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3 A COMUNICAÇÃO DA INFORMAÇÃO DE INTERESSE PÚBLICO

3.1. O PREDOMÍNIO DO CONHECIMENTO NA INFORMAÇÃO

3.1.1. Informação e difusão jornalística

Assim, a atividade de jornalismo destaca-se quando se posta “entre os fatos de interesse público e cidadania” (MARQUES DE MELO, 2006, p.49), sendo colaboradora e co- responsável com o desenvolvimento humano. Atua perante as instâncias públicas e os campos sociais, de modo a dispor os acontecimentos que podem ser analisados e repensados para além do lugar em que se sucedeu o fato. Seja entre bases numéricas e diferenciais de sentido, sobressai o propósito de dispor algum conhecimento com uso de um conjunto de técnicas aperfeiçoadas ao longo do tempo, com realce de “padrões de credibilidade historicamente legitimados” (GADINI, 2009, p.47).

Karam aborda a importância da interpretação jornalística com base em códigos éticos e técnicas para possibilitar a universalização do conhecimento, sendo atividade necessária diante da “quantidade disponível de informações diárias e a produção sucessiva de fatos, em distintas regiões, em remotos lugares e em diferentes espaços de saber e poder” (KARAM, 1997, p.12). Karam é um dos autores que abordam a ética jornalística e os direitos que asseguram a democratização da informação no espaço público. Nesta linha de pensamento, Gentilli observa:

A necessidade social de informação produz a necessidade do jornalismo. Portanto, não se faz aqui o elogio de qualquer jornalismo ou do jornalismo como é feito coerentemente. Nem de um jornalismo produzido sem medidas, sem critérios, sem ética, sem compromissos. Mas, sobretudo, de um jornalismo produzido e pensado, conscientemente, para oferecer um mínimo de cognoscibilidade ao mundo contemporâneo, um jornalismo que ofereça aquelas informações que o cidadão tem o direito de receber para que possa exercer plenamente todos os seus direitos. Um direito sem o qual o exercício de outros direitos fica prejudicado (2005, p.23).

Esses autores defendem o jornalismo como uma atividade que responde pela difusão da informação como bem comum, ou bem social, como também demonstra Jornet (2006, p.73), com base em documento da UNESCO. Relatam o interesse público como preponderante à habilidade jornalística em dispor e dar visibilidade a interesses prioritários de uma comunidade, de maneira que se possibilite o “desdobramento plural da vida, em seus aspectos de uma totalidade que envolve a política, a economia, a cultura, a história humana e sua multiplicidade de linguagem, significados e relações internas na constituição do cotidiano (KARAM, 1997, p.114).

Atuante na imprensa ou em outros segmentos públicos, trata-se de atividade que contempla vários fatores para a definição de conteúdo informacional de relevância para dispor no espaço público.

Dessa maneira, a expansão dos vínculos culturais e as especialidades de conhecimento existentes acabam por exigir delimitações para auxiliar na interpretação e na análise da informação jornalística. Exemplo disto está na abordagem de Duarte (2009, p.62), ao simplificar a informação em sete categorias: informações institucionais, de gestão, de utilidade pública, de interesse privado, mercadológica, de prestação de contas e de dados públicos.22

O contexto deste estudo corresponde à definição de Duarte para a “informação de gestão”, relacionada “ao processo decisório e de ação dos agentes que atuam em temas de interesse público. Incluem discursos, relato de intenções, motivações, prioridades e objetivos dos agentes” (DUARTE, 2009, p.62).

Duarte propõe, em sua definição para a “informação de gestão”, uma descrição condicionada à tomada de decisão em benefício do interesse gerencial-institucional. Com relação ao este estudo de caso, é preciso lembrar que se trata do universo de uma instituição que cuida do interesse público, em que é preciso alongar esse entendimento para o que é de interesse geral e, ao mesmo tempo, ao que acaba sendo também de interesse institucional. Neste sentido, entende-se que a comunicação relacionada a instituições que cuidam do interesse público deve disponibilizar a informação sobre suas atividades para compor o processo deliberativo público.

A forma como Duarte destaca as expressões “ação dos agentes” e “prioridades e objetivos dos agentes” dá indícios de uma categoria fechada aos interesses organizacionais, sem contemplar possíveis resultados do debate em público, com novas interpretações às próprias emissões das organizações. De todo modo, a abordagem de Duarte subsidia a análise das produções informacionais no universo do Ministério Público, e ainda leva a refletir acerca

22 Segundo a definição de Duarte: “institucionais: referentes ao papel, políticas, responsabilidades e funcionamento das organizações. Em geral, são ligadas à projeção de imagem e à consolidação da identidade; de

utilidade pública: sobre temas relacionados ao dia-a-dia das pessoas, geralmente serviços e orientações. Buscam

informar, mobilizar, prevenir ou alertar a população ou setores específicos dela para temas de seu interesse. Informações legais, horários de eventos, campanhas de vacinação, sinalização, causas sociais, sobre dados, direitos, produtos e serviços à disposição do interessado e seu uso são exemplos típicos; de interesse privado: as que dizem respeito exclusivamente ao cidadão, empresa ou instituição. Exemplos: dados de Imposto de Renda, cadastros bancários; mercadológicos: referem-se a produtos e serviços que participam de concorrência no mercado; de prestação de contas: dizem respeito à explicação sobre decisões políticas e de uso de recursos públicos, viabilizando o conhecimento, a avaliação e a fiscalização; dados públicos: aqueles de controle do Estado que dizem respeito ao conjunto da sociedade e a seu funcionamento. Exemplos: estatísticas, jurisprudências, documentos históricos, legislação e normas” (2009, p. 62).

do termo “interesse público”, obtendo um referencial para efetivar análises na pesquisa de campo.

Em geral, a identificação da informação pelo valor que ela emana exige analisar a interligação existente nos referenciais e assuntos que a formam, não podendo ser pensada “fora de um contexto social. Ou fora de uma organização. Ela é essencialmente relacional e, portanto, organizativa e organizadora” (ALMINO, 1986, p.35).