1.4. Representação da informação arquivística
1.4.2. Instrumentos de descrição documental
Já referimos anteriormente os instrumentos de descrição documental (IDD) ou de
acesso à informação, que são os instrumentos criados no processo de descrição de modo
a facilitar a recuperação da informação, a consulta, e a determinar com exactidão a
localização dos documentos.
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IDD em arquivos consistem em guias, inventários, catálogos e índices, que se
destinam tanto a arquivistas como a utilizadores de arquivos (Lopes, 2002, p. 11).
Consideramos ter o cuidado de não confundirmos os IDD dos instrumentos de auxílio,
como as folhas fantasmas ou tabelas, por exemplo. Estes últimos, de valor técnico apenas,
têm como objectivo ajudar a função do arquivista.
Segundo o Dicionário de terminologia arquivística, instrumentos de descrição
documental são documentos secundários, que descrevem os fundos, de modo a facilitar a
acessibilidade e o controlo, que não difere muito da definição apresentada pela NP
4041:2005. Ambos admitem como IDD os guias, os roteiros, os inventários, os catálogos,
as listas ou os índices. No entanto, segundo Ribeiro (1998, p. 314), listas e livros de
registo são como instrumentos de auxílio, de controlo, porque fazem parte da actividade
do arquivo, e não tanto de acesso à informação. A autora considera que os instrumentos
de controlo permitem a pesquisa da informação, embora esta não seja muito eficaz, e
admite que os guias, os catálogos e os inventários são os verdadeiros instrumentos de
descrição documental., concebidos para a recuperação da informação.
Os IDD constroem a ponte entre a descrição e os utilizadores, e
consequentemente, constroem a ponte entre a informação e os utilizadores.
Assim sendo, distinguimos três instrumentos de descrição:
1) Guia
Um guia é o primeiro instrumento na descrição arquivística, cujo objectivo é orientar
os utilizadores, destacando as informações mais importantes. Lopez (2002, p. 23) afirma
que o guia disponibiliza informações sobre o acervo, sobre as suas colecções, as
condições de consulta e todas as informações necessárias para facilitar o acesso e a
difusão do acervo, e Cruz Mundet (2001, p. 280) acrescenta, ainda, que disponibiliza
também informações sobre a história dos organismos produtores. Podemos dizer que o
guia é o primeiro contacto que o utilizador tem com o acervo. O importante é que a
informação essencial não seja esquecida e seja apresentada de forma clara de modo a
fornecer melhor acessibilidade ao utilizador. O guia fornece ainda informação sobre a
entidade detentora do fundo (ODA, p. 185).
Marques (2016, p. 77) elucida-nos acerca da perspectiva do utilizador, afirmando que
é essencial ter “um instrumento capaz de dar orientações breves, exactas e compreensivas
dos fundos (…) da história dos seus produtores, do horário, condições de consulta e de
36
acesso (…)”, sendo o guia um instrumento primário na descrição e organização
documental.
O guia pode ser feito de várias formas, cada arquivo define a sua de maneira a
satisfazer as necessidades dos seus utilizadores. Existe, no entanto, uma base comum em
todos os guias, que são menções obrigatórias, como nos diz Cruz Mundet (2001, p. 281).
No entanto, deve ser visto como apenas um guia e não como fonte absoluta do conteúdo
da documentação. Os Guias, por serem os primeiros instrumentos, não têm detalhes da
documentação, e são criados depois de uma visão geral do fundo, sendo que pode muitas
vezes existir gralhas. No guia do fundo CCS, aconteceu, algumas vezes, identificarmos
erros relativos a alguns documentos, devido a títulos mal atribuídos nas capas dos
documentos, ou até por não ter havido uma observação mais profunda da relação entre os
documentos, e pelo facto de existirem dois documentos separados na guia que,
finalmente, são parte do mesmo.
2) Inventário
Os inventários e índices/registos foram durante muito tempo os únicos instrumentos
de descrição utilizados, sendo que eram insuficientemente desenvolvidos, e meras
enumerações em forma de lista, cujo objectivo era apenas a fácil localização e
identificação da documentação. No entanto, as práticas na arquivística foram evoluindo
e, hoje em dia, os inventários são descrições das unidades das séries, que se organizam
segundo os quadros de classificação, reproduzindo a estrutura orgânico-funcional. Por
isso, um inventário deve indispensavelmente representar a entidade produtora.
Segundo Heredia Herrera (1988, p. 252), o inventário deve partir do quadro de
classificação, e só depois descrever as séries e secções, em concordância com Cruz
Mundet (2001, p. 283) que defende que o inventário “condensa la actividad intelectual
del trabajo sobre el fondo documental: La clasificación y la descripción (…)”. Isto porque,
segundo a literatura, o inventário é o mais completo instrumento de descrição, podendo
apresentar descrições a todos os níveis.
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3) Catálogo
O catálogo é um instrumento de 3.º nível de descrição (Marques, 2016, p. 81), que
consiste em descrever tanto os caracteres internos como os externos, de forma exaustiva
(Mundet, 2005, p. 288). Segundo Cruz Mundet, os catálogos são instrumentos para casos
especiais, para casos com especial interesse histórico, ou alguma necessidade
informacional. O autor distingue catálogos de documentos (documentos individuais), de
expedientes e de documentos especiais. Para o autor, sendo um instrumento deste tipo, é
pouco recomendável, porque além de ser utilizado depois de os inventários e outros
instrumentos, consome meios humanos e materiais de que a maioria dos arquivos não
dispõe. No caso do fundo CCS, o catálogo da descrição de um fundo é criado
automaticamente pelo programa de descrição – o DigitArq – e não necessita de recursos
extra para que este seja produzido.
Para clarificarmos melhor os campos de descrição obrigatórios de Cruz Mundet e
os normalmente usados nas ODA, utilizadas pelo ANTT, local onde se desenvolveu o
estágio curricular, considere-se o seguinte quadro. Nota-se que os “X” assinalados a
negrito são opções dadas por Cruz Mundet, mas que não são obrigatórias.
Quadro 2 - Campos de descrição nos instrumentos de pesquisa – Cruz Mundet versus
ODA
ODA (3.ª versão)
Mundet
Zona 1
Guias
Inventários
Catálogos
Código de referência;
X
X
X
Título;
X
X
X
Data;
X
X
X
Nível de descrição;
X
X
X
Dimensão e suporte
(quantidade, volume ou
extensão).
X
X
X
Dimensão
Suporte
Zona 2
Nome do produtor:
X
X
X
Nome do autor;
Nome do colaborador;
38
Nome do destinatário;
Nome do colecionador
História administrativa /
biográfica / familiar;
X
Lugares
Estatuto legal
Funções, ocupações,
atividades
Mandatos/fontes de
autoridade
Estruturas
internas/genealogia
Contexto geral
História custodial e
arquivística;
Fonte imediata de aquisição
ou transferência
Zona 3
Âmbito e conteúdo;
X
X
Tradição documental;
Tipologia documental;
Marcas;
Selos;
Inscrições;
Assinaturas;
Iconografia.
Avaliação, seleção e
eliminação;
X
Ingressos adicionais;
Sistema de organização.
X
Zona 4
Condições de acesso;
X
X
Condições de reprodução;
Idioma / Escrita;
X
Idioma
Escrita
Características físicas e
requisitos técnicos;
X
Instrumentos de descrição.
X
X
Zona 5
Existência e localização dos
39
Em suma, a descrição permite uma eficaz e eficiente recuperação do contexto e
da informação dos documentos, sendo esta dependente da organização, na medida em que
depende de uma organização prévia. Ambos fazem parte do tratamento arquivístico, e são
actividades paralelas para a difusão da informação
36.
A descrição, nesse sentido, tem um papel importante na forma como a informação
é representada aos utilizadores, visto que um erro de descrição significa um erro de
informação aos investigadores, informação errada ou falta de informação, o que, por si
só, já vai contra o trabalho de um arquivista, cuja missão se prende na difusão eficiente e
eficaz da informação dos arquivos.
O processo de descrição passa por vários passos de análise, seja ela física ou de
conteúdo, sendo que esta vai sendo feita desde o processo de organização até à descrição,
onde a análise se torna mais profunda e atentada. A análise física para a descrição implica
atenção a aspectos como a dimensão do elemento a descrever, seja ele uma classe
intelectual ou uma unidade de instalação (pasta/capilha/maço), o idioma, características
físicas, etc. A análise de conteúdo é a que necessita de mais cuidado, pois a interpretação
do contexto e conteúdo dos documentos pode levar em erro o utilizador, se não for
devidamente efectuada.
No processo de descrição do fundo CCS, a construção de um plano de descrição
após análise geral da documentação foi importante, ou pelo menos mais eficiente, para a
organização da descrição. Ou seja, foi necessário um plano para organizar o trabalho
descritivo, para quando no decorrer dessa actividade nos depararmos com múltiplos
36
Ver António J. R. e Silva C. G. - Organização de Arquivos Definitivos: Manual ARQBASE. Lisboa:
Edições Colibri, 2006. pp.14.
Existência e localização de
cópias;
X
Unidades de descrição
relacionadas;
X
X
Nota de publicação.
X
Zona 6
Notas
X
40
campos por preencher, só nos focarmos naquele previamente “classificados” como
pertinentes tendo em conta factores como: o tempo disponível para a elaboração dessa
actividade e a quantidade de pessoas igualmente disponíveis, ou seja, recursos humanos
e tempo; o utilizador; a importância histórico-cultural do fundo; entre outros.
A descrição, assim, representa o contexto e o conteúdo da documentação do
fundo, e promove o acesso à informação ao ser disponibilizada para os investigadores e
utilizadores do arquivo.
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No documento
Conselho de comunicação social : organização e representação da informação
(páginas 37-44)