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8. CONTRIBUIÇÕES PARA A GESTÃO AMBIENTAL DA APA ALDEIA-

8.1. Informação e formação de atores sociais participantes

Para iniciar, voltemos a questão do conhecimento dos entrevistados no núcleo de estudo a respeito da implantação da APA Aldeia-Beberibe, criada em março de 2010, onde 32 entrevistados, 19 deles (59%) não sabiam a resposta, sendo eles principalmente os que tinham papel social de moradores de vilas (82% dos entrevistados com este papel social).

Estudando a percepção ambiental de moradores, turistas e estudantes da APA de Maricá no Rio de Janeiro (criada pelo decreto estadual nº 7.230/84), Coyunji e Holzer (2009) verificaram que a maioria dos moradores da comunidade Zacharias (formada principalmente por pescadores ou trabalhadores da construção civil) não sabia dizer se conheciam a APA Maricá, ou nem mesmo identificou o significado de Área de Proteção Ambiental.

Matos e Gomes (2011) também realizaram um trabalho visando estudar a percepção ambiental de moradores da Área de Proteção Ambiental Morro do Urubu, localizada na Zona Norte de Aracaju – SE (criada pelo decreto estadual n° 13.713 de 15 de junho de 1993), caracterizada como último remanescente de Mata Atlântica do perímetro da cidade. Neste estudo 71,9% dos entrevistados não conheciam a APA.

Verifica-se nos trabalhos acima, uma situação parecida com os resultados em Aldeia, onde os moradores de vilas e de condomínios e granjas também desconheciam a existência da APA Aldeia-Beberibe, porém tem sua criação recente, em 2010, ainda sem publicação oficial de seu zoneamento e plano de manejo, nem ao menos foram iniciadas as atividades de seu recém criado conselho gestor. Ou seja, as atividades que devem ser desenvolvidas em uma UC desta categorização ainda não foram desencadeadas. Já nos trabalhos acima a situação é diferente, a

primeira foi criada há 28 anos e a segunda há 19 anos, ou seja, tempo mais que sulficiente para as populações residentes sentirem os efeitos de ações direcionadas a estas APA, como formas de uso e ocupação do solo, Educação Ambiental, fiscalização, controle e monitoramento. São situações como estas que fazem as Áreas de Proteção Ambiental serem bastante desacreditas pela população e pelo meio técnico-científico (DRUMOND, 2008).

Ainda sobre a falta de informação sobre a APA Aldeia-Beberibe, pode-se destacar nos resultados obtidos o desconhecimento da existência mesma pelos respondentes com papel social Educação Pública, 80% deles.

A escola é um dos primeiros grupos sociais do qual o indivíduo participa fora do núcleo familiar, local inclusive onde o indivíduo deve aprender a desempenhar o papel de cidadão. Sendo uma UC do tipo APA, possuidora de um instrumento como o conselho gestor, formado por diversos segmentos da sociedade, é de fundamental importância que todas as instituições de ensino dentro do seu território, tomem conhecimento de que estão inseridas dentro de uma APA e que implicações isso acarreta para a vida de seus discentes e até mesmo para própria estrutura pedagógica da escola. Tais informações devem constar inclusive na formulação dos seus projetos políticos pedagógicos, pois os mesmos são instrumentos que norteiam o funcionamento das Escolas e estão vinculados à realidade onde estas estão inseridas.

Dos representantes da educação privada, dois dos três entrevistados conheciam a existência da APA, mas vale ressaltar que os mesmos são integrantes de uma instituição que já tinha em sua proposta pedagógica voltada para a questão ambiental local, podendo isso explicar o fato dos entrevistados estarem informados sobre o fato. Andrade (2006) já havia destacado os trabalhos da escola particular do km 9 analisada, afirmando que na unidade existem projetos permanentes de conscientização dos alunos, através de feiras temáticas, trilhas ecológicas, visitas à instituições de cunho ambiental, confecção de brinquedos com materiais recicláveis, plantio e distribuição de mudas.

Possivelmente a realidade encontrada na escola pública pesquisada seja a mesma nas demais instituições de ensino da APA, inclusive como apresentado no capítulo 4, não se observou a presença de representantes com este papel social na oficina de diagnóstico e na de zoneamento da APA Aldeia-Beberibe.

O que pode ser animador é o fato da categoria

“educação/informação/conscientização/orientação” ser a principal nos discursos dos representantes da administração pública sobre o que deve ser feito para melhorar ou ampliar os

aspectos positivos das áreas dos seus respectivos municípios dentro da APA, em 38% dos discursos, assim como dos entrevistados no núcleo de estudo em Camaragibe, com 26%.

Sobre os resultados obtidos na questão sobre que expectativas os entrevistados tinham em relação à implantação da APA Aldeia-Beberibe, observou-se que 50 % dos entrevistados da administração pública dos de sete municípios da APA e 41% dos entrevistados do núcleo de estudo, com representantes de todos os papéis sociais analisados, referenciavam questões de preservação/proteção/conservação/manutenção como as principais expectativas de melhora com a implantação da área protegida.

Na publicação do IBAMA sobre o planejamento e gestão de APA, verifica-se que as funções deste tipo de UC correspondem às expectativas de cunho preservacionista/conservacionista dos entrevistados:

[As APA são áreas que:]

 Buscam proteger o solo, subsolo, a cobertura vegetal e a fauna local, promover a melhoria da qualidade dos recursos hídricos e recuperar áreas degradadas (objetivos específicos);

 Podem conter outras unidades de conservação mais restritivas;

 Buscam conciliar o desenvolvimento de atividades humanas com a conservação dos recursos naturais (objetivo geral);

 Propiciam a “... experimentação de novas técnicas e atitudes que permitam conciliar o uso da terra e o desenvolvimento regional com a manutenção dos processos ecológicos essenciais.” (CÂMARA, 1993, p.4 apud Côrte, 1997, p.28);

Entre os entrevistados do núcleo de estudo, 7% afirmaram não esperar mudanças a partir da implantação da área protegida no local. Esse descrédito em relação às transformações locais pós-implantação da APA que acometeu estes entrevistados era esperado. Como citado em capítulos anteriores, as APA são fáceis de serem criadas, mas difíceis de serem geridas, assim, as UC deste tipo acabam por sofrer descrédito quanto a sua eficácia. Além do mais, cotidianamente facilmente se observa o desrespeito da legislação ambiental, principalmente em área urbana, bem como a mídia veicula com frequência crimes ambientais como invasões de terra, caça e desmatamento, até mesmo em unidades de conservação de proteção integral, onde a fiscalização e as punições deveriam ser mais eficazes. Se em áreas deste tipo a reincidência destes crimes é comum, o que a população pode pensar a respeito de áreas grandes, que agrupam vários municípios e uma diversidade de formas de ocupação, como é o caso das APA? Fazendo a análise por outra perspectiva, tem-se que 93% dos entrevistados tem expectativas positivas quanto a implantação e isso pode ser um indicio de abertura para atuação junto a população nas ações a serem desenvolvidas.

A informação e divulgação das áreas protegidas junto à população pode ser a primeira ferramenta para a obtenção dos resultados, de acordo com os objetivos de uma APA. Na palestra do Professor Ricardo Braga da UFPE sobre a APA Aldeia-Beberibe no Fórum Socioambiental de Aldeia no dia 05 de maio de 2012, o mesmo afirmou que é muito importante que existam placas por toda a APA informando sua delimitação. Como observado nos resultados, muitos dos entrevistados, tanto do núcleo de estudo (de todos os papéis sociais) quanto alguns dos representantes da administração pública dos municípios da APA desconheciam a existência ou os limites da UC, o que mostra que a informação visual ou por outra via sobre a existência da APA no local ainda é insuficiente. De acordo com PAZ e FARIAS (2008, p. 15) “as áreas protegidas são um mecanismo efetivo de combate à degradação do meio ambiente” e existem vários estudos que comprovam que a partir do estabelecimento formal destas áreas são obtidos resultados significativos no que diz respeito à diminuição de infrações ambientais como desmatamento e caça predatória.

É importante destacar que o estabelecimento de áreas protegidas sem a devida informação de sua existência e limites dificilmente acarretará nas mudanças apontadas pelos autores acima. Assim, faz-se necessário na APA Aldeia-Beberibe um trabalho de divulgação da UC por meio de sinalização visual e, melhor ainda, por meio também de outras formas de divulgação como palestras, eventos, mídias impressas, TV, rádio e internet. No entanto, somente a informação não gera mudanças de comportamento, é relevante apontar que esta seria apenas uma primeira ação, devendo ser apoiada por outras mais direcionadas, as quais são elementos chaves de uma estrutura de gestão ambiental como: educação ambiental, fiscalização e participação social. Para finalizar esta questão, atualmente no núcleo de estudo existe apena uma placa informativa da APA Aldeia-Beberibe localizada no km 3 da PE-27, a qual equivocadamente define a sigla como “Área de Preservação Ambiental”

8.2. Uso da percepção ambiental no diagnóstico dos aspectos positivos e apontamento