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A participação dos nordestinos no Norte do Paraná vai muito mais além da mera força de trabalho, como geralmente são lembrados. Alguns trabalhos indicam influências de sua cultura na região, sendo um dos traços mais visíveis de sua presença em Maringá, a existência de Casas do Norte, ou seja, estabelecimentos comerciais especializados na venda de produtos da culinária típica dos estados do Nordeste. Tais como a rapadura, carne de sol, charque, licores, doces, feijões, farinha de mandioca, etc. Essas casas de

comércio também estão presentes em vários municípios do Paraná, assim como restaurantes especializados em comidas típicas do Nordeste60.

O pernambucano Laércio Souto Maior (1985) atribui às Casas do Norte uma importância muito maior, que a mera a venda de produtos típicos. Para o autor, elas também significam um ponto de encontro e de bate-papo entre conterrâneos.

É preciso lembrar, afinal, que em quase todas as cidades de médio e grande porte do Sul do Brasil onde existe concentração de migrantes nordestinos, estão presentes, também, as famosas “Casas do Norte”, vendendo alimentos e bebidas vindos do Nordeste (rapadura, queijo de coalho, requeijão, carne de sol, charque, bolachas, doces, aguardente, licor, etc). Essas casas de comércio são, invariavelmente, eleitas por todos como ponto de encontro para bate-papos sobre as últimas novidades da “santa terrinha”. (SOUTO MAIOR, 1985, P. 130)

Dentre uma grande variedade de comidas típicas que se tornaram comuns em Maringá, a professora Hulda Ramos Gabriel (2001) menciona a influência da culinária dos estados do Nordeste no município.

Maringá de todas as origens

[...] Era gente que chegava de toda parte do Brasil e do estrangeiro, de trem de ferro até o ponto final, de carona, “jardineira”, até onde havia linha, ou a pé. Caravanas organizadas pela Cia chegavam de qualquer forma, e com todos os tipos de gente.

[...] Pelos sobrenomes encontrados entre pioneiros, percebe-se que Maringá foi colonizada por imigrantes e migrantes de quase todas as origens: portugueses, italianos, espanhóis, poloneses, alemães, ingleses, ucranianos, japoneses, russos, árabes e, em menor quantidade por pessoas de outras nações. Uma mistura de gente bonita e saudável, línguas, e costumes diferentes, que no final das contas, resultava em convivência harmoniosa.

[...] Estados do Nordeste – Carne de sol, buchada,

farinha de mandioca e rapadura. (GABRIEL, 2001,

p.139. Grifos meus)

Nas entrevistas realizadas para a elaboração do livro História da Música na Cidade Canção (2009), a influência de ritmos musicais

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No município de Maringá existem duas Casas do Norte, a Casa do Norte Odorico e a Casa do Norte Pedro Taques.

nordestinos nas primeiras décadas do município de Maringá, é bastante citada por vários personagens que vivenciaram este período61.

Agora música do Nordeste ... nós tivemos sempre aqui a música nordestina aqui... predominou a música nordestina. O acordeon nordestino nunca faltou aqui... mas como nós nunca tivemos um clube específico da etnia nordestina ... tínhamos aqui em Maringá festas tradicionais nordestinas, que hoje parece não existir mais. Por exemplo, faziam encontro de músicas tradicionais da Bahia... mas depois não vingou muito... O próprio nome de Maringá é nordestino [...]. (Depoimento de Alcides Siqueira. IN: NEVES, 2009a, p.05)

Aqui em Maringá era a música gaúcha, imperou e impera até hoje. Tinha também a música do nordeste. As músicas com relação ao Lampião e seus seguidores. O baião marcou tempo também em Maringá. (Depoimento de Antenor Sanches. IN: NEVES, 2009a, p. 01)

Não era nem lá em cima nem lá embaixo, era média. O sertanejo. Dominava a música nordestina e a gaúcha, as duas pontas. (Depoimento de Constantino Del Conti. IN: NEVES, 2009a, p.06 )

O radialista Antônio Mário Manicardi, mais conhecido por Nhô Juca, ao falar sobre os programas de rádio por ele apresentados, relatou a existência de um programa dedicado à música nordestina no município.

Eu tinha um programa chamado “Galpão do Gaúcho”. Então eu tocava músicas gaúchas do Teixeirinha e outros conjuntos... [...] O pessoal ouvia depois “Boa Noite Nordestino”, com músicas do Nordeste. O prefixo era aquela do Luiz Gonzaga “Triste Partida”. (Depoimento de Antônio Mário Manicardi. IN: NEVES, 2009a, p. 06)

Entre os ritmos musicais tocados nos bailes maringaenses e lembrados pelos entrevistados, estão o xote e o baião nordestino.

E também, foram as valsas, tinha o xote, se ia num baile se dançava xote, se dançava baião a noite inteira valsa e baião e xote e isso aí, a noite inteira. (Depoimento de Darci Ribeiro. IN. NEVES, 2009a, p. 07)

[...] Praticamente a nordestina. Já, e esses músicas chamadas caipiras, até parece que a Rádio Cultura está

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Os depoimentos citados fazem parte da coletânea de entrevistas realizadas para a elaboração do livro História da Música na Cidade Canção (2009), de Luiz Carlos Assumpção Neves. No entanto, a influência da música nordestina em Maringá, só consta na compilação de entrevistas e não no interior do livro.

querendo voltar a transmitir pra o povo do interior que não acompanha mais, então teria que voltar a estas músicas.

- Se eu me recordo, era o baião?

-Era o baião sim. (Depoimento de Geraldo Altoé. IN: NEVES, 2009a, p. 02)

Apesar de essas memórias resgatarem a grande influência do xote, do baião e do forró em Maringá, a disseminação desses ritmos se devem mais à sua popularização pelo rádio a nível nacional, por músicos como Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira Dominguinhos, etc., que traziam entre suas temáticas, o cotidiano dos nordestinos e do Nordeste. Com isso, também serviam como fator de aproximação e identificação regional, sendo tocadas em bailes, festas, conversas informais para relembrarem aspectos do seu local de origem. Anualmente, em alguns municípios do Norte do Paraná são realizadas festas populares que reúnem esses dois elementos citados: culinária e música nordestina. Dentre elas destaca-se o Festival da Cultura Popular Nordestina em Londrina, que já está 17ª edição e a Festa Nordestina, no município de Assaí, realizada desde 2004. Ambas são organizadas por Raimundo Maia Campos Júnior, com o apoio da Secretaria de Cultura dos dois municípios62. Em 1991, um grupo de nordestinos criou o CTN (Centro

de Tradições Nordestinas) no município de Goioerê, onde também eram realizadas festas com comidas típicas e ritmos regionais. Atualmente, o CTN está desativado63.

62PREFEITURA MUNICIPAL DE LONDRINA. Museu de Arte recebe nova edição da Festa

Nordestina. Disponível em:

<http://www.londrina.pr.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16234%3 Amuseu-de-arte-recebe-nova-edicao-da-festa-

nordestina&catid=108%3Adestaques&Itemid=288>. Acessado em 17/05/2013.

OURA, Márcia. Festas nordestinas ajudam a reduzir o preconceito, diz Ceará. Jornal Revelia, Assaí, 17 abr. 2013. Disponível em:

<http://www.revelia.com.br/?pagina=posts&id=7178&tipo=Assa%ED>. Acessado em 29/07/2014.

63 Informações disponíveis em: GOMES, Camila. Os nordestinos que viraram “pés vermelhos” em Goioerê. Jornal Itribuna, Goioerê, 07 fev. 2010. Disponível em:

<http://www.itribuna.com.br/regiao/os-nordestinos-que-viraram-pes-vermelhos-em- goioere-1694/>. Acessado em: 29/07/2014.