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2 AVERIGUAR A DIMENSÃO ÉTICA OU ESTÉTICA DA

2.3 Infraestrutura e superestrutura educacional

A escola é uma organização com objetivo de formar cidadãos aptos a atuar e contribuir para o bem comum da sociedade onde todos estão inseridos, incluindo-se aí o próprio ambiente escolar,formada por um conjunto de pessoas os quais chamamos de stakeholders educacionais: os alunos, professores, coordenadores, funcionários e outros responsáveis pela educação.

Os stakeholders são, portanto, aqueles que podem afetar ou ter o seu interesse afetado pelo funcionamento, desempenho e resultados presentes e futuros da organização em questão. No ambiente escolar, cada um dos agentes internos e externos que interagem com a escola é considerado como um stakeholders: professores, funcionários, alunos, pais e membros da comunidade. Esses agentes formam a comunidade escolar e interagem no processo de planejamento e execução dos processos administrativo-pedagógicos da escola dentro de um modelo de gestão escolar participativa. (BRITO; CARNIELLI, 2011, p. 30).

Uma educação de qualidade depende de como cada ator cumprirá com suas funções. O accountability educacional depende de como cada um de seus componentes operará de forma consistente. Hoje, a educação escolar está prestando conta mais ao mercado do que aos outros setores da sociedade.

A escola não pode ser mera formadora de mão de obra alienada, para uma globalização que nas palavras de Paulo Freire, (2008, p. 127) ―O Discurso da Globalização que fala da ética esconde, porém, que a sua é a ética do mercado e não a ética universal do ser humano, pela qual devemos lutar bravamente se optarmos, na verdade, por um mundo de gente‖

Cabe aos stakeholders educacionais exercer esta prática e cobrar mais dos sistemas escolares.

É na relação infra e superestrutura que iremos analisar esse novo conceito de responsabilidade social na educação escolar.

Figura 2– Infraestrutura e superestrutura educacional

Fonte: Elaborado pelo autor

Para melhor compreendermos a Responsabilidade Social na Educação Escolar, dividimos a educação em duas grandes áreas: a infraestrutura e superestrutura. A nossa intenção não é caracterizar ou dar ênfase à educação dentro de uma forma piramidal,mas mostrar as responsabilidades e a necessidade de interação entre os setores, ou seja, entre os que estão no âmbito

EDUCAÇÃO ESCOLAR INFRAESTRUTURA PRÁTICA STAKEHOLDERS EDUCACIONAIS DIRETOS SUPERESTRUTURA TEORIA STAKEHOLDERS EDUCACIONAIS INDIRETO

da legislação que apresenta uma teoria sancionada pelo governo e cujo Estado por esses representados proporciona uma administração democrática, participativa, flexiva, e os que estão na base de execução, transformando a teoria em prática. Na infraestrutura, encontram-se stakeholdersdiretos, aqueles que traduzem a legislação sobre educação fazendo-a acontecer (prática); são eles: professores, alunos, direção escolar, enfim todos os que estão ligados diretamente à base da educação. É nessa base que se encontram, portanto, as traduções sobre as reais necessidades e toda a estrutura da realização ensino- aprendizagem na prática. É neste setor que se encontram os especialistas da área educacional, que, dentro de uma gestão democrática e participativa,devem ter voz nas tomadas de decisões.

Na superestrutura, estão os stakeholdersindiretos que legislam sobre a educação (teoria). Para concluir os processos educativos no âmbito da legislação, é necessária a participação conjunta das duas bases; no entanto, é aqui que geralmente encontramos uma educação personalista, de governo e não de Estado.

Para que a educação seja realmente democrática, parte daqui a conscientização de que todas as partes interessadas no processo educativo devem estar de acordo; todos os stakeholders da educação são elementos essenciais ao planejamento estratégico educacional.

Qual o propósito da Responsabilidade Social na Educação? Pensar sobre uma nova forma de fazer educação em que se contemplam todos os seus

stakeholders diretos e indiretos.

É nesta relação entre infraestrutura e superestrutura da educação que procuramos ampliar os conhecimentos acerca das questões que envolvem a problematização educacional. A Educação não pode se desenvolver com base apenas nas teorias doutrinárias ou legislativas. Para isso, pretende-se refletir sobre quatro questões básicas para compreender a forma como se encontra a educação na contemporaneidade:

A primeira questão sobre a qual devemos refletir é quanto à realidade do aluno em relação à sua formação, em que se pensa numa formação moral e ética e não apenas enquanto sujeito e do trabalho, enquanto mão de obra qualificada.

APRENDIZAGEM INDIVÍDUO OBJETIVOS A percepção é de que a aprendizagem está sendo direcionada para os objetivos e não para o indivíduo; está apenas passando pelo aluno para atingir os objetivos sem antes ter o papel transformador, cujo reflexo objetiva torná-lo um sujeito crítico e consciente da realidade. ―O objetivo maior da educação na Grécia Antiga era fazer do homem cidadão, cidadão justo, era o que importava, homens ativos, valentes, mas que respeitassem as leis e participassem das decisões da cidade‖ (MOSÉ, 2012b). No entanto, entendemos que a escola contemporânea não está preparada nem para formar o sujeito e nem o trabalhador.

Que tipo de pessoa a escola busca formar? Enfim o que é a escola hoje? A Escola é uma forma de educar que nasceu na Grécia antiga com o propósito de formar cidadão, mas foi só com a modernidade que adquiriu o objetivo que tem hoje formar mão de obra de qualidade. Desde então quase nada mudou [...] O modelo educacional que predomina ainda hoje no mundofoi influenciado pela revolução industrial, é como se a escola fosse uma linha de montagem: português, matemática, química, geografia são peças a serem encaixadas no final da linha; sai um produto para atender as exigências do mercado, um aluno formado. Mas, hoje diante do imenso desenvolvimento tecnológico e ao mesmo tempo do extremo caos social em que vivemos, precisamos nos perguntar: será que é apenas para o mercado que a nossa educação deve nos formar? (MOSÉ, 2012a).

Em se tratando de aprendizagem, os conteúdos apresentados nas escolas não têm por objetivo esclarecer seus significados apenas, mas, por meio do conhecimento, levar o educando à capacidade de refletir, tematizar e problematizar a própria realidade. ―É preciso que seja capaz de, estando no mundo, saber-se nele.‖ (FREIRE, 2011, p. 16). É exatamente esta capacidade de atuar, operar, de transformar a realidade de acordo com finalidade proposta pelo homem, à qual está associada sua capacidade de refletir, que o faz um ser da práxis (FREIRE, 2011, p. 17).

Se o indivíduo pula uma fase no processo educativo, qual está sendo o papel da escola? Se, de um lado, os conteúdos são passados de uma forma bancária, de certa maneira, os alunos não estão absorvendo para si e de per si, mas apenas decorando conteúdos para outros propósitos que não a sua própria transformação. Os educandos estão assimilando ou decorando os conteúdos apenas para atingir seus objetivos finais, como vestibular, concurso, enfim direcionado apenas ao mundo do trabalho, então se torna inútil a forma como se educa.

Tomemos como exemplo a forma como Aristóteles se referiu à ética: ―Não se estuda ética para saber o que é virtude, mas para aprender a tornar-se virtuoso e bom; de outra maneira, seria um estudo completamente inútil.‖ (ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2003, p. 43).

Para Moacir Gadotti, ―a escola que nós temos ainda é aquela que parece que é o único espaço de construção do conhecimento científico e não é‖. Já para Edgar Morin ―a escola não lida com indivíduos, mas com uma massa de alunos, a escola não está montada para desenvolver as capacidades de cada um. A escola ensina conteúdos isolados, fragmentados que se empilham sem sentido‖. (MOSÉ, 2012a)

Como mencionou Mosé (2012a),―A educação precisa refletir seu papel e continuar questionando: Será que apenas para mercado que a nossa educação deve nos formar?‖ A educação deve ser repensada no século XXI, deve pensar o aluno enquanto sujeito e o professor com relação ao seu próprio desejo assim como sua existência enquanto profissional relevante no processo educacional, como realizador e comunicador pedagógico. Este tema trataremos com mais profundidade no terceiro capítulo.