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2.1 AVICULTURA DE CORTE

2.1.2 Instalações para a criação de frangos de corte

O ambiente a que são submetidas as aves é determinante no sucesso ou fracasso do empreendimento avícola. A pouca observância nas fases de planejamento e concepção arquitetônica, sem os ajustes necessários ao bioclima local, produz instalações que geram desconforto térmico, aumento de doenças ligadas à perda da qualidade do ar e da dependência energética (BUENO & ROSSI, 2006).

2.1.2.1 Ambiente térmico

A caracterização do ambiente térmico animal envolve os efeitos da temperatura, da umidade, da radiação e do vento e, pode ser feita por meio de uma única variável, chamada de temperatura efetiva. Para determinada faixa de temperatura efetiva ambiental, o animal mantém constante a temperatura corporal, com mínimo esforço dos mecanismos termorregulatórios. É a chamada zona de conforto

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térmico ou de termoneutralidade, em que não há sensação de frio ou calor e o desempenho do animal em qualquer atividade é otimizado (BAÊTA & SOUZA, 2010).

A produtividade ideal de aves destinadas ao corte corresponde ao desempenho alcançado quando submetidas a uma temperatura efetiva adequada, sem nenhum desperdício de energia. Temperaturas ambientais muito elevadas, associadas a altos valores de umidade relativa do ar, causam redução no desempenho produtivo. O distanciamento da temperatura ambiente dos valores próximos à região termoneutra dos animais, perturbam o mecanismo termodinâmico que as aves possuem para se protegerem de extremos climáticos, levando ao desperdício de energia (ABREU & ABREU, 2003).

Em condições de estresse térmico, as aves tentam compensar sua reduzida habilidade de dissipar calor latente ativando os processos fisiológicos responsáveis pela dissipação de calor para o ambiente externo (MOURA, 1998). As aves adotam um comportamento diferenciado, abrindo suas asas e mantendo-as afastadas do corpo, aumentando sua área de superfície corporal, facilitando perdas por convecção. Quando a temperatura ambiente se aproxima da temperatura das aves, 41° C, a eficiência dos meios “secos” de troca de calor decresce. Nesse ponto o mecanismo principal de perda de calor passa a ser o processo de evaporação de água pelo trato respiratório. Quanto maior for a pressão de vapor do ambiente, maior é a dificuldade de liberação de calor por meios evaporativos. O aumento dos movimentos respiratórios somente é eficiente quando a umidade relativa ambiental se encontra em níveis relativamente menores que 70%. Quando as trocas evaporativas já não são mais efetivas na perda de calor, as aves entram em prostração podendo chegar à morte (MOURA, 1998).

A característica de frangos de corte mais utilizada por pesquisadores na determinação da zona de termoneutralidade é a idade. Na zona termoneutra, a temperatura corporal de frangos adultos é de 41°C. Segundo MEDEIROS et al. (2005), de uma forma geral, os autores consideram a faixa de conforto térmico para frangos de corte, adultos, criados em galpões convencionais é de 18 a 28°C com umidade relativa variando de 50 a 70% e velocidade do ar em torno de 1,0 a 2,5 m s-1. Entretanto, MEDEIROS (2001) relata que a máxima produtividade de frangos de corte sujeitos as condições ambientais brasileiras é obtida, quando a temperatura está no intervalo de 21 a 29°C, com umidade relativa de 50 a 80% e velocidade do ar de 1,5 a 2,5 m s-1.

A edificação

Nas condições brasileiras, um galpão avícola deve ser construído de forma a amortizar a carga térmica de radiação solar no seu interior. O galpão deve ser locado no sentido leste-oeste geográfico,

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com projeção de telhado (beirais) suficiente para impedir que a luz solar direta penetre nas instalações; a cobertura deve ser de material que apresente temperaturas superficiais amenas; a distância entre galpões deve ser no mínimo 35 a 40 metros; largura do galpão entre 8 e 14 metros, com pé direito de 2,80 a 4,90 metros (TINÔCO, 1996). A utilização de material isolante sob as telhas pode contribuir na redução da transferência de calor para o interior da instalação, formando uma camada de ar junto à cobertura e atuando como uma barreira física.

Nas horas mais quentes do dia, poder-se-á usar também a aspersão de água diretamente sobre a cobertura (FURTADO et al., 2003). No entanto, deve se evitar umedecer os arredores do galpão (com uso de calhas), pois a água na terra quente pode irradiar calor. Este sistema só é viável em granjas que possuam água em abundância próxima à criação, entretanto pode-se economizar água por meio de aspersão intermitente (RODRIGUES, 1998).

Climatização

Basicamente, os frangos de corte necessitam de alimentação adequada, proteção contra a variabilidade climática e ambiente asséptico. É impossível priorizar apenas um desses três elementos, pois todos são fatores críticos a manutenção da sobrevivência e produtividade. Porém, a redução dos efeitos climáticos sobre os animais envolve um maior número de variáveis, e é a área em que a produção de frangos de corte tem maiores oportunidades de controle proporcionando maior habitabilidade e desempenho (DONALD et al., 2001).

Neste contexto, a climatização é uma importante saída estratégica, minimizando o impacto das condições metereológicas sobre os animais. O controle do ambiente térmico pode ser feito basicamente de duas formas, manual ou automática. Atualmente, o controle manual ainda sobrevive apesar da necessidade de trabalho intensivo, visitas frequentes aos galpões e da ineficiência inerente ao desconhecimento da duração das condições atuais ou das condições extremas. Sistemas automatizados de climatização são capazes de controlar múltiplas variáveis em tempo real; embora a maioria dos estudos e sistemas disponíveis seja baseada, apenas, na temperatura; podendo apresentar características adaptativas de acordo com o projeto do sistema de tomada de decisão (LOPES, 2009).

Um sistema automatizado de climatização é desenvolvido com o objetivo de manter o valor de determinados parâmetros ambientais dentro de um conjunto de valores alvo. Sensores, hardware, software e atuadores compõem a base de tais sistemas. Os sensores geram sinais eletrônicos proporcionais aos parâmetros físicos monitorados. O hardware, normalmente, se apresenta na forma de

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microcomputadores ou microcontroladores instalados nos galpões, ou por computadores pessoais, afastados dos galpões, conectados ao resto do sistema através de uma tecnologia de comunicação, possibilitando o monitoramento de galpões distintos simultaneamente. O software é o componente responsável pela tomada de decisão em um sistema de controle. Os atuadores são mecanismos através dos quais um sistema de controle atua no ambiente, estando, em climatização, relacionados à ventilação e resfriamento evaporativo. A informação adquirida por intermédio dos sensores é comparada com valores de referência pelo software, que toma decisões de quais ações devem ser colocadas em prática (SUKATI, 2004).

A ventilação é um meio de favorecer perdas convectivas de calor, mas, além disso, é um dos fatores mais importantes ao êxito da produção, promovendo: a renovação do ar, a eliminação da umidade produzida pela respiração das aves; o controle da temperatura ambiental; e eliminação da amônia produzida pela fermentação das camas, além de outros gases (LIMA, 2011).

A ventilação pode ser classificada em natural e artificial. A ventilação natural pode ser usada para reduzir a carga térmica nos animais e controlar as temperaturas ambientes internas em climas quentes. O fluxo de calor do ar que entra e sai do aviário é proporcional às trocas de ar dentro da estrutura. As trocas de ar em estruturas naturalmente ventiladas são geradas por diferenças térmicas (SEVEGNANI, 2000). A ventilação artificial é obtida por meio de ventiladores instalados no galpão, podendo ser classificada, pelo posicionamento dos ventiladores e pelo manejo da cortina, em: ventilação convencional, lateral, túnel positivo e túnel negativo.

O sistema de ventilação convencional é frequentemente utilizado em instalações abertas como forma artificial de minimizar o estresse térmico em frangos de corte, incrementando trocas de calor por convecção e evaporação, além de possibilitar a renovação do ar (NÄÄS et al., 1995). Neste sistema, os ventiladores são instalados lado a lado ou de forma alternada, na direção do comprimento do galpão. Neste sistema, as cortinas permanecem abertas durante o período de funcionamento, desta forma, o planejamento do posicionamento dos ventiladores é de extrema importância, minimizando a dispersão da corrente de vento por fluxos de ar naturais.

A ventilação lateral consiste em posicionar os ventiladores lado a lado, em uma das laterais do galpão, com o fluxo de ar percorrendo a largura da instalação, saindo na lateral oposta. Nesse sistema, as cortinas permanecem abertas durante o funcionamento dos ventiladores (ZANOLLA et al., 1999).

O túnel positivo é um sistema de ventilação baseado em pressão positiva, no qual a massa de ar percorre o galpão no sentido longitudinal. Em galpões avícolas torna-se necessário o fechamento das cortinas de forma a garantir boas condições de vedação, e a criação de aberturas simétricas e opostas nas duas extremidades (FONSECA, 1998; ZANOLLA, 1998). Se o galpão for dotado de lanternins,

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estes devem ser fechados durante o período de funcionamento na forma de túnel de vento (FONSECA, 1998). Os ventiladores são distribuídos ao longo do galpão, de forma que o ar que entra por uma das extremidades percorra todos os pontos do galpão, do modo mais uniforme possível, e seja devidamente eliminado na extremidade oposta (FONSECA, 1998; ZANOLLA, 1998).

O túnel negativo é um sistema onde os ventiladores (exaustores) são instalados em uma extremidade do galpão e duas grandes aberturas são instaladas na extremidade oposta (BUCKLIN et al., 2003). O ar é succionado através das aberturas, percorrendo o galpão, sendo eliminado pelos ventiladores. Este sistema é assim denominado por utilizar ventilação em pressão negativa, formando um túnel de vento com o auxílio do fechamento lateral de cortinas bem vedadas (ZANOLLA et al., 1999).

O resfriamento evaporativo consiste em incorporar partículas de água diretamente no ar, causando mudança no seu ponto de estado, ou seja, aumento da umidade e redução da temperatura. Esta técnica de modificação ambiental artificial é bastante popular e deve, preferencialmente, ser associada a sistemas de ventilação, proporcionando o controle da umidade e melhor renovação do ar no interior da instalação (SARTOR et al., 2001).

Os sistemas de painéis de resfriamento evaporativo e nebulização (alta e baixa pressão) são os dois métodos mais utilizados nos aviários brasileiros. O processo evaporativo é usado também em sistema acoplado de ventilação e umidificação. O sistema de painéis de resfriamento evaporativo é comumente utilizado em aviários totalmente automatizados com sistema de ventilação túnel negativo. O ar é resfriado ao entrar no galpão através de painéis porosos, de celulose ou argila expandida, mantidos constantemente umedecidos. O sistema de nebulização é constituído de bicos nebulizadores que fragmentam a água em minúsculas gotículas. O sistema pode operar em baixa ou alta pressão, sendo que quanto maior a pressão, maior a fragmentação e, consequentemente, as gotículas irão ser menores, evaporando mais facilmente e resfriando o ar com mais eficiência (ABREU & ABREU, 2005).

2.1.2.2 Ambiente aéreo

A qualidade do ar no interior das instalações avícolas é extremamente importante, impactando não só no bem estar das aves, como também na saúde animal e humana (MENEZES, 2009). Contaminantes como poeira, amônia, dióxido de carbono, monóxido de carbono e vapor de água excedente, não eliminados por uma ventilação ineficiente, podem causar problemas respiratórios,

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Dentre os principais contaminantes presentes em um galpão avícola destaca-se a amônia, que é um gás formado a partir da decomposição microbiana do ácido úrico eliminado pelas aves. A concentração máxima recomendada é de 20 ppm, sendo que quando superior a 60 ppm a ave fica predisposta a doenças respiratórias e ao atingir níveis de concentração de 100 ppm há a redução da taxa e volume da respiração, prejudicando os processos fisiológicos de trocas gasosas (MENEZES, 2009; LIMA, 2011).

Além disso, é importante ressaltar os reflexos ambientais gerados a partir da emissão e dispersão de gases oriundos de instalações para produção animal, dentre os quais se destacam a acidificação do solo, aquecimento global e efeitos locais e regionais da emissão de odores. Com as crescentes preocupações relacionadas à emissão de gases relacionados ao aquecimento global, gases como óxido nitroso e metano, apesar da baixa concentração em instalações destinadas à avicultura, são avaliados devido a sua contribuição nestas questões (MIRAGLIOTTA, 2005; LIMA, 2011).

2.1.2.3 Intensidade luminosa

Ao longo dos anos, diversos programas de iluminação, aliados a diferentes intensidades luminosas, foram testados, permitindo a observação de variadas formas de influência no desempenho de frangos de corte; maior ganho de peso, melhor conversão alimentar, qualidade de carcaça superior e livre de alterações metabólicas (ABREU et al., 2006).

Segundo LIBONI et al. (2013) são muitos os programas de iluminação que podem ser implementados de acordo com as necessidades da produção animal, sendo estes classificados em luz constante, intermitente e crescente. Os programas de luz constante são caracterizados por um fotoperíodo de mesmo comprimento durante todo o ciclo de crescimento das aves. Já os programas de luz intermitente, consistem em alterar períodos de luz com períodos de obscuridade durante o período noturno (BUTOLO, 2012). Finalmente, nos programas de luz crescente, o comprimento do fotoperíodo aumenta durante o ciclo produtivo, com base na idade das aves (LIBONI et al., 2013).

Os criadores, geralmente, adotam iluminação muito baixa no interior de seus aviários, buscando reduzir a atividade das aves e os gastos com energia elétrica. Com a crescente preocupação com o bem estar animal, novas diretrizes foram estabelecidas sobre os programas de iluminação, definindo o mínimo de intensidade luminosa e o máximo de período com baixa luminosidade. Apesar das regulamentações e estudos apontarem que a alta intensidade luminosa impacta positivamente sobre a

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eficiência produtiva e bem estar das aves, avicultores continuam apostando nas vantagens da baixa luminosidade (LIMA, 2011).

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