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3. Tecnologia da Informação na Gestão do Turismo

3.1 A Informação como Bem Intangível

A gestão organizacional baseada nos modelos taylorianos está sendo suplantada por novos modelos de gestão, com a mudança do ponto central nos bens tangíveis para os bens intangíveis (ANGELONI, 2003). Dos bens intangíveis relevantes para o gerenciamento das organizações, destaca-se o dado, a informação e o conhecimento como sendo hoje os bens de

8 Neste caso, utilizou-se da expressão “pequenas organizações” da perspectiva de Longenecker (2007), compreendendo-as como empresas de pequeno porte mantidas por uma ou poucas pessoas, com suas atividades são localizadas geograficamente em uma só região em comparação a outras empresas do mesmo setor.

maior valor e os subsídios essenciais à comunicação e à tomada de decisão (ANGELONI, 2003; ROSSETTI & MORALES, 2007).

A tomada de decisão ocorre a todo o momento dentro das organizações quando nos deparamos com um problema que apresenta mais de uma resposta, ou quando possuímos uma única opção e precisamos decidir descartá-la ou escolhê-la. Ela implica em um processo de escolhas e abdicações e apresenta riscos e dificuldades: a racionalidade limitada do decisor, a complexidade, a incerteza inerente à decisão, os objetivos múltiplos que se inter-relacionam e a possibilidade de diferentes perspectivas levando a diferentes conclusões de análise (SIMON, 1977; ROLDAN E MIYAKE, 2004; CLERICUZI, ALMEIDA & COSTA, 2006).

O modelo clássico inteligência-concepção-escolha de Simon (1977) prevê quatro fases sequenciais em um processo de decisão: ter a inteligência da situação (identificação); forjar diversas situações possíveis (conceber, modelizar); escolher a mais satisfatória; retorno à fase dois ou até mesmo à fase um, para aperfeiçoar a decisão, que ele chamou de review.

A figura 3 apresenta os elementos intervenientes na tomada de decisão e propõe-se a despertar o debate de que dado, informação e conhecimento devem ser versados como uma cadeia de agregação de valor, sendo elementos essenciais à tomada de decisão e, por conseguinte, não devem estar circunscritos na cabeça dos indivíduos organizacionais, mas compartilhados mediante um sistema de comunicação bem estabelecido (ANGELONI, 2003).

Figura 3: Elementos intervenientes na tomada de decisão Fonte: ANGELONI, 2003, p. 21

Dados, informações e conhecimentos são fundamentais no processo de tomada de decisão e na elaboração de estratégia para melhorar o desempenho dos negócios. Estes estão diretamente ligados à quantidade e qualidade de informações disponíveis para os tomadores de decisão e, portanto, nenhuma estratégia será melhor do que a informação da qual deriva. O que determinará a primazia de uma organização será sua capacidade de coletar, organizar, analisar e efetuar mudanças a partir de informações consistentes. O uso de um eficiente sistema de informação poderá permitir acesso a dados, informações e conhecimentos de

qualidade e em tempo hábil para a tomada de decisão (GUTIERREZ, 1999; REZENDE, 2002; ANGELONI, 2003; ROSSETTI & MORALES, 2007; ALBERTIN, 2008).

Dados são elementos brutos que, ao serem processados e dotados de relevância, transformam-se em informações. A informação processada pelo indivíduo, contextualizada, recebendo significado e interpretação, torna-se conhecimento (DAVENPORT, 1998; ANGELONI, 2003). O grande desafio dos tomadores de decisão é o de transformar dados em informação e informação em conhecimento, aliviando as distorções individuais nesse processo de transformação (ANGELONI, 2003). O quadro 3 traz uma síntese do conceito de cada elemento da tomada de decisão.

Quanto melhor a qualidade dos dados e informações melhores as possibilidades de identificar problemas e oportunidades, compreender melhor os processos, alocar de maneira mais eficiente os diversos recursos disponíveis, melhorar o planejamento e o controle do negócio, elaborar estratégias de comunicação eficientes, transmitir com clareza os valores organizacionais, definir melhor as responsabilidades, gerenciar comportamentos, reconhecer e gratificar desempenhos (ALBERTIN, 2008).

Quadro 3: Dados, Informação e Conhecimento.

Fonte: adaptado de Davenport (1998)

Torna-se cada vez mais relevante o uso de ferramentas que auxiliem no processo de tomada de decisão, como os sistemas de informação, que possibilitam melhores tomadas de decisão e maiores chances da organização alcançar seu (s) objetivo (s). Um Sistema de Informação “é um conjunto de componentes inter-relacionados que coletam, manipulam e disseminam dados e informações para proporcionar um mecanismo de realimentação para atingir um objetivo” (STAIR & REYNOLDS, 2006). Tais componentes, “constituem um conjunto organizado de pessoas, hardware, software, redes de comunicações e recursos de dados” (O’BRIEN, 2004).

Contudo, esses modelos trazem consigo um fascínio, como se o puro e simples desenvolvimento da tecnologia tivesse a competência de provocar uma mudança ideológica e paradigmática no modelo de gestão ou de sucesso de alguma atividade específica (PITASSI & LEITÃO, 2002).

A tecnologia não é capaz de determinar nada por si só, pois é utilizada dentro de um contexto político-ideológico mais amplo. A visão instrumental aplicada ao processo de implantação dos sistemas de informação resulta na deformação do entendimento da natureza da informação, da linguagem e da comunicação com sérias consequências para as organizações produtivas (PITASSI & LEITÃO, 2002, p. 78).

Da perspectiva dos autores mencionados, a tecnologia, enquanto ferramenta, suporte aplicável às dinâmicas do turismo, deve superar aos interesses de grupos ou às determinações ideológicas, uma vez que esse caminho pode provocar posições distorcidas ao entendimento e à segurança da informação a ser utilizada. Implica reconhecer que a tecnologia, por ela, não assume um campo preciso informacional, por ser uma estrutura de linguagem e de comunicação carregando as consequências da qualidade da informação sistematizada.

Em outros termos, a intuição, a racionalidade e a percepção podem influenciar uma decisão. É ilusória a crença de que uma decisão poderá ser tomada totalmente baseada em processos racionais, pois há problemas que não são resolvidos por meio de regras ou nem sempre é possível ter acesso a todos os dados ou ainda, por saber-se que o sujeito decisor é dotado de sentimento (ANGELONI, 2004; MAXIMIANO, 2009).

A diferença entre racionalidade e intuição está na proporção de informação, de um lado, e opinião e sentimentos, de outro. Quanto maior a base de informação, mais racional é o processo. Quanto maior a proporção de opiniões e sentimentos, mais intuitivo se torna. A racionalidade e a intuição são atributos humanos complementares e não concorrentes (MAXIMIANO, 2009, p.71).

A posição de Maximiano (2009) se caracteriza como sistemas tecnológicos de informação, para além dos determinismos políticos-ideológicos, em que combina e converge racionalidade e intuição. Esses elementos, para este autor, são constitutivos das relações humanas e não devem ser desprezados ou privilegiados assimetricamente, pois são complementares, não concorrentes.

Angeloni (2003) observa que o tomador de decisão deve ter a consciência de que o maior desafio não é o de obter os dados, as informações e os conhecimentos, mas sim a aceitação de que, no processo de codificação/decodificação, as distorções ocorrem, pois dependem dos modelos mentais de cada indivíduo. Por outro via, ainda sobre a perspectiva do

autor mencionado, a tecnologia pode ser usada como instrumento para amenizar essas distorções.