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Instabilidade financeira, volatilidade dos ciclos de negócios e bolha de ativos

3 REVISÃO TEÓRICA

3.3 AVERSÃO AO RISCO, IRRACIONALIDADE E INSTABILIDADE FINANCEIRA

3.3.2 Instabilidade financeira, volatilidade dos ciclos de negócios e bolha de ativos

As crises são períodos de grande instabilidade financeira, deterioração das expectativas dos agentes e das condições financeiras das firmas, redução da oferta de crédito e retração da atividade econômica. Mishkin (2011) afirma que as crises financeiras são seguidas de um crescimento muito lento e de deterioração rápida das contas do governo. A utilização de política monetária não convencional para reaquecer a economia pode dificultar a capacidade do Banco Central em gerir a economia no futuro.

Choques monetários não convencionais para manter a estabilidade da economia e as expectativas podem acarretar em problemas de credibilidade e o não compromisso de âncora nominal forte. Lucas (1972, 1973, 1976) afirma que os agentes usam todas as informações disponíveis no mercado para produzir suas expectativas futuras e otimizar seus comportamentos. Portanto, a maioria dos Bancos Centrais tomam suas decisões derivadas da teoria econômica e da análise empírica para avaliar os impactos da condução da política monetária nos ciclos econômicos.

Mishkin (2010) afirma que os condutores da política monetária precisam evitar as flutuações inesperadas do nível de preços para mitigar a bruscas flutuações no consumo e nos investimentos na economia. Entretanto, alguns economistas criticam a atuação da autoridade monetária para conter o surgimento de bolhas de preços de ativos. Os atritos financeiros desempenham um papel importante canal de transmissão para conter flutuações nos ciclos de negócios. Mishkin (2010) afirma que existem dois tipos de bolhas de ativos que provocam instabilidade financeira e não necessariamente afetem o ciclo de negócios.

O primeiro tipo de bolha refere-se à bolha desenvolvida através do crédito. O boom de crédito causa distorções das expectativas dos agentes sobre a atividade economia e no mercado financeiro. Expectativas elevadas aumenta a demanda e o preço dos ativos, o número de empréstimos e fomentando ainda mais a busca por ativos financeiros. Este movimento pode causar o surgimento de uma bolha de crédito e causar uma menor aversão ao risco nos agentes. Desse modo, credores estariam menos preocupados com a capacidade de pagamento e mutuários com previsão de maior valorização dos ativos para proteger-se das perdas.

O processo de boom do crédito ao longo do tempo fará com que em algum momento haja uma inversão das realizações das receitas, das expectativas e, consequentemente, o colapso do preço dos ativos. A inversão do ciclo econômico traz como consequências o aumento da assimetria de informação, a redução das concessões de crédito e dos preços dos ativos. Desse modo, os balanços patrimoniais e fluxos de caixa das instituições financeiras retraem e comprometem ainda mais a oferta de crédito, os projetos de investimento, o consumo das famílias e a atividade econômica (BERNANKE, GERTLER, 1995, 1999; MISHKIN, 2001).

O segundo tipo de bolha é derivado exclusivamente dos preços dos ativos. Este tipo de bolha financeira desenvolve-se através das expectativas otimistas dos agentes e dificilmente provoca distorções no mercado de crédito e reduções no balanço patrimonial das instituições financeiras. As flutuações dos preços no sistema financeiro são comuns e reagem às condições intrínsecas à estrutura deste mercado. Os preços dos ativos são quantificados através das informações contábeis e da estratégia de longo prazo da firma. Estas informações afetam as expectativas dos agentes sobre a qualidade e saúde da firma. A sinalização de prejuízos, aumento do endividamento e tomada de decisões erradas pela diretoria têm efeito negativo sobre o preço desta firma, mas dificilmente afetam o restante dos ativos da economia. Portanto, Mishkin (2010) afirma que as flutuações dos preços no mercado financeiro são comuns, as depreciações dos preços acontecem em nichos específicos do mercado e são menos perigosas para a atividade econômica.

White (2009) e Mishkin (2010) afirmam que é muito mais fácil de identificar a bolha de crédito do que é para identificar as bolhas de preços de ativos. Estudos comprovam que o aumento da bolha de preços dos ativos, assim como booms de crédito e de investimento trazem consequências graves para a economia5. Além disso, a incerteza do tamanho da bolha de ativos é um fator importante na análise do impacto desta bolha sobre a instabilidade financeira e volatilidade dos ciclos de negócios.

Greenspan (2004), Bernanke (2002, 2004), Kohn (2004) e Ferguson (2005) argumentam que a visão da maioria dos Bancos Centrais é de que a política monetária não tem como lidar com uma bolha de ativos. A atuação da autoridade monetária ao colocar como alvo os preços dos ativos afeta a credibilidade em manter a estabilidade do ciclo de negócios através dos efeitos das taxas de juros de curto prazo. Desse modo, alterando as condições de crédito, investimento e consumo e, por consequência, os preços dos ativos.

Segundo Greenspan (2004), o Banco Central não deve intervir se os preços dos ativos aumentam ou diminuem de forma gradual e lenta. A intervenção é necessária quando os preços dos ativos caem rapidamente visto que a queda abrupta pode provocar períodos de redução da liquidez e instabilidade no mercado financeiro. Instabilidade e iliquidez nos

mercados provocam problemas de assimetria de informação (seleção adversa e risco moral) e corroboram para aumentar a volatilidade dos ciclos econômicos6. Desse modo, a ação assimétrica do Banco Central em não intervir em momentos de aumento gradual do preço dos ativos deve-se à incerteza da formação da bolha e as consequências dos efeitos no ciclo econômico.

Desse modo, uma possível variável para avaliar o surgimento de bolha de ativos financeiros é através da diferença entre a taxa de crescimento do mercado de ações e do produto interno bruto. Sistemas financeiros caracterizados por altos gaps entre estas duas variáveis podem sinalizar a presença de bolha de ativos e futuros períodos de instabilidade financeira, problemas de iliquidez no mercado financeiro e impactos sobre a atividade econômica. Com isso, esta variável seria importante para verificar fricções no sistema financeiro e na volatilidade dos ciclos de negócios. Na próxima seção será apresentada os possíveis instrumentos utilizados para ampliar o efeito de choques monetários na atividade econômica e na redução de problemas de assimetria de informação no sistema financeiro.

3.4 VOLATILIDADE DOS CICLOS DE NEGÓCIOS E PROPAGAÇÃO DA