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2.1 O pensamento administrativo sobre a relação organização versus ambiente

2.1.5 Neo-institucionalismo

Diante dos aspectos relacionais e políticos do ambiente com as organizações o neo-institucionalismo apresenta-se como fonte de legitimidade e recursos para as organizações. Essa perspectiva se preocupa em analisar como os modelos e símbolos são institucionalizados em dado ambiente. Segundo Motta e Vasconcelos (2008), a Teoria do Neo-Institucionalismo provém do conceito de institucionalização e dos trabalhos institucionais de Selznick (1949). Ou seja, a base dessa teoria é aquilo que é tomado como certo/verdadeiro para dado grupo social.

A Teoria do Neo-Institucionalismo considera as organizações como “atores sociais” que interagem e moldam o ambiente. Essa interação entre as organizações deve ser pautada por normas e regras às quais os “atores sociais” precisam se adaptar para sobreviverem e para receberem apoio e legitimidade de outras organizações e de demais agentes que compõem o ambiente (MOTTA; VASCONCELOS, 2008).

Partindo do pressuposto que a institucionalização é o processo de fabricação de “verdades”, conforme afirmam Motta e Vasconcelos (2008), esse processo de fabricação é composto de três etapas: a externalização, a objetivação e a internalização. Esses autores nomeiam externalização a forma de interpretação das ações como tendo um sentindo externo separado do indivíduo, ou seja, o impacto das ações sobre os outros e o ambiente. O resultado da interpretação da realidade das ações torna-se um elemento objetivo com caráter intangível e permanente que devem ser aceitos sem questionamentos por corresponderem à “verdade”, constituindo assim a etapa da objetivação. Essa verdade é formada por estruturas cognitivas, regras, valores e modelos construídos e institucionalizados pelo grupo e que são internalizados por seus membros, correspondendo assim à terceira etapa: a internalização.

Assim, em sendo o neo-institucionalismo uma vertente teórica originada do institucionalismo, faz-se necessário tecer comentários sobre as características e os principais pontos que norteiam as discussões em torno dessa última teoria.

Para essa teoria, no processo de criação e moldagem das organizações, os dirigentes, as associações profissionais, corporativistas e o Estado são os principais atores desse processo construtivo. Cabe ao dirigente adotar os modelos normativos e estruturais apresentados pelos demais atores a fim de sobreviverem e receberem apoio e

legitimidade de outras organizações e de demais agentes que compõem o ambiente (MOTTA; VASCONCELOS, 2008).

Contrariando a lógica da diversidade organizacional na qual os ecólogos populacionais se baseiam para desenvolverem suas pesquisas, os teóricos institucionais procuram explicar a homogeneidade de formas e práticas organizacionais. Para os institucionalistas, a diversidade de abordagens e formas organizacionais deve ser considerada nos estágios iniciais de seu ciclo de vida, pois quando o campo organizacional se estabelece há forte pressão para a homogeneização. Eles acreditam que as mudanças estruturais das organizações são resultados do processo de burocratização e racionalização corporativa e do Estado e que essas mudanças tornam as organizações cada vez mais semelhantes (DIMAGGIO; POWELL, 2007).

A orientação analítica dos institucionalistas é voltada para a totalidade dos atores relevantes envolvidos nos processos de mudança estrutural das organizações. De acordo com DiMaggio e Powell (2007), a totalidade dos atores é a representação do campo organizacional, o qual eles definem como o conjunto de organizações constituídas por uma área reconhecida de vida institucional: fornecedores, consumidores, agências regulatórias e outras organizações que produzem serviços e produtos semelhantes. Eles argumentam ainda que a estrutura do campo organizacional seja determinada a partir do processo de definição institucional, o qual depende de quatro elementos básicos: (i) aumento na amplitude de interação entre as organizações presentes no campo; (ii) a emergência de estruturas de dominação e padrões de coalizão interorganizacional, claramente definidos; (iii) aumento no volume de informação com o qual as organizações de um campo têm que lidar; (iv) e o desenvolvimento de uma consciência mútua, entre os participantes de um grupo de organizações, de que eles estão envolvidos num empreendimento comum (DIMAGGIO; POWELL, 2007).

Partindo da lógica da totalidade dos atores ou do campo organizacional, DiMaggio e Powell (2007) explicam que organizações diferentes, mas que atuam em um mesmo ramo de negócio, se estruturam num campo real que as levam a se tornarem cada vez mais semelhantes entre si. Ou seja, nos estágios iniciais do ciclo de vida, as organizações podem apresentar total diversidade de metas, práticas, estratégias e desenvolvimento. Porém, nos estágios seguintes do ciclo de vida, o próprio ambiente construído pelos atores organizacionais limita a capacidade de mudanças estruturais o que favorece ao processo de homogeneização (DIMAGGIO; POWELL, 2007).

Essa perspectiva delimita uma relação entre empresa versus ambiente versus organizações, a qual pode ser entendida da seguinte maneira: nas fases iniciais do ciclo de vida da empresa, os atores possuem maior independência para desenvolver mudanças estruturais que venham a atender às demandas do ambiente, a partir do momento que essa empresa se insere no campo organizacional estruturado, passa a responder às demandas do ambiente de acordo com as respostas de outras organizações que atuam no mesmo ramo, limitando assim a capacidade de desenvolvimento de mudanças nos estágios de vida posteriores (DIMAGGIO; POWELL, 2007).

Para os institucionalistas, o processo de homogeneização pode ser entendido a partir do mesmo conceito utilizado pelos ecólogos populacionais para explicar a o processo de diversidade no campo organizacional: o isomorfismo. Porém, mesmo sendo o conceito comum às duas teorias, cada uma utiliza-se de diferentes lentes focais para entender os seus diferentes processos (DIMAGGIO; POWELL, 2007; HANNAN; FREEMAN, 2007).

Por um lado, o isomorfismo defendido pelos ecólogos é orientado para a idéia da competição de recursos e consumidores a partir da perspectiva da seleção natural. Ou seja, diante das restrições ambientais que afetam as organizações, aquelas que não respondem às demandas e não se adaptam às restrições impostas pelo ambiente são eliminadas ou excluídas, o que resulta na explicação para o grande número de tipos de organizações (HANNAN; FREEMAN, 2007). Por outro lado, o institucionalismo defende que as organizações, além de competirem por recursos e consumidores, também disputam por poder político e legitimação institucional, o que justifica o segundo tipo de isomorfismo: o institucional, o qual defende que a mudança isomórfica institucional acontece a partir de uma tipologia analítica formada por três mecanismos: coercitivo, mimético e normativo (DIMAGGIO; POWELL, 2007).

O isomorfismo coercivo é proveniente da influência política e do problema da legitimidade. As organizações mudam suas estruturais devido às pressões formais e informais exercidas tanto por outras organizações das quais dependem quanto por expectativas culturais da sociedade em que elas atuam. Outras razões que contribuem para as mudanças das estruturas organizacionais são as determinações governamentais. DiMaggio e Powell (2007) afirmam que “a existência de um ambiente jurídico comum afeta muitos aspectos do comportamento e da estrutura da organização” (DIMAGGIO; POWELL, 2007, p. 122). Dessa forma, os autores argumentam que as regras

institucionalizadas e legitimadas pelo Estado e no Estado favorecem à homogeneização das organizações.

A idéia central do segundo tipo de isomorfismo institucional é que a imitação de modelos de práticas organizacionais de organizações consideradas mais legítimas e bem-sucedidas, pertencentes ao mesmo campo organizacional estruturado, diminui a incerteza simbólica criada pelo ambiente. Assim, DiMaggio e Powell (2007) definem o processo mimético como o resultado de uma resposta padrão à incerteza. Ou seja, as organizações se espelham em outras organizações a fim de diminuir os riscos de incerteza do ambiente, e como resultado dessas “imitações”, as organizações tornam-se cada vez mais semelhantes umas às outras.

O terceiro tipo de isomorfismo institucional é caracterizado pelas pressões normativas associadas à profissionalização. DiMaggio e Powell (2007) argumentam que tanto as organizações quanto as profissões estão sujeitas às pressões coercitivas e miméticas, e por isso esse mecanismo também contribui para a homogeneização organizacional. Dessa maneira, tem-se de um lado, grupos de profissionais lutando para definir as condições e os métodos de seu trabalho, a fim de estabelecerem base e legitimação cognitiva para sua autonomia ocupacional; e por outro lado, as organizações de um mesmo campo lutando para oferecer os mesmos benefícios e serviços que os concorrentes oferecem aos seus funcionários, travando assim uma competição de status que favorece às organizações se tornarem cada vez mais semelhantes (DIMAGGIO; POWELL, 2007).

Dessa maneira, a abordagem da institucionalização traz a idéia de que nem os argumentos da seleção natural nem os da dependência de recursos são suficientes para explicar as mudanças das estruturas organizacionais. Para o institucionalismo a luta pela continuidade das organizações não se resume a competição por recursos e consumidores. Compreende também à luta pelo poder político e legitimação institucional, o que favorece à homogeneização das organizações pertencentes ao mesmo campo.

Para o neo-institucionalismo, as pequenas empresas são consideradas atores sociais que interagem e moldam o ambiente. E diferentemente da lógica da ecologia populacional, que defende a idéia de que as pequenas empresas precisam competir para atender as demandas do ambiente, sob a pena de serem eliminadas, o neo-

institucionalismo não considera a competição como único meio para lutar pela continuidade.

O neo-institucionalismo considera que a luta pela continuidade das pequenas empresas compreende tanto a competição por recursos e consumidores, como também a luta pelo poder político e legitimação institucional. Por isso, essa perspectiva sugere aos dirigentes de pequenas empresas que adotem modelos normativos e estruturais apresentados pelos demais atores de empresas do mesmo setor e de setores diferentes, a fim de assegurarem a continuidade de suas empresas, bem como, receberem apoio e legitimidade de outras organizações e de demais agentes que compõem o ambiente.

Por fim, pode-se afirmar que a tentativa de explicar a homogeneidade de formas e práticas organizacionais contribuiu para que o neo-institucionalismo se tornasse objeto de pesquisa de diversos pesquisadores em todo o mundo. No Brasil, esse é um tema bastante difundido no campo científico e acadêmico. Na pesquisa realizada nos anais da EnANPAD, nas áreas temáticas de estudos organizacionais e estratégias em organizações, no período de 2005 a 2010, foram identificados publicações em todos os anos e nas duas áreas pesquisadas, conforme apêndice C.