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3 OS CAMINHOS DA PESQUISA: ABORDAGEM METODOLÓGICA

3.1 DESENHO DA PESQUISA

3.1.7 Instrumentos de coleta de dados

Segundo Lakatos e Marconi (2001), a entrevista pode ser compreendida como um encontro entre duas pessoas, com a finalidade de que uma delas obtenha informações sobre determinado assunto por meio de uma conversa de natureza intencional. Existem diferentes tipos de entrevistas, por exemplo, entrevista estruturada, não estruturada, semiestruturada, focalizada, clínica, não dirigida e painel. Cada uma oferece a oportunidade de obtenção de dados de diferentes formas e, como qualquer procedimento de coleta de dados, apresenta vantagens e limitações.

Para a presente investigação, optou-se pela entrevista semiestruturada, em que o pesquisador utiliza um roteiro com uma lista de questões ou tópicos a serem preenchidos, porém com uma certa flexibilidade. As perguntas não precisam seguir a ordem prevista no roteiro e novas questões podem ser formuladas no decorrer da entrevista. Em geral, a entrevista semiestruturada tende a seguir o roteiro planejado e sua principal vantagem é obter informações adicionais, além das planejadas (LAKATOS; MARCONI, 2001).

O roteiro para a entrevista (Anexo 1) foi concebido seguindo as orientações de desenvolvimento de entrevistas recomendadas por Szymansky (2002), cujos tópicos são (a) contato inicial, (b) condução da entrevista, (c) apresentação da questão desencadeadora e (d) exposição das questões de esclarecimentos e aprofundamento.

Sobre o contato inicial, para conferir maior fidedignidade às informações, apesar das crianças participantes estarem familiarizadas com a pesquisadora, no momento da entrevista individual, a mesma se apresentou, forneceu dados sobre sua própria pessoa, instituição à qual a pesquisa está vinculada e apresentou o tema da pesquisa. Foi solicitado também a cada entrevistado que se apresentasse, informando seu nome, idade, ano da escola e há quanto tempo estudava música no projeto.

No que se refere à condução da entrevista, após a apresentação, houve um momento de aquecimento com perguntas sobre rotinas musicais na família, que tipo de música ouve, onde e em quais situações o entrevistado costuma ouvir música. Posteriormente, o roteiro da entrevista propôs a questão desencadeadora, cuja base para formulação fundamentou-se nos objetivos da pesquisa, com o intuito de possibilitar um primeiro discurso de cada participante a respeito do tema introduzido, neste caso o solo, ou seja, a improvisação.

esclarecimentos quando os discursos pareciam confusos ou quando as relações das ideias ou fatos narrados não estavam muito claros, assim como intencionaram o aprofundamento no intuito de suscitar reflexões do entrevistado sobre suas concepções de solo, conforme sugere Szymanski (2002).

Foram realizadas entrevistas individuais com as 11 crianças participantes da pesquisa. Cada entrevista ocorreu durante a última aula individual de cada criança, sendo que todas foram gravadas em vídeo e transcritas na íntegra. As entrevistas tiveram duração de cerca de 12 minutos e objetivaram explorar de forma mais focalizada aquilo que as crianças compreendem como solo.

b) Produção de textos escritos pelos sujeitos:

Após realização das entrevistas e das sessões de grupo focal, ainda no processo de coleta de dados, fez-se uso da modalidade de produção de texto escrito. Segundo Bogdan et al. (1994), nas modalidade anteriores, os materiais são produzidos pelo próprio pesquisador. Todavia, textos escritos são documentos pessoais em que os sujeitos expressam livremente o seu pensamento sobre algum tema proposto, sem interferências externas, constituindo-se assim fontes de dados. Segundo os autores, tais dados são utilizados como parte da coleta e podem complementar a observação participante ou as entrevistas, embora às vezes possam ser utilizados como única fonte de informação.

Diferentes áreas do conhecimento como sociologia, psicologia e educação, por exemplo, utilizam esse recurso para estudar situações específicas mediante os relatos escritos produzidos pelos próprios sujeitos envolvidos em determinado estudo (BOGDAN et al., 1994).

Desse modo, objetivando direcionar os participantes para a realização da tarefa de produção de textos, foi solicitado às crianças que registrassem suas impressões sobre os próprios solos. Embora o conteúdo de alguns participantes apresentasse poucos dados, pois algumas crianças fizeram um desenho ao invés de texto, informações importantes e pertinentes sobre como a criança se sente ao executar os solos emergiram durante a realização dessa atividade.

c) Grupo focal:

Segundo Dias (2000), o grupo focal é uma ferramenta que pode ser usada isoladamente ou com outras técnicas para aprofundar o conhecimento das necessidades dos

participantes. Alguns autores utilizam a nomenclatura entrevista de grupo focal e outros preferem denominar apenas grupo focal. Para Dias (2000), trata-se de uma técnica de coleta de dados cujo objetivo principal é estimular os participantes a discutir sobre determinado assunto, de interesse comum, identificando suas percepções, reflexões, sentimentos, atitudes e ideias sobre o tema, o que configura um debate aberto. Parte-se do pressuposto de que essa técnica resulta em maior diversidade, profundidade de respostas e riqueza de detalhes. Dias (2000) também ressalta a importância do planejamento na aplicação do grupo focal. Dentre os principais elementos do planejamento estão: (a) seleção de um moderador, (b) elaboração de um guia de entrevista a ser utilizado pelo moderador durante a discussão, (c) escolha do local apropriado e (d) escolha dos participantes.

Os participantes são escolhidos em determinado grupo cujas ideias e opiniões são do interesse da pesquisa. Uma discussão acontece em reuniões com um grupo reduzido, normalmente entre 6 e 8 participantes, mas há casos, como o desta investigação, em que o número de participantes pode chegar a 12. Geralmente conta-se com a presença de um moderador que intervém sempre que julgar necessário, tentando focalizar e aprofundar a discussão (DIAS, 2000).

Segundo Dias (2000), os resultados dessa técnica ultrapassam a soma das partes individuais. O grupo focal visa à geração de ideias e opiniões espontâneas e, por essa razão, todos devem participar. O moderador deve promover uma discussão de modo que essa atividade não se transforme em entrevistas individuais que acontecem em grupo e, devido à grande quantidade de informações geradas, pode ser auxiliado por um anotador ou por equipamentos de gravação.

Foram realizados dois encontros, com duração aproximada de 50 minutos cada, sendo um voltado para as práticas de improvisação livre e outro às de improvisação idiomática. Essa divisão se configurou dessa forma diante da observação das aulas e ensaios, em que se observou uma distinção muito clara entre as duas práticas, ficando a primeira restrita somente às aulas, especialmente às individuais, e a segunda sendo contemplada em aulas tanto individuais quanto coletivas e ensaios de orquestra. Para cada encontro foi elaborado um roteiro contendo a sequência de atividades a serem realizadas e uma lista de questões a serem propostas durante a discussão. As perguntas foram elaboradas segundo os objetivos e pressupostos teóricos desta investigação (Anexo 2).

d) Diário de campo:

Segundo Stake (2010), o diário de campo consiste em anotações nas quais geralmente são registradas informações que o pesquisador recebe e experiências durante sua permanência no campo. Tais registros são de valor inquestionável não só para expandir as observações do pesquisador, como para facilitar o processo de análise dos dados, servindo também como um facilitador no processo de comparação com informações obtidas por meio da utilização de outros instrumentos de coleta. Ao longo do semestre, o diário de campo revelou-se fundamental para observação da rotina de sala de aula e do projeto como um todo.

3.2 PROCESSO DE ANÁLISE, INTERPRETAÇÃO E TRATAMENTO DOS DADOS