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CAPÍTULO I O ESTADO

5. Direitos e garantias fundamentais

5.5. Inovações do Código de Processo Civil de 2015: princípios constitucionais

Após o advento da Emenda Constitucional n° 45/04, a promulgação do novo Código de Processo Civil, pela Lei n° 13.105, de 16 de março de 2015, representou momento histórico para o direito brasileiro, uma vez que houve a adaptação e modificação das normas, tidas como instrumentos para a efetiva celeridade do processo.

O novo Código foi elaborado por uma Comissão de Juristas nomeada pelo Senado Federal e presidida pelo Ministro Luiz Fux, integrante do Supremo Tribunal Federal – STF. À época o projeto recebeu a identificação de Projeto de Lei do Senado Federal - PLS nº 166/2010, residindo na adoção da teoria do direito processual constitucional sua principal inovação.

Com a vigência do novo diploma, o texto original sofreu alterações de imediato pela Lei nº 13.256, de 04 de fevereiro de 2016, a qual disciplinou o processo e o julgamento dos recursos extraordinário e especial, como também outras providências.

Nesse sentido, conforme art. 1º do novo Código, o processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado segundo os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil. Quanto ao tema, ensina Ada Pellegrini Grinover:

Todo o Direito Processual – como ramo do direito público – tem suas linhas fundamentais traçadas pelo Direito Constitucional, que fixa a estrutura dos órgãos jurisdicionais, que garante a distribuição da justiça e a declaração do direito objetivo, que estabelece alguns princípios processuais. Mas, além de seus pressupostos constitucionais, comuns a todos os ramos do direito, o direito processual é fundamentalmente determinado pela constituição em muito de seus aspectos e de institutos característicos. Alguns dos princípios gerais que o informam são, ao menos inicialmente, princípios constitucionais ou seus corolários: evidente, v.g., o sentido e o valor constitucionais de postulados como

37 o juiz natural, a publicidade das audiências, a posição do juiz no processo, a subordinação da jurisdição à lei, a declaração e atuação do direito objetivo. E ainda, os poderes do juiz no processo, o direito de ação e de defesa, a função do Ministério Público, a assistência judiciária: princípios e institutos de direito processual, mas que também são princípios e institutos constitucionais28.

Quanto à estrutura, cabe frisar que o código conta com uma inédita Parte Geral, dedicada ao regramento de assuntos que terão aplicação a todos os demais livros integrantes da Parte Especial, dedicados ao processo de conhecimento e cumprimento de sentença, ao processo de execução e, aos recursos e demais meios de impugnação de decisões judiciais.

Inicialmente, o art. 3° do CPC/15 aumenta a amplitude do acesso à justiça, previsto no art. 5°, XXXV, CRFB/88, ressalvando apenas a questão da arbitragem, via alternativa de pacificação extrajudicial, mediante a escolha de um terceiro imparcial que decidirá no lugar das partes, segundo normas e procedimentos por ela eleitos.

A seguir, em seu art. 4º, o novo Código de Processo Civil consagra o princípio da razoável duração do processo, ao afirmar que: “as partes têm direito de obter em prazo razoável a solução integral da lide, incluída a atividade satisfativa”. A inovação do CPC/15 reside no trecho em que se ressalta que o prazo razoável para solução da lide deve incluir a fase satisfativa da pretensão, ou seja, a fase de execução do direito certificado pela sentença da fase de conhecimento.

Quanto aos princípios da boa-fé e da cooperação entre os sujeitos do processo, previstos, respectivamente, nos arts. 5º e 6º do novo diploma, Cássio Scarpinella Bueno considera ter sido criado um modelo cooperativo, com a ampla participação de todos os sujeitos do processo, cujo pressuporto basilar seria a boa-fé, conforme ensina abaixo:

O art. 6º do novo CPC trata do ‘princípio da cooperação’, querendo estabelecer um modelo cooperativo – nitidamente inspirado no modelo constitucional – vocacionado à prestação efetiva da tutela jurisdicional, com ampla participação de todos os sujeitos processuais, do início ao fim da atividade jurisdicional. (...) A despeito de não prevalecer formalmente, nada há de errado em compreender

28 GRINOVER, Ada Pellegrini. Os Princípios Constitucionais e o Código de Processo Civil. São Paulo.

38 aquele conteúdo contido implicitamente no dispositivo ora anotado. Assim é que, dentre outras providências, a cooperação entre todos os sujeitos do processo deve significar a colaboração na identificação das questões de fato e de direito e de abster-se de provocar incidentes desnecessários e procrastinatórios. Esta vedação, aliás, decorre da expressa adoção do ‘princípio da boa-fé’ pelo art. 5º do novo CPC.

Observação importante que merece ser feita é que a cooperação prevista no dispositivo em comento deve ser praticada por todos os sujeitos do processo. Não se trata, portanto, de envolvimento apenas entre as partes (autor e réu), mas também de eventuais terceiros intervenientes (em qualquer uma das diversas modalidades de intervenção de terceiros), do próprio magistrado, de auxiliares da Justiça e, evidentemente, do próprio Ministério Público quando atue na qualidade de fiscal da ordem jurídica29.

Já o art. 8º do novo código relaciona-se com os princípios do Direito Administrativo, dispondo que “Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência”.

Por fim, o art. 12 do novo CPC/15 cria a regra republicana de gestão de processos pelo Poder Judiciário ligada exclusivamente ao critério de preferência da cronologia dos processos, independentemente, por exemplo, da complexidade da causa ou da matéria tratada, salvo poucas exceções previstas no parágrafo segundo do mesmo dispositivo.