• Nenhum resultado encontrado

3. CAPACIDADE TECNOLÓGICA E MODELOS DE MENSURAÇÃO

3.1 Inovação, mecanismos de acesso e padrões de dinâmicas tecnológicas

proposto.

3.1 Inovação, mecanismos de acesso e padrões de dinâmicas

tecnológicas

O conceito de inovação, como fator explicativo e impulsionador da economia, condicionante da competitividade de nações, setores e empresas, tem início no começo do século XX. Segundo Santini, Schiavi e Souza Filho (2005), a inovação é capaz de gerar significativas mudanças internas e externas à firma, além de levar à alteração no padrão de concorrência e de concentração dos mercados.

Para Arundel (1998), a habilidade de inovar rapidamente é essencial para o posicionamento competitivo das empresas.

Segundo Schumpeter (1982), a inovação se refere às novas combinações de fatores de produção que levariam o inovador a produzir um novo produto e/ou serviço e, assim, auferir lucro por meio de um monopólio temporário. Para o autor, uma inovação pode ser vista como sendo a introdução de produtos ou de uma nova qualidade em um produto já existente no mercado, a introdução de um novo método de produção, a abertura de novos mercados, a conquista de uma nova fonte de matéria-prima ou de bens semimanufaturados ou o estabelecimento de uma nova forma de organização de qualquer indústria.

O Manual de Oslo (ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, 2005) define quatro grupos de inovação, adotados neste trabalho, que encerram um conjunto de mudanças nas atividades das empresas, a saber:

(a) Inovações de produto - envolvem mudanças significativas nas potencialidades de produtos e de serviços. Incluem-se bens e serviços totalmente novos e aperfeiçoamentos importantes em produtos existentes;

(b) inovações de processo - representam mudanças significativas nos métodos de produção e de distribuição;

(c) inovações organizacionais - referem-se à implementação de novos métodos organizacionais, tais como mudanças em práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas da empresa;

(d) inovações de marketing - envolvem a implementação de novos métodos de marketing, incluindo mudanças no design do produto e na embalagem, na promoção do produto e sua colocação no mercado e em métodos de estabelecimento de preços de bens e de serviços.

Além da caracterização da inovação em função do objeto de mudança (produto, processo, organização/gestão e mercado), outra dimensão de análise considera o grau de mudança provocado em relação ao objeto/ conhecimento pré- existente. Nesta abordagem, as inovações são divididas em radicais ou incrementais. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (2005), inovações radicais são aquelas que produzem modificações significativas em um mercado e na atividade econômica das empresas nesse

mercado e podem, por exemplo, mudar a estrutura de mercado, criar novos mercados ou tornar produtos existentes obsoletos. Por outro lado, inovações incrementais, ao serem geradas ou adotadas, não provocam alterações na estrutura industrial.

Com relação à abrangência do grau de inovatividade, os novos produtos podem ser tipificados em “novo para o mercado”, ou seja, um produto

totalmente novo e em “novo para a empresa”, quando a empresa lança um produto

já existente no mercado (ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, 2005).

O processo inovativo contempla duas rotas para o estabelecimento de mudança técnica: esforço criativo (realização de atividades criativas pela firma para desenvolvimento de novos ou melhoramento em produtos, processos ou serviços) e adoção (aquisição de novos produtos ou processo de fontes externas à firma). Segundo Bell e Pavitt (1993), a difusão ou a adoção é mais observada em países em desenvolvimento. Esta rota para inovação envolve mais que a apropriação de tecnologia gerada externamente e exige contínua mudança incremental a fim de adaptar a inovação original aos usos específicos pretendidos.

Além das diferentes rotas relacionadas com mudanças técnicas mencionadas acima, como salientam Lastres et al. (2000), o processo inovativo envolve um processo de aprendizado interativo, realizado com a contribuição de variados agentes econômico-sociais que possuem acesso a diferentes tipos de informações e de conhecimento. A capacidade para inovar configura-se não só pela geração ou difusão, mas pela formação de ativos complementares que têm por base o processo de aprendizagem ou de capacitações via execução da produção (learning by using, learning by doing, learning by operating e learning by interacting), treinamento (learning through training), contratação (learning by hiring) ou processo de busca (learning by searching). Neste sentido, dois conceitos são importantes para compreensão das dinâmicas tecnológicas específicas, os sistemas setoriais de inovação e de capacidades.

A capacidade de inovação é assimétrica entre organizações, países e setores. As diferenças nas taxas de implementação de inovação variam em função dos níveis de cumulatividade do conhecimento específico a cada trajetória tecnológica, das condições de apropriabilidade dos lucros gerados pela inovação,

segundo o grau de conhecimento e de eficácia dos mecanismos de proteção legal dos direitos de propriedade (patentes, direitos autorais, segredos comerciais e marca registrada), e das condições de oportunidade (DOSI, 1988).

Segundo Pavitt (1984, pg.348), “a especificidade é uma característica essencial das inovações e da atividade inovadora nas firmas capitalistas – tanto em termos de aplicações funcionais quanto da capacidade da firma inovadora apropriar o conhecimento relevante por um período de tempo”. Para o autor, a mudança técnica é um processo cumulativo específico, e cada setor apresenta variação na importância relativa de inovações de produto e de processo e nas fontes de inovação, bem como é condicionada pelo tamanho e pelo padrão de diversificação tecnológica das empresas que o compõem. Da mesma forma, pode-se dizer que fatores ligados a especificidades da atividade econômica, ao porte e à capacidade financeira da empresa, à extensão geográfica de atuação da empresa, à estrutura da concorrência, dentre outros fatores, condicionam os mecanismos de acesso à inovação, bem como os padrões de dinâmica tecnológica para cada empresa.

Em relação à dinâmica tecnológica setorial, Pavitt (1984) e Bell e Pavitt (1993) estabeleceram uma categorização de mudança técnica e de acumulação tecnológica, considerando os setores geradores e os usuários da inovação, assim como o setor da principal atividade inovadora. Seguindo esta lógica, as mudanças técnicas diferenciam-se segundo o perfil das firmas: firmas dominadas por fornecedor, firmas escala-intensiva, firmas informação-intensiva, firmas baseadas na ciência e firmas fornecedor especializado15.

Nesta proposição, os autores consideraram as atividades agropecuárias e agroindustriais como pertencentes a setores dominados por fornecedor e de menor dinamismo tecnológico, fazendo ressalva à indústria de alimentos, que apresenta comportamento escala intensiva. Trabalhos como os de Possas et al. (1996), Cabral (2001), Alfranca (2003) e Domingues (2008) exploram a existência de especificidades intrassetoriais nesses setores e apontam para a necessidade de análises detalhadas das dinâmicas técnico-concorrenciais destes setores e dos setores correlacionados a eles.

15 Tradução dos termos em inglês: supplier-dominated firms, scale-intensive firms, information-

Para os objetivos desta tese, enfatizar-se-á o plano teórico e analítico mesoeconômico da dinâmica tecnológica dos setores industriais, focando-se nas características do processo inovativo e suas relações e/ou condicionantes com a dinâmica industrial/setorial e, em especial, nas capacitações necessárias para os processos de mudança técnica. Assim, nos próximos itens, serão exploradas as definições de tecnologia, de mudança técnica, de recursos e de capacidades, em especial, de capacidade tecnologica.