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CAPÍTULO II As transformações do espaço urbano de

2.3 As ações do Estado

2.3.2 Instalação de órgãos governamentais e empresas estatais em

Como vimos, no intervalo entre o final dos anos de 1960 e final dos anos de 1970 foi marcado politicamente pelo golpe de 1964 e a tomada do poder central pelos militares. Testemunha-se nesse período uma intensa repressão política, a cassação dos direitos constitucionais, prisões arbitrárias e assassinatos de opositores políticos. Economicamente temos a abertura ao capital estrangeiro e o conseqüente aumento da produção do país com fins de exportação. O rápido desenvolvimento do país foi apoiado no incremento da produção de bens de consumo, uma política salarial “austera” e a oferta de privilégios econômicos ao capital estrangeiro, período chamado “milagre brasileiro”.

À força política por vias violentas e ao grande acumulo de capital, vai se juntar ainda uma postura de governo altamente centralizadora. Estados e capitais tinham seus administradores escolhidos pelo governo federal e sua autonomia para a tomada de decisões de âmbito regional e local era praticamente nula.

No que tange a questão urbana, este caráter centralizador vai se expressar particularmente na adoção da idéia do planejamento como impulsionador do desenvolvimento das cidades e como solução única e inquestionável para os problemas urbanos. A criação das regiões metropolitanas – condicionadas a

elaboração de planos locais e regionais de desenvolvimento, sob pena da das cidades não receberem recursos financeiros federais – acaba gerando um “boom” na produção de planos de desenvolvimento regional e planos diretores por todo o país.

Esses planos, todavia, deveriam obedecer as premissas ditadas pelo SERFHAU. Deste modo, embora buscassem analisar e propor soluções em nível regional e local, os planos deveriam necessariamente atender a ditames federais e dar subsídios a extensão da presença do poder central em todo o território brasileiro.

Em Santa Catarina o esforço foi feito no sentido de se ter validado - via plano - o projeto de criação de sua metrópole regional, cujo centro irradiador de desenvolvimento deveria ser a cidade de Florianópolis.

Muito embora a capital não demonstrasse força política e econômica suficiente para atuar com um pólo centralizador “natural”7, era nela que se sediavam os interesses econômicos

(quase sempre de caráter fundiário e imobiliário) de uma elite financeira que no momento dominava também a esfera administrativa do Estado.

Com objetivo, então, de reforçar a presença estatal na cidade (da parte do governo federal) e fortalecer a imagem de “capital” frente ao restante do estado e do país (da parte das elites e governo local), a cidade de Florianópolis, que apresentava historicamente uma economia de base terciária e voltada ao atendimento das necessidades da administração pública, seu funcionalismo e de uma atividade turística em início de estruturação, passou, a partir da década de 1970, a ser o endereço de um sem número de órgãos governamentais, instituições públicas e empresas estatais.

“Enquanto capital, no seu espaço urbano localizaram-se ao longo do tempo diversos equipamentos políticos,

7 Rizzo (1993) apresenta os conceitos de Tolosa e Reiner utilizados na construção da

análise do Projeto Catarinense de Desenvolvimento, pela Comissão de Planejamento da UFSC, em 1974. Segundo estes, os “pólos naturais” são aqueles que se formam em função das forças livres de mercado, enquanto os “pólos planejados” seriam criados em função da ação de governo.

infra-estrutura e ainda concentraram-se as sedes dos órgãos públicos e funcionários públicos, entre outros. Neste sentido, o espaço urbano da cidade foi marcado, desde o seu princípio, pela presença do Estado. Mas a extraordinária expansão do Estado no Brasil nas décadas de 60 e 70 teve repercussões enormes no espaço urbano de Florianópolis. Não esquecendo suas peculiaridades históricas, em nenhum outro momento da história de Florianópolis a presença do aparelho do Estado transformou tanto o espaço urbano da cidade como nessas últimas décadas.” (Faccio, 1997, p. 68) Na década de 1970 se estabeleceram na cidade algumas das principais sedes de órgãos governamentais do estado, bem como representações de órgãos de nível federal. Dentre estes podemos citar a presença das diretorias regionais do DNER (1978/79 sua segunda sede), INAMPS (1975), EMBRATEL (1976) e IBAMA (1976) – localizados no centro da cidade - bem como a construção de novos edifícios para abrigar a CELESC (1970) e a TELESC (1976). Além disso, cabe também ressaltar a transferência para Florianópolis da sede de estatais como a Eletrosul (1975) - vinda do Rio de Janeiro - e mesmo a mudança na localização da Universidade Federal de Santa Catarina: de edifícios espalhados pelo centro da cidade para o bairro da Trindade, onde se encontra até hoje seu campus principal.

Nos anos de 1980, com o inicio declínio do estado intervencionista e a abertura política, o número de órgãos públicos instalados em Florianópolis sofre relativa redução. Segundo Faccio (1997), nesta década o crescimento do número de órgãos públicos na cidade não passa de 10%, enquanto a década anterior havia testemunhado um aumento de 32%.

A que pesem os números, podemos citar alguns órgãos institucionais importantes instalados em Florianópolis na década de 1980, como o campus universitário da UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina), o CIC (Centro Integrado de Cultura) que abrigava também o Museu de Arte de Santa Catarina, além das sedes da CIASC (Centro de Informática e Automação) e CIDASC (Centro Integrado de Desenvolvimento Agrário de Santa Catarina), entre outros, já na região a nordeste da península central.

Florianópolis sofreu um profundo impacto com a presença desse enorme aparato estatal. Para fazer funcionar essa grande máquina, centenas de funcionários públicos migraram para a capital, vindos tanto do interior do estado quanto das grandes capitais do sudeste. Esse fluxo migratório alavancou a economia local de serviços e, principalmente, estimulou um crescimento sem precedentes da indústria da construção civil na cidade. Foi um período de intensa verticalização e de expansão das áreas urbanizadas para além do centro tradicional.

2.3.3 A localização dos órgãos governamentais e