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Open source é um movimento que surgiu, primeiramente, na comunidade de software visando um produto de livre acesso, com código transparente, adaptável e sem restrições à sua reutilização. No decorrer dos anos este movimento evoluiu de um pequeno grupo, formado, principalmente, por programadores oriundos de grandes empresas e do meio acadêmico, para uma imensa comunidade de esforço colaborativo (LERNER & SCHANKERMAN, 2010; O'NEILL, 2012). Atualmente existem inúmeros exemplos open source software (OSS) de sucesso, como o kernel Linux, o navegador FireFox e o ambiente de desenvolvimento Eclipse.

O termo open source foi cunhado em 1998 com a fundação da Open Source Initiative (OSI), que deu um novo curso ao até então conhecido como movimento Free Software. A intenção foi aumentar a participação de companhias de software, fornecendo ao movimento uma roupagem que proporcionasse sua permeabilidade no meio comercial (BUXMANN et al., 2012).

Mais do que a mudança de nome, OSI definiu uma série de requisitos que devem ser satisfeitos para que um software possa ser classificado como open source. Esses requisitos especificam os critérios que devem ser seguidos para a distribuição OSS, sendo estes a livre redistribuição, a disponibilidade do código fonte, a liberdade para a produção de trabalhos derivativos, a preservação da integridade do código fonte do autor, a não discriminação contra pessoas ou grupos, a não restrição a campo de atuação e a distribuição automática de uma licença não específica ao produto e que não estabelece restrições a softwares que acompanhem o software licenciado (KAVANAGH, 2004; BUXMANN et al. 2012).

Esses requisitos não constituem uma licença, mas um conjunto de padrões utilizados na avaliação de licenças, onde OSI assume um papel de certificação. Atualmente, são mais 60 licenças certificadas, dentre as quais se tem a GNU General Public License (GPL), GNU Library General Public License (LGPL) e Apache License.

Algumas dessas licenças tornam mais simples o processo de comercialização ou privatização de um produto, inicialmente, OSS. A Apache License, por exemplo, em contraste com a GPL, possibilita que uma versão modificada de um OSS possa ser distribuída sem a necessidade de disponibilizar o código fonte.

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A GPL, licença mais conhecida utilizada pela comunidade OSS, fornece um alto grau de liberdade a usuários e desenvolvedores, permitindo o uso, modificação e redistribuição, com poucas restrições. Dentre estas restrições destaca-se a exigência de que trabalhos derivativos de um programa licenciado sob a GPL sejam, também, distribuídos sob esta licença, constituindo um obstáculo para muitos projetos de software.

A LGBL surgiu com o intuito de incentivar desenvolvedores a utilizarem bibliotecas open source, permitindo que porções não modificadas de um programa LGPL sejam utilizadas em uma aplicação proprietária. Porém, caso um programa distribuído sob a licença LGPL seja modificado, o mesmo deve ser redistribuído sob a mesma licença (ABBOTT, 2003; BUXMANN et al., 2012).

Hoje, a abordagem open source evoluiu para um paradigma de inovação de software, sendo uma alternativa de desenvolvimento vital para muitas empresas. Neste cenário formado por projetos OSS, a maioria das inovações é gerada pelos usuários. As comunidades open source são formadas por pessoas que contribuem voluntariamente com o desenvolvimento de OSS através da codificação e compartilhamento de suas modificações com a comunidade e com o fornecedor do software (ZIEGLER et al., 2014).

É fácil de entender os motivos que levam a utilização de uma alternativa OSS, sendo os mais notáveis o livre acesso e modificação. Entretanto, os motivos que levam empresas a contribuir com o movimento de OSS, liberando o código de seus produtos, tem sido assunto de discussão nas últimas décadas. Esses motivos podem ser agrupados em três grandes áreas: razões econômicas, tecnológicas e sociais (DAHLANDER & MAGNUSSON, 2005; ZIEGLER et al., 2014).

Do ponto de vista econômico, a venda de produtos e serviços complementares, tais como instalação, treinamento, manutenção, consultoria e certificação, é a principal estratégia adotada para que as empresas obtenham retorno de suas atividades com OSS. Além disso, outro fator importante é a redução de custos, na qual a empresa pode reduzir os gastos com pesquisa e desenvolvimento através do esforço da comunidade. Membros da comunidade irão testar, identificar e reportar falhas (bugs) sem qualquer compensação financeira.

Através da abertura do processo de desenvolvimento para a comunidade open source, empresas podem lucrar tecnologicamente através de comentários, ideias e desenvolvimentos posteriores. Esta é, sem dúvida, uma forma de melhorar a qualidade e aplicabilidade de sua tecnologia, além de constituir uma forma de promover seus produtos.

Existem razões sociais que levam as empresas a contribuírem para o desenvolvimento open source. As empresas precisam se enquadrar nas normas sociais exigidas pela comunidade open source e, devido ao crescente interesse e destaque dado ao open source, as empresas tem reconhecido que a

19 participação neste movimento pode melhorar sua reputação.

Apesar de ser um conceito bem estabelecido na comunidade de software, surge um novo movimento que busca transferir os métodos e ambiente de trabalho do OSS para o desenvolvimento de hardware, o open source hardware (OSH). São inúmeras as definições do que vem a ser um open source hardware, sendo o único consenso é que é um projeto de hardware livremente disponibilizado sob uma licença reconhecidamente open source. Segundo a Open Source Hardware Association (OSHWA), OSH é o hardware cujo projeto foi publicamente disponibilizado para que qualquer pessoa possa estudar, modificar, distribuir, confeccionar e vender produtos baseados neste projeto (ULVICK, 2014).

Os arquivos fonte do hardware; esquemáticos, layouts, diagramas, regras de design, entre outros, devem ser disponibilizados em formatos que favoreçam modificações. Para componentes mecânicos e projetos físicos, as versões ideais são os arquivos CAD (Computer Aided Design) originais, e para placas de circuito impresso, o esquemático e layout original. A comunidade open hardware tem gerado listas de boas práticas para documentação e compartilhamento de trabalhos relacionados a uma peça de hardware para que outros possam efetuar modificações (LEVINE & GIBB, 2014).

Para maximizar a possibilidade que um indivíduo possa confeccionar e usar um elemento de hardware, o ideal é que o OSH use componentes e materiais de fácil acesso, processos padronizados e ferramentas de desenvolvimento open source. O OSH oferece certa liberdade aos indivíduos para controlar sua tecnologia enquanto compartilha conhecimento e encoraja o comércio através da livre troca de projetos.

Apesar do OSH já contar com alguns exemplos de sucesso; tal como o Arduino, uma plataforma open source de prototipagem que permite aos usuários sua livre adaptação a uma grande quantidade de aplicações (TEIKARI et al., 2012; FAUGEL & BOBKOV, 2013); o movimento ainda não alcançou a maturidade do OSS.

As licenças open source hardware existentes são adaptações de licenças OSS, que são baseadas em direitos autorais (copyright). Apesar disso, a maioria dos dispositivos de hardware não pode ser protegida por copyright, pois uma cópia não autorizada de um hardware não constitui uma violação de direitos autorais. Dentre as licenças que seguem estes moldes destacam-se a TAPR Open Hardware License e CERN Open Hardware License, baseadas na GPL e em seu ideal de propagação de direitos (TAPR OPEN HARDWARE LICENSE, 2014; CERN OPEN HARDWARE LICENSE, 2014), e a Solderpad Hardware License que, como uma adaptação da Apache License ao hardware (SOLDERPAD HARDWARE LICENSE, 2012), limita-se à garantia dos direitos de uso, modificação e

20 distribuição de arquivos de projeto.

A alternativa mais popular, apesar de não serem apropriadas ao uso em hardware, é a adoção de licenças oferecidas por Creative Commons, que aplicam ao trabalho desenvolvido alguns direitos e proteção. As licenças oferecidas por Creative Commons compatíveis com os valores open source são: Attribution (CC BY), Attribution-ShareAlike (CC BY-SA) e Public Domain Dedication (CC0) (OSHWA, 2014). Os termos da licença CC BY garantem o livre compartilhamento e modificação, desde que o crédito seja dado ao autor do trabalho e que as modificações sejam documentadas (CC BY 4.0, 2014). A licença CC BY-SA adiciona a anterior a transferência dos termos da licença do trabalho original (CC BY-SA 4.0, 2014). A CC0 afirma que todo indivíduo que associa essa licença a um trabalho, dedica-o ao domínio público, abdicando de todos os seus direitos com relação a leis de copyright (CC0 1.0, 2014).

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