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A informação hoje não é paga, mas dá trabalho se informar

No documento Lar é onde se nasce (páginas 49-91)

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.2 Análise das entrevistas

6.2.1 A informação hoje não é paga, mas dá trabalho se informar

Durante a elaboração do projeto desta pesquisa e considerando a especificidade do grupo pesquisado, já era esperado que nossas participantes tivessem acesso facilitado a diferentes tipos de informação, incluindo conhecimento sobre o processo do parto e nascimento, o que possivelmente contribuiu na decisão final pelo parto domiciliar. No entanto, o que veremos é que o acesso à informação envolve diversos aspectos culturais do nosso tempo, e devemos considerar aspectos socioeconômicos ao ponderar sua análise.

Os achados nas entrevistas vão de acordo com o que existe na literatura, de que o acesso a informações, a compreensão do processo de parir e o entendimento das possíveis intervenções relacionadas aos tipos de parto foram

fundamentais para a construção do protagonismo nesse processo de decisão pelo parto em casa43,46, 48. Do descobrimento da gestação e durante o processo de

planejamento da chegada do novo integrante na família, é possível compreender que a opção pelo parto domiciliar ocorreu a partir do momento em que as mulheres tomaram conhecimento dessa nova modalidade de atendimento, e se aprofundaram na busca por informações sobre essa possibilidade56.

Em nossos achados, isso fica evidente nos relatos sobre a busca por informações por meio da participação em grupos de gestantes, leitura de livros e artigos científicos, internet, participação de grupos em redes sociais e WhatsApp.

Eu acho que, na décima sexta semana, a gente já começou a participar de grupos, mas, obviamente, antes disso, eu já tava lendo, em alguns livros, nesse período, sobre partos, histórias de parto e tal, e participando mesmo de grupos virtuais, né? No Facebook, e lendo artigos, assistindo filmes, enfim, tentando me informar, da forma como é possível pra esclarecer um pouco mais (Participante 1).

Ah, as informações eu busco em manuais, pesquisar partos, grupos de apoio. O Facebook tem um grupo muito legal chamado Parto Natural, né? Assim, então, é legal porque lá tem tanto estudos mais científicos, evidências, relatos de parto fortalecem bastante, a gente foi em alguns encontros dos grupos das parteiras, enfim, acho que conversar bastante com quem já passou a experiência, né? (Participante 5)

Os meios de comunicação estão cada vez mais desenvolvidos, com ascensão de tecnologias em que a informação comunicada pela mídia acontece de forma instantânea, principalmente nas redes sociais e ferramentas de comunicação como blogs e Twitter que noticiam informações que se antecipam as principais mídias televisivas64. No caso das redes sociais, o interessante é trabalhar com o conceito de rede, no qual temos um conjunto de pessoas com interesses semelhantes, conectadas entre si por relacionamentos sociais, motivados pela amizade e relações de trabalho ou compartilhamento de informações. As redes funcionam com base na linguagem simbólica, nos limites culturais, e, por que não dizer, entrelaçadas nas relações de poder, servindo como disparadores da formação de redes de solidariedade e combate das desigualdades64.

As redes vêm se consolidando como forma de interação entre os indivíduos que compõem as sociedades, sendo as redes sociais uma das principais ferramentas de troca e difusão de informação. Na sociedade contemporânea em que vivemos, quando falamos em redes seu significado está relacionado aos sites de

redes sociais disponibilizados na internet, como Facebook, Twitter, Instagram, blogs, weblogs, fotologs, canais do YouTube, grupos de discussão, fóruns, e os meios de comunicação instantânea, como Messenger, Skype e WhatsApp que servem de ferramentas para a troca e difusão de informação através das redes sociais caracterizando uma sociedade globalizada64.

Uma característica importante dos sites de redes sociais é seu uso como filtro de informações. As redes sociais conectadas através da internet funcionam como uma rede de informações qualificada e que filtra, recomenda, discute e qualifica a informação que circula no ciberespaço. Ou seja, as redes são responsáveis pelo compartilhamento de ideias entre pessoas que possuem interesses e objetivos em comum, pessoais e profissionais, além de valores a serem compartilhados64.

Considerar essa característica elucida os achados desta pesquisa, que evidenciou um discurso semelhante sendo reproduzido pelas nossas participantes durante as entrevistas, e trazem conteúdo e argumentação similares:

A minha preocupação também foi: como ele está sendo recebido? Que intervenções ele vai ter? E de saber que, assim, que o meu momento, o momento dele, que ele vai buscar o tempo dele, que a temperatura vai estar do jeito que é melhor pra ele, que a luz... sabe assim? (Participante 1). Então, tenho medo também de ir pro hospital, aquela gritaria, aquelas luzes, isso inibir o trabalho de parto, aquele ambiente gelado inibir o parto e isso travar. E daí, se isso travar, começam as intervenções. É meio que natural (Participante 2).

[...] Como que eu tenho que fazer pra ela sair à força, tomar ocitocina na veia que é o sorinho, mudar todas as contrações, por que ela tá num ritmo natural da contração daquilo, com a ocitocina natural do corpo, pra que eu vou inserir mais? Ou aí, por que eu estou sentindo uma dor filha da mãe, eu vou tomar uma anestesia? (Participante 4).

Por meio dessas falas demonstro que as participantes tratam da recepção do recém-nascido utilizando termos e discursos semelhantes, aprendidos nos canais de comunicação, nos grupos pró-parto domiciliar e após troca de experiência com outras mulheres. Podemos pensar como o mercado age na divulgação dessas informações e como atua hegemonizando a opinião pública. Essas falas vão ao encontro com informações divulgadas nos meios de comunicação populares, sendo reproduzidas em massa sem necessariamente haver uma reflexão sobre o assunto.

Cada mulher sujeito desta pesquisa convive em sua própria rede de informações, e essa rede tende a cada dia ficar mais específica, selecionando tópicos de interesse do participante. Logo, percebemos que as redes das nossas entrevistadas eram permeadas de informação a favor do parto domiciliar, encontrada nos grupos de discussão, chats, fóruns, comunidades, entre outros. Esse filtro que existe nas redes sociais é despercebido pela maioria da população, passando a ilusão de que cada um de nós tem controle absoluto sobre nosso uso da internet e redes sociais, sendo que, na realidade, as informações oferecidas já sofreram um filtro prévio de acordo com o interesse do usuário e do mercado.

É por que eu tive informação, agora, uma coisa também que eu digo, que, assim, a informação hoje não é paga, mas dá trabalho se informar, então, tipo, pra mim, está sendo uma jornada. Eu poderia estar muito bem em casa só pensando no enxoval. Eu escolhi, hoje, diferente, mas isso foi uma escolha minha. Eu tenho muitas pessoas que eu conheço que não, que “ah, imagina, quero me preocupar só com o quartinho, quero me preocupar só com o enxoval”, então, tudo bem. Mas, assim, eu escolhi, e, ao invés de eu estar lendo um livro, sei lá, algum livro X, eu escolhi estar lendo um livro que me fale sobre parto, que me faça entender a fisiologia do parto, que me faça entender em que casos que a cesária é necessária, né? Porque eu não sou da área da saúde [...] (Participante 1).

Logo, o acesso às informações por meio das redes sociais, internet, estudos e evidências científicas, assim como a troca de experiências vivida mais facilmente com o uso da internet e redes sociais, facilita o processo de apropriação do saber, favorecendo uma tomada de decisão mais informada. A participante 1 diz que “a informação hoje não é paga, mas dá trabalho se informar”, título deste subitem, que diz muito sobre a percepção de como a informação está disponível, porém, que devemos ainda refletir como ocorre este acesso. O acesso à informação de certa maneira é livre, basta um dispositivo com acesso à internet, atualmente algo disponível até para as camadas mais abastadas da população por meio dos celulares smartphones, já amplamente utilizados no país. No entanto, o acesso à informação envolve a cultura em que essa mulher está inserida, as suas relações familiares, o manuseio das novas tecnologias e também certo conhecimento prévio. Como a mulher irá se informar sobre parto domiciliar, se ela nunca ouviu falar sobre a possibilidade? Se na sua realidade isso nunca foi uma opção? Nesses casos, essa mulher, apesar de ter acesso às tecnologias que fornecem informação, não irá utilizá-las para esses fins. Existe um recorte social das mulheres que optam pelo

parto em casa, e a informação permite ter acesso a outras opções e novas escolhas que, de maneira geral, outras mulheres não têm.

A realidade é que não é somente o acesso à tecnologia que garante o acesso à informação; é necessário ser capaz de interpretar a informação e transformá-la em conhecimento. As mulheres, assim como outros grupos sociais vulneráveis e marginalizados, são afetadas pela falta de informação de forma desproporcional65. Muito mais do que transformar a informação em conhecimento, precisamos pensar também sobre a informação que está circulando e disponível, e como nossas mulheres as estão absorvendo.

O conceito de “Inteligência Coletiva” traz que a inteligência está distribuída por toda parte, podendo-se dizer que as redes de comunicação evoluíram de tal forma que é possível encontrar e gerar cultura tanto quanto uma biblioteca, pois na internet encontra-se muito conhecimento64.

Serra Junior e Rocha66 argumentam que pensar na sociedade como um conjunto de indivíduos com opiniões diversas, interligados por redes digitais, é uma forma equivocada de abstração das profundas divisões sociais geradas pela sociedade capitalista. Para os autores, é necessário considerar as contradições dessa sociedade, pois implicam interesses antagônicos de classes sociais e as relações estabelecidas na sociedade capitalista sofrem controle patronal, policial e ideológico66.

As novas tecnologias de informação e comunicação têm sido usadas como estratégias no processo de mobilização das lutas populares, no entanto devemos lembrar que mesmo essas redes são ameaçadas pela estrutura capitalista, que, de certo modo, controlam ideologicamente as redes digitais por meio das mesmas técnicas utilizadas nas mídias tradicionais66.

A questão da humanização do parto, por exemplo, começou a ser amplamente divulgada na mídia, tendo como “start” um vídeo disponibilizado no YouTube, que mostrava um parto natural domiciliar. A partir disso, a televisão brasileira trouxe reportagens sobre o assunto, e as mulheres usaram as redes sociais e a mídia para mobilizar as pessoas a irem às ruas em defesa do seu direito de decidir como e onde terem seus filhos67.

As mais diversas informações são encontradas. Cada grupo apoia sua causa e apresenta argumentos pertinentes que defendam aquela lógica de raciocínio. E a mulher, como fica nesse mar de informações? Seria mais forte aquela

mulher que teve o parto domiciliar? Ou melhor mãe? Na internet, existe espaço para todas essas respostas e dúvidas da mulher.

Esse “boom” de informações que circulam pela internet, televisão, rádio e revistas, além do excesso de informações e a forma caótica como elas circulam, revelam os mais diversos tipos de opinião e argumentos. A internet permite expressões e articulações de opiniões, que provavelmente não seriam possíveis sem sua existência, com potencial de mudar uma cultura67.

A internet e as redes sociais são ambientes de troca de experiências nos quais as pessoas costumam compartilhar seu conhecimento pessoal. São relatados casos de partos, tiram-se dúvidas uma das outras, trocam-se contato de profissionais que apoiam a opção escolhida. E também é um espaço para relatar os momentos desagradáveis, as angústias relacionadas ao parto, às experiências que não ocorreram como planejado e receber apoio de seus semelhantes. Podemos, então, pensar que essas novas redes formadas vão contra o sistema biomédico preestabelecido e não deixam de ser um movimento social ainda que virtual, tratando-se de mulheres que optaram pelo parto domiciliar e enfrentam a opinião médica e muitas vezes de sua família em busca de um atendimento mais humano e natural.

A mobilização em rede é uma força propulsora de transformações políticas, no entanto o que realmente caracteriza um movimento social e leva as pessoas às ruas são a necessidade de mudança e as péssimas condições do sistema atual: mau atendimento nos hospitais, violência obstétrica, falta de humanização no parto. O papel das redes digitais na mobilização dos movimentos sociais não pode ser considerado como irrelevante, no entanto não é determinante para que se caracterize como movimento social66.

As novas tecnologias de comunicação e informação se tornaram um veículo cômodo para militar sobre a causa. Sem sair de casa, é possível participar de grupos com pessoas desconhecidas que, no entanto, partilham dos mesmos ideais e fortalecem o movimento pró-parto domiciliar.

[...] o meu desejo é de fato passar por toda a experiência, mas isso é o que eu sempre digo. Não sou ativista, não sou de ficar levantando bandeira, porque eu acho que é uma escolha muito particular, isso tem que fazer muito sentido pra aquela pessoa. E isso faz sentido pra mim (Participante 1).

Nesse relato, é interessante e ambígua a percepção que a entrevistada tem sobre seu papel na disseminação do movimento pró-parto domiciliar. Segundo ela, não se considera uma pessoa “ativista”, no entanto seu discurso é permeado por percepções que vão ao encontro com o que é observado na literatura sobre os motivos que levam a mulher a optar pelo parto em casa, que geralmente envolvem o desejo de participar ativamente do processo decisório pelo tipo de parto, ter a família presente, acreditar que o parto possa ser natural, o desejo de não receber alívio farmacológico para alívio da dor, insatisfação com a assistência oferecida no modelo médico e acreditar no seu corpo para viver o nascimento de seu filho68.

Essa rotulação utilizada pela participante 1, “ativista”, revela muito sobre sua percepção de como a sociedade em que está inserida lida com o tema parto domiciliar. Ela enfatiza que “não é de ficar levantando bandeira”, para assegurar que não será rotulada como uma mulher que luta pelo parto domiciliar a qualquer custo, com receio de julgamentos dos que estão à sua volta, e, no momento, querendo assegurar isso inclusive para a entrevistadora.

Müller69 afirma que muitas pesquisadoras do parto humanizado são rotuladas como ativistas e são vistas como não sendo capazes de compreender os fenômenos que estudam, incluindo as críticas ao movimento de humanização do parto no Brasil. Se pesquisadoras já sofrem com rotulações, como uma pessoa leiga se sente ao optar por tomar um caminho diferente da maioria? E um caminho cheio de rótulos e enfrentamentos? As práticas culturais seguem tão fortes, que optar pelo caminho não usual acaba se tornando uma verdadeira luta e, quem sabe, com vitória.

Os grupos de gestantes também foram apontados com um papel fundamental na obtenção das informações durante o processo de gestação e planejamento, pelas mulheres considerarem um espaço seguro que possibilita o acesso a informações de qualidade e a discussão delas, sempre mediadas por profissionais da saúde. Essa constatação indica que os grupos de gestantes têm se constituído como importantes aliados ao processo de pré-natal43, assim como o acompanhamento no pré-natal com equipe especializada em parto domiciliar. Das seis mulheres que participarem desta pesquisa, quatro participaram de grupos de gestantes e casais.

[...] daí eu comecei a ir [aos grupos] e nossa, não precisa de médico, parto não é doença, daí eu comecei a me engajar, a começar, (...) o que me faz não querer ir pro hospital é a vulnerabilidade... É você estar totalmente suscetível a seu corpo, é estar totalmente entregue a outra pessoa que não é você. Então, isso é inadmissível pra mim, uma pessoa decidir sobre o seu corpo, o que é bom pra você, então, você sabe onde dói, o que tá acontecendo ali, só que essa soberania médica, os médicos acham que são semideuses e eles mandam no resto da humanidade (Participante 2).

E conforme o tempo, ele foi acompanhando todos os encontros que eu fui, os grupos que eu fui, e ele foi entendendo isso, acho que muito importante foi o fato de ser um encontro de assuntos de gravidez, né? (Participante 4)

Durante os grupos, foi desenvolvido o sentimento de empoderamento da participante 2, que passou a compreender os mecanismos pelos quais é mantida a soberania médica sobre a vontade da mulher no momento do parto. Houve uma apropriação de sua consciência corporal e valorização da sua capacidade como mulher e genitora, capaz de decidir o que é melhor para si e seu filho.

Existem iniciativas de grupos de gestantes dos mais variados formatos. Pelo perfil das nossas entrevistadas, os grupos que frequentavam eram organizações de iniciativas particulares, que solicitam uma contribuição simbólica em dinheiro ao final de cada encontro. No âmbito do SUS, muitas das Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Saúde da Família organizam grupos de gestantes, geralmente organizados por um profissional da enfermagem. De maneira geral, os grupos são desenvolvidos com a finalidade de complementar o atendimento realizado nas consultas, melhorar a aderência das gestantes aos hábitos considerados mais adequados, diminuir a ansiedade e compreender de forma mais clara os sentimentos que surgem nesse período, além de permitir a aproximação entre profissionais e receptores do cuidado e contribuírem para o oferecimento de assistência humanizada70.

Duas de nossas entrevistadas não participaram de nenhum grupo de casais e parto, sendo interessante perceber as diferentes percepções sobre o assunto. A participante 6:

Mas eu me arrependo de certa maneira, por que até tava pensando agora, essa semana que talvez fosse mais fácil pra eu aceitar uma intercorrência no meio se eu tivesse participando de um grupo, talvez não fosse tão doloroso pra mim pensar num plano B [...] Se eu pudesse voltar no tempo eu participaria de sábado, não sei (Participante 6).

Para ela, existe o entendimento que a participação nos grupos de casais teria sido benéfico para trabalhar consigo mesma a imprevisibilidade que é o planejamento do parto domiciliar. A participante se sente frustrada diante da possibilidade de todo seu planejamento não ser concretizado, e a opção do que ela chama de “plano B” para o parto não a satisfaz e traz um sentimento de impotência. Cabe ressaltar que essa participante, no dia da entrevista, estava diante de um dilema relacionado ao parto: ela estava prestes a completar 37 semanas de gestação e seu bebê ainda estava em posição pélvica, sendo necessário optar por manter os planos do parto domiciliar ou desistir de vez de seus planos e agendar a cirurgia cesariana. No caso dessa participante, foram esclarecidos os riscos que envolvem um parto normal pélvico, e os exercícios e manobras existentes que poderiam auxiliar na versão do bebê, no entanto não eram garantidos os resultados. Por isso, fica evidente em sua fala a frustração que sente de precisar tomar uma decisão com base nos riscos que conhece e no que está disposta a encarar.

De forma totalmente contrária, veremos agora a participante 3, que tem um posicionamento bem particular sobre os grupos de casais e gestantes:

A doula sempre fala: “frequenta algum grupo”, eu falo: “eu não consigo”, por que eu tenho preconceito. Eu tenho mesmo. É uma coisa assim que me tira do sério. Sabe, ver esse pânico que as pessoas fazem, esse drama que as pessoas fazem com uma coisa que é natural, uma coisa que foi feita pra funcionar. É claro que tem situação que não dá certo, que acontecem problemas que a gente conhece, mas até aí não precisa de todo drama com antecedência, eu acho que a gente tem que manter a cabeça no lugar (Participante 3).

Sua visão sobre o nascimento é a mais natural possível, e tem dificuldade em compreender as dúvidas e inseguranças de outras mulheres relacionadas ao parto normal, sendo que, na sua concepção, não existe outra possibilidade a ser considerada. Portanto, os grupos também podem representar um fator de estresse, ao considerarmos que durante a troca de experiências são relatadas situações desagradáveis, inseguranças das futuras mães, casos de complicações obstétricas, entre outras situações que poderiam conduzir nossa participante a uma situação de incerteza sobre sua opção. Nossa entrevistada aparenta uma segurança muito grande sobre sua escolha pelo parto domiciliar, no entanto, ao considerar que ela já passou por um parto hospitalar prévio cheio de complicações e que lhe trazem lembranças angustiantes, entende-se que em seu íntimo ainda prevalece a

insegurança, e o contato com outras opiniões e informações poderia desestabilizar sua decisão.

Isso fica muito claro no seu relato após vivenciar o parto domiciliar:

No documento Lar é onde se nasce (páginas 49-91)

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