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4. CARACTERIZAÇÃO DA APA ALDEIA–BEBERIBE

4.2. Recursos hídricos

Dentre os recursos naturais explicitados no decreto de criação, a água ganhou grande evidência, como mostrado abaixo nas peculiaridades trazidas no decreto em relação a este recurso no local, sendo elas:

 Interesse do Estado na revitalização da bacia hidrográfica do Rio Beberibe;

 Local de abrigo do único reservatório do Litoral Norte, Barragem de Botafogo, integrado ao sistema de abastecimento público da RMR;

 Presença de remanescentes que protegem áreas de nascentes de pequenos rios que afluem ao rio Capibaribe e de rios que formam o Grupo de Bacias Litorâneas 1 de Pernambuco, que complementam o sistema de abastecimento público RMR;

 Presença da formação Beberibe, importante reserva de água subterrânea em exploração para abastecimento público da RMR e sua vulnerabilidade à poluição e contaminação provocada pelo uso e ocupação do solo sem controle;

 Presença de cursos d’água e nascentes (APP), em sua maioria, inseridas na Área de Proteção de Mananciais da RMR.

Segundo o Diagnóstico Ambiental e Socioeconômico da APA Aldeia-Beberibe esta UC “está inserida em parte da área das Bacias Hidrográficas dos rios Botafogo, Igarassu, Paratibe, Beberibe e o baixo curso do rio Capibaribe” (CPRH, 2011, p.41) (Figura 7).

Figura 7. Hidrografia e remanescentes florestais da APA Aldeia-Beberibe .

Fonte: CPRH - GERCO (Gerenciamento Costeiro) e Agência CONDEPE/FIDEM apud CPRH, 2011.

Nota-se que a importância da região para o abastecimento da RMR é bastante citada no decreto, possivelmente como forma de demonstrar em termos mais econômicos e utilitários a

necessidade de conservação da área, não transparecendo ao leitor mais desatento as necessidades hídricas de toda a biota local, incluindo os seres humanos.

Na oficina de diagnóstico, os participantes puderam elencar os recursos e as riquezas, as potencialidades, as pressões e as ameaças da APA.

Como recursos e riquezas os entrevistados citaram o fato da localidade ser local de nascentes de vários rios, possuir açudes e lençóis d’água e o potencial hídrico subterrâneo para abastecimento residencial. A qualidade da água também foi citada, mas também foram destacadas as ameaças que este recurso sofre na região tais como: exploração clandestina de água mineral, desvio dos mananciais para atividades tipo pesque e pague e parques balneários e uso de agrotóxicos. Os participantes, ainda, fizeram uma perspectiva de ameaça futura, devido à poluição por dejetos gerados pela unidade prisional prevista de ser instalada no Município de Araçoiaba quando esta estiver em atividade.

Segundo Souza (2010) a Região de Aldeia tem um papel fundamental no abastecimento da RMR, onde praticamente toda sua extensão norte é considerada Área de Proteção de Mananciais (Lei n. 9.860 de 12/08/1986). Como moradores e/ou atuantes na APA (pelo função que exercem) os participantes da oficina, demostraram conhecer as peculiaridades referentes a este recurso, bem como as principais pressões, não só as existentes, como também as futuras (com a projeção da poluição por dejetos pelo presídio de Araçoiaba).

O referido presídio foi anunciado pela Secretaria Executiva de Ressocialização - SERES de Pernambuco, no final do ano de 2011, com capacidade para 2.200 presos, numa área de 30 hectares nas imediações da APA, no Município de Araçoiaba. O mesmo é alvo de críticas e reivindicações por parte da população que é contra a sua implantação (TEIXEIRA, 2012). Na Figura 8 observa-se um cartaz de protesto da população em relação à instalação do presídio.

Figura 8. Reivindicação da população da APA Aldeia-Beberibe contra a construção do presídio no Município de Araçoiaba

Fonte: Teixeira, 2012, foto de Hélia Scheppa.

O grupo social Fórum Socioambiental de Aldeia já realizou diversas atividades visando impedir a instalação desta unidade prisional, nas imagens abaixo se verificam visitas ao local de implantação, palestras com a população e reunião com o Secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, Sérgio Xavier (FÓRUM SOCIOAMBIENTAL DE ALDEIA, 2012).

Figura 9. Ações do Fórum Socioambiental de Aldeia contra a implantação do presídio em Araçoiaba

Legenda: A - visita da comissão do fórum ao local de implantação e conversa com os moradores locais; B - Palestra; C - encontro com o Secretário de Meio Ambiente de Pernambuco.

Fonte: Fórum Socioambiental de Aldeia (2012).

Sobre a exploração de água mineral, Andrade (2006) afirma que em Aldeia, Camaragibe, esta é uma atividade considerável, mas também cita como significativo o uso deste recurso como fonte de água para diversos usos pela população local. Em boa parte do território da APA não há serviço de abastecimento público de água, de modo que as residências e estabelecimentos retiram água diretamente do lençol freático não havendo controle sobre o uso dos mesmos.

Segundo Levino, Borges e Morais (2010) os principais poluentes que acometem os corpos d’água são esgoto e resíduos industriais, lixo ou dejetos provenientes da agropecuária, destes devido ao uso desenfreado dos agrotóxicos ou pelo descarte incorreto dos recipientes.

Nas porção das Bacias hidrográficas dentro da APA verifica-se a ocorrência da poluição por resíduos domésticos e industriais na Bacia do rio Botafogo; na área da Bacia do Paratibe, verifica-se a ocupação por segunda residencia e granjas (onde muitas realizam criação de aves ou suinos, podendo causar poluição das águas pelo lançamento de dejetos sem tratamento); na do Beberibe verifica-se a pressão antrópica e sua ocupação também se dá por sítios e granjas; na do Capibaribe, a ocupação se dá por chácaras e granjas na margem esquerda e de cana-de-açucar na direita (ou seja, além da poluição por resíduos domésticos e lixo esta bacia sofre com a poluição por agrotóxicos); na do Igarassu, os cursos d’água sofrem pressão antrópica ao passarem por assentamentos rurais e na proximidade de áreas urbanas (CPRH, 2011). Verifica-se ainda a iminencia e possivelmente já ocorrência, da poluição por agrotóxicos nesta última Bacia hidrográfica que, além de ter a ocupação já citada, apresenta ainda granjas e chácaras (como nas demais) e possui também silvicultura, policultura e cultivo de coco na sua porção superior (LEÃO, 2004).