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A INSTITUIÇÃO DA LICENÇA PARENTAL EM EMPRESAS NO BRASIL

7 LICENÇA-PARENTAL

7.2 A INSTITUIÇÃO DA LICENÇA PARENTAL EM EMPRESAS NO BRASIL

Conforme já demonstrado no presente artigo, as pesquisas realizadas pelo IBGE comprovam que no Brasil as mulheres são mais estudadas que os homens, e mesmo assim são a minoria dentro do mercado de trabalho e a minoria a ocupar cargos mais altos nas empresas. Tal fato pode ser considerado como uma desvantagem econômica para o país, pois deixar o trabalho de casa e dois filhos apenas nas mãos das mulheres e impossibilitar o seu crescimento nas áreas profissionais é o mesmo que tirar a mão de obra qualificada do mercado de trabalho.

Enfim, apesar da licença parental não fazer diretamente parte do nosso ordenamento jurídico brasileiro, ela está começando a se fazer presente em algumas empresas instituídas no Brasil, como vamos analisar abaixo.

Segundo reportagem da revista brasileira Exame, publicada na data de 05 de abril de 2021, o grupo boticário passou a estender a licença parental de 120 para os seus funcionários.

O Grupo Boticário disponibiliza para todos os 12.000 colaboradores da companhia, a partir do segundo semestre, o direito à licença parental de 120 dias. A extensão do benefício, que já era oferecida às mães (que podem optar pelo afastamento de até 180 dias), agora passa a valer também para homens, casais homoafetivos e pais de filhos adotivos, independentemente da idade. (FILIPPE, 2021, n.p)

Conforme a reportagem, tal iniciativa foi tomada com a finalidade de reforçar a igualdade de gênero e a responsabilidade conjunta dos pais em relação aos cuidados com a família.

Para ter ideia, os cuidados com a casa — e consequentemente com os filhos — tomou 21 horas semanais das mulheres em 2019, uma diferença de cerca de 10 horas a mais do que os homens. As mulheres também são as que mais deixam o mercado de trabalho após o nascimento das crianças. (FILIPPE, 2021, n.p)

O vice-presidente do conselho de administração do Grupo Boticário, também disse na reportagem que a licença mais imparcial é o caminho certo para ajudar a romper as desigualdades de gênero impostas no nosso meio social, pois, além de transformar o olhar da sociedade, ela também é uma relevante contribuição para a relação de afeto entre pais e filhos.

O Boticário também já fazia parte do Projeto Empresa Cidadã, o qual prorroga a licença-maternidade e a licença-paternidade para os seus colaboradores

que se tornam pais.

De acordo com pesquisa de 2020 da Talenses Group, consultoria de recrutamento especializado em cargos de média e alta gerência, apenas 2% das companhias oferecem licença-paternidade estendida. Dentro desse pequeno universo, a maioria, quase 80%, adota a de 20 dias e apenas 7% são mais de dois meses aos pais. (FILIPPE, 2021, n.p)

Portanto, a partir do segundo semestre de 2021 todos os colaboradores da empresa terão direito a licença parental estendida, esse benefício também irá abranger os casais homoafetivos e pais de filhos adotivos.

A Diageo, empresa de grande porte no ramo de fabricação de bebidas destiladas, também está implementando políticas de igualdade dentro desse ambiente de trabalho. Desde o ano de 2020 a mesma substituiu o conceito de licença- maternidade para a licença-familiar, tendo essa licença a duração de 6 meses. Assim como o Grupo Boticário, a companhia Diageo também tem o propósito de desconstruir a ideia de que o papel de cuidar dos filhos é somente da mãe, reforçando a isonomia entre o pai e a mãe diante dos cuidados dos filhos.

O primeiro a aderir a licença-familiar na empresa foi o seu gerente regional, Ricardo Santa Rita. “Passei na pele o que as mulheres vivem na prática”, diz Santa Rita, em entrevista à Revista Exame. “Tive medo. Como sair no meio de uma situação complexa como a da pandemia, por seis meses? É o medo que as mulheres devem sentir quando tiram a licença-maternidade.” (BOMFIM, 2020, n.p)

Com base na reportagem, a decisão para que o gerente usufruísse da licença-familiar foi impulsionada pela empresa, porém muito questionada pelos parentes, por conta de não ser comum o homem tirar tanto tempo de licença para acompanhar o recém-nascido.

No nascimento de sua filha mais velha, Santa Rita trabalhava em outra empresa e teve 20 dias concedidos para acompanhar os primeiros momentos de Lara. “Fiquei feliz com os 20 dias porque, em geral, os pais só podem tirar cinco. Mas ainda foi um tempo curto. Não deu tempo de me desconectar do trabalho e, quando voltei ao escritório, já passei a viajar e me ausentar de momentos importantes da vida da minha filha.” (BOMFIM, 2020, n.p)

Eu sempre tive em mente ser este modelo de pai: dei o primeiro banho, troquei fraldas o tempo todo, participei da introdução alimentar. Mas vejo que tudo isso é muito pouco quando pensamos em equidade de gêneros. Estamos muito longe de absorver essa divisão de tarefas do cotidiano. Estes seis meses serão essenciais para que eu consiga realizar tudo o que me propus a fazer. (BOMFIM, 2020, n.p)

Segundo Daniela de Fiori, diretora de relações corporativas da Diageo, a licença-familiar não ajuda somente a promover a igualdade entre os pais, e a diversidade da empresa, mas ela também gera grandes impactos nos negócios da companhia, atraindo novos talentos, trazendo grandes reconhecimentos para a empresa e grandes resultados comerciais.

Também quando questionados sobre a visão da sociedade em relação aos cuidados dos filhos como algo mais direcionado às mães, podendo trazer tabus aos homens no momento de aderir os seis meses da licença-familiar, a resposta é que: “A equidade de gênero é um dos pilares do movimento de inclusão e diversidade no qual a Diageo vem crescendo cada vez mais. A medida de licença familiar é uma forma de desconstruirmos essa visão masculina não somente entre nossos colaboradores mas como no mercado, mostrando que a criação dos filhos e o tempo dedicado à família devem ser única e exclusivamente divididos de forma igual”.

Como podemos observar nas entrevistas e pesquisas mencionadas acima, as empresas que estão aderindo a licença parental, licença-familiar e licença- paternidade estendida, pensam em melhorar o mercado de trabalho, quebrando os tabus impostos pela sociedade e promovendo a igualdade de gênero dentro de seus ambientes de trabalho, proporcionando aos seus funcionários o direito de escolha e o direito de estar mais próximos dos seus filhos nos momentos mais importantes, como o início de suas vidas.

Portanto, essa desconstrução social de que as responsabilidades do recém-nascido devem ser maiores para as mães, não ajuda somente na vida privada dos colaboradores das empresas, mas também serve para incentivar, e motivar o crescimento profissional deles, auxiliando também dessa forma, o desenvolvimento e o crescimento da empresa.

8 CONCLUSÃO

Analisando todos os dados expostos, conclui-se a partir das pesquisas apresentadas que, a licença-maternidade acaba reforçando as desigualdades de gênero e as desigualdades no ambiente de trabalho, as quais já estão impostas em nossa sociedade há anos, e dificultam ainda mais o desenvolvimento feminino. Dessa forma, dificultando também o desenvolvimento da sociedade como um todo.

A licença-maternidade mantém a mulher fora do mercado de trabalho por até cento e oitenta dias, enquanto o homem, é retirado do ambiente público por no máximo vinte dias. Tamanha discrepância de tempo acaba afetando diretamente a vida profissional da mulher, dificultando ainda mais a sua inserção, ou, a sua volta para o mercado de trabalho.

Ademais, a corresponsabilidade que deve existir entre os pais na criação e desenvolvimento dos filhos também deve ser levada em consideração, pois a participação do pai na vida da criança, principalmente nos seus momentos iniciais de vida, é extremamente importante, não somente pelas necessidades biológicas da criança, mas também para que sejam criados laços emocionais entre o bebê e seu genitor.

Portanto, com base nas pesquisas e nos autores apontados no presente trabalho, entende-se que o tempo estipulado para a licença-maternidade e para a licença-paternidade não está baseado apenas nas necessidades biológicas que tem o bebê e a mãe após o parto, mas também, está embasado em todo um conceito histórico que trata a mulher como a maior responsável pelos cuidados da casa e dos filhos, sendo o homem visto como o mantenedor principal do lar.

Por fim, faz-se necessário que as mulheres comecem a ser olhadas com valorização profissional e que sejam analisadas suas capacidades, suas competências e que não sejam definidas apenas pelos aspectos da sua vida privada. Devendo ocorrer mais implementações de políticas públicas que pensem no lado da mulher, que apoiem as causas e o crescimento feminino de uma maneira geral. Assim como exposto na pesquisa com a ideia da licença parental, a qual já vem sendo utilizada em alguns países e está começando também a ser instituída em algumas empresas no Brasil, dando a oportunidade de que os pais possam escolher quem irá ficar mais tempo com bebê, podendo a mãe voltar tranquilamente para o seu trabalho caso seja o que ela deseje.

(In)equality in maternity and paternity leave

Abstract: The present work aims to analyze and answer the following question: are

maternity leave and paternity leave justified in the current social context or are they just ways to assign the responsibility of raising children solely to women? The aim is to demonstrate whether the way in which days are distributed for each leave ends up reinforcing the historical concept of gender inequality, thus also discouraging the expansion of women in the labor market, in addition to interfering with the co-

responsibility of fathers when it comes to the care and development of their children.

Keywords: Maternity leave. Paternity leave. Gender inequality. Women's rights.

Parental leave.

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