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Capítulo 4. Análise e discussão dos resultados

4.2. Inquéritos aos alunos ‘sem’ NEE

Como já referimos, o inquérito ao 8ºano envolveu 55 alunos e ao 10º um total de 33, apresentando-se no quadro 2 a sua distribuição por género e a variação de idades. Sempre que consideramos pertinente será feita uma abordagem por ano de escolaridade, para avaliar eventuais diferenças de opinião relacionadas com o escalão etário. O inquérito tem uma estrutura similar ao efetuado aos alunos com NEE, adaptando-se as questões/afirmações (Anexo 3).

Quadro 2. Género e idades dos alunos inquiridos.

Questionados sobre se sabem o que são alunos com NEE, todos os inquiridos do 10º ano responderam afirmativamente, mas no 8º ano 23 alunos – quase 42% - desconheciam o significado – o que não deixa de parecer estranho, uma vez que em ambas as turmas existiam alunos com necessidades especiais. Sobre o pedido de explicação, as respostas dos alunos do 10ºano foram mais explicitas, salientando, por exemplo, que “englobam todo o tipo de alunos que necessitam de ajuda da parte de outros professores”

ou “são alunos que tentam ser incluídos, mas nem sempre é possível devido às suas diferenças”.

Na segunda questão, em que se perguntava se consideravam as aulas ‘mais complicadas para os alunos com NEE’, todos os alunos do 10º responderam afirmativamente, mas a opinião dos mais jovens (8º ano) foi diferente (fig.17), considerando a maioria (62%) que tal se

verifica ‘por vezes’. Esta resposta e particularmente a opinião do 10ºano, parece revelar que os alunos sem NEE se apercebem da dificuldade dos colegas, podendo indiciar a necessidade de uma melhor adaptação curricular ou das estratégias de ensino.

Fig. 17. Resposta dos alunos do 8º à questão ‘Considera que as aulas são mais complicadas para os alunos com NEE?’

Relativamente ao ‘ambiente de trabalho’ em que os alunos com NEE estão inseridos, a opinião de ambos os anos de escolaridade é similar, com mais de 50% dos alunos a considerar que ele é ‘bom’ e cerca de 38% a responder ‘por vezes’.

Opinião similar de todas as turmas é expressa na questão 4 – se sentem prejudicados ‘quando têm alunos com NEE na turma’ – com a maioria a afirmar que não (fig. 18). No entanto, 35.3% dos jovens do 10º ano e 40% do 8º consideram que tal ‘por vezes’ ocorre, sendo estes últimos alunos um pouco mais ‘negativos’, pois quase 13% sente-se prejudicado. É importante tentar perceber os motivos por que tal acontece e se esta ‘sensação’ tem motivos reais, porque uma escola inclusiva tem de o ser para ‘todos’. Na questão número 5, pergunta-se se têm uma relação igual com os colegas com NEE (fig.19). Embora a maior parte responda afirmativamente, neste caso são os alunos do 8ºano a demonstrar-se mais integradores, com 74,5% a afirmar que sim. Os do 10º ano mostra-se mais seletivos, com cerca de 30% a responder que não ou ‘por vezes’.

Fig. 18. Resposta à questão ‘Acha que os alunos sem problemas são prejudicados quando têm alunos com NEE na turma?’

Fig. 19. Resposta à questão ‘Tem uma relação igual com os seus colegas que têm NEE?’

Quanto à opinião se o apoio da família faz diferença para os alunos com NEE a resposta foi positiva particularmente no 10ºano, com 90,9% dos alunos a escolher esta opção, diminuindo para 52,7% no 8º ano. Aliás, 20% destes últimos alunos respondem negativamente. Sabendo que este aspeto é considerado um dos fatores mais importante no sucesso escolar dos alunos, seria importante ter solicitado uma justificação.

A questão seguinte incorpora o mesmo quadro do inquérito aos alunos com NEE, em que se pede a opinião sobre a estrutura da escola e as suas características (fig.20). Tal como no caso anterior, a maior parte dos alunos considerou que a escola apresenta ‘boas’ (32,7% e 48,4% no 8º e 10º anos, respetivamente) ou ‘muito boas’ condições (33,2% e 23,8) neste domínio.

Fig. 20. Classificação da estrutura da escola e das suas características.

Chegamos agora ao conjunto de afirmações que, tal como no inquérito anterior, deviam ser respondidas de acordo com uma escala variável entre o ‘discordo totalmente’ e o ‘concordo totalmente’ (fig.21).

Sobre a ajuda que eventualmente prestam aos colegas com NEE, os resultados vão ao encontro da opinião transmitida por estes alunos. Com efeito, a maior parte dos alunos concorda (C) ou concorda totalmente (CT) em ambos os anos de escolaridade, apesar de no 8º ano a percentagem de alunos que não concordam nem discordam (NCD - 32,7%) ser superior à dos que concordam totalmente (14,5%). Relativamente à necessidade de adaptar aulas e materiais a postura anterior repete-se, com quase 70% dos mais jovens e 85% do 10º ano a assumir esta posição.

Ao nível da eventual perturbação que a ‘presença/comportamento de alunos com NEE’ exerce sobre a sua ‘concentração e motivação durante as aulas’, grande parte discorda da afirmação, mas a maioria opta pela posição intermédia (NCD - 32,7% no 8º ano e 39,3% no 10º). No entanto, no caso dos mais jovens, 16.3% e 12.7% concordam e

concordam totalmente com a ideia da interferência dos alunos com NEE na sua capacidade de concentração. O que nos parece compreensível, considerando as idades em causa.

Sobre a postura dos professores, as opiniões dividem-se, embora no 8º ano domine ‘indecisão’ (NCD – 40%). De qualquer modo, cerca de 26% D ou DT da ‘falta de motivação/preparação dos professores na adequação das práticas letivas’ e no 10º ano atinge os 45% os que defendem estas opções. Mas são também em maior número (21%) os alunos deste ano que assinalam concordância com a afirmação. Em relação aos funcionários, observa-se igualmente uma dispersão nas respostas. Se a grande parte discorda que existe falta de preparação para lidar com os alunos com NEE, no 10º ano 24.2% pensa o contrário, percentagem que diminui no 8º ano.

Relativamente à afirmação ‘Durante os intervalos não costumo interagir com os meus colegas com NEE’, os mais jovens manifestam na maior parte que NCD, mas 25% admite esta realidade e só 18% DT. A posição do 10º ano é mais dispersa, mas mais de 20% C e CT e 24% discordam. Se tal pode indicar alguma ‘desintregração’, ambos os anos de escolaridade consideram ‘que a gestão escolar se esforça por minimizar todas as formas de discriminação de que podem ser alvo os alunos com NEE’ – 65,4% do 8º ano e 81,8% do 10º.

As três últimas afirmações, prendem-se com a opinião destes alunos sobre a forma como os colegas com NEE devem ser integrados no sistema educativo. Se em ambos os anos de escolaridade a maioria defende a sua inserção no ensino regular, também se verifica ser uma das afirmações com maior percentagem de alunos que não concordam nem discordam. Mas cerca de 16% do 8º ano e 12% no 10º discordam desta posição. No entanto, a maior parte considera que deveriam ser integrados em turmas especiais – 45,4% os do 8º ano e 60,6% os de 10º (associando C e CT) -, apesar de 40% dos mais jovens não terem uma posição bem definida (NCD). Assim, só cerca de 12% do 8º ano e 15% no 10º, discordam ou discordam totalmente da criação de turmas especiais par os alunos com NEE. Relativamente à última afirmação, se estes estudantes deveriam ‘frequentar escolas de ensino especial’, grande parte assume, mais uma vez, uma posição ‘indiferente’ (NCD), com valores de 50,9% no 8 ano e 33,3% no 10º, mas as restantes posições são

muito dispersas – o que provavelmente traduz a falta de informação que detêm sobre esta questão específica. De qualquer modo, 42% dos alunos do 10º ano tendem a DT ou D, enquanto são apenas 25% os que do 8º discordam.

Fig. 21. Resultados das respostas à afirmações da pergunta nº 8 do questionário

1- Ajudo em todas atividades que posso os meus colegas com NEE.

2-Considero que é necessário adaptar as aulas e materiais aos alunos com mais dificuldades.

3- A presença/comportamento de alunos com NEE perturba a minha concentração e motivação durante as aulas. 4- Sinto falta de motivação/preparação dos professores na adequação das práticas letivas aos alunos com NEE. 5-Os funcionários da escola não estão preparados para lidar com alunos com outras necessidades.

6- Durante os intervalos não costumo interagir com os meus colegas com NEE.

7-Considero que a gestão escolar se esforça por minimizar todas as formas de discriminação de que podem ser alvo os alunos com NEE.

8-Os alunos com NEE devem frequentar escolas de ensino regular.

9- Considero que os alunos com NEE devem frequentar escolas de ensino regular, mas em turmas especiais. 10- Considero que os alunos com NEE devem frequentar escolas de ensino especial.

Por fim na última questão e única de resposta aberta, pedia-se que dessem a opinião sobre o que poderia ser feito para proporcionar uma maior inclusão dos alunos com NEE. No 10 º ano, a maior parte das respostas centrou-se na existência de mais atividades, apoio e maior interação entre todos os alunos. Salientam-se respostas mais expressivas, tais como: “os alunos com deficiência, deviam estar em turmas com 24 pessoas no máximo”; “no secundário temos de nos concentrar mais em nós do que no que

alunos com necessidades educativas que perturbam muito e que precisam de mais ajuda para se adaptar. A educação e o civismo são muito importantes e onde é que com uma turma de 32 alunos e um NEE é possível? Não é egoísmo é vontade de melhorar o nosso ensino.” Ao contrário dos alunos do 10º ano os do 8º ano escreveram muito pouco e as respostas foram bastante parecidas. Mas se aqui se verifica o efeito da idade/maturidade - sendo as respostas mais comuns o “não sei”, “ fazer uma turma de alunos só NEE” ou trata-los melhor e ajudá-los” – também se observam opiniões muito sensíveis: “fazer com que se sintam confiantes e acreditem que são capazes de fazer e aprender qualquer coisa que quiserem” ou “não tratar de maneira diferente, pois apesar de terem alguma deficiência, são humanos como nós”.

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