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2.1 O pensamento administrativo sobre a relação organização versus ambiente

2.1.4 Perspectiva das Organizações em Rede

A perspectiva das organizações em rede argumenta que para as organizações obterem os recursos necessários a sua sobrevivência e crescimento é necessário estabelecer vínculos entre as pessoas, os grupos e as organizações. O grau de dificuldade de obter recursos dependerá da estrutura das redes envolvidas e da posição dos indivíduos em redes estabelecidas (MOTTA; VASCONCELOS, 2008; LAZZARINI, 2008).

O termo rede, no campo organizacional, designa um conjunto de pessoas ou organizações que se interligam e mantêm interações em certo ambiente por meio de relações direta ou indireta entre os atores sociais. Dentro dos estudos organizacionais, as redes podem ser analisadas a partir de duas visões: (i) as redes intra-organizacionais – que têm como base o relacionamento entre os dirigentes de uma determinada empresa; e (ii) as redes inter-organizacionais – que se preocupa com as relações entre as empresas ou entre dirigentes de empresas diferentes (LEMIEUX; OUIMET, 2004; LAZZARINI, 2008).

A idéia central das redes intra-organizacionais é de que o relacionamento entre as pessoas, os departamentos e os setores específicos de uma determinada empresa se configura como uma rede de relações, caracterizada pela estrutura hierárquica, que influencia o funcionamento da empresa. A lógica que orienta essa visão é de que a rede de relacionamentos dos mais diversos tipos – seja através da estrutura formal ou informal – contribui para o fluxo de informações e de decisões nas firmas (LAZZARINI, 2008).

Lazzarini (2008) argumenta que a hierarquia estabelece uma estrutura formal de relações entre superior e subordinado. Contudo, ele acrescenta que mesmo sendo estabelecidas ligações formais nas redes de relacionamento interna, as pessoas estabelecem ligações informais internas e externas à organização. Diante essa consideração, discorre sobre o efeito da estrutura de redes intra-organizacionais da seguinte maneira: “[...] Tanto a estrutura da rede quanto a posição dos atores pode afetar o funcionamento interno de organizações e a habilidade dos indivíduos em extrair benefícios em contextos organizacionais” (LAZZARINI, 2008, p.51).

A premissa envolvida na lógica das redes interorganizacionais, por sua vez, é a de que empresas de um mesmo setor ou de setor compatível interagem entre si e mantêm laços de relacionamentos com o objetivo principal de dinamizar os processos organizacionais para competirem por clientes e membros com outros grupos de empresas, e assim, asseguram a sobrevivência dos seus negócios através da cooperação e desenvolvimento mútuo entre as empresas envolvidas na rede (LAZZARINI, 2008).

Segundo Lazzarini (2008), o estabelecimento de redes interorganizacionais permite às empresas tanto a preservação da sua especialização em sua área de atuação, como também reduz os riscos contratuais que ocorrem em transações de mercado. Dessa maneira, os membros da rede desenvolvem-se e beneficiam-se mutuamente por

meio de laços que permitem um melhor desempenho organizacional. Os laços desenvolvidos nas redes interorganizacionais podem ser classificados como verticais ou horizontais.

Os laços verticais ocorrem em uma relação de longo prazo entre um supridor e seu cliente, formando então, a cadeia de suprimento, que segundo a definição de Lazzarini (2008) nada mais é que uma rede de laços que visa coordenar fluxos de materiais e informações de processos em rede de diversos atores – produtor, fornecedor, distribuidor – interligados seqüencialmente. Os laços horizontais, por sua vez, são formados por empresas independentes do mesmo setor ou entre empresas de setores complementares que interagem através da formação de alianças para compartilhar os recursos de cada uma, trocar conhecimentos e desenvolver novos produtos e processos o que possibilita a redução de custos (LAZZARINI, 2008).

Lazzarini (2008) argumenta que as relações verticais e horizontais também podem coexistir em um mesmo contexto interorganizacional, formando então, um conjunto complexo desses laços, o qual ele denomina de Netchain – conjunto de laços verticais e horizontais e as muitas interdependências associadas a eles. Logo, a análise das redes interorganizacionais através da Netchain possibilita verificar como o desenvolvimento de laços verticais implica no desenvolvimento de laços horizontais, e vice-versa (LAZZARINI, 2008).

Diante das considerações conceituais realizadas, entende-se que a perspectiva das organizações em rede tem como foco o aspecto relacional do ambiente. De acordo com Motta e Vasconcelos (2008) essa é uma perspectiva oposta à Teoria da Ecologia Populacional, visto que esta focaliza os aspectos estruturais do ambiente. Eles argumentam que a perspectiva em rede considera as organizações em rede como estruturas formadas por um conjunto de diferentes organizações cujas atividades são coordenadas por contratos, acordos e relações interpessoais (MOTTA; VASCONCELOS, 2008; LAZZARINI, 2008).

A perspectiva em rede considera o ambiente como um conjunto de organizações interconectadas baseadas em elementos e interesses comuns. O aspecto político das organizações e questões relacionadas ao poder são os principais fatores a serem analisados por essa abordagem, pois se entende que os ambientes são realidades socialmente construídas com base no estabelecimento de acordos, links, vínculos e contatos entre os diversos grupos organizacionais (MOTTA; VASCONCELOS, 2008).

Dessa maneira, entende-se que a perspectiva das organizações em rede é orientada para o estabelecimento de redes de contato e relações mútuas de grupos que possuem interesses econômicos comuns. A economia de custos, a facilidade de coordenação das atividades e o aumento da flexibilidade das organizações envolvidas são as principais vantagens em participar de uma rede. Porém, é preciso atenta-se também para as desvantagens existentes do ponto de vista das organizações que formam a estrutura em rede. As organizações possuem baixo controle das suas atividades e estão sujeitas a perda de desempenho, principalmente quando mantêm relacionamentos restritos com determinadas pessoas e grupos, eliminando ou reduzindo as oportunidades de interação em um contexto mais amplo com outros potenciais atores (MOTTA; VASCONCELOS, 2008; LAZZARINI, 2008).

Em relação aos fenômenos de continuidade e fechamento dos pequenos negócios, a perspectiva das organizações em rede segue a lógica de que essas empresas sozinhas enfrentam muita dificuldade para enfrentar as ameaças do ambiente. O acesso às informações, à tecnologia, aos consumidores e aos fornecedores apresenta-se como um obstáculo para o funcionamento e continuidade dessas empresas.

A perspectiva das organizações em rede argumenta que uma das formas de superar essas dificuldades é através da formação de grupos de empresas através de rede organizacionais. Ou seja, quando as pequenas empresas se unem através da cooperação, elas conseguem superar as dificuldades básicas de funcionamento e ainda conseguem competir com as empresas de médio e grande porte que atuam no mesmo ramo de atividade (MOTTA; VASCONCELOS, 2008; LAZZARINI, 2008).

Por fim, pode-se afirmar que a tentativa de entender como o estabelecimento de vínculos entre as pessoas, os grupos e as organizações influencia o mundo organizacional contribui para que a perspectiva em rede se torne objeto de pesquisa de diversos pesquisadores. O interesse pelo tema no Brasil pode ser constatado a partir das inúmeras publicações no campo organizacional. Na pesquisa realizada nos anais da EnANPAD, nas áreas temáticas de estudos organizacionais e estratégias em organizações, no período de 2005 a 2010, foram identificadas publicações em todos os anos e nas duas áreas pesquisadas, conforme apêndice B.