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6. ASPECTOS DE REGULAÇÃO E O MONITORAMENTO DA INDÚSTRIA DE GÁS NATURAL NO BRASIL DE GÁS NATURAL NO BRASIL

6.3. INSTRUMENTOS CONTRATUAIS

Os contratos, em especial de longo prazo, formalizam as transações comerciais em todas as etapas da cadeia produtiva do gás natural com a finalidade de evitar conflitos, como a arbitragem. No nosso país, destacam-se dois tipos de instrumentos contratuais: (i) Contratos de Comercialização (compra/venda) de Gás e (ii) Contratos de transporte de gás. No anexo H, há uma discriminação de contratos de comercialização e de transporte nacional. Abaixo, segue uma descrição dos contratos de gás natural firmados no Brasil.

6.3.1. Contratos de Comercialização de Gás Natural

Todas as fases de operação comercial entre os agentes são instrumentos contratuais de compra e venda. São estabelecidas, por cláusulas, as garantias de cada uma das partes. Características como volume, qualidade, localização, prazos para pagamentos, preço, entre outras são definidas (ANP, 2008). A figura 9, abaixo, mostra em que fases da cadeia do gás natural existem a presença de tais contratos:

Figura 8 - Fluxograma de Comercialização de Gás

Obs. 1: As setas correspondem aos instrumentos

Obs. 2: O Contrato entre Vendedor (produtor) estrangeiro e comprador nacional considera o ponto de entrega como sendo fronteira, o preço de compra e venda inclui o frete até a fronteira.

Fonte: ANP, 2001

É de extrema relevância entender a terminologia que se usa na indústria de gás. A quantidade diária contratual (QDC) é o volume de gás que a vendedora se responsabiliza a vender e fornecer, nas condições de referência de acordo com os termos e condições de contrato. A quantidade diária programada (QDP) pelo cliente é o volume de gás que a compradora tenha pedido à vendedora para que lhe seja colocada à disposição no ponto de entrega, do dia marcado (Gasbrasil, 2008). Os principais pontos de destaque dentre as cláusulas contratuais de comercialização são (Laureano, 2005):

a pagar por uma determinada quantidade de gás contratada, independente de retirá-la. O comprador, em caso de não cumprimento, está sujeito às penalidades; • Compromisso de fornecimento de gás (delivery or pay) - da mesma forma que o

take or pay é uma garantia para o vendedor, o delivery or pay é uma garantia para o comprador. O delivery or pay significa que o vendedor se compromete a entregar o gás ou pagar uma penalidade pela não entrega do volume programado; • Arbitragem – diante qualquer desentendimento em relação ao Contrato, as partes,

antes de levar o caso para um Tribunal Arbitral (no caso a ANP), buscam uma solução em comum;

6.3.2. Contratos de Transporte de Gás Natural

Os compromissos em relação à prestação de serviços de transporte entre carregadores (contratantes do serviço de transporte) e transportadores (operadores de gasodutos) são formalizados através de contratos de transporte. Assim como nos contratos de comercialização, nos contratos de transporte de gás natural é estabelecido, por cláusulas, características como: capacidades de transporte, qualidade do produto, pontos de entrega, prazos para pagamento, entre outras (ANP, 2001). A figura 9, abaixo, mostra em que fase da cadeia do gás natural tais contratos estão presentes:

Figura 9 - Fluxograma de Transporte de Gás Natural

Fonte: ANP, 2001

O serviço de transporte firme significa reservar a capacidade de transporte no duto, desde o ponto de recepção até o ponto de entrega, requisitado pelo carregador.

Contratos para prestação de serviço de transporte não firme podem ser feitos entre a transportadora e terceiros, desde que haja disponibilidade ou ociosidade no duto, depois de atendida a demanda dos usuários firmes.

Segundo Laureano (2002), é importante destacar os seguintes pontos dentro das cláusulas de transporte:

• Custódia do gás – todo o gás recebido fica em poder de custódia da transportadora até a etapa em que seja entregue ao carregador, no ponto de entrega (city gate); • Ship or pay – é o pagamento mensal do carregador à transportadora relativo a uma

operação, ele passa a dividir os custos fixos de operação. Isso acontece em caso de utilização da parcela ociosa ou no caso de ampliação do sistema de transporte. • Penalidade – havendo falha na prestação de serviço, a transportadora pagará ao

carregador o valor estabelecido no contrato.

• Arbitragem – não tendo sucesso na tentativa de uma solução em comum, a controvérsia será submetida à decisão de um Tribunal Arbitral.

6.4.PREÇO

De acordo com Araújo (1997), a regulação de preços (ou regulação tarifária) é um dos trabalhos de maior relevância do regulador pelo fator de possuir um relacionamento direto com o excedente econômico e sua distribuição. Por ser formulado de modo a conciliar o interesse dos consumidores e da firma regulada é considerada uma tarefa muito complexa.

Com o objetivo de atender a eficiência econômica da indústria, algumas regras de tarifação foram desenvolvidas. As mais antigas são a tarifação a custo de serviço e a tarifação ao custo marginal. Tem-se também, mais recentemente, a regulação por incentivos, sendo apresentada aqui pela regulação de preços máximos.

6.4.1. Tarifação a Custo de Serviço

Esse mecanismo é geralmente usado para o caso de monopólios naturais que visa remunerar os custos totais e garantir uma taxa interna de retorno que seja justa para o regulador e atrativa para o investidor. Assim, o regulador precisa ter informações sobre

os níveis de investimento, dos custos e das condições da demanda de cada firma. O preço do serviço é dado no ponto onde a curva de demanda corta a curva de custo médio. A fórmula geral é descrita da seguinte forma (VISCUSI, VERNON e HARRINGTON JR., 1995):

n

Σ pi qi = custos + s (TB) i =1

onde: pi = preços do i-ésimo serviço qi= quantidade do i-ésimo serviço n = número de serviços

s = taxa de retorno permitida ou justa

TB = taxa base, uma medida do valor do investimento da firma regulada

Segundo Fernandes (2000), através da taxa de retorno é possível fixar preços, uma vez que, estes serão reajustados sempre que for necessária a recomposição da receita( a partir de resultados contábeis, das regras contábeis de depreciação e da inflação do período), de forma a garantir a taxa de retorno permitida pela agência reguladora.

Esse método de regulação de preços apresenta algumas vantagens nos requisitos administrativos e comerciais além de reduzir os riscos no investimento (o método oferece garantia de um retorno seguro ao empreendedor) e promover o desenvolvimento da indústria regulada.

de retorno será utilizada; e a forma de definição dos custos, pela controvérsia existente entre custos históricos ou custos de produção (POSSAS, PONDÉ e FAGUNDES, 1997).

Outro problema é conhecido como efeito Averch-Jonhson que mostra, basicamente, como os lucros variam diretamente com a taxa base. Nessa situação a firma tenderá a elevar a sua base de capital, investindo mais do que o precisa. Há uma ineficiência alocativa, pois o agente usa um volume de capital excessivo em relação a seu custo para a sociedade (VISCUSI, VERNON e HARRINGTON JR., 1995).

Assim, a complexidade da implantação desse mecanismo o torna mais eficaz quando as condições de custo e demanda não são voláteis ao longo do tempo. Caso isso não ocorra, ou seja, se houverem mudanças constantes nessas variáveis, esse tipo de tarifação não cumprirá seus objetivos facilmente.

6.4.2. Tarifação ao Custo Marginal e a Solução “Second Best”

Os diversos problemas na tarifação a custo de serviço deram argumentos a um segundo método de regulação de preços, a tarifação ao custo marginal. Esse mecanismo parte do princípio de igualar os preços do bem e/ou serviço a seus custos marginais. Caso a indústria seja um monopólio sob controle público, esta política simularia um mercado perfeito e seria ótimo para a sociedade (Fernandes, 2000).

De acordo com Araújo (1997), a eficiência desse método vai depender do tipo de estrutura de monopólio natural na qual está sendo aplicado este mecanismo de regulação de preços. Se aplicar em um monopólio natural forte, esse mecanismo pode gerar déficits

recorrentes e, conseqüentemente, lucros insuficientes para empresa. No entanto, no caso de monopólios naturais fracos, a aplicação do mesmo método pode gerar lucros excessivos, aumentando o poder da firma.

Diante tais dificuldades, surge outra opção, o “second best”. Essa solução é formalmente idêntica à de preços pelo custo médio. Se a situação não se altera ao longo do tempo, não há incerteza e a depreciação iguala as despesas com reposição conforme apresentado no gráfico 17. A lógica, entretanto, é muito diversa. O lucro, assim como o cálculo do custo, não está ligado aos investimentos realizados historicamente. Com um mundo que passa por muitas mudanças, a diferença pode ser enorme.

Gráfico 18 - Tarifação de Preços (Solução “Second Best”)

Fonte: Viscusi (2000)

Assim, mesmo com a tarifação de preço, ainda há problemas derivados da assimetria de informação. Objetivando maximizar o bem-estar social, outros esquemas alternativos com regras mais simples e claras foram feitos por meio de incentivos, que poderiam

monopólio natural. A fim de exemplificar este método, há uma descrição do esquema de tarifação pelo preço máximo abaixo.

6.4.3. Tarifação pelo Preço Máximo (Price Cap)

Segundo Mansell e Church (1995), são definidas quatro características essenciais para o mecanismo de price cap:

• O preço máximo é estabelecido pelo regulador, sendo que a firma poderá praticar preços inferiores a estes;

• Os preços máximos estabelecidos não são, necessariamente, relativos a apenas um produto/serviço, mas sim a uma cesta de produtos/serviços. Assim, a firma terá a possibilidade de alterar os preços relativos, caso seja conveniente;

• Os preços máximos são ajustados periodicamente por um fator pré-determinado. Este fator é composto de duas parcelas: a primeira se refere ao repasse do aumento (diminuição) dos custos devidos a variações dos inputs do processo; o segundo é a parcela relativa à produtividade, que irá estabelecer a percentagem de redução do preço máximo, a fim de que os consumidores possam usufruir dos ganhos na eficiência conseguidos pela firma;

• Tanto os fatores de ajuste como a cesta de produtos/serviços e os índices são periodicamente revistos.

Formalmente tem-se (PINTO JR. e SILVEIRA, 1999): P = IPC – X + Y

onde: IPC = índice de preços

Y = contingências

Com esse mecanismo, qualquer diminuição nos custos além da meta de produtividade estabelecida pela agência reguladora poderá ser apropriada pela firma regulada, tendo a empresa um incentivo à diminuição dos seus custos. Nota-se, desta maneira, que esse método requer menos informações para a determinação dos preços, sendo um mecanismo mais fácil de ser aplicado.

Assim, visto que os métodos para regulação tarifária possuem vantagens e desvantagens é difícil determinar qual é o que traz mais benefícios. É de extrema importância verificar os objetivos do regulador e as estratégias estabelecidas pelas firmas a fim de verificar qual o mecanismo mais apropriado.

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