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Instrumento de recolha de dados: a entrevista semi-directiva

C APÍTULO IV – F UNDAMENTAÇÃO M ETODOLÓGICA DO T RABALHO E MPÍRICO

4.4 Instrumento de recolha de dados: a entrevista semi-directiva

Dados o problema e as questões de investigação que foram estabelecidos para o presente estudo, considerou-se como estratégia mais adequada para a recolha de dados a utilização da entrevista semi -estruturada. De acordo com Moreira et al. (2007), a entrevista semi-estruturada é “aquela que parte de certos questionamentos básicos

apoiados em teorias e hipóteses que fundamentam a pesquisa, onde apenas algumas questões e tópicos são predeterminados. Inclusive, muitas questões podem ser formuladas durante a entrevista, onde as irrelevantes são abandonadas”.

A opção por este género de entrevista teve a ver com as características da mesma, uma vez que esta atribui maior grau de liberdade ao investigador e aos inquiridos, permitindo de forma mais fácil a obtenção de dados que se revelem pertinentes (Patton, 1990). Não se pode esquecer que este contributo depende de um guião bem claro e exequível.

O entrevistado tem a liberdade de, no decurso da entrevista, abordar questões relevantes para o tema em estudo e que ainda não haviam sido consideradas aquando da realização do guião.

Por norma, estas questões que não haviam sido consideradas pelo investigador surgem em consequência das respostas dadas pelo entrevistado. Assim sendo, o cientista social pode adicionar ao seu trabalho temáticas pertinentes, que irão enriquecê-lo.

Como salienta Van Der Maren (1996, pág.312, in Eliseu 2003, pág.95), a entrevista tem por finalidade recolher informações “sobre as percepções, os estados

afectivos, os julgamentos, as opiniões, as representações dos indivíduos, a partir do seu próprio quadro pessoal de referência reportado às situações actuais, ou seja, às questões colocadas pelo entrevistador”.

O investigador deve procurar que os participantes no estudo sejam pessoas com elevada capacidade de expressão e que tenham um profundo conhecimento do assunto em questão, uma vez que se busca a singularidade, aprofundamento e abrangência da compreensão do fenómeno estudado (Moreira et al., 2007).

4.4.1 Guião de entrevista

Seguindo o modelo proposto por Estrela, A (1990, p. 354-362), elaborámos o guião da entrevista direccionado com o tema: Concepções de planificação de professores estagiários em relação ao processo de ensino - aprendizagem.

O guião foi estruturado em seis blocos.

O primeiro bloco (I) – De legitimação da entrevista. Pertence-se revelar a pertença a utilidade e a motivação dos entrevistados, informando-os, sobre o trabalho em questão.

O segundo bloco (II) – Modo de planificação. Pretendíamos identificar os modos de planificação do estagiário em relação às suas aulas.

O terceiro bloco (III) – Utilidade da planificação. Com este bloco pretendamos perceber qual o tipo de utilidade atribuída pelo estagiário ao uso da planificação e significados atribuídos à mesma.

O quarto bloco (IV) - Dificuldades percebidas na planificação. Tínhamos como objectivo identificar dificuldades sentidas no acto da elaboração da planificação.

O quinto bloco (V) – Formação recebida para a planificação. Neste a intenção era recolher elementos acerca da formação recebida pelos estagiários para o campo da planificação, através da formação inicial e através de conhecimentos transmitidos e recebidos na prática pelas supervisoras, orientadoras e professoras cooperantes para este tipo de trabalho.

Bloco (VI) – Finalização da entrevista e agradecimentos.

Tema: Concepções de planificação de professores estagiários no processo de ensino-aprendizagem

Objectivos Gerais:

 Perceber o sentido atribuído pelo estagiário à planificação.  Identificar dificuldades geradas no acto de planificar.  Compreender como aprendem a planificar.

Em seguida pode-se ver, sob a forma de quadro, o guião de entrevista aos professores finalistas, bem como a estrutura dos blocos que o constituem.

Blocos Objectivos Específicos Tópicos para o questionamento Observações Bloco I Legitimação da entrevista e motivação do entrevistado - Legitimar a entrevista - Motivar o entrevistado

- Apresentar o trabalho e legitimar a entrevista

- Conferir confidencialidade à entrevista;

- Mostrar interesse pelo trabalho dos professores estagiários e pela sua colaboração no meu trabalho

Bloco II Modo de planificação - Caracterizar os modos de planificação do estagiário - Identificar actividades e estratégias de planificação -Identificar objectos sobre os quais tomem decisões ao planificar (relativamente ao processo ensino – aprendizagem, que formação tiveram)

- Que tipo de planificação tem realizado?

- Como procede quando planifica uma aula?

-Como procede para planificar uma unidade didáctica ou um grupo de aulas?

- Como procede para planificar um projecto?

-Pedir para explicitar o que é que o estagiário planifica -Explorar os tipos de objectivos (comportamentalistas?

Outros?), as decisões sobre estratégias e actividades, os processos de avaliação das aprendizagens.

Bloco III

Utilidade da planificação

- Identificar o sentido atribuído pelo estagiário à planificação e ao acto de planificar (de conceber a planificação)

- No seu entender, para que serve a planificação feita pelos professores? - Pela experiência que já tem em dar aulas, que papel é que a planificação teve na forma de desenvolver o seu trabalho?

- Se em alguma situação/experiência de

-Pedir que explicite acerca da pertinência (ou falta dela) para planificar

-Sugerir que falem da relação entre o plano e a execução

planificação?

- Como são os hábitos de planificação de onde está a estagiar?

- O que pensa desses hábitos? São úteis? Existe trabalho de colaboração/ de equipa?

- O facto de fazer planificações fá-lo sentir mais limitado como profissional? Em que sentido?

-Se vê a planificação como um meio de autonomia ou de controlo ( se sente mais limitado?) Em que medida?

Bloco IV Dificuldades percebidas na planificação - Identificar dificuldades na planificação

- Que dúvida (s) ainda tem acerca da planificação?

-Que dificuldades tem sentido nesse trabalho?

- Pedir ao estagiário que aponte aspectos já conseguidos (bem conseguidos) na planificação -Pedir que fale sobre as dificuldades mais notórias/sentidas Bloco V Formação recebida para a planificação

- Que preparação teve antes de chegar ao estágio?

-Que ajuda tem tido do seu

supervisor/orientador para o campo da planificação?

-Que relação existe entre a teoria e a prática no acto de planificar? Esta questão é pertinente?

-Pedir que fale acerca de onde, com quem, quando, aprendeu a planificar

-Sugerir que falem da relação teórico-prática

-Perceber que aspectos gostaria de melhorar na sua planificação -Saber quais os aspectos que gostaria de melhorar na sua formação para planificar

Bloco VI Finalização da entrevista Agradecimentos - Finalizar a entrevista - Agradecer a colaboração da entrevistada

- Finalizar e agradecer a colaboração

Quadro 3 - Guião de entrevista aos professores finalistas

As entrevistas realizaram-se entre Março e Maio, de acordo com a disponibilidade dos entrevistados. As mesmas tiveram lugar na instituição de ensino superior, nas salas de aula disponibilizadas para o efeito.

A duração das entrevistas, em média, atingiu os 45 a 55 minutos, tendo sido respeitada a confidencialidade. Das entrevistas foi realizada gravação áudio, a qual foi transcrita na íntegra, com todas as inconsistências e repetições, originais do discurso oral.

Tendo como ponto de partida o guião da entrevista previamente elaborado para o efeito, cada entrevista decorreu com informalidade, verificando-se um ambiente de proximidade e empatia, pelo que a solicitação para a gravação das entrevistas decorreu sem reservas por parte dos entrevistados.

Assumimos uma posição de ouvinte atenta, perante o discurso dos entrevistados, através de comentários aos mesmos com o objectivo de clarificarem algum pensamento ou ideia menos claros e através de aspectos não-verbais da nossa intervenção, nomeadamente com sinais de aceitação com a cabeça.

A nossa inquietação fixou-se em gerar condições que permitissem aos entrevistados a sua expressão espontânea, possibilitando um à vontade essencial para apresentarem os seus pensamentos e ideias, pois ambicionava-se que as entrevistas expusessem os seus pontos de vista.