Não apenas no Brasil, mas em muitos países do mundo busca-se a redução
do número de acidentes de trabalho na Indústria da Construção. Uma das iniciativas
de maior impacto foi o Programa Trabalho Decente da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), cujo objetivo foi a promoção de oportunidades, a trabalhadores, de
garantia de acesso a trabalho decente e produtivo e em condições de liberdade e
segurança (ILO, 2007).
Em parceria com International Training Centre (ITC), a OIT propôs uma
metodologia, enfatizando nove princípios gerais de prevenção que consistem de
ações no processo, concepção, planejamento e execução de um projeto de
construção (ILO, 2009).
Os princípios gerais da metodologia apresentada são:
• Evitar perigos/fatores de risco;
• Avaliar os perigos e fatores de risco que não podem ser evitados;
• Combater os perigos/fatores de risco na fonte;
• Adaptar o trabalho ao indivíduo evitando o trabalho monótono e repetitivo;
• Adaptar o processo de trabalho ao avanço tecnológico;
• Substituir os produtos e processos perigosos por não perigosos ou menos
perigosos;
• Desenvolver uma política de prevenção coerente geral, que cubra
tecnologia, organização do trabalho, condições de trabalho, relações
sociais e fatores de influência relacionados ao ambiente de trabalho;
• Fornecer prioritariamente medidas de proteção coletivas em relação às
individuais;
• Fornecer instruções apropriadas aos trabalhadores.
Em 2015, o SESI apresentou um estudo sobre medidas de combate aos
acidentes da Indústria da Construção, avaliando, sobretudo, tecnologias, recursos e
mecanismos. O estudo baseou-se na reunião e avaliação das principais publicações
sobre o tema, e constatou-se que algumas medidas têm melhor efetividade na
Construção (SESI, 2015b).
A Seguir, são apresentados os principais fatores de redução identificados
neste estudo:
PRÁTICA FATORES QUE REDUZEM O RISCO (INCIDÊNCIA) DE ACIDENTES DE TRABALHO NA IC Características do projeto e natureza do trabalho (Planejamento da obra e inclusão de SST)
Utilizar tempo para o planejamento da obra, incorporando SST: - Alocação de tempo, de empregados e de orçamento para SST;
- Checar possibilidades físicas no ambiente de trabalho para garantir a segurança relacionada a estrutura física da construção;
- Complexidade da construção deve ser analisada e levada em consideração;
- Exigência do contratante na alocação de recursos para SST; - Realizar inventário (mapa) de riscos;
- Reuniões preparatórias com trabalhadores, supervisores e chefias para identificar decisões a serem tomadas.
Organização e estruturas
(Planejamento) - Planejamento da obra com incorporação da SST.
Regras - Responsabilidades da SST devem ser claras para todos os grupos de Trabalhadores
Procedimentos
- Adesão as práticas de garantia e monitoramento sistemático das condições de SST;
- Informação disseminada sobre riscos existentes e procedimentos de SST;
- Não incentivar atalhos (encurtamentos) inseguros;
- Inspeções regulares pela própria equipe de SST responsável pela obra;
- Evitar trabalho em isolamento; - Acesso a EPI com uso monitorado;
- Manutenção de EPI segundo normas do fabricante; - Campanhas de SST regulares;
- Cursos curtos de SST adequados à realidade da obra.
Recursos
- Tempo garantido para preparação do projeto e início da obra;
- Recursos financeiros adequados para compra de equipamentos de SST e adoção de medidas de proteção.
Organização do trabalho
- Percepção de que empregadores são íntegros, competentes, agem consistentemente, são leais e abertos;
- Empoderamento e autonomia do trabalhador.
Clima e cultura de segurança
- Conjunto de valores e normas passado de indivíduo para indivíduo, em todos os níveis.
Interação e cooperação
- Apoio à confiança mútua, empoderamento e boa escuta; - Trabalhadores participarem sugerindo medidas de segurança;
- Supervisores apoiarem comitês de segurança e manifestarem verdadeiro sentimento de que “se importam” com os trabalhadores e a SST;
- Conhecimento e bom relacionamento entre trabalhadores e equipe (coesão);
- Boa comunicação entre os trabalhadores;
- Bom clima de tolerância para pequenos erros (não humilhar ou ridicularizar quem se recusa a usar EPI, por exemplo);
- Controle de autoconfiança excessiva ou atitudes que apresentem riscos;
- Não estabelecer metas inalcançáveis;
- Trabalhadores são encorajados a indicar problemas e sugerir modos de controlar problemas.
PRÁTICA FATORES QUE REDUZEM O RISCO (INCIDÊNCIA) DE ACIDENTES DE TRABALHO NA IC
Competência - Conhecimento, habilidades (saber fazer) e experiência.
Formação do trabalhador
- Treinamento formal que inclui conteúdos de SST e prevenção no treinamento;
- Formação especializada técnica de três anos em construção (nível médio) com período de estágio de dois anos e meio;
- Formação conjunta com cursos de engenharia e outros de nível superior afins para reduzir diferenças sociais;
- Formação específica para tipos de construção.
Atitudes individuais - Engajamento pessoal, assumir responsabilidades, priorização da segurança;
Treinamento dos trabalhadores em SST
- Inclusão de conteúdos de ética no trabalho na formação e não apenas na prática/experiência enfatizando a negociação coletiva de práticas seguras e não apenas entre um e outro trabalhador ou supervisor.
Motivação - Responsabilidade pela coordenação das ações de SST no ambiente de trabalho.
Condições de emprego e salários
- Vínculos estáveis e duradouros, salários integrais (não diárias ou por empreitada) e menor rotatividade;
- Maior vinculação e compromisso de empregados com a empresa e de empregadores com os trabalhadores
Práticas no chão de fábrica
- Coaching e preleções sobre SST por supervisores e mestres diariamente;
- Feedback para os trabalhadores relativas a práticas seguras adotadas na empresa, garantindo-se que não seja apenas “da boca para fora”; - Participação da alta gerência e supervisores graduados têm importância na construção de clima de segurança.
Quadro 2 – Fatores de prevenção/proteção para acidentes de trabalho na Indústria da Construção identificados em pesquisas avaliativas.
Fonte: Adaptado de SESI (2015b).