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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.2 Instrumentos de Construção dos Dados

Os dados utilizados para o desenvolvimento deste estudo correspondem a relatos escritos e orais produzidos por coordenadores pedagógicos a partir de dois instrumentos: o questionário e a entrevista. O detalhamento do processo de construção desses dados junto aos participantes será retomado adiante, ainda nessa seção. Antes, porém, faz-se significativo apresentar os objetivos e as características de cada um desses instrumentos em sua tarefa de constituição do corpus, cuja análise e interpretação nos permitiram adentrar a produção de significados e sentidos desses profissionais em relação às vivências iniciais na recente função que assumiram dentro do contexto escolar.

Ressalta-se que a referência que aqui se faz às expressões construção ou constituição de dados, em opção ao termo coleta de dados, fundamenta-se na compreensão de que, enquanto relatos verbais, eles não estão presentes na realidade de modo pronto a serem coletados. Ao invés disso, eles são produzidos ao longo da investigação, quando da utilização dos instrumentos e por via da relação que se estabelece entre pesquisador e sujeito pesquisado.

No exato momento de sua utilização, o instrumento assume o importante papel dentro do contexto investigativo de estimular o sujeito participante a refletir acerca de questões sobre as quais ele está sendo inquirido; levando-o, muitas vezes, a um processo reflexivo relativo à sua história anterior, ou à sua vivência cotidiana, que não se verifica com frequência e que pode nunca ter sido anteriormente elaborado por ele. O instrumento concebido com a finalidade primeira de produção de dados para a pesquisa apresenta-se, desse modo, como um mecanismo revelador de significações que podem ser, até aquele momento, desconhecidas ao próprio sujeito.

Aguiar (2002) também aponta que as falas dos participantes são construções que se revelam superiores a simples estímulos de resposta a certa questão que se apresente. Elas representam construções do sujeito para as quais a situação de intervenção promovida pela investigação pode se tornar um elemento determinante para o processo desencadeador de sua reflexão sobre suas práticas, concepções e sobre a realidade que o cerca.

Quanto à relação entre pesquisador e sujeitos pesquisados, convém destacar que a qualidade de suas interações condiciona a própria característica dos dados que são

construídos. Reportando-se de modo específico à entrevista, instrumento que se concretiza no encontro direto entre essas duas personagens, Szymanski (2004) avalia que:

Ao considerarmos o caráter de interação social da entrevista, passamos a vê- la submetida às condições comuns de toda interação face a face, na qual a natureza das relações entre entrevistador/entrevistado influencia tanto o seu curso como o tipo de informação que aparece (SZYMANSKI, 2004, p. 11). Nos itens a seguir, apresentam-se as características de cada um dos instrumentos de construção dos dados, assim como os objetivos que orientaram a escolha por sua utilização nesta investigação.

3.2.1 Questionário

Nesta pesquisa, o questionário se constituiu no primeiro instrumento aplicado junto aos participantes com a finalidade de construção de dados. Os motivos que nortearam a opção por sua utilização decorreram do fato de que, por se caracterizar um instrumento ágil e que possibilita um grande alcance em relação ao seu número de respondentes, o questionário viabilizaria a constituição de um panorama caracterizador do grupo de professores coordenadores em estudo, permitindo também que os significados aflorassem em meio aos relatos escritos sobre as vivências, motivações, sentimentos e expectativas de cada um deles acerca da coordenação pedagógica.

Constituído basicamente por frases incompletas a serem rematadas por formulações elaboradas a partir das percepções, vivências e sentimentos dos respondentes, o questionário (Apêndice A) foi concebido em torno de cinco eixos temáticos que procuraram constituir dados referentes a:

• I – Perfil pessoal;

• II – Motivos e significados de ser professor coordenador;

• III – Limites e possibilidades da atuação como coordenador pedagógico; • IV – Vivências significativas como professor coordenador;

• V – Sentimentos e expectativas acerca da atuação na coordenação pedagógica. O propósito primeiro do questionário foi permitir à pesquisadora conhecer melhor o grupo de coordenadores, quem são seus participantes, o que pensam, sentem e vivem em sua atividade, assim como os significados compartilhados em relação a ela. Entretanto, o

conjunto dos dados que resultaram de sua aplicação junto aos professores coordenadores acabou por não fornecer indicações consistentes acerca das significações por eles atribuídas a sua atividade, tão pouco sobre as vivências profissionais que estão a experienciar na nova função. As respostas abreviadas que dele derivaram, constituídas de poucas informações que pudessem aclarar a compreensão sobre o tema dessa investigação, fez do questionário um instrumento pouco eficiente para a construção de seus dados.

Entretanto, esse mesmo instrumento tornou-se útil a identificação dos participantes a prosseguirem com a etapa seguinte da pesquisa, relativa à entrevista. Além de apresentar um item específico que oportunizou ao respondente declarar sua própria vontade em continuar ou não com a etapa da entrevista, por meio da qualidade dos relatos produzidos, considerando-se a disposição que cada um demonstrou em narrar fatos e sua motivação em discorrer sobre o tema da pesquisa, foi possível à pesquisadora encontrar os participantes mais inclinados a corresponder com interesse ao compromisso de refletir e falar a respeito de si e das experiências vivenciadas na função de coordenador pedagógico.

3.3.2 Entrevista

A pouca profundidade dos dados construídos por meio do questionário exigiu que, para se alcançar as zonas de sentido, outro instrumento complementar fosse aplicado. Destinada, portanto, a esse fim, fez-se uso da entrevista.

A escolha por esse instrumento específico de obtenção de dados esteve amparada na recomendação expressa por Aguiar e Ozella (2006; 2013) sobre ser a entrevista um instrumento particularmente rico dentro de uma investigação de abordagem sócio-histórica, uma vez que permite ao pesquisador adentrar nos processos psíquicos que se explicitam por meio da fala do participante, permitindo-lhe acesso aos sentidos e significados por ele construídos.

A entrevista do tipo semiestruturada foi conduzida por meio de um roteiro de perguntas (Apêndice B) que buscavam encorajar os informantes a narrar a história de sua formação, a relatar seu processo de ingresso na coordenação e suas experiências no cotidiano dessa atividade, a revelar suas representações sobre a coordenação pedagógica e a tecer uma avaliação pessoal sobre o modo com vêm desempenhando seu papel como coordenador.

Embora houvesse um roteiro de questões previamente determinado, no decorrer da entrevista, procurou-se deixar os participantes à vontade para organizar e expressar suas narrativas, incentivando-os, contudo, a levantar os seguintes aspectos:

• sua história de formação docente;

• os motivos que o levaram a buscar o ingresso na função de coordenador pedagógico;

• suas aspirações e expectativas com a nova função;

• o modo como se inter-relaciona com os diversos personagens que compõem o contexto escolar em que atua (alunos, famílias, professores e gestores);

• o modo como são percebidas e significadas suas atividades cotidianas de trabalho;

• a leitura que faz do seu papel de coordenador pedagógico na escola.

A proposta de se conceder liberdade para que os entrevistados organizassem seu próprio discurso em torno do tema em estudo partiu da concepção de que, como procedimento metodológico de investigação, a narrativa além de estimular os participantes a contar as histórias dos acontecimentos significativos de sua vida, quer sejam eles relacionados à ordem pessoal ou profissional, também lhes promove a oportunidade de refletir sobre os acontecimentos experienciados, permitindo-lhes a elaboração de significações e sentidos para a própria história. Para Bolívar (2001, p. 220), “a narrativa é uma estrutura central no modo como os seres humanos constroem o sentido. O curso da vida e a identidade pessoal são vividos como uma narração”.

Compartilhando de semelhante compreensão de que as narrativas promovem uma oportunidade singular para a produção de sentidos, Moraes (2004) complementa:

Quando conta a sua história, o sujeito narra o percurso de vida e passa a retomar alguns sentidos dados ao longo dessa trajetória; mas não só isso: passa também a redefini-los, a reorientá-los e, principalmente, a construir novos sentidos para essa história. A narrativa não é um simples narrar de acontecimentos, ela permite uma tomada reflexiva, identificando fatos que foram, realmente, constitutivos da própria formação. Partilhar histórias de vida permite, a quem conta a sua história, refletir e avaliar um percurso compreendendo o sentido do mesmo, entendendo as nuances desse caminho percorrido e re-aprendendo com ele (MORAES, 2004, p .170).

A amostra e o perfil dos professores coordenadores que participaram das duas etapas de construção de dados, ou seja, da entrevista e da resposta ao questionário, serão particularizados no item que se segue.