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Informações sobre o uso dos recursos florestais e as mudanças climáticas

3 CAPÍTULO 2 PERCEPÇÃO ETNOBOTÂNICA ASSOCIADA À

3.2.2.2 Informações sobre o uso dos recursos florestais e as mudanças climáticas

As informações sobre os recursos florestais foram levantadas nas listas livres 1 e 2, obtidas através de formulário estruturado (Albuquerque, Lucena e Cunha, 2010). A lista livre 1 foi originada da pergunta do formulário estruturado: Quais plantas o senhor considera como medicinais? Já a lista livre 2, a partir da pergunta: Além das plantas que citou, faz uso

de outras plantas para outros fins como: madeireiro, alimentício, artesanato, combustível, místico, uso doméstico, forragem, ou outro uso particular? (Roque e Loiola, 2013).

As amostras vegetais foram obtidas durante os meses de abril a junho de 2018, por meio da técnica turnê guiada (Albuquerque, Lucena, Cunha, 2010), que consistiu na indicação e coleta de amostras botânicas férteis, realizada na companhia de um ou mais entrevistados. O diário de campo (Minayo, 2013) foi utilizado nessa ocasião para armazenar esses dados e informações sobre as plantas que foram relatadas durante a turnê guiada. As amostras vegetais foram herborizadas seguindo a metodologia de Bridson e Forman (1998) e identificadas através de consultas a bibliografias especializadas e/ou por comparação com exemplares pertencentes ao acervo do Herbário Prisco Bezerra (EAC), da Universidade Federal do Ceará.

Também foram usadas as informações obtidas pelo Inventário Florístico Apícola Georreferenciado (IFAG, 2017), cujas amostras estão depositadas no Herbário Prof. Francisco José de Abreu Matos - HUVA, da Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral-CE, para complementar as listas livres 1 e 2 e a lista da turnê guiada. As espécies que não puderam ser encontradas “in situ”, foram identificadas através da literatura e site especializado (FLORA, 2019). A grafia correta dos nomes dos táxons, a origem, endemismo e a forma de vida das espécies estão de acordo com Flora do Brasil em Construção 2020 (2019).

As questões referentes a percepção dos apicultores sobre mudanças climáticas estiveram descritas no questionário estrurado, seção 4. Quatros questões foram perguntadas para análise qualitativa e quantitativa sobre a percepção atual dos apicultores de Marcelino Vieira frente as mudanças climáticas em seu município (apêndice A). Literatura ciêntifica voltada ao semiárido foram incluídas para enriquecer a discussão dos dados.

3.2.3 Análise de dados

Os dados quantitativos foram tratados e agrupados no Excel. O Valor de Uso (VU) das espécies citadas pelos apicultores foi calculado através da razão entre o somatório das citações de uso para uma determinada espécie e o número total de informantes, através da fórmula proposta por Phillips e Gentry (1993).

Para o cálculo do Valor de Uso de cada espécie (VUs) foi utilizada a fórmula VUs = ΣVUis/n, onde VUis equivale ao valor de uso de uma espécie para um informante e n é o

número total de informantes entrevistados. Logo, quanto maior o número de usos mencionados para a espécie, maior será a sua importância (Vendruscolo e Mentz, 2006).

As espécies citadas, resultantes do somatório das listas livres 1 e 2, foram submetidas à análise exploratória, elaborando-se gráficos para evidenciar a distribuição das frequências dos valores de uso (VU) e feito o teste de normalidade de Shapiro-Wilk, utilizando o ambiente “R” (R Core Team, 2019). Para a análise comparativa do gráfico de frequências do VU, utilizou-se como referência Crawley (2013).

3.3 Resultados e Discussão

Os apicultores de Marcelino Vieira relataram 68 espécies úteis pertencentes a 38 famílias botânicas. As espécies são em sua maioria nativa (63%) e apenas 37% exótica (tabela 1). As famílias com maior número de citações foram Fabaceae (21%), Lamiaceae (10%) e Anacardiaceae (9%). Merece destacar que Fabaceae compõe um importante grupo de plantas e representam a maior parte da diversidade florística da região Nordeste do Brasil e do Domínio da Caatinga (BFG, 2015; Amorim et al., 2016).

As plantas citadas corresponderam aos descritores alimentício, madeireiro, medicinal, combustível e forragem, não tendo registros para artesanato, místico e outro uso particular. Durante as entrevistas 80% dos entrevistados citou mais de uma planta. Entre os descritores citados destacou-se o medicinal (62% das citações – Figura 5), com maior número de espécies citadas, 54 espécies, com potencial para a cura de diversas doenças e/ou sintomas (Tabela 3). As espécies medicinais citadas são em sua maioria nativas (56,6%), e a forma de vida que obteve destaque foi de herva (48%), seguido de árvore (43%), arbusto (7%), e lianas com apenas um representante.

Tabela 3 – Lista livre 1: espécies vegetais medicinais citadas pelos apicultores de Marcelino Vieira – RN. OR= origem; NA= nativa; EX= exótica; AR= arbusto; NR = Número de Registro Herbário; VU = Valor de Uso. Categorias de Uso (OMS): A – Lesões, envenenamento; B – Sintomas e sinais gerais; C – Doenças do aparelho respiratório; D – Doenças do aparelho digestivo; E – Doenças do aparelho circulatório; F – Doenças do aparelho geniturinário; G – Doenças da pele e tecido subcutâneo; H – Doenças do sangue e dos órgãos hematopoiéticos e de alguns transtornos imunitários; I – Neoplasias. Formas de Uso: I – Chá; II – Garrafada; III – Lambedor; IV – Sabonete; V – Molho; VI – Cozimento; VII – Xarope; VIII - Óleo; IX – Pílula; X – In natura; XI- Inalação; XII - Pó.

Família Espécie (Nome Científico e Popular) OR Hábito VU Categorias de uso (OMS) Formas de Uso Parte Usada NR Amarantaceae Gomphrena demissa Mart. /

Orós ou Oró

NA Erva 0,15 C III Raiz 62127EA

Família Espécie (Nome Científico e Popular) OR Hábito VU Categorias de uso (OMS) Formas de Uso Parte Usada NR Anacardiaceae Myracrodruon urundeuva

Allemão. / Aroeira

NA Árvore 0,4 B; C; H IV; II; V; VI; VII Casca 21425 HUVA Anacardium occidentale L. / Cajueiro NA Árvore 0,45 A; B; D; F I; V; II Casca 21412 HUVA

Annonaceae Annona muricata L. / Graviola EX Árvore 0,15 B; D; E; I I Folha ilt.

Apiaceae Anethum graveolens L. / Endro EX Erva 0,05 B; E I Semente ilt.

Asteraceae Helianthus annuus L. / Girassol EX Erva 0,05 B I Semente ilt.

Asteraceae Achyrocline satureioides (Lam.)

DC. / Macela

EX Erva 0,1 B; D I Fruto e

Caroço; Flor

ilt.

Asphodelaceae Aloe vera (L.) Burm. / Babosa EX Erva 0,15 B IX; II Folhas ilt.

Brassicacea Nasturtium officinale Robert

Brown. / Agrião

EX Erva 0,1 C I; III Folhas ilt.

Burseraceae Commiphora leptophloeos

(Mart.0 J. B. Gillett. / Imburana

NA Árvore 0,05 C VII Fruta ilt.

Cactaceae Cereus jamacaru. DC. /

Mandacaru

NA Árvore 0,05 F V Raiz il.

Chenopodiaceae Chenopodium ambrosioides L./

Mastruz

EX Erva 0,1 B I; X Folhas ilt.

Clomaceae Tarenaya spinosa (Jacq.) Raf. /

Mussambé

NA Erva 0,2 B; C I; III; V Casca; Flor; Raiz

20605 HUVA

Combretaceae Combretum leprosum Mart./

Mofumbo

NA Árvore 0,2 C III; II Casca 20538

HUVA

Crassulaceae Kalanchoe brasiliensis Camb./

Corama

EX Erva 0,05 C III Folhas ilt.

Euphorbiaceae Croton sonderianus Muell.

Arg./ Marmeleiro

NA AR 0,2 B; D I; X; III; II

Casca il.

Jatropha mollisima L./ Pião NA Erva 0,05 B - Flor e

Casca

20563 HUVA

Croton heliotropiifolius Kunth. /

Velame

NA AR 0,05 B I Folha 20571

HUVA

Fabaceae Amburana cearensis (Allem.) A.

C. Smith. / Cumaru

NA Árvore 0,2 C I; XI; III Casca ilt.

Arachis hypogaea L. /

Amendoim

EX Erva 0,05 B VIII Semente ilt.

Anadenanthera colubrina

(Vell.) Branan). / Angico

NA Árvore 0,15 B; C III; V Casca 21484 HUVA

Bauhinia sp. / Mororó NA Árvore 0,1 B I Casca il.

Hymenaea courbarilL. /Jatobá NA Árvore 0,05 B X Casca ilt.

Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.)

L.P. Queiroz./ Jucá

NA Árvore 0,05 B X Vagem

triturada; Pó

il.

Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.

/Jurema-preta

NA Árvore 0,2 B VI; III Casca 21424

HUVA

Poincianella pyramidalis (Tul.)

L.P. Queiroz. / Catingueira

NA Árvore 0,05 C I Casca;

Flor

20553 HUVA

Lamiaceae Lavandula officinalis L./

Alfazema EX Erva 0,05 D I Flor; Folha; Casca ilt. Marsypianthes chamaedrys

(Vahl) Kuntze. / Bamburral

NA Erva 0,05 C; D I Talo; Semente 20570 HUVA Mesosphaerum suaveolens (L.) Kuntze. / Bamburral NA Erva 0,05 C; D I Talo; Semente 20566 HUVA

Mentha piperita L. /Hortelã EX Erva 0,15 B; C I; III Folha ilt.

Vitex gardneriana Schauer. /

Jaramataia

NA Árvore 0,1 F I; V Folha il.

Melochia pyramidata L. / Malva Erva 0,1 C I; III Folha 20588

HUVA

40

Família Espécie (Nome Científico e Popular) OR Hábito VU Categorias de uso (OMS) Formas de Uso Parte Usada NR Mesosphaerum pectinatum (L.) Kuntze./ Samba-coité ou Alfazema-brava NA Erva 0,15 B; C; D I Folhas; Rama; Sementes 20591 HUVA

Lauraceae Persea américa Mill. / Abacate EX Árvore 0,05 E I Folha ilt.

Loranthaceae Struthanthus polyrhysus Mart.

/Esterco de passarinho ou Erva de Passarinho

EX Erva 0,05 C VII; III Fruto il.

Lythraceae Punica granatum L. / Romã EX AR 0,05 C X Fruto il.

Malpighiaceae Malpighia glabra L./ Acerola EX AR 0,2 B; C X; III Fruto il.

Musaceae Musa sp. / Bananeira EX Erva 0,05 C III Umbigo

(flor)

ilt.

Myrtaceae Psidium guajava L. / Goiaba NA Árvore 0,05 D I Folhas

(olho) il.

Olacacea Ximenia americana L. / Ameixa NA Árvore 0,35 B; D V; II; XII Casca s/n EAC

Papilionoideae Luetzelbourgia auriculata

(Allemaão) Ducke./ Pau-mocó

NA Árvore 0,05 B X Raiz 62132

EAC

Passifloraceae Passiflora edulis Sims /

Maracujá

EX Liana 0,05 B X Fruta ilt.

Pedaliaceae Sesamum indicum. L. /

Gergelim

EX Erva 0,05 B VIII Semente ilt.

Phyllanthaceae Phyllanthus amarus Schum et

Thorn. / Quebra-pedra

NA Erva 0,05 F I Raiz;

Rama ilt.

Poaceae Cymbopogon citratus (DC.)

Stapf. / Capim-santo

NA Erva 0,05 B I Folhas ilt.

Rhamaceae Ziziphus joazeiro Mart. /

Joazeiro

NA Árvore 0,15 B; D; G I; III; X Folhas; Casca; Entrecasc a

21481 HUVA

Rubiaceae Coutarea hexandra (Jacq.) K.

Selwen H. S. Irwin e Barnaby / Quina-quina

NA Árvore 0,05 B V Casca 62137EA

C

Rutaceae Citrus sinensis L. / Laranja EX Árvore 0,05 B; C X - ilt.

Citrus aurantifolia Swing var.

taiti./ Limão

EX Árvore 0,1 B; D I; X Casca;

Fruto; Sumo

il.

Sapotaceae Sideroxylon obtusifolium

(Roem. & Schult.) T.D.Penn./ Quixaba

NA Árvore 0,05 B V Casca ilt.

Solanaceae Solanum sp./ Melancia-da-praia NA Erva 0,05 F I Raiz ilt.

Turneraceae Turnera subulata Sm./ Chanana NA Erva 0,05 B I Raiz 20576

HUVA

Umbelliferae Pimpinella anisum L./ Erva-

doce

EX Erva 0,05 E I Semente ilt.

Verbenaceae Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P.

Wilson. / Cidreira.

EX Erva 0,25 B I Folhas;

Caule ilt. Fonte: elaborado pelo autor.

Um total de 36 famílias botânicas possui representantes identificados como medicinais, com destaque para Fabaceae (15%), Lamiaceae (13%), Euphorbiaceae (5%), Anacardiaceae Asteraceae e Rutaceae (4% cada) (Figura 6). Em outros levantamentos etnobotânicos realizados sobre espécies medicinas na Caatinga (Loiola et al., 2010; Roque, Rocha e Loiola, 2010; De Sá et al., 2015) Fabaceae também foi a família que apresentou o maior número de espécies citadas.

Figura 5 - Percentual das espécies úteis identificadas pelos apicultores do município de Marcelino Vieira, conforme cinco descritores: alimentício, combustível, forragem, madeireiro e medicinal. Figura 6: Principais famílias botânicas identificas pelos apicultores do município de Marcelino Vieira.

Anacardium occidentale/ Cajueiro (VU = 0.45), Myracrodruon urundeuva/

Aroeira (VU = 0.4) e Ximenia americana/ Ameixa (VU = 0.35) foram as espécies que apresentaram os maiores valores de uso, e por isso foram consideradas as mais importantes quanto ao uso medicinal nessa pesquisa. As demais espécies obtiveram um VU bem inferior, ficando abaixo de 0.25. Consultando a literatura cientifica verificou-se que no território potiguar existem similaridades e diferenças entre as espécies mais utilizadas em diferentes comunidades. De acordo com o estudo realizado por Freitas e colaboradores (2012) em São Miguel - RN, Anacardium occidentale foi a espécie com maior número de citações de uso. Já no trabalho desenvolvido por Roque, Rocha e Loiola (2010) em Serra Negra do Norte - RN,

Myracrodruon urundeuva foi identificada como a espécie com o maior número de citações.

Observa-se que conforme relata Roque, Rocha e Loiola (2010) as comunidades rurais estão, de modo geral, intimamente ligadas aos usos de plantas medicinais. O uso dessas plantas sempre esteve presente ao longo da história da humanidade e permanece até os dias atuais, fazendo parte da cultura de diferentes comunidades (Marodin e Baptista, 2002; Cabral e Maciel, 2011; Costa, 2013). Esse uso tem importante impacto econômico para as comunidades, de forma que a utilização dessas espécies, muitas vezes nativas da região ou cultivadas em seu quintal, pode reduzir os gastos com medicamentos sintéticos. Algumas famílias brasileiras, principalmente de baixo poder aquisitivo, geralmente têm em casa

Fabaceae 15% Lamiaceae 13% Euphorbiaceae 5% Anacardiaceae 4% Asteraceae 4% Rutaceae 4% Outras 55% Medicinal 62% Alimentício 10% Forragem 7% Combustível 5% Madeireiro 16% Figura 6 Figura 5

crianças e idosos, e a aquisição destes medicamentos sintéticos constituem um item muito oneroso no orçamento doméstico conforme citam Cabral e Maciel (2011).

Com base no delineamento estatístico, foi considerado como um número de corte o valor de uso (VU < 0.2). Desta forma, foram identificadas as dez principais espécies citadas como medicinais, ou seja, que apresentaram VU ≥ 0.2 (Tabela 4).

Tabela 4 – As dez principais espécies medicinais citadas pelos apicultores (VU ≥ 0.2), em Marcelino Vieira, RN. OR= origem: NA= nativa; EX= exótica; AR= arbusto.

Família Nome Científico Código da Espécie

Nome Popular

OR Hábito VU

Anacardiaceae Myracrodrum urundeuva

Allemão

A Aroeira NA Árvore 0,4

Anacardiaceae Anacardium occidentale L. B Cajueiro NA Árvore 0,45 Cleomaceae Tarenaya spinosa (Jacq.) Raf. C Mussambé NA Erva 0,2

Combretaceae Combretum leprosum Mart. D Mofumbo NA Árvore 0,2

Euphorbiaceae Croton sonderianus Muell. Arg. E Marmeleiro NA AR 0,2 Fabaceae Amburana cearensis (Allem.)

A. C. Smith

F Cumaru NA Árvore 0,2

Fabaceae Mimosa tenuiflora (Willd.)

Poir.

G Jurema Preta NA Árvore 0,2

Malpighiaceae Malpighia glabra L. H Acerola EX AR 0,2

Olacaceae Ximenia americana L. I Ameixa NA Árvore 0,35

Verbenaceae Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex

P. Wilson

J Cidreira EX Erva 0,25

Fonte: elaborado pelo autor.

Essas dez principais espécies medicinais registradas para Marcelino Vieira, também foram citadas em diversos outros estudos realizados no nordeste brasileiro. A tabela 5 verifica a similaridade dessas dez principais espécies com outros estudos etnobotanicos para Caatinga, levantando também o número de espécies citadas em cada localidade (município).

Tabela 5 - Similaridade das principais espécies medicinais citadas pelos apicultores para o município Marcelino Vieira - RN (VU ≥ 0.2) com outros estudos realizados na Caatinga nordestina. Legenda: A - Myracrodrum urundeuva; B - Anacardium occidentale; C -

Tarenaya spinosa; D - Combretum leprosum; F - Amburana cearenses; G - Mimosa tenuiflora; H - Malpighia glabra; I - Ximenia americana; J - Lippia alba.

Referência Bibliográfica Localidade Número de espécies citadas em estudos etnobotânicos na Caatinga Espécies em comum % similaridade

Mosca e Loiola (2009) Natal - RN 57 B; J 20

Roque, Rocha e Loiola (2010)

Caicó - RN 62 A; D; F; I 40

Silva e Freire (2010) Serra Negra – RN ESEC - Seridó

45 A; B; D; E; F; H; I; J

80

Almeida (2011) Jeremoabo - BA 86 B; E; G; I; J 50

Referência Bibliográfica Localidade Número de espécies citadas em estudos etnobotânicos na Caatinga Espécies em comum % similaridade

Lucena et al. (2012) Soledade- PB 101 A; F; G 30

Roque e Loiola (2013) Caicó - RN 69 A; C; D; F; G; I 60

Ribeiro et al. (2014) Assaré - CE 116 A; B; C; F; G; I; J 70

Silva et al. (2015) Milagres - CE 62 A; B; F; G; I 50

Fonte: elaborado pelo autor.

Ressalta-se que entre as espécies com VU ≥ 0.2, apenas Lippia alba (Cidreira) consta na lista da ANVISA (2017) como planta medicinal. As mesmas indicações de uso dos apicultores de Marcelino Vieira para as plantas listadas na tabela 3, também foram relatadas no estudo desenvolvido por Baracuhy e colaboradores (2016) na região Nordeste do Brasil. Entre os estudos realizados no âmbito da Caatinga sobre plantas medicinais, considerando as espécies com o VU ≥ 0.2 (Tabela 5), foi encontrada uma similaridade de 80% para o município de Serra Negra – RN (Silva e Freire, 2010) e de 70% no município de Assaré – CE (Ribeiro et al., 2014).

As espécies medicinais foram enquadradas em nove categorias de classificação segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2000). As categorias que apresentaram maior importância relativa, conforme o número de citação foram: B (R00-R99) – Sintomas e sinais gerais (42%); Cat. C (J00-J99) – Doenças do aparelho respiratório (26%); Cat. D (K00- K93) – Doenças do aparelho digestivo (16%). Entre doenças e sintomas as que tiveram maior citação foram Gripe (20%), Inflamação (12%), e Cicatrização (10%).

Um total de 13 formas de preparo das plantas foram citadas pelos apicultores de Marcelino Vieira, sendo o chá (36%) o método de preparo mais citado para curar as enfermidades, seguida de lambedor (23%) e molho (18%). Resultado semelhante foi encontrado por Silva e colaboradores (2015), no município de Milagres, Ceará. Já as partes das plantas mais utilizadas para o uso medicinal pelos entrevistados de Marcelino Vieira foram a casca (41%), folha (22%), raiz (10%) e frutos (9%). Essa informação indica que as plantas medicinais disponíveis no local fornecem estruturas perenes (cascas, entrecascas e raízes) para uso medicinal, de forma que 90% relatou que não armazenam as partes das plantas para uso e quando precisam, retiram diretamente da mata.

Outro importante recurso medicinal utilizado pelos apicultores é o uso da picada de Apis mellifera para a redução de dor na coluna e artrite, por 25% dos entrevistados. Sabe- se que a apitoxina, o “veneno” provindo do ferrão dessa espécie de abelha, tem propriedades comprovadas para melhoria desses sintomas (Schirmer, 1985; Moreira, 2012; Dantas et al., 2013). A eficácia da Apiterapia no tratamento artrítico é basicamente para aliviar as dores, Tabela 5 – Continua...

estimulando os pontos musculares dolorosos (Moreira, 2012). Outras funcionalidades ainda vêm sendo descritas como tratamento de doenças autoimunes, contra o câncer, doenças de pele e infecções (Dantas et al., 2013).

Deve-se mencionar que apesar dessa pesquisa ter sido realizada exclusivamente com público masculino, foi observado, em três residências visitadas, a mulher como guardiã de espécies medicinais nos quintais e responsáveis por alguns dos preparos para uso. Durante os encontros agendados foi possível observar que três entrevistados perguntavam às mulheres (mãe ou esposa) algumas informações sobre as plantas que indicavam uso. Assim, trago aqui a importância das mulheres na manutenção de espécies medicinais nos quintais e do uso dessas plantas no tratamento de doenças. Estudo desenvolvido no minicípio de São Miguel, no Rio Grande do Norte, por Freitas e colaboradores (2012), destaca a importância da mulher como guardiã de espécies medicinais nos quintais e no uso para cura das principais doenças da comunidade.

As espécies úteis para outros fins, conforme descritores identificados: alimentícios, combustível, madeireiro e forragem representaram 30 espécies vegetais relacionados ao uso da flora local, e correspondem à lista livre 2 (Tabela 6). As famílias botânicas que se destacaram nessa etapa foram Fabaceae (34%) e Anacardiaceae (20%). As espécies são essencialmente nativas (80%) e 20% são exóticas. A forma de vida predominante das espécies citadas foi árvore (80%). Os descritores que obtiveram maior citação, excluindo as plantas informadas como medicinais, foram: madeireiro (43%), alimentício (27%), forragem (18%) e combustível (12%). Na tabela 6 apenas 14 espécies não foram citadas como medicinais.

Tabela 6 – Lista livre 2: espécies vegetais citadas como úteis para outros fins, incluindo descritor medicinal, conforme ocorrência na tabela 1. Legenda: MA (Madeireiro); ME (Medicinal); AL (Alimentício); FO (Forragem); CO (Combustível). OR (Origem); NA (Nativa); EX (Exótica); AR (Arbusto); SA (Subarbusto). VU (Valor de Uso).

Família Nome Cientifico Nome Popular Usos OR Hábito VU

Anacardiaceae Spondias tuberosa Arruda. Imbuzeiro AL NA Árvore 0,05

Anacardium occidentale L. Cajueiro AL; ME NA Árvore 0,5

Myracrodrum urundeuva

Allemão

Aroeira MA; ME NA Árvore 0,35

Spondias purpurea L. Seriguela AL NA Árvore 0,1

Spondias mombin L. Cajazeira AL NA Árvore 0,05

Spondias macrocarpa Engl. Cajarana AL NA Árvore 0,3 Annonaceae Annona muricata L. Graviola AL; ME EX, Árvore 0,05 Apocynaceae Aspidosperma pyrifolium Mart. Pereiro MA; NA Árvore 0,2 Bignoniaceae Handroanthus heptaphyllus

(Vell.) Mattos

Família Nome Cientifico Nome Popular Usos OR Hábito VU Burseraceae Commiphora leptophloeos (Mart.)

J.B. Gillett.

Imburana MA; ME NA Árvore 0,05 Cleomaceae Tarenaya spinosa (Jacq.) Raf. Mussambé CO; ME NA Erva 0,05 Combretaceae Combretum leprosum Mart. Mofumbo MA; ME NA Árvore 0,15 Euphorbiaceae Croton sonderianus Müell. Arg. Marmeleiro MA; CO;

ME

NA AR 0,65 Fabaceae Anadenanthera colubrina (Vell.)

Branan.

Angico MA; ME NA Árvore 0,4 Prosopis juliflora (Sw.) DC. Algaroba MA; CO EX Árvore 0,15

Amburana cearensis (Allem.) A.

C. Smith

Cumaru MA; ME NA Árvore 0,4

Enterolobium contortisiliquum

(Vell.) Morong.

Timbauba MA; NA Árvore 0,2

Piptadenia stipulacea (Kunth.)

Benth

Jurema MA NA Árvore 0,1,5

Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. Jurema Preta MA; ME NA Árvore 0,05

Bauhinia sp. Mororó MA; ME NA Árvore 0,2

Poincianella pyramidalis (Tul.)

L.P. Queiroz

Catingueira FO; CO; ME

NA Árvore 0,15

Senna uniflora (Mill.) H.S.Irwin

& Barneby

Mata Pasto FO NA Erva 0,1

Mimosa caesalpiniifolia Benth. Sabiá MA NA Árvore 0,05

Senna spectabilis (DC.) H.S.Irwin

& Barneby var. excelsa (Schrad.) H.S. Irwin & Barneby

Canafístula MA; FO NA Árvore 0,1

Malpighiaceae Malpighia glabra L. Acerola AL; ME EX Árvore 0,2

Musaceae Musa sp. Banana AL; ME EX SA 0,05

Myrtaceae Psidium guajava L. Goiaba AL; ME NA Árvore 0,25

Poaceae Sorghum bicolor (L.) Moench Sorgo FO EX Erva 0,1

Zea mays L. Milho FO EX Erva 0,1

Rhamaceae Ziziphus joazeiro Mart. Joazeiro FO; ME NA Árvore 0,1 Fonte: elaborado pelo autor.

As espécies identificadas com maior número de citações (identificadas através do valor de uso, lista livre 2), de acordo com os descritores: alimentício, combustível, madeireiro e forragem; foram Crotons sonderianus/ Marmeleiro (0.65), Anacardium occidentale/ Cajueiro (0.5), Anadenanthera colubrina/ Angico (0.4), Amburana cearensis/ Cumaru (0.4), e

Myracrodrum urundeuva/ Aroeira (0.35). Essas espécies podem estar sofrendo elevada

pressão de uso e provavelmente, necessitam de estratégias para sua conservação no ambiente, conforme já enfatizado por Lucena e colaboradores (2012).

Considerando os descritores levantados, as espécies mais versáteis, conforme o número de descritores que tiveram citação foram Crotons sonderianus/ Marmeleiro (madeireiro, combustível e medicina); e Poincianella pyramidalis/ Catingueira (Forragem; combustível e medicinal).

Em relação ao uso madeireiro, 16% das citações de uso, as plantas mais citadas foram Crotons sonderianus, Anadenanthera colubrina/ Angico, e Amburana cearensis/ Tabela 6 – Continua...

Cumaru. Uso alimentício obteve 10% das citações de uso também, entre nove espécie citadas

destacaram-se Anacardium occidentale/ Cajueiro, Psidium guajava/ Goiaba, e Malpighia

glabra L./ Acerola.

Três espécies nativas foram citadas como importantes como forragem para bovinos e caprinos: Poincianella pyramidalis/ Catingueira, Senna uniflora/ Mata pasto; e

Senna spectabilis/ Canafístula, todas da família Fabaceae. As espécies exóticas identificadas,

as quais são utilizadas para forragem foram milho e sorgo. Quatro espécies foram citadas seu uso como combustível, utilizadas nos fogões a lenha por exemplo, entre as com maior citação destacou-se Croton sonderians.

Os dados analisados a partir das listas livres 1 e 2 não se ajustaram à curva normal (teste de Shapiro-Wilk: W = 0.69902, p-value = 3.976e-09, n = 68 espécies). A média dos valores de uso obtida foi 0,21 (+ 0.45) e intervalo de confiança 95% (Figura 7 - A). A partir dessas informações foi possível identificar três espécies de destaque, outlines visíveis no boxplot da figura 2.

As frequências dos valores de uso das listas livres sugerem uma distribuição negativa binomial (Figura 7 - B), evidenciando que para a maioria das espécies foram atribuídos valores de baixo uso, inferiores a 0.2. Isso indica que embora exista uma grande diversidade de espécies medicinais, no universo amostral de 68 espécies, poucas tem potencial reconhecido pelos entrevistados. Outra constatação é que o grupo intrevistado é

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