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INSTITUCIONALIZAÇÃO, COMPROMETIMENTO COM O ESTADO, COM A POLÍTICA SOCIAL BURGUESA E OUTRAS DIFICULDADES DO PROJETO

EMANCIPATÓRIO

A matriz crítica social de tradição marxista tem fundamentado teoricamente o debate sobre a dinâmica do serviço social como profissão institucionalizada na sociedade e seu Estado capitalista, nas três dimensões do projeto profissional. Contudo, essa relação teórica da profissão com a tradição marxista e o pensamento marxiano, ainda esbarra em muito repertório não tocado, tamanhas são as complicações dessa temática. Afinal o modo de produção capitalista é muito astucioso e cheio de armadilhas ideológicas e alienantes, capazes de minar qualquer proposta que se avente revolucionária, ou propor uma intervenção sociopolítica mais justa e igualitária, do ponto de vista da correspondência entre classes sociais vigentes, conforme concebe o Projeto Ético-político da profissão. E nesse movimento ideológico alienante, o capital vai conduzindo os processos sociais para onde lhe convier.

Por se encontrar inserido no processo de reprodução das relações sociais historicame nte determinadas, através da prática histórica das classes sociais (IAMAMOTO; CARVALHO , 1983), o Serviço Social necessita incessantemente compreender as determinações sociopolíticas e históricas que pautam a dinâmica postulada com o Estado e suas políticas sociais capitalistas, e com seus alicerces teórico-metodológicos, ético-políticos e técnicos-operativos; pois as conexões entre o Serviço Social e o capitalismo (MARTINELLI, 2008) são confluências genéticas no desenvolvimento da profissão. E que colocam inúme ras determinações ontológicas para o Serviço Social garantir sua proposta político-profissio na l (progressista) de identificação com a classe trabalhadora e de defesa dos interesses desta classe social, além de mediar a luta social de construção de uma nova ordem societária, em busca de uma sociedade concretamente democrática, sem classes sociais (PAULO NETTO, 2011), em direção a superação da dominação e alienação que se coloca pela sociedade capitalista atual.

Essas propostas sociopolíticas que atravessam atualmente a profissão exigem uma profunda análise, capaz de esclarecer o significado social e político do Serviço Social, marcado pelo “processo de institucionalização e legitimação do Serviço Social na sociedade brasileira, a partir da reconstrução teórica do significado social da profissão na sociedade capitalis ta. ” (YAZBEK, 2009, p. 126). E, para compreender o seu caráter institucionalizado é preciso

examiná- lo no processo da reprodução social e suas relações próprias da sociedade capitalis ta; construídas no âmbito que se permeia entre o Estado e a sociedade e suas dimensões para intervir na questão social. Dimensões que “constituem a sociabilidade humana e estão presentes no cotidiano da prática profissional, condicionando-a e atribuindo-lhe característ icas particulares.” (YAZBEK, 2009, p. 127).

É preciso entender também que, manifesta na reprodução social capitalista, a prática profissional do Assistente Social cumpre a função sociopolítica contraditória de atender as demandas do capital e as demandas das classes populares, que sobrevivem do trabalho. Mediado pelo Estado e seus processos de regulação da sociedade é esse movime nto contraditório que coloca o Serviço Social no patamar de profissão institucionalizada e legitimada para intervir na questão social através da sua atuação nas políticas sociais (YAZBEK, 2009; PASTORINI, 2007; IAMAMOTO, 2007).

Vistas em sua função social, política e econômica, as políticas sociais são os principa is instrumentos de se “assegurar as condições necessárias para o desenvolvimento do capitalis mo monopolista e a consequente concentração e centralização e capital.” (PASTORINI, 2007, p. 78). Enquanto que politicamente são os eficazes instrumentos de legitimação do Estado e da organização política e social capitalista, incidindo na dominação de classes própria da relação entre o capital e o trabalho (PASTORINI, 2007; PAULO NETTO, 2006); uma vez que movimentam as forças do Estado no atendimento dos direitos das classes subalternizadas pelo capital.

Desta forma, a vinculação social, política e econômica do Serviço Social com as políticas sociais enuncia a profissão dúbios poderes. Aqueles perante o Estado e aqueles perante seus usuários. Entre os poderes políticos da profissão e do Estado, ou seja, da eficácia da atividade política profissional e do sistema de controle e regulação social estatal, é Iamamoto (2007, 2008a) quem dá as pistas de superação à ontológica contradição posta à prática profissional do Serviço Social. Primeiro “é necessário romper com uma visão endógena, focalista, uma visão “de dentro” do Serviço Social, prisioneira em seus muros internos. ” (IAMAMOTO, 2008a, p. 20). Essa afirmação, em outras palavras, significa dizer que cabe ao assistente social conhecer profundamente a conjuntura sociopolítica em que atua e, de posse do cenário da realidade concreta, acompanhar, nesse cenário, o movimento das classes sociais nas suas relações com o Estado e a sociedade, intensificando as particularidades profissiona is, descobrindo processos metodológicos mais críticos e eficazes, apreendendo “novas mediações e requalificar o fazer profissional, identificando suas particularidades e descobrir alternat ivas de ação.” (IAMAMOTO, 2008a, p. 20). Contudo para fazer isso é preciso estar apropriado da

análise de conjuntura. Segundo, cabe ao Assistente Social “ser um profissional propositivo e não só executivo” (IAMAMOTO, 2008a, p. 20) na garantia dos direitos postos no cotidiano da prática profissional. Propositivo, significa ser um profissional criativo e comprometido com o Serviço Social Crítico e com o exercício do projeto ético-político da profissão, sobretudo, com seus princípios e valores críticos da ordem social burguesa. Terceiro, não apenas executar políticas sociais e públicas, mas também formulá- las e fazer sua gestão. Se colocando “como um sujeito profissional que tem competência para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e funções profissionais.” (IAMAMOTO, 2008a, p. 21).

Conclui a autora que essas possibilidades existem e se encontram na realidade; todavia são alternativas que o profissional deve se apropriar, pô-las em prática e transformá-las em proposta. Sob esse argumento:

A conjuntura não condiciona unidirecionalmente as perspectivas profissionais; todavia impõe limites e possibilidades. Sempre existe um campo para a ação dos sujeitos, para a proposição de alternativas criadoras, inventivas, resultantes da apropriação das possibilidades e contradições presentes na própria dinâmica da vida social. (IAMAMOTO, 2008a, p. 21).

Ou melhor, o processo socio-histórico e político que abriga a prática profissional do Assistente Social trata-se de um espaço contraditório, cuja leitura quando fundamentada na totalidade dialética vai mostrar ao assistente social que ele atua nas contradições da realidade social, contradições, essas, próprias das relações sociais capitalistas, que implicam nos conflitos de classes sociais antagônicas e as lutas sociais por dignidade e cidadania da parte da classe trabalhadora e setores oprimidos pelo capital, sob o mando do Estado. Com reflexão e práxis, mediadas pelo domínio teórico e metodológico crítico do movimento da realidade, o assistente social é capaz de superar as limitações impostas pela contradição. Todavia é preciso conhecer o terreno da prática profissional, o Estado e a sociedade de classes sociais antagônicas e inconciliáveis, categorias de análise imprescindíveis para o assistente social dialogar e enfrentar a face escusa da institucionalização da profissão, cujos exemplos são muito comuns na maioria dos espaços socio-ocupacionais, principalmente aqueles pertencentes ao Estado, tais como instituições estaduais e municipais em que a ordem dominante coloca poder coercitivo no trabalho dos assistentes sociais, justamente por ser um trabalho social junto aos setores populares, abandonados pelas políticas públicas. Nesse aspecto geralmente ocorre a pressão políticoideológica de adesão a proposta da instituição e/ou pressão alienante caracterizada, geralmente, pelas ofertas de facilidades e de privilégios do empregador para com o assistente social, a favor da burguesia, em detrimento da classe trabalhadora e grupos populares.

“Inequivocamente, a história mostra que a profissão se institucionaliza e se consolida, no Brasil, respondendo fundamentalmente aos interesses burgueses dessa sociedade.” (SILVA e SILVA, 2007, p. 25).

Até o presente, a maior organização posta na sociedade capitalista que tem se interpondo entre o capital e o trabalho é o Estado. E permanece na centralidade das situações sociopolít icas que atravessam a vida social das sociedades atuais. Antes da tradição marxista oferecer à sociedade moderna as mais fecundas reflexões sobre o Estado e sua relação na sociedade de classes, considerando-a como “a maior organização política que a humanidade conhece” (GRUPPI, 1980, p. 7), o Estado foi analisado por Marx na Introdução de Contribuição à Crítica da filosofia do direito de Hegel (2010) quando percebeu a distância entre o Estado e o indivíd uo, alegando sua incapacidade de satisfazer integralmente o ser humano mostrando, pela primeira vez, não apenas o entrelaçamento entre as duas estruturas que formam a sociedade, mas, sobretudo, que uma seria a expressão da outra.

Dedicando toda sua vida aos estudos da sociedade de sua época, o grande revolucionár io produziu sua complexa teoria social e política explicada na imagem do Estado em estreita relação com a sociedade, demonstrando, acima de tudo como este conjunto societal serve como complemento do capital para a exploração do trabalho. Estudos que iniciaram ainda na sua juventude – nos anos de 1843 a 1844, período em que Marx sofre grandes embates políticos, históricos e sociais, com graves rebatimentos pessoais. São os anos em que, ao contrário dos grandes países da Europa que estão em franco processo de industrialização, a Alemanha, o seu país, enfrenta grande pobreza não apenas material, mas também socio-política45. Época em que a Alemanha ainda se mantinha como um país rural de economia agrária, enquanto grande parte de seu território ainda permanecia no regime monárquico, embora a ocupação napoleônica tenha organizado uma modernização (sem a revolução burguesa) que foi derrotada e substituída pelo monarca Frederico Guilherme IV, condutor de uma política despótica e perseguidora aos democratas, simpatizantes do liberalismo exatamente no momento que a burguesia industr ia l alemã, embora atrasada, ansiava experimentar seus dias de modernidade.

Inconformada com o retrocesso político e ideológico de voltar a viver sob o antigo regime, conjuntura que coloca a Alemanha como palco de grandes contradições sociais, a burguesia alemã se manifesta criticamente chamando a atenção dos jovens hegelianos que tomam para si a reflexão e mediação das contradições. Foi assim que Marx assume a missão de compreender o movimento do complexo Estado e sociedade, na sua sociedade.

Com os novos hegelianos de esquerda Marx vai se converter em aliado da burguesia e defender o estado nacional, moderno e laico. E, naquele momento, vai fazer isso na posição de jornalista democrata. Nesse ínterim, é possível observar que quando Marx escreveu a “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”46, em 1843; ele, seguramente estava nutrindo uma profunda preocupação com a marcha da realidade alemã daqueles dias. É a realidade objetiva vivenc iada naquele momento histórico de mudanças retrógradas em sua sociedade que provoca dúvidas em Marx e o incentiva a fazer o notório texto da “Crítica”.

Leitor assíduo do pensamento de Hegel, o mais notável filósofo de seu tempo, Marx, no auge de sua juventude intelectual como acadêmico, doutor, e por questões políticas, fracassado candidato a professor na Universidade de Berlim produz o texto que será o início do grande corte ontológico marcado pela ruptura política com a filosofia hegeliana. Trata-se do texto em que ele torna problemático a explicação da sociedade civil em Hegel e a relação desta com o Estado – a “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”, onde articula filosofia e política, a questão do Estado e sociedade civil, marcando o início de uma obra que vai amadurecer com a “Crítica da Economia Política” e colocar Marx na história como o autor da mais completa análise da sociedade capitalista e o modo de produção que a rege.

Contudo, em que pese as qualidades intelectivas e vida de intensa produção acadêmica de Marx, é a indignação aos acontecimentos concretos a sua volta que o levam a ser um crítico e opositor de Hegel. E essa tomada de posição tem dois motivos, segundo Netto (2004). Em primeiro lugar, Marx estava envolvido com as questões políticas, porque estava atuando como jornalista de um periódico liberal – A Gazeta Renana, de oposição ao governo monárquico da época. “Marx estava às voltas com a história enquanto presente. E, ao contrário de todos os autores do seu universo intelectual, era Hegel quem dava conta do Estado moderno” (NETTO , 2004, p.18). E nesta condição Hegel subvertia a natureza do Estado liberal, fato que suscitou a reflexão de Marx. Em segundo lugar está a direção dada ao movimento hegeliano diante da conjuntura histórica e política da Alemanha da época. Os acontecimentos políticos provocaram mudanças radicais, com divisões de concepções e tendências teóricas entre os hegelianos. E, nesse processo, Marx se engaja com os hegelianos de esquerda. Em síntese:

Se Marx era compelido ao estudo da construção hegeliana do Estado pela sua recente experiência na Renânia, era-o ainda pela própria atmosfera dominante na esquerda

46 Netto (2004) defende ser este texto de Marx “central na determinação do perfil global da obra marxian a , precisamente enquanto inaugura uma reflexão cujas resultantes serão completamente visíveis nos fins dos anos 50 – no justo período da elaboração dos Gründrisse... É a Crítica que permite ver onde estava Marx em 1843 – o deslocamento e primeira ultrapassagem de um modo dado de pensar o social, tratando dos fenômenos sociopolíticos, sem que ainda se explicite uma concepção teórico-metodológica alternativa.

hegeliana. Hegel se impunha a Marx, pois, de forma irrecusável: pela via da prática política e pela via da polêmica filosófica (NETTO, 2004, p.20).

Para efeito de motivação, outro fato ocorre em volta de Marx que reforça a proposta de debater com Hegel a questão do Estado. Trata-se do caso dos camponeses lenhadores47 da Província do Reno que usufruíam do direito consuetudinário de recolher cotidianamente a lenha da floresta, mas que a partir daquele momento foram proibidos e, agora, subordinados a propriedade privada e alienável. Esse fato gerou processos contra os camponeses e protestos contra o Estado e sensibilizou, sobremaneira, as reflexões de Marx em torno da injustiça social contra os camponeses enxergando assim as possibilidades de eles encaminharem uma revolução social afim de modificar a estrutura da sociedade que protagonizava tamanha injustiça.

A partir desses episódios Marx se dedica a analisar o tratado de Hegel sobre o Estado, na sua tese sobre a monarquia constitucional48. Num ato de dessacralização do estado, ele vê a sociedade civil como o lócus das relações econômicas e dos conflitos das classes sociais antagônicas que se formam nas relações produção.

Marx comungava com Hegel na crítica ao jusnaturalismo, todavia, se diferencia quando considera que a economia política tem sua base na sociedade civil. Na sua crítica o Estado representa os interesses da classe dominante. E, ao ser conduzido pela classe dominante, o Estado não exerceria outra função senão a de reproduzir o poder dessa classe que tem o domínio no mundo da economia. Porém Marx e Hegel se diferenciam de forma opositora quanto a concepção de Estado. Já na primeira crítica, aquela feita dos artigos 261 e 266, do Princípios da Filosofia do Direito de Hegel, quando este entende o Estado como o representante do “divino na terra”, enquanto para Marx esse aparelho resulta da divisão de classes na sociedade capitalista, como uma esfera eminentemente repressora. Onde Hegel vê eticidade, Marx vê força, como um aparato repressor que existirá enquanto a dualidade de classes imperar nas relações sociais; Marx entende que está no comunismo a promessa do desaparecimento da dualidade de classes, onde o Estado não teria mais razão de existir.

No comunismo o Estado desaparece. É través da crítica que Marx procura descrever a possibilidade da superação do presente como tendência histórica, onde a análise política teria a função de dizer o futuro, função que Hegel teria filosoficamente evitado, tal como parece transparecer em seu realismo político. É na Introdução da Crítica da Filosofia do Direito de Hegel que Marx assenta sua análise, a partir da crítica da religião. No primeiro parágrafo da

47 Anotações de sala de aula, da disciplina O Método em Marx, do Programa de Pós -graduação em Serviço Social da PUC/SP, ministrada pela professora Lúcia Barroco.

Introdução da Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, ele diz que no caso da “Alemanha, a Crítica da religião está, no essencial, terminada; e a crítica da religião é o pressuposto de toda crítica” (MARX, 2010, p.145).

Confirmando sua asserção de caráter eminentemente material, de que para ele “o homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade” (MARX, p. 145, o grifo é do autor). E por isso é ele quem faz a religião, Marx é exemplar por dois motivos: primeiro porque partilha do trabalho teórico de Feuerbach, evidenciando a alienação religiosa, e em segundo lugar, porque essas críticas religiosas contêm os pressupostos da política, o que deixa Marx à vontade, para converter a crítica do ideal na crítica material, entre os homens, comprovando assim, sua concepção de filosofia:

“a tarefa imediata da filosofia, que está a serviço da história, é desmascarar a autoalienação humana nas suas formas não sagradas, agora que ela foi desmascarada na sua forma sagrada”, transformando a crítica da religião na crítica do direito, “a

crítica da teologia na crítica da política” (MARX, 2010: 146, grifo do autor).

Marx reconhece em Hegel a percepção de procurar verter o contexto histórico alemão da época através do pensamento, com a ressalva de que em política, diz Marx, “os alemães pensaram o que outros povos fizeram. A Alemanha foi a sua consciência teórica” (MARX, 2010: 151). Na visão de Marx, o problema resultante da análise conceitual realizada por Hegel referente ao Estado moderno seria a abstração do homem real, e “o status quo do sistema político Alemão exprime a consumação do ancien régime, o cumprimento do espinho na carne do Estado moderno” (MARX, 2010: 151, grifo do autor).

Marx se pergunta se existe ou não, na Alemanha, a possibilidade positiva de emancipação. Uma resposta positiva ao problema estaria, segundo o próprio Marx:

Na formação de uma classe que tenha cadeias radicais, de uma classe na sociedade civil que não seja uma classe da sociedade civil, de um estamento que seja a dissolução de todos os estamentos, de uma esfera que possua caráter universal porque seus sofrimentos são universais e que não exige uma reparação particular porque o mal que lhe é feito não é um mal particular, mas o mal em geral, que já não possa exigir um título histórico, mas apenas o título humano; de uma esfera que não se oponha a consequências particulares, mas que se oponha totalmente aos pressupostos do sistema político alemão; por fim, de uma esfera que não pode emancipar-se a si mesma nem se emancipar de todas as outras esferas da sociedade sem emancipá -las a todas – o que é, em suma, a perda total da humanidade, portanto, só pode redimir-se a si mesma por uma redenção total do homem. A dissolução da sociedade, como classe particular, é o proletariado (MARX, 2005: 155-156).

Na Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, quando Marx interpreta o parágrafo 262 dos Princípios da filosofia do Direito de Hegel49, afirmando que o que serve de mediação para

49

“§262. A Ideia real, o Espírito, que se divide ele mesmo nas duas esferas ideais do seu conceito, a família e a sociedade civil, como em sua finitude, para ser, a partir da idealidade delas, Espírito real e infinito para si, divide, por conseguinte, nessas

a relação entre o Estado, a família e a sociedade civil são as circunstâncias, o arbítrio e a escolha própria da determinação, e que:

A razão do Estado nada tem a ver, portanto, com a divisão da matéria do Estado em família e sociedade civil. O Estado provém d elas de um modo inconsciente e arbitrário. Família e sociedade civil aparecem como o escuro fundo natural donde se acende a luz do Estado. Sob a matéria do estado estão as funções do estado, bem entendido, família e sociedade civil, na medida em que elas formam partes do Estado, em que participam do estado como tal. [...] A família e a sociedade civil são