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CAPÍTULO II As transformações do espaço urbano de

2.2 O contexto catarinense e o papel de Florianópolis

Planos Nacionais de Desenvolvimento I e II, não apenas desconsideraram Santa Catarina, mas também fizeram entrever ao Governo do Estado e as elites dominantes a condição secundária de sua capital no contexto econômico catarinense.

Dada a política nacional vigente a partir da década de 1930, que atrelava o “desenvolvimento” do país ao crescimento e consolidação de áreas industriais, em Santa Catarina as cidades

que na época apresentavam sinais de industrialização – como Joinville e Blumenau – ocupavam posição de maior destaque no contexto do Estado do que sua capital. Além disso, essas cidades não tinham Florianópolis como um pólo irradiador de crescimento, mas sim as capitais vizinhas Curitiba, Porto Alegre e, sobretudo, São Paulo.

Diante deste quadro, governo e elites com interesses econômicos ligados à capital catarinense, passam a despender grande esforço no sentido de transformar Florianópolis e as cidades vizinhas em Região Metropolitana (a receber os recursos nacionais) e em pólo irradiador de desenvolvimento.

As discussões acerca da criação de um pólo urbano em Santa Catarina se iniciaram já na década de 1960 (Silva, 1978, p. 134), especificamente em 1967, quando a prefeitura da capital determinou a revisão do plano diretor de 1954 - trabalho realizado pelo CEAU (Conselho de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo) - órgão ligado à administração do município e coordenado pelo arquiteto e urbanista Luis Felipe Gama D‟Eça.

O primeiro resultado apresentado pela equipe foi o “Estudo Preliminar do Plano de Desenvolvimento Integrado da Grande Florianópolis”, desenvolvido entre 1969 e 1971. Deste estudo derivou o Plano de Desenvolvimento da Área Metropolitana de Florianópolis (PDAMF), de caráter regional, que considerava em seu texto, além de Florianópolis, mais vinte cidades de seu entorno.

Tendo como uma de suas bases fundamentais o PDAMF, em 1971 o governo do estado deu a conhecer o Plano Catarinense de Desenvolvimento, o PDC.

O objetivo primeiro deste plano era a promoção da “integração estadual” e o conseqüente alinhamento da política urbana catarinense com política urbana nacional. O PDC, na contramão da realidade econômica do Estado e da relação direta que o SERFHAU fazia entre desenvolvimento econômico, crescimento urbano e metropolização, também vai apontar (como fez o PDAMF, seu modelo) a capital do estado como a cidade que deveria assumir a posição central no desejado processo de integração catarinense.

Figura 13 - Florianópolis. Vista aérea a partir do Continente, 1971. [Fonte: Sugai, 1994]

“Se em 1952 os urbanistas com seu Plano combatiam o „atraso‟ de Florianópolis convictos de que a cidade moderna e industrial viria com a instalação de um porto, vinte anos depois os planejadores estarão convictos de que a cidade, mesmo não se tendo industrializado, poderá ser elevada à condição de pólo integrador do Estado de Santa Catarina” (Rizzo, 1993, p. 62)

Uma vez que o plano vai concluir que cidades pólo não precisavam necessariamente localizar-se em cidades industriais, o passo seguinte do Governo do Estado vai ser a elevação artificial da cidade de Florianópolis a pólo integrador catarinense. Um pólo planejado, ou seja: um pólo formado não em função das forças de mercado, mas criado mediante ação do governo.

Sugai (2002) ressalta o papel do ideário do planejamento a serviço da validação de ações governamentais como esta, que no mais das vezes buscavam tão somente ocultar as razões verdadeiras que lhes motivavam: a busca da perpetuação da hegemonia política das elites catarinenses, a manutenção destas

mesmas elites políticas e econômicas à frente do poder público no Estado e, sobretudo, escamotear seu processo crescente de acumulação capital.

“Diversos estudos já evidenciaram os interesses de classe que estavam subjacentes ao ideário do planejamento, que desempenhou papel marcante nas décadas de 1960 e 1970. Procuravam mostrar que a eficiência atribuída ao planejamento vinculava-se à sua capacidade de encobrir projetos de acumulação de capital, ou seja, de transformar decisões políticas em decisões „técnicas‟, que aparentam ser de interesse universal” (Sugai, 2002, p. 96)

Como veremos adiante, Florianópolis não foi exceção na maneira de adotar o planejamento como condição sine qua non para seu “desenvolvimento”. Para ratificar condição de capital e centro administrativo de Santa Catarina, cabia ao Governo do Estado trabalhar no sentido de, via Projeto Catarinense de Desenvolvimento, buscar o reconhecimento de sua região metropolitana junto ao Governo Federal.

No entanto, para alcançar tal objetivo, Florianópolis precisaria necessariamente de um plano de desenvolvimento, uma vez que a própria injeção de recursos públicos nas cidades brasileiras estava condicionada, segundo critérios do SERFHAU, a existência do planejamento urbano na esfera municipal.

Cabe observar que, embora não tenha sido classificada como metrópole regional, já se evidenciava um processo de conurbação de Florianópolis com as cidades limítrofes de São José, Palhoça e Biguaçu. No plano econômico sobressaem as atividades terciárias que atendiam à crescente população migrante, provinda tanto do interior do Estado quanto das principais cidades do país, e que veio formar o corpo funcional de inúmeras empresas estatais transferidas ou criadas em Florianópolis, ou mesmo da recém criada Universidade Federal de Santa Catarina.

“Florianópolis é, por excelência, na condição de capital do Estado, um núcleo cuja posição política estratégica engendra uma dinâmica de crescimento cumulativo. O desenvolvimento econômico de vários núcleos do

interior, associados às transformações lideradas pelo centro do país, não se verifica diretamente na capital de Santa Catarina, que praticamente mantém a sua estrutura econômica tradicional. Indiretamente, contudo, com a progressiva ampliação das funções do poder público, o crescimento geral do Estado continua beneficiando à capital na medida em que seu excedente viabiliza o redimensionamento do aparato governamental e de segurança; em conseqüência, é incrementada a economia urbana.” (Silva, 1978, p. 127) Todo este movimento político e econômico porque passava a cidade vai se evidenciar, em especial, no

“(...) aumento da especulação e das atividades imobiliárias, na ampliação de órgãos da administração pública, no afluxo de migrantes que se instalaram nas encostas dos morros da ilha e, principalmente nas periferias urbanas da área continental, e, ainda, na intensificação da construção civil e nas diversas intervenções urbanas efetuadas pelo Estado, a partir de 1970.” (Sugai, 2002, p. 96-97)

Figura 14 - Aterro da Baía Sul. Inicio da urbanização. Início das obras do Terminal Rodoviário Rita Maria. Final década de 1970. [Fonte: Acervo Casa da Memória, 2007]