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Capítulo 4 – Realidade socioterritorial do Cariri Paraibano

4.1 As infra-estruturas social e econômica

Trabalhando a realidade educacional no contexto do território regional, constatamos que um dos principais problemas existentes na maioria dos municípios é o baixo nível de escolaridade, muito embora a maioria dos prefeitos e dos secretários de educação que foram entrevistados discordem dos dados oficiais relativos aos indicadores educacionais. Não obstante, os dados obtidos com a pesquisa de campo sobre o nível de instrução da população local15 entrevistada confirmam a existência de um baixo nível de escolaridade nos municípios pesquisados, como atesta o gráfico 03.

7% 41% 7% 14% 19% 4% 8% Analfabetos Ensino Fundamental Incompleto Ensino Fundamental Completo Ensino Médio Incompleto

Ensino Médio Completo Ensino Superior

Incompleto Ensino Superior Completo

Fonte: Pesquisa de Campo, 2004.

Gráfico 03 – Cariri Paraibano: nível/ausência de escolaridade da população local entrevistada

15 Denominamos de população local as pessoas maiores de dezoito anos, residentes nos municípios

pesquisados, que foram entrevistadas em locais públicos (como feiras livres, logradouros e praças) e privados (como estabelecimentos comerciais e residências na cidade e na zona rural). Reafirmamos que a pesquisa não tem um caráter estatístico, pois seu objetivo foi confirmar ou não os dados secundários, bem como buscar subsídios que auxiliem a compreensão das relações de poder e como vem ocorrendo a gestão territorial na região do Cariri Paraibano.

A análise dos dados referentes à escolaridade apresentados no gráfico aponta para alguns resultados não satisfatórios dessa realidade, uma vez que a baixa escolaridade compromete o desenvolvimento socioterritorial, dificulta a compreensão por parte da população dos processos sociopolíticos, facilita a cooptação de atores sociais por grupos políticos dominantes em épocas de eleição, compromete o grau de reivindicação e de atuação na melhoria das condições de vida, restringe as possibilidades de qualificação profissional e dificulta o uso de mecanismos participativos e de cidadania.

A realidade educacional dos municípios pesquisados é caracterizada pela precariedade em seus mais variados aspectos. De acordo com as informações dos secretários de educação entrevistados, existem, nos municípios pesquisados, 206 escolas municipais onde estão matriculados 18.117 alunos entre a pré-escola e o ensino fundamental. Nesses municípios, não há (até o momento da realização da pesquisa de campo) instituições de ensino superior. Existem ainda 39 escolas estaduais que oferecem tanto o Ensino Fundamental quanto o Ensino Médio. Devido à dificuldade na obtenção de dados consolidados, não foi possível apresentar o número de alunos matriculados nas escolas estaduais e particulares existentes.

Nesse quadro de precariedade, há um reconhecimento por parte dos entrevistados de que não existem escolas em todos os povoados da zona rural, mesmo que aí esteja concentrada a maioria da população de vários municípios. Os secretários de educação entrevistados justificaram essa ausência afirmando que não há alunos suficientes para manter uma escola em funcionamento, com o que não concordamos em face dos percentuais de analfabetos, dos percentuais de evasão escolar e do número de habitantes na zona rural.

No sentido de equacionar esse problema, foi adotado em todos os municípios pesquisados um sistema de nucleação como forma de racionalizar o funcionamento de escolas e de atender à população que mora no campo. Contudo, os entrevistados reconhecem que tal medida compromete o aprendizado dos alunos, pois muitos precisam se deslocar para outros povoados ou para a cidade, locais geralmente distantes de onde moram.

Em razão dos obstáculos inerentes à vida no campo e das dificuldades decorrentes de mecanismos que priorizam muito mais a redução de custos do que a melhoria dos níveis de escolaridade, sobretudo dos que habitam na zona rural, é certo que muitos abandonem seus estudos, tornando a evasão escolar um problema concreto.

Como na maioria dos municípios as escolas oferecem apenas o ensino fundamental, os alunos que precisam e devem continuar seus estudos são obrigados a se deslocar para municípios onde há escolas de ensino médio. Tal condição desfavorável vai se constituir em fator de desestímulo para que muitos alunos continuem estudando. Segundo opinião dos entrevistados, o trabalho nas fazendas ou nos pequenos sítios familiares, a gravidez precoce, os empregos remunerados, a precariedade dos transportes disponibilizados pelas prefeituras, a precariedade na infra-estrutura das escolas, a baixa qualificação profissional dos professores e a existência de escolas pouco atrativas devido à prática docente ou a ausência de equipamentos modernos foram outros fatores apontados como responsáveis pela evasão escolar.

A realidade educacional de diversos municípios pesquisados também se expressa pela precariedade da infra-estrutura de várias escolas que estavam em pleno funcionamento durante a realização da pesquisa de campo. Essa

precariedade não diz respeito apenas à infra-estrutura física de escolas ou das secretárias de educação (Fotografias 19 e 20) mas também à ausência de bibliotecas e ferramentas educacionais, tais como televisores, vídeos e computadores.

Foto: Anieres Barbosa da Silva, ago./ 2004. Foto: Anieres Barbosa da Silva, ago./2004.

Sobre as precárias condições de infra-estrutura que prejudicam o funcionamento de escolas, é ilustrativo o depoimento ouvido em um dos municípios que se caracteriza por ter elevado percentual de analfabetos. O pronunciamento do entrevistado atesta bem a situação focalizada, como podemos constatar: “A infra- estrutura não atende às necessidades de formação dos nossos alunos. Nós dispomos do básico, mas certamente não é ainda o básico que existe em outras escolas, como, por exemplo, as de Campina Grande. Falta biblioteca, refeitório, vídeo, há restrição ao uso de material etc. Contudo, considerando a pobreza da região, acho que auxilia no desenvolvimento. Atendem ao mínimo” (Entrevistado 14 – Secretária de Educação).

Tomando como exemplo essas palavras, é possível percebermos o grau de envolvimento de gestores municipais com a educação. Atender o mínimo, o

Fotografia 19 – Edifício-sede da secretaria de educação

básico é, no nosso entendimento, um desrespeito; uma ausência de compromisso com aqueles que dependem de instituições públicas para a reprodução da vida, além de ser uma negação da cidadania e dos direitos estabelecidos na Constituição Federal de 1988.

Tal condição ratifica o que foi dito por Seabra (2001, p. 26) ao fazer as seguintes considerações sobre a educação no Brasil, e particularmente sobre a escola pública de um modo geral:

A atualidade do ensino no País é dramática, para não dizer o pior; o sentido que as políticas públicas vêm imprimindo à educação é de segmentação das escolas com a finalidade de conseguir alguma melhoria qualitativa no ensino para áreas estrategicamente concebidas, demarcadas, como as escolas-padrão de São Paulo e as escolas em Belo Horizonte. A rigor, as estratégias para a escola pública estão inseridas nas políticas de ajuste do Banco Mundial.

Como se faz explícito nas palavras dessa autora, é dramática a situação da educação em diversas regiões brasileiras, principalmente naquelas que não são priorizadas ou não foram selecionadas como estratégicas. Essa situação se torna ainda mais grave quando se trata de regiões nas quais o baixo nível de escolaridade é um elemento que favorece a reprodução do poder político, na medida em que se tornam mais vulneráveis frente às ações de cooptação. Isso não nega a importância de algumas ações no setor de educação, que vêm sendo implementadas visando à melhoria dos níveis educacionais em determinados municípios do Cariri Paraibano.

Trata-se de ações que vêm sendo colocadas em prática a partir da transferência de recursos do Governo Federal, via Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef). Dentre essas, destacamos os programas para alfabetização de jovens e adultos, nos quais 4.312 alunos estavam matriculados à época da realização da pesquisa de campo, e cursos e programas de

aperfeiçoamento e formação de professores, a partir de convênios com Universidades e instituições não-governamentais. Mesmo considerando que essas ações podem ser vistas como positivas, resta saber se elas serão capazes de, num futuro próximo, mudar a realidade socioterritorial existente na região.

Outro aspecto que compromete o desenvolvimento socioterritorial no Cariri Paraibano é a ausência de tecnologias nas salas de aula, o que, ao mesmo tempo, traduz o pouco investimento no setor educacional por parte de governos municipais. Para se ter uma noção desse problema, das 32 escolas municipais existentes em Monteiro, que é considerado município pólo e o único da região que dispõe de provedor de internet, apenas uma escola conta com biblioteca e sala de informática interligada à rede mundial de computadores.

Nessa região, ou em outras regiões do semi-árido nordestino, a ausência de ferramentas educacionais modernas reforça a condição de pobreza e exclusão, como privação de capacidades (SEN, 2000), considerando-se que o mundo atual é caracterizado por grandes avanços tecnológicos, sobretudo nas áreas de comunicação e informação. E não há como ser diferente, afinal essas ferramentas

Terão um impacto cada vez maior na educação escolar e na vida

cotidiana. Os professores [e os gestores municipais] não podem

mais ignorar a televisão, o vídeo, o cinema, o computador, o telefone, o fax, que são veículos de informação, de comunicação, de aprendizagem, de lazer, porque há tempos o professor e o livro didático deixaram de ser as únicas fontes de conhecimento (LIBÂNEO, 1998, p. 40, grifo nosso).

Pelas palavras desse autor, percebemos que estamos em um mundo marcado pelos avanços tecnológicos; também em função disso, o espetáculo da vida no planeta é cada vez mais representado por diferentes linguagens (sons, imagens, movimentos). Como a maioria das escolas não dispõe dessas ferramentas,

os secretários de educação entrevistados ressaltaram que estão procurando adotar determinadas estratégias para tornar a escola atrativa e fazer com que os alunos que estão matriculados freqüentem as aulas. Entre outras, enumeram o pagamento da Bolsa Escola, a distribuição de merenda escolar, a doação de fardamentos e/ou material escolar e a gratificação paga aos professores por aluno presente na escola.

Essas estratégias merecem ser criticadas porque deixam transparecer que a presença do aluno na escola é estimulada a partir da sua situação de pobreza, de suas carências mais imediatas. O que deveria ser uma opção pela formação, pela cidadania e pelo aprendizado, mesmo que essa opção seja comprometida pela realidade educacional vigente na região, substitui-se por formas de aumento da renda familiar ou de acesso à alimentação, que, em alguns casos, é a única que os alunos têm durante o dia.

Constatamos que todos os secretários de educação entrevistados reconhecem a necessidade de priorizar e investir mais na área de educação. Para eles, a ausência ou o pouco investimento que vem sendo feito por parte dos governos municipais, via recursos do Fundef, compromete a formação dos alunos, afastando a possibilidade de a escola organizar ações para uma formação da cidadania democrática, ativa, social, econômica e cultural, que seja capaz de torná- los cidadãos conscientes de seus deveres e direitos políticos, sociais e, principalmente, territoriais, porque o componente territorial supõe uma gestão adequada para garantir a produção e distribuição de bens e serviços públicos.

Certamente, a incorporação desse discurso numa prática política que priorize a educação poderia contribuir para que a região saísse do atraso político, econômico e social. No entanto, esse discurso faz parte do jogo político que reproduz o poder no território regional, o que implica, ao menos por enquanto, a

permanência de uma precária realidade socioterritorial expressa nos níveis de escolaridade, renda, saúde, moradia, dentre outros.

No nosso entendimento, a escola deve criar condições para que os alunos conheçam o território, compreendam-no com profundidade, decifrem seus símbolos, pois só assim será possível o desenvolvimento de um sentido ético para que possam lutar e conquistar direitos, individuais e coletivos. Enfim, um cidadão ativo, participativo e capaz de compreender e de negar, quem sabe, os mecanismos de dominação historicamente utilizados na região. Como pontua Santos (1987, p. 07), “a cidadania, sem dúvida, se aprende. É assim que ela se torna um estado de espírito, enraizado na cultura”.

Ampliando essa forma de pensar a cidadania, Chaui (1986) ressalta que para ser chamado de cidadão é necessário ultrapassar o direito de consumir – que muitas vezes nem se efetua na região do Cariri Paraibano ou em outras do País –, atingindo a modernidade na qualidade consciente de produtores e criadores. Além do mais, a cidadania não pode ser um privilégio de classe, como, por exemplo, ocorre no Brasil e em outros países subdesenvolvidos, onde, de modo generalizado, “há cidadãos de classes diversas, há os que são mais cidadãos, os que são menos e os que nem mesmo ainda o são” (SANTOS, 1987, p. 12).

Entretanto, querer que a escola tenha como meta tal condição ainda pode ser visto como utópico na região do Cariri Paraibano, em função não somente da precariedade da infra-estrutura educacional, dos níveis de escolaridade dos alunos e dos professores mas, principalmente, em razão das práticas políticas arcaicas e conservadoras, já mencionadas, que (re)produzem e fortalecem os “donos do poder”.

Nessa região, os direitos das camadas denominadas de “populares”, isto é, economicamente mais pobres, ainda podem ser explicados como a concessão e a outorga feitas pelo Estado, dependendo da vontade pessoal e do arbítrio do governante, conforme mencionados por Chaui (1986, p. 54). Pensando assim, a cidadania dar-se-ia pela apropriação territorial de espaços públicos, por meio de seu uso social por toda a sociedade e não apenas por uma pequena parcela desta.

Como adverte Santos (1987, p. 05),

o componente territorial supõe, de um lado, uma instrumentalização do território capaz de atribuir a todos os habitantes aqueles bens e serviços indispensáveis, não importa onde esteja a pessoa; e de outro lado, uma adequada gestão do território, pela qual a distribuição dos bens e serviços públicos seja assegurada.

Em outras palavras, direitos como educação, saúde, moradia, lazer e cultura precisam ser entendidos como direitos sociais e não apenas como conquistas pessoais.

Diante desse quadro de referência, a existência de Associações de Pais e Mestres poderia representar um novo encaminhamento, visando à melhoria dos níveis educacionais na maioria dos municípios pesquisados. Contudo, constatamos que, apesar dos discursos alusivos à participação da sociedade na resolução de seus problemas, mais da metade dos Secretários de Educação entrevistados (54,55%) afirmou que não existe esse tipo de Associação nos municípios nos quais eles atuam. Isso ocorre porque “o problema está na falta de estímulo, incentivo tanto por parte da comunidade quanto de ações que devam ser encaminhadas pela Secretaria para esse fim” (Entrevistado 15 – Secretária de Educação).

Para os demais entrevistados que afirmaram haver Associação de Pais e Mestre (45,45%), os resultados alcançados ainda são tímidos, uma vez que algumas questões precisam ser consideradas, tais como os recursos que são escassos e a pouca participação dos pais na educação dos filhos. No entanto, a partir da análise das entrevistas, constatamos que o problema não está apenas na omissão dos pais, como salientaram alguns entrevistados mas, sobretudo, na aceitação, no conformismo de uma sociedade que tem como natural a sua condição socioterritorial.

Essa condição decorre de uma herança de práticas políticas persistentes do passado, as quais foram (e continuam sendo) utilizadas por aqueles que se encontram no poder e que transferem unicamente para a sociedade as responsabilidades de seus principais problemas, apesar de enaltecerem em seus discursos que estão implementando novas e modernas experiências na gestão pública municipal, com o que também não concordamos.

No contexto até então ressaltado, não é exagero dizer que os aspectos culturais também são negligenciados por gestores municipais. Temos conhecimento da forte tradição cultural existente na região do Cariri Paraibano. Essa tradição, também forjada ao longo do tempo, expressa-se por meio de inúmeros aspectos culturais, como crenças, mitos, costumes, religiosidades, patrimônio arquitetônico e arqueológico, artesanato, culinária, literatura, poesia e música, os quais se constituem em elementos importantes na identidade regional e, de certa forma, podem configurar uma resistência à tendência mundial de massificação cultural que presenciamos nos últimos tempos.

Embora tenha constatado a importância de se preservarem os bens culturais, a pesquisa também revelou o descaso e a falta de incentivos para a

preservação dessas tradições. Só para dar uma idéia desse descaso, mais da metade dos secretários de educação entrevistados desconhecem a existência de grupos culturais; além disso, revelaram a inexistência de políticas que visem estimular a sua formação. Assim, os responsáveis pela formulação e implementação de políticas educacionais (e, em alguns casos culturais devido à falta de secretaria com essa finalidade) demonstraram um total desconhecimento da importância das tradições culturais não apenas na formação e na preservação da identidade regional mas no desenvolvimento socioterritorial.

Em meio a esse quadro de precariedades e de abandono, descobrimos que a situação do setor de saúde não difere muito das análises que efetuamos para o setor de educação, visto que na maioria dos municípios pesquisados os procedimentos restringem-se ao atendimento básico da população em postos de saúde, que funcionam, também, de forma precária, em função da infra-estrutura e dos equipamentos neles existentes.

Diante dessa situação, não há como oferecer serviços médicos caracterizados como “procedimentos de média e alta complexidade”. Em sendo assim, a população, sobretudo a dos pequenos municípios, é constantemente encaminhada para cidades que foram classificadas previamente como pólos, sendo utilizadas ambulâncias ou automóveis das prefeituras para esse fim. Segundo alguns secretários de saúde entrevistados, tal procedimento requer que as secretarias de saúde estabeleçam um Plano de Pactuação Integrada (PPI) para compra/venda de serviços especializados ou façam parte de consórcios intermunicipais de saúde, como é o caso do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Cariri Ocidental (CISCO)16.

16 Fazem parte do Cisco 16 municípios, sendo Sumé o município-sede. Convém destacar que no

Não há dúvidas de que tais procedimentos minimizam o sofrimento daqueles que não têm condições de arcar com o custo de transportes, internações hospitalares, exames e consultas médicas especializados. Contudo, também é certo que esses procedimentos estão sendo amplamente utilizados na (re)produção do poder político local.

A partir das análises das entrevistas e das conversas informais, verificamos que predomina uma utilização político-partidária dessa forma de fazer saúde pública, uma vez que os procedimentos evidenciados anteriormente tornam a população mais pobre submissa e mais dependente das prefeituras, sendo, portanto, vetores para troca de favores e de instrumento eleitoral em épocas de eleições municipais. Assim, ao se consolidar como prática assistencialista, o uso político de procedimentos inerentes ao setor de saúde possibilita a permanência ou a ascensão ao poder de determinados grupos que vêem na condição de pobreza da maioria da população um caminho fértil para sua reprodução política.

Nesse processo de reprodução do poder local, o cargo de secretário de saúde reveste-se de um componente político e estratégico, sendo, portanto, um dos mais importantes do município. Daí, a explicação para o fato de ele ser ocupado geralmente por pessoas filiadas à sigla partidária do prefeito ou por parentes deste ou do vice-prefeito, como se revelou na pesquisa, na qual mais de 70% dos entrevistados afirmaram ter algum tipo de parentesco com um dos gestores públicos, e serem filiados a partidos políticos. Nesse sentido, o uso político e o nepotismo na distribuição dos cargos públicos vão ser fatores que comprometem ainda mais a precária situação de saúde pública vigente na maioria dos municípios da região.

Por ser considerado um cargo estratégico para muitos gestores municipais, é freqüente que ele seja ocupado por pessoas que não tenham

conhecimento específico sobre a área de saúde. Para que se tenha idéia dessa gravidade, apenas dois dos entrevistados afirmaram ser profissionais da área de saúde (Bioquímico e Enfermeira), enquanto os demais são profissionais de outras áreas do conhecimento (Educação, Música, Psicologia, Biologia e Serviço Social).

Além do aspecto político, o setor de saúde também é considerado estratégico em função do aporte de recursos que são transferidos pelo governo federal. Mesmo assim, na maioria dos municípios da região, existem apenas postos de saúde ou unidades mistas que, segundo moradores locais entrevistados, funcionam precariamente e se destinam ao atendimento básico da população, como já salientado anteriormente.

Desse modo, é possível afirmar que as políticas na área de saúde praticamente se limitam àquelas estabelecidas pelo Ministério da Saúde: campanhas