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3) agentes financeiros agentes financeiros 4) Banco Central e Governo

2.3.2 Posturas financeiras para economias abertas

A presente seção tem o propósito de definir as posturas financeiras para cada unidade econômica de um país considerando os diferentes tipos de capital existentes. O objetivo da conceituação abaixo é auxiliar a aplicação da teoria de Minsky para o setor externo da economia. Neste tópico, realiza-se a descrição das posturas financeiras de um país representado por todos os agentes domésticos, ou seja, as relações agregadas das famílias, as empresas, instituições financeiras e não financeiras, e o Governo.

O estudo das posturas financeiras de uma economia aberta envolve uma dimensão adicional em relação às economias fechadas porque segundo Paula e Alves Jr (1999), as transações entre os residentes e não-residentes podem ser firmadas em moeda distintas. Com isso, a comparação entre os fluxos de renda esperados com os compromissos financeiros estabelecidos entre os agentes dependem de uma predição da taxa de câmbio vigente nas datas de pagamentos dos contratos. Este prognóstico pode elevar a

vulnerabilidade dos agentes diante de mudanças no mercado financeiro, em especial do mercado de câmbio, incorporando o risco cambial nas transações.

As estruturas financeiras dos agentes são influenciadas pelas variações das taxas de câmbio que podem afetar tanto o plano operacional como as atividades financeiras dos agentes. Mudanças cambiais geram alterações nos lucros dos agentes podendo comprometer tanto suas receitas como as despesas que foram realizadas em moeda estrangeira. No plano financeiro, as variações nas taxas de câmbio podem comprometer os pagamentos dos compromissos financeiros firmados dependendo da moeda que foi realizado o financiamento.

Conforme visto na seção anterior, existem inúmeras combinações entre ativos/passivos com moeda nacional e estrangeira. Por isso, o quadro 2.2 abaixo visa apresentar as posturas financeiras conforme a moeda utilizada nas transações e incorporando o risco cambial.

Hedge Especulativo/Ponzi Especulativo/Ponzi Hedge

Receitas $* $* $ $

Despesas $* $ $* $

Quadro 2.2- Tipos de Posturas Financeiras conforme a moeda em que são realizadas receitas e

despesas

Fonte: Paula e Alves (1999).

O quadro 2.2 expõe a sensibilidade das unidades econômicas diante de variações cambiais, considerando que os agentes que adotam uma postura financeira hedge são aqueles que escolheram ativos e passivos denominados em uma mesma moeda. Estes agentes reduziram seu risco cambial protegendo seus balanços patrimoniais de variações cambiais e garantiram maior possibilidade de solvência e liquidez com a menor dependência do comportamento do mercado financeiro. Diferentemente daqueles agentes que optaram por receitas e despesas em moedas diferentes, porque uma variação cambial pode afetar as atividades operacionais e financeiras dos agentes, sendo estabelecida uma relação especulativa ou Ponzi.

Paula e Alves Jr. (1999) exemplificam a postura especulativa/Ponzi com os importadores e exportadores de bens e serviços que sofrem o impacto direto de valorizações ou

desvalorizações em suas relações de receitas e despesas. No entanto, Pudwell (2008) nota que estes agentes podem mudar esta situação e diminuir o risco cambial rejustando as compras e vendas de suas mercadorias para o mercado futuro, por um preço fixo. Akyüz (1998) nota que além das variações cambiais o grau de fragilidade financeira dos agentes também depende das taxas de juros incorridas em cada tipo de passivo adquirido. Desta forma, os agentes que tomam um empréstimo com taxas de juros flutuantes não sabem o montante da dívida no final do pagamento, por isso, serão classificados como especulativo/Ponzi.

Esta classificação pode ser estendida a todos os ativos que apresentam um rendimento variável, como os ativos financeiros que estão atrelados a uma taxa de juros flutuantes ou as ações que apresentam retornos variáveis. A compra de ações é considerada de natureza especulativa porque a solvência do passivo contraído para a operação depende do mercado financeiro. Kregel (2004) nota que as situações sujeitas à volatilidade e incerteza diminuem o controle de suas receitas e despesas, acarretando uma maior suscetibilidade à ocorrência de crises do balanço de pagamentos. Por isso, os agentes que querem tomar decisões mais seguras devem escolher obrigações de juros fixos ou ativos que gerem dividendos, ou seja, que dependa do mercado de bens. Arestis e Glickman (2002) explicam que:

The unit would then be in an analogous position to an organization with long- dated variable-rate debt in a closed economy: it could be characterized as a hedge-financing unit insofar as it appears able to meet its financial obligations given the existing climate of expectations; but it could, on the other hand, be viewed as a speculative financing unit in the sense that it was vulnerable to adverse changes in financial conditions, specifically, movements in the exchange rate (p. 245).

Os agentes podem passar de um perfil de financiamento especulativo para Ponzi quando ocorrem acontecimentos inesperados ou imprevistos tanto no âmbito interno quanto externo do credor. Esta postura representa uma condição de fragilidade extrema porque neste caso o principal objetivo do credor não é tanto a viabilidade econômica do projeto,

mas de convencer os mutuários a realizarem refinanciamentos e que podem cumprir os novos serviços da dívida, assim como os anteriores (KREGEL, 2004).

Como exposto, a categorização de posturas financeiras para uma economia aberta não é tão simples quanto para uma economia fechada, dado a variações contínuas nos ganhos de capital esperado e dos serviços de dívidas contraídos por uma unidade econômica, que podem ser considerados também em moeda estrangeira. E Aretis e Glickman (2002) afirmam que mesmo com a complexidade das transações realizadas entre os agentes, uma das soluções para restringir potenciais contágios de fragilidade para uma economia aberta é atuação ativa do governo. Assim como em uma economia fechada é necessário a intervenção estatal com a atuação do Big Central Bank (banco central de última instância) e do Big Government (política fiscal anticíclica) na tentativa de impedir que uma crise financeira se transforme em uma depressão econômica.

2.4 METODOLOGIA USADA PARA IDENTIFICAR O GRAU DE FRAGILIDADE