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Capítulo III – “Crônica literária”: apreciações e indexações

1. Informações relevantes

Observando minuciosamente a coluna “Crônica literária” (1897-1908) de J. dos Santos no vespertino carioca A Notícia, notou-se que algumas editoras destacaram-se por sua grande atuação no mercado, pois responderam por um maior número de lançamentos em relação a outras, pelo menos segundo o que foi informado pelo jornalista.

As editoras mais mencionadas por Medeiros e Albuquerque foram as seguintes: Garnier, Laemmert, Livraria Moderna, Quaresma & Companhia, Francisco Alves, Chardron, Cupido, Casa Sucena, Centro de Assinaturas, Jacinto Ribeiro dos

Cada ano aumenta-se o número das obras impressas no país, vai-se propagando o gosto da leitura, vai tomando um caráter mais peculiar e prático a literatura do país; há mais animação e vida nas letras.

Santos, Liceu Literário Português, Casa Lombaerts, Associação do Quarto Centenário, F. Briguiet, Mariani, Central, Tavares, Cardoso & irmão, Centro Industrial, V. Havard e Ferreira & Oliveira.

No campo literário, sem dúvida, Garnier foi a mais ativa no período em questão, pois lançou periodicamente volumes de literatura, que foram resenhados em diversos momentos no periódico. Seu mais antigo editor, Baptiste Louis Garnier, foi responsável pela maioria de livros científicos, de instrução pública e também de obras puramente literárias que apareceram no Brasil, contribuindo para a aclimatação da literatura nacional ao século XIX.

Aliás, ainda em relação à Garnier, vale informar que a sua grande atuação no ramo literário da época foi proporcionada devido ao fato de que ele pagava direitos autorais com bastante freqüência, “não apenas aos tradutores mas também aos autores brasileiros [...] então ele estava fazendo mais que qualquer outro para alicerçar solidamente a literatura da sua pátria de adoção” (HALLEWELL, 1985, p.138). Como se sabe, o apoio legal referente aos direitos autorais só foi conquistado em 1898, devido à valiosa e insistente ação de Medeiros e Albuquerque, mas deve-se enfatizar o fato de que “era, pessoalmente, contra a participação do Brasil num acordo internacional, interessando-se apenas em garantir uma proteção que se limitasse a obras de cidadãos brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil” (HALLEWELL, 1985, p.171-172).

É importante informar que a respectiva editora teve vantagens que possibilitaram seu progresso na época:

Contudo, apesar de explorar bem o campo literário, Garnier dificilmente corria o risco de publicar o trabalho estreante de um escritor, pois possivelmente achava uma ação um tanto arriscada. Não obstante, no período da “Crônica literária”, nenhuma editora lançou tantas obras fictícias quanto a famosa Garnier, sendo que “praticamente não houve um romancista brasileiro de importância que não acabasse tendo a maioria de Inúmeros fatores ajudam a explicar o êxito de Garnier. O país continuava a gozar de prosperidade e de estabilidade política (apesar do trauma terrível da guerra do Paraguai). O público leitor estava se expandindo com o grande desenvolvimento da economia brasileira depois de 1850. O público leitor de romances, em particular, estava aumentando e era no campo da ficção, tanto nacional quanto estrangeira, que Garnier dominava o mercado (HALLEWELL, 1985, p.138-139).

suas obras publicadas por B. L. Garnier” (HALLEWELL, 1985, p.141). De fato, o próprio Medeiros e Albuquerque publicou o seu livro de contos Mãe tapuia por tal editora, embora não tenha obtido o mesmo resultado com outros livros.

Analisando a seção periódica de J. dos Santos, também se percebe uma grande quantidade de obras referentes a poesias e a livros escolares publicada pela poderosa Garnier, sendo que, em relação ao primeiro gênero de obra, tal editora foi uma das mais expressivas.

Outra famosa editora que apareceu com grande frequência nos livros resenhados da “Crônica literária” foi a Laemmert, ou seja, a principal concorrente da Garnier por bastante tempo. Sem dúvida, Laemmert e Garnier dominavam o ramo de lançamentos editoriais do século XIX. No entanto, a Laemmert nunca teve o intuito de desafiar o primeiro posto de Garnier no setor literário, embora tivesse sim publicado muitas obras dessa área no período.

Evidentemente, “a Garnier concentrou-se em literatura e também nos escritores franceses da moda que escreviam sobre ciência popular” (HALLEWELL, 1985, p.166). Já a Laemmert preferiu investir em história e também em ciência séria, além de obras de referência e de literatura, em menor proporção. Em relação à linha editorial, sua principal “era constituída por guias de bolso e outras publicações semelhantes, produzidas rapidamente para atender à demanda do mercado” (HALLEWELL, 1985, p.162), tanto é que J. dos Santos resenhou, em vários momentos, obras publicadas pela Laemmert.

Apesar da plena hegemonia das duas editoras citadas acima, não se pode descartar o papel relevante que Francisco Alves teve na atuação editorial, sendo que essa editora foi, em alguns momentos, evidenciada na “Crônica literária”. Embora tivesse uma preferência pelo lançamento de livros didáticos, Alves também publicou livros de literatura. O próprio Medeiros e Albuquerque publicou por ela, em 1933, seu Vocabulário brasileiro da ortografia oficial, trabalho de grande destaque para o setor educacional do país.

Ademais, visualizando a seção periódica de J. dos Santos, merecem também ser lembradas as editoras Quaresma & C.; Chardron e a Livraria Moderna pela publicação de alguns livros de literatura. A primeira, por exemplo, concentrou-se em editar volumes econômicos de apelo mais popular, além de conseguir expressivo destaque no mercado de literatura infantil, pois teve o virtual monopólio nesse setor. A segunda, do Porto, teve uma grande recepção dos leitores do Brasil, pois editou obras de

autores famosos como, por exemplo, Paulo Barreto, Coelho Neto e Sílvio Romero. Já a Livraria Moderna de Domingos Magalhães parece que possuía maior interesse em publicar, sobretudo, romances, pois obras deste gênero foram mais resenhadas na “Crônica literária”.

No campo da tradução publicadas por ela, nota-se que houve uma maior atuação da Garnier no período, preferindo lidar com obras, sobretudo francesas, visto que “o apelo esnobe exercido por tudo que fosse francês era também um fator importante, especialmente no caso de livros mais caros, aos quais se podia somar o atrativo adicional de uma encadernação francesa” (HALLEWELL, 1985, p.129). J. dos Santos resenhou várias obras estrangeiras na “Crônica literária”, lançadas pela Garnier, o que era inevitável, como se sabe:

Além disso, a Garnier foi a principal a publicar literatura hispano-americana, sendo que “em 1900 o departamento espanhol da matriz da Garnier em Paris era unanimente considerado uma das melhores livrarias de obras em língua espanhola, do mundo” (HALLEWELL, 1985, p.181). Além disso, ela teve uma grande relevância na tradução de livros para a língua portuguesa.

Outro dado de extrema importância é que Garnier não publicava somente livros no Brasil (principalmente, Rio de Janeiro), mas frequentemente também publicou volumes em língua portuguesa, porém em outros países, em sua maioria, europeus. Tal ação normal na época pode ser compreendida por dois fatores: o custo era mais barato, quando se publicava fora do Brasil, e também pela qualidade do trabalho ser melhor no exterior, se comparada com a nacional, que estava em incipiente desenvolvimento.

A Laemmert também atuou muito em tradução, como se depreende dos dados fornecidos pela coluna de J. dos Santos. No entanto, é importante ressaltar novamente que a sua preferência era pela tradução de trabalhos científicos e, no campo literário, pela literatura infanto-juvenil, setor em que a editora foi pioneira.

Para se ter uma idéia do papel da Laemmert, até 1909, deve-se considerar que fez “cerca de 400 traduções do inglês, do francês, do alemão e do italiano”

Quase todas as traduções eram de livros franceses e os romancistas populares constituíam a maior parte: Dumas, Hugo, Montepin, Octave Feuillet, Arsène Houssaye, Émile Gaboriau e Júlio Verne, que era de todos o que mais rendia. [...] Baptiste Louis Garnier foi também responsável pela apresentação do espírita Allan Kardec ao público brasileiro (HALLEWELL, 1985, p.146).

(HALLEWELL, 1985, p.165). Tendo em mente a relevância científica e a influência da França no Brasil, foi praticamente impossível que a editora deixasse de lançar livros traduzidos da língua francesa, exatamente como a Garnier fez. Olavo Bilac, colega de trabalho de Medeiros e Albuquerque em A Notícia, atuou bastante em tradução pela Laemmert.

Quanto ao gênero de obra mais resenhado por J. dos Santos em sua “Crônica literária”, o mais destacado, sem dúvida, foi a poesia. De 1897 a 1908, para se ter uma idéia, o cronista avaliou 202 livros de poemas, um número bastante expressivo, sem dúvida. Naturalmente, tal fato ocorreu porque

No entanto, o segundo gênero de obra mais frequente, ainda no campo literário, foi justamente o romance. No período citado acima, J. dos Santos resenhou exatamente 99 romances, não somente nacionais, como também estrangeiros. O terceiro gênero mais abordado foi o conto, em um total de 60 livros. De crítica literária, o jornalista resenhou apenas 28 livros.

Além disso, percebe-se nitidamente que, no território nacional, o Rio de Janeiro foi a cidade que mais contribuiu com o mercado editorial do século XIX. Nada mais natural, pois, afinal de contas, era a Capital Federal da República e, consequentemente, o progresso e a cultura encontravam nela condições mais favoráveis para o seu desenvolvimento.

Em menor proporção, aparecem Minas Gerais e São Paulo. A presença desta última explica-se pelo feroz crescimento populacional juntamente com “a pronta disponibilidade de capitais decorrentes dos repentinos lucros da cafeicultura” (HALLEWELL, 1985, p.231), que possibilitaram um incentivo cultural, embora menos expressivo que o do Rio. Aliás, surpreendentemente, “a própria rapidez da expansão da cidade nesse período deve ter sido hostil ao desenvolvimento cultural” (HALLEWELL, 1985, p.231-232).

a poesia podia ser difundida de várias maneiras ao alcance da capacidade financeira do autor. Na verdade, no Brasil de meados do século XIX (assim como na Roma Antiga!) os poetas se tornavam conhecidos mais frequentemente dando recitais públicos do que sendo lidos. Escrever poesias também consome muito menos tempo do que escrever romances –fato que torna mais fácil ser um poeta amador do que um romancista em tempo parcial (HALLEWELL, 1985, p.143).

Ademais, “havia muito pouco interesse em São Paulo na produção de livros” (HALLEWELL, 1985, p.231), tanto é que J. dos Santos informou pouquíssimos volumes lançados naquela região. Os livros paulistanos foram editados, em sua maioria, pela Grande Livraria Paulista e, em segundo lugar, pela Casa Eclectica.

Do território internacional, o cronista resenhou também obras publicadas em Gênova, Paris, Lisboa, Barcelona, Chile e Porto. Constatou-se que, de todas as localidades do mundo, o Rio de Janeiro teve maior destaque, o que dispensa qualquer explicação.

Alguns autores destacaram-se mais no período de atuação da “Crônica literária”, tanto que ora tinham seus livros frequentemente comentados por J. dos Santos, ora serviam apenas como boas referências quando o resenhista avaliava trabalhos de outros escritores. Por essa linha de observação, pode-se constatar que os nomes de Coelho Neto, Machado de Assis, José Veríssimo, Artur Azevedo, Olavo Bilac e Sílvio Romero foram constantemente impressos na coluna semanal de A Notícia, sobretudo, porque muitos desses autores tiveram suas principais produções literárias desenvolvidas no século XIX.

Diversos outros escritores importantes da literatura brasileira também foram mencionados pelo cronista, embora de maneira um pouco mais ocasional do que os citados anteriormente. Alguns não poderiam deixar de ser lembrados, haja vista que enriqueceram o meio intelectual da época; são os seguintes: Araripe Júnior, Magalhães de Azevedo, Tobias Barreto, Afonso Celso e Cruz e Sousa, principalmente o primeiro, que recebeu sempre comentários favoráveis do colunista, e o último, cujas produções foram resenhadas com críticas bastante negativas.

Outra observação bastante curiosa ao analisar a “Crônica literária” é a de que muitas obras resenhadas por J. dos Santos também foram comentadas por ele em seus próprios livros, o que mostra a visível importância que tais trabalhos literários tiveram quando foram lançados na época, além do apreço pessoal do cronista por eles, visto que não apenas se limitou a comentá-los no periódico, mas também os comentou em suas produções. Portanto, recebendo críticas, tanto positivas quanto negativas, nas próprias produções literárias do escritor, comprova-se, naturalmente, o interesse e estima que o jornalista demonstrou possuir por esses trabalhos.

Segue, abaixo, a indexação das resenhas de J. dos Santos publicadas no período de Janeiro de 1897 a Dezembro de 1908, em A Notícia. É de extrema importância informar que, de janeiro a março de 1906, de julho a setembro de 1907 e também em

outubro de 1908, o jornalista esteve ausente do seu posto jornalístico, devido a frequentes viagens que teve de fazer ao exterior, principalmente, à Europa.

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