver-se com colegas, o que é favorável á mudança e ao desenvolvimento pessoal e profissional.

“Quando se trabalha em parceria com alguém é óbvio que tem … é para nós um grande desenvolvimento e porque acabamos também por conhecer um pouco a vida de outras instituições porque elas também já passaram por outras instituições. O contributo é total. “ (EC 9, p.57)