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Inovação a nível do sistema – Neste caso, todo o sistema tecnológico (o produto, a cadeia de produção e os serviços, as infra-estruturas e as instituições que lhes estão

associadas) é substituído por um novo sistema. Este tipo de abordagem tem sido equacionada por exemplo ao nível de sistemas de transporte e acredita-se que com alterações a este nível é possível atingir aumentos de eco-eficiência na ordem de um factor 20.

O aumento da eco-eficiência ao longo do tempo, associada a estes estádios de desenvolvimento sustentável do produto, apresenta-se na figura 4.6.

Fonte: Rathenau Institute, 1996.

Figura 4.6 – Quatro estádios do desenvolvimento sustentável do produto

Um importante instrumento de apoio às decisões de design de um produto é a avaliação do ciclo de vida do produto (ACV). A ACV é uma metodologia de identificação e avaliação dos impactes ambientais associados às fases do ciclo de vida de um produto, desde a extracção das matérias-primas até à deposição final do produto. Ao revelar quais as fases, materiais e processos que têm os impactes ambientais mais significativos, permite estabelecer prioridades de actuação para a sua minimização na origem.

A ACV, embora útil, é um instrumento relativamente difícil de utilizar e oneroso para as empresas. A avaliação dos impactes associados ao ciclo de vida de um produto, por muito simples que ele seja, envolve a recolha de uma enorme quantidade de dados e depara-se ainda com assinaláveis lacunas de informação. Um aspecto crucial é a definição das fronteiras do sistema a estudar, porque vai condicionar os resultados. Por outro lado, a

1: Melhoria do produto 2: Re-design do produto 3: Inovação a nível da função 4: Inovação a nível do sistema Nível de sustentabilidade 20 Tempo (anos) Aumento da eco- eficiência 5 10 20 I I I

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avaliação da significância dos impactes é difícil e questionável na ausência de um quadro de referência universalmente aceite. Embora existam metodologias consensualmente aceites para a realização de ACV quantitativos (p.e., normas ISO da série 14040), a maioria das avaliações do ciclo de vida tendem a ser lineares, no que respeita à definição das fronteiras do sistema em estudo, e/ou são realizados de uma forma qualitativa (Larson, 1997).

Se cabe aos responsáveis pelo desenvolvimento do produto a maior quota-parte de responsabilidade (e de oportunidades de melhoria e inovação) na definição do perfil ambiental do produto, tal como se referiu, também é certo que os restantes elementos da cadeia do produto (cuja representação simplificada se encontra na figura 4.7, que indica também os fluxos de materiais, energia, informação e financeiros entre eles) devem igualmente actuar no sentido de minimizar os impactes negativos ao longo do ciclo de vida. Os elementos fundamentais de tal estratégia – designada por gestão do ciclo de vida – são:

• Consideração sistemática dos aspectos ambientais ao longo do ciclo de vida, • Definição de orientações estratégicas, da política e de objectivos de

desempenho ambiental, integrados na estratégia de negócio da organização e segundo o princípio de melhoria contínua e

• Cooperação com os restantes elementos da cadeia de valor.

Ou seja, na definição simples de Pedersen (2001), trata-se da gestão empresarial baseada em

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Figura 4.7 – Representação simplificada dos elementos de uma cadeia de produto, com indicação dos fluxos de materiais, energia, informação e dinheiro

materiais energia informação dinheiro materiais energia informação dinheiro

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4.5 Síntese: evolução da dinâmica empresas / sociedade

Em síntese, pode afirmar-se que nas últimas duas décadas se verifica um conjunto de tendências na resposta das empresas e governos à complexa dinâmica da interface empresas/sociedade, ou de uma forma mais abrangente, sistema económico/sistema social/sistema natural (Brezet & Rocha, 2001; Rocha, Brezet & Peneda, 1999):

• Assiste-se à transição de abordagens curativas para estratégias de prevenção da poluição, o que corresponde a uma mudança de atitudes na abordagem à poluição e utilização de recursos;

• O tradicional enfoque nos processos produtivos vem-se alargando no sentido de se contemplar todo o ciclo de vida de produtos e serviços;

• O próprio conceito de negócio apresenta sinais de evolução no sentido da satisfação das necessidades humanas através da venda de funcionalidades e não de produtos físicos, aliás no quadro de tercearização da economia a que se vem assistindo, o que se designou por “sistemas produto-serviço” e que constitui a principal via para a desmaterialização;

• Um crescente número de empresas tem vindo a adoptar uma postura pró-activa face às expectativas da sociedade quanto ao seu desempenho ambiental – e principalmente face às exigências regulamentares – abandonando assim a tradicional postura reactiva e impondo-se níveis de desempenho superiores aos exigidos pela legislação. Neste mesmo sentido, as autoridades vêm adoptando novos instrumentos de operacionalização das políticas ambientais a nível nacional e europeu, nomeadamente instrumentos voluntários que assentam na iniciativa das próprias empresas e na sua capacidade de auto-regulação;

• Assistiu-se ainda à percepção de que as soluções tecnológicas são insuficientes se não devidamente enquadradas por processos de gestão que garantam a visão, a estratégia, as competências e os recursos humanos e materiais necessários à efectiva integração das preocupações ambientais no cerne da estratégia de negócios das empresas. Foi este o contexto do aparecimento dos sistemas de gestão ambiental, tema central deste trabalho.

A figura 4.8 resume estas tendências, que Nattrass & Altomare (1999) designaram por “curva de aprendizagem da sustentabilidade a nível empresarial”.

Desafios ao desenvolvimento 26 (1) TQEM: Total Quality and Environmental Management

(2) ACV: Avaliação do Ciclo de Vida

Fonte: Nattrass & Altomare, 1999.

(1) TQEM: Total Quality Environmental Management (2) ACV: Avaliação do ciclo de vida

Figura 4.8 – Curva de aprendizagem da sustentabilidade a nível empresarial

Embora não conste explicitamente da figura anterior, uma outra tendência é a operacionalização da componente social do desenvolvimento sustentável a nível das organizações, através da adopção de estratégias e instrumentos de responsabilidade social das empresas. Este conceito pode definir-se como a relação global das empresas com os seus stakeholders, e a salvaguarda ambiental surge como um dos elementos do conjunto de práticas empresariais socialmente responsáveis, a par da criação e manutenção de emprego, do respeito pelos Direitos Humanos, do desenvolvimento do capital humano das empresas e do desempenho financeiro (Khoury, Rostami & Turnbull, 1999). Desejavelmente no futuro teremos sistemas de gestão que integrem e articulem, de uma forma holística, as diferentes dimensões e tendências em sustentabilidade empresarial.

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5 REFERENCIAIS DE SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL

5.1 Introdução

Por sistema de gestão ambiental (SGA) entende-se a estrutura organizacional que

suporta a efectiva aplicação da política ambiental definida pela administração de uma

organização. Tal estrutura implica a definição de responsabilidades, práticas e

procedimentos e a alocação de recursos que viabilizem a prossecução da política.

Um SGA, para ser efectivo, deve ser integrado no sistema de gestão global da organização e tem implicações a nível estratégico – definição de uma política ambiental e objectivos ambientais, em consonância com esta –, a nível organizacional – definição de programas e projectos que viabilizem a prossecução dos objectivos ambientais e da atribuição de responsabilidades e recursos – e a nível operacional – implementação dos programas e projectos e aplicação de procedimentos operatórios – (Willems, 1994). Conceptualmente envolve os estádios de (1) planeamento, (2) realização, (3) verificação e (4) actuação face aos resultados obtidos, conforme o ciclo de Deming (1986). Estas fases sucedem-se ciclicamente no sentido da melhoria contínua do desempenho ambiental da organização e do sistema de gestão.

Os princípios básicos para a implementação de um sistema de gestão ambiental incluem (ISO, 2004b):

• Reconhecer a gestão ambiental como uma das principais prioridades da organização (compromisso da Gestão de topo);

• Estabelecer e manter comunicação e uma relação construtiva o diálogo com as partes interessadas, tanto internas como externas (figura 5.1);

• Identificar os aspectos ambientais associados às actividades, produtos e serviços da organização;

• Identificar os requisitos legais e outros requisitos que a organização subscreva e que se relacionam com os seus aspectos ambientais;

• Assegurar o compromisso da Gestão e de todas as pessoas que trabalham para a organização ou em seu nome com a protecção do ambiente, definindo claramente as obrigações e responsabilidades nessa matéria;

• Encorajar o planeamento ambiental tendo em conta todo o de ciclo de vida de processos e produtos;

• Estabelecer processos para atingir os objectivos e metas ambientais;

• Assegurar os recursos apropriados e suficientes, incluindo formação, para garantir a conformidade com os requisitos legais aplicáveis e outros requisitos que a organização subscreva e o cumprimento dos objectivos e metas de forma continuada;

• Avaliar o desempenho ambiental face ao estabelecido na política ambiental, objectivos e metas e procurar obter melhorias;

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• Definir um processo de gestão para auditar e rever o SGA e identificar oportunidades de melhoria do sistema e do desempenho ambiental;

• Encorajar os subcontratados e os fornecedores a implementar um SGA.