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2.4 A Teoria Institucional

2.4.2 O Institucionalismo da Escolha Racional

O Institucionalismo da Escolha Racional parte da premissa que as decisões tomadas pelos atores fundamentam-se na busca da maximização dos resultados, consideradas as restrições impostas aos mesmos (EGGERTSSON, 1997).

As bases conceituais dessa corrente (HALL; TAYLOR, 2003), são, a saber: a) os atores reconhecem, definem ou estabelecem seus gostos e suas preferências, e a busca desses atores pela maximização de sua satisfação possibilita a construção das estratégias e das ações; b) a análise é a-Histórica, ou seja, os resultados são obtidos a partir da aplicação da estratégia devidamente prevista e calculada; c) as instituições são definidas com o objetivo de propiciarem a maximização das satisfações pessoais, isto é, “[...] o processo de criação de instituições é geralmente centrado na noção do acordo voluntário entre os atores interessados” (HALL; TAYLOR, 2003, p. 206) ou, ainda, “[...] são vistas como o resultado intencional, quase contratual e funcional de estratégias de otimização de ganho por parte dos agentes” (THÉRET, 2003, p. 228), sendo passíveis de alteração quando isso se fizer necessário.

Ostrom (2007) apresenta um framework17 para a análise institucional a partir dessa vertente, a partir do qual se identifica a arena em que as disputas de interesses ocorrem, assim como os padrões de interação existentes, os resultados esperados e obtidos e a aplicação dos critérios de avaliação sobre tais resultados, visando estabelecer um mecanismo dinâmico de retroalimentação que influencia as instituições.

O Framework de Análise e Desenvolvimento Institucional constitui-se em uma resposta dos pesquisadores institucionalistas às dificuldades da Teoria Institucional em explicar o que são, como se organizam e se relacionam os fatores e variáveis considerados relevantes para a análise social dentro de uma estrutura de relações lógicas (HOUSE; ARARAL, 2013; McGINNIS; ALIGICA, 2007; OSTROM; HESS, 2007). É dessa forma uma ferramenta com a finalidade de simplificar a tarefa de analisar as relações entre as políticas

17 Um Framework pode ser compreendido como uma estrutura que possibilita a identificação de variáveis

públicas e as instituições (McGINNIS; ALIGICA, 2007), podendo ser utilizado, tanto para analisar situações coletivas, quanto individuais os quais propõem inovações nas normas, regras ou mesmo em tecnologias aplicáveis ao objeto em estudo (OSTROM; HESS, 2007).

Na vertente da Escolha Racional, as instituições são conjuntos de restrições ou de oportunidades desenvolvidos a partir das decisões individuais dos atores e que influenciam esse mesmo comportamento em resposta. A análise e o desenvolvimento apresentam significados também estritos, respectivamente, envolvendo os processos de desconstrução dos contextos institucionais em suas partes condicionantes a fim de explicar as relações existentes entre essas mesmas partes, suas relações e como se influenciam mútua ou excludentemente e os meios pelos quais as mudanças institucionais em seu próprio núcleo e ao longo do tempo são processadas (McGINNIS, 2011, 2016).

No centro do modelo (figura 4) está a arena de atuação em que os agentes, individual ou coletivamente, observam situações, coletam dados e transformam-nos em informações e conhecimento, identificam problemas e desenvolvem modelos analíticos e/ou sintético que visam à tomada de decisões. O quadro com as variáveis externas envolve as condições e restrições biofísicas e/ou materiais, envolvendo a caracterização do objeto quanto à sua natureza em termos de privado, público ou recurso comum, os atributos sociais, relacionados à confiança compartilhada e normas de reciprocidade nas interações, e as normas (institucional), em especial, às relevantes, de fato, e em uso, e não por aquelas inócuas quanto à capacidade de influenciar e conformar as interações (McGINNIS, 2011, 2016; McGINNIS; ALIGICA, 2007; OSTROM; HESS, 2007).

Há que se destacar nesse modelo a presença de uma visão dinâmica dos processos políticos construída a partir da influência dos fatores biofísicos, institucionais e sociais sobre os participantes (individuais e/ou coletivos) nas arenas de ação cujos resultados ou produtos das suas ações constituem as saídas as quais interagem com as variáveis exógenas produzindo resultados perceptíveis e propiciando a realimentação de todo o sistema (McGINNIS; ALIGICA, 2007). A satisfação dos desejos e das necessidades continua sendo o principal direcionador da ação dos atores, mas esse curso de ação é limitado ou restrito pela conformação e pelos impactos das variáveis externas, seja sob a forma de dilemas sociais, restrições biofísicas, limitações cognitivas e/ou fatores culturais (McGINNIS; ALIGICA, 2007; OSTROM; HESS, 2007).

Figura 4 - O Framework de Análise e Desenvolvimento Institucional

Fonte- Ostrom (2007, p. 44)

As entradas são processadas pelos decisores e/ou planejadores de políticas públicas e transformadas em saídas, as quais devem ser oportunamente avaliadas a fim de identificar seus efetivos resultados e impactos havendo um mecanismo de retroalimentação que permitiria novas iterações com maximização dos resultados esperados.Todo esse processo ocorrendo em um ambiente centrado nas instituições, inclui os fatores biofísicos, específicos e intrínsecos à política pública sob análise, os atributos e fatores institucionais da comunidade e as. As entradas englobam todos os aspectos sociais, culturais, institucionais e físicos do ambiente e que têm capacidade de influência sobre o processo de tomada de decisões (McGINNIS, 2011, 2016).

A arena de ação aglutina as situações de ação e os atores que tomam parte no processo de definição das políticas públicas. Nas versões originais do framework, as situações de ação e os participantes foram explicitamente separados dentro da arena de ação, as versões mais contemporâneas, assim como suas aplicações mais recentes, optam por torná-los um construto único, analisado e avaliado de forma indissociável, tornando-os, então, a manifestação da própria arena de ação (McGINNIS, 2011, 2016).

Os principais componentes operativos da arena de ação, parte central e mais importante do framework, são, a saber: a) os participantes per se; b) as posições e os enquadramentos que esses podem assumir na defesa/atuação para defender ou maximizar suas vantagens; c) as ações; d) informações disponíveis e que podem ser recursos relevantes no processo de tomada de decisões e efetivação da ação; e) o nível de controle em condições de ser exercido por cada um dos participantes; f) os resultados potenciais; e g) custos e

benefícios esperados e percebidos em função das ações realizadas e dos resultados obtidos (McGINNIS, 2011, 2016).

Ainda, no contexto da arena de ação, torna-se necessário discernir acerca das normas que estabelecem as interações em seu interior: a) de posicionamento: definem o conjunto específico de recursos, responsabilidade, preferências e oportunidades; b) de limites: especificam como os participantes se apropriam ou abandonam tais posições; c) de autoridade: vinculam os conjuntos de ações às respectivas posições; d) de agregação; explica quais funções de transformação estão vinculadas a um (ou mais) resultado intermediário ou final; e) de escopo: estabelece um conjunto de resultados; f) de informação: estabelece o nível e o tipo de informação disponível em cada posição; e g) de retorno de valor: especifica como os resultados (custos ou benefícios) são solicitados, permitidos ou abandonados pelos participantes (McGINNIS, 2011, 2016).

Os bens ou serviços em disputa nas arenas de ação definem-se a partir de dois critérios: a) a subtrabilidade, qual o nível de alteração no consumo, uso ou interesse de um determinado bem a partir do momento em que o outro bem for reduzido? b) exclusão: quão dispendioso é substituir um bem por outro sob a perspectiva dos participantes?. Pela interação dessas condições surgem os dilemas a serem considerados na análise institucional, considerando a categoria intrínseca dos bens: a) bens privados: alta subtrabilidade e baixos custos de exclusão; b) bens públicos: baixa subtrabilidade e altos custos de exclusão; c) tool goods (bens necessários): baixa subtrabilidade, mas baixos custos de exclusão; d) bens comuns: alta subtrabilidade, mas altos custos de exclusão (McGINNIS, 2011, 2016).

Os resultados são produtos, simultaneamente, das decisões tomadas pelos participantes da situação de ação e das variáveis exógenas (biofísicas, institucionais e regras- em-uso) (McGINNIS, 2011, 2016). Há ainda que se considerar os mecanismos de feedback e aprendizado que alteram as percepções dos participantes. Os critérios de avaliação, por fim, referem-se a fatores como: a) nível de eficiência na aplicação e/ou utilização de recursos; b) equidade na distribuição dos resultados e processos; c) legitimidade; d) nível de participação nos processos decisórios; e) nível de transparência; f) nível de equivalência na relação entre a atuação dos participantes e a participação esperada dos mesmos; g) consistência moral e ética; h) adaptabilidade, resiliência, robustez e sustentabilidade, compreendidas como fatores que permitem a perenização dos resultados e do processo de tomada de decisões ao longo do tempo (McGINNIS, 2011, 2016).

A aplicação do Framework é facilitada pela sua flexibilidade sendo possível abordá-lo a partir de qualquer um dos seus pontos de abordagem: lado esquerdo, centro (ou

arena de atuação), ou lado direito (resultados e avaliação). Iniciar a discussão a partir do lado esquerdo permite analisar a natureza dos recursos em uso sejam os materiais biofísicos, as bases institucionais e as normas/regras em vigência. Normalmente, a análise, partindo-se da arena de ação, permite a compreensão de problemas ou dilemas institucionais em ambientes de mudança organizacional, sendo a base para a definição de novos construtos e bens comuns e necessários aos atores. A análise baseada nos resultados e na avaliação justifica-se pela necessidade de se apreender e compreender como? e por quê? os resultados se estruturam sob aquela forma específica e como poderiam ser diferentes, em um processo semelhante em engenharia reversa (OSTROM; HESS, 2007).

O Framework de Análise e Desenvolvimento Institucional distingue três níveis de agregação analíticos e de tomada de decisão, a saber: a) o nível operacional no qual ocorra a implementação das políticas públicas; b) nível de Escolha coletiva em que as estratégias, normas ou regras disponíveis ou necessárias são estabelecidas a fim de garantir a conformidade da atuação dos indivíduos envolvidos no cumprimento dos papéis e posicionamentos esperados para esse nível; e c) o nível constitucional o qual envolve as deliberações de quem pode (e como) participar das definições e do processo de tomada de decisões. Um dos pontos mais importantes do modelo é a intrínseca relação entre as interações e os resultados que, do ponto de vista do avaliador, podem ser submetidos a um critério (ou conjunto de critérios) de avaliação considerado relevante e aplicável (McGINNIS; ALIGICA, 2007).

McGinnis (2016) acrescenta, ainda, o nível metaconstitucional, de amplo espectro, e raramente suscetível às condições e atuação dos participantes em um horizonte de tempo estrito, mas que pode ser alterado ao longo prazo, como resultado de uma intensa remodelagem institucional ao nível da própria cultura. Note-se que níveis mais altos (constitucional e metaconstitucional) e, consequentemente, mais inclusivos, permitem maior participação e menor taxa de rejeição às posições individuais, bem como menor proporção de comportamentos egoístas ou oportunistas, ao passo que níveis mais estritos (operacional e de Escolha coletiva) suscitam comportamentos mais impositivos e maiores dificuldades de negociação na arena de situação (McGINNIS, 2016).