• Nenhum resultado encontrado

1.3 A HIPÓTESE DE FRAGILIDADE FINANCEIRA

1.3.4 Instabilidade sistêmica e as instituições

As relações financeiras descritas na seção anterior determinam o comportamento da economia, interferindo em sua estabilidade (MISNSKY, 1992). A relação de robustez ou fragilidade financeira é dada pela combinação das unidades hedge, especulativa e Ponzi. O nível de endividamento dos agentes econômicos é um dos fatores que definirá o grau de fragilidade financeira, assim como mudanças na conjuntura econômica (i.e, taxa de juros).

De acordo com Minsky (1982), a instabilidade econômica é uma tendência inerente ao sistema capitalista, na qual as estruturas de financiamentos movem da estrutura hedge para Ponzi. Para o autor, esta instabilidade tende a emergir em momentos de tranquilidade financeira e crescimento econômico. Nessas condições, as estruturas de obrigações financeiras das unidades econômicas estão robustas e estáveis, com as expectativas de lucros e a credibilidade por parte dos tomadores de empréstimos elevadas. A liquidação dos débitos ocorre geralmente nos prazos determinados; e isso encoraja a realização de novos investimentos e aquisição de ativos de maior risco.

Segundo o autor, a existência de oportunidade de se obter mais lucros e de uma possível perda de competitividade, as unidades hedge adotam posturas menos conservadoras e passam a emitir maiores níveis de dívida. Este aumento no endividamento é acompanhado por: (i) crescimento proporcionalmente maior do fluxo de caixa referente ao pagamento dos compromissos financeiros em relação ao fluxo de receita esperada; (ii) proliferação de novos tipos de instrumentos financeiros a fim de atender as necessidades de crédito (inovação financeira); (iii) redução das margens de segurança; e (iv) crescente necessidade de crédito de curto prazo para honrar seus compromissos financeiros. Se a fase for acompanhada por um boom nos investimentos, a economia passará por um momento de crescimento econômico.

No entanto, eventuais choques criam circunstâncias de expectativas pessimistas, na qual são quebrados os “elos” de confiança das relações financeiras com o não pagamento dos

compromissos firmados. Este rompimento nos “elos” de confiança da cadeia de compromissos financeiros pode conduzir uma piora nas condições gerais de crédito. Desse modo, as margens de segurança dos agentes se elevam, assim como a busca por ativos líquidos, o que reduz o nível da atividade econômica e renda. Portanto, há um deslocamento de uma postura robusta e segura em direção a uma postura especulativa. Diante de um crescimento dos esquemas financeiros especulativos e externos, as autoridades monetárias restringem a concessão de crédito para tentar controlar o processo inflacionário. Sem a capacidade de refinanciamento de dívidas, as unidades que utilizam de esquemas especulativos podem ser transformadas em Ponzi e aquelas unidades que já estavam em situação Ponzi podem ter o patrimônio líquido deteriorado rapidamente (MINSKY, 1992).

À medida que os agentes diminuem suas margens de segurança e adotam atitudes menos conservadoras, dá-se início ao processo de fragilização financeira, com o aumento do endividamento e da exposição dos agentes. No sentido Minskyano, a fragilidade aumenta a probabilidade de crises financeiras porque as economias tornam-se menos capazes de absorverem choques externos. Mas, espera-se que com a elevação do grau de risco do tomador e credor, as autoridades monetárias reduzam a oferta de crédito para inibir o crescimento da dívida.

Nos momentos de recessão, o alto nível de endividamento diminui a demanda efetiva, o que pode desencadear a deflação de dívidas, conforme apresentado por Fisher (1933)18. A reversão das expectativas positivas dos agentes nesse momento conduz à corrida pela liquidação das dívidas, o que resulta na preferência pela liquidez. Após isto, as autoridades monetárias limitam a concessão de crédito, o que eleva a angústia dos agentes por conta da necessidade de ativos líquidos para o pagamento dos empréstimos bancários. Perdas financeiras e dificuldade de crédito para rolar dívidas levam à venda generalizada de ativos; e os preços, de modo geral, caem. E isso pode causar a falência dos agentes,

18A sequência do processo de deflação de dívidas de Fischer (1933) é dada por nove passos após um alarme

de crise tanto por parte dos devedores quanto dos credores: 1) Processo de liquidação da dívida; 2) Contração da oferta monetária e queda da velocidade de circulação da moeda; 3) Redução do nível de preços; 4) Queda nos resultados líquidos das empresas e algumas falências precipitadas; 5) Queda nos lucros; 6) Redução do produto, comércio e desemprego; 7) Pessimismo e perda de confiança; 8) Retenção da moeda e maior redução em sua velocidade de circulação; e 9) Aumento das taxas de juros.

dos bancos, além de ocasionar uma crise econômica, após as variáveis financeiras terem afetado as variáveis reais, como o produto e o emprego.

A reversão deste quadro só é possível com mudanças das expectativas pessimistas dos agentes em relação ao futuro. Para Minsky (1994a), em um mundo onde a dinâmica econômica é instável, a estabilidade pode ser alcançada e sustentada com intervenções e restrições ao sistema. As instituições limitam as atitudes dos agentes econômicos e conseguem alterar o comportamento deles, a fim de manter o estado de confiança dos agentes e assegurar o nível de investimento produtivo ao longo do tempo.

Minsky e Ferri (1991) afirmam que a resposta para o comportamento instável da economia está na evolução das instituições que nela estão presentes. O sistema econômico apresenta elementos conjunturais que são importantes na determinação da sua dinâmica. A economia é movida pela forma como os agentes avaliam o mercado e suas perspectivas de resultados futuros. Portanto, as instituições devem manter a confiança que a estabilidade se perpetuará ao longo do tempo. Na situação de expectativas pessimistas, as autoridades do Governo devem agir de modo que os empresários acreditem que terão lucros brutos suficientes para honrar seus débitos e, assim, continuarem o mesmo nível de investimento na economia.