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PARTE II – O Estudo Empírico

5.2 Instrumentos de investigação

5.2.1 Apresentação das entrevistas

Na sua essência, uma entrevista baseia-se na ideia de que as pessoas são capazes de oferecer uma explicação da sua conduta, das suas práticas ou acções, ao entrevistador. Abarca numa ampla gama de técnicas que vão desde os questionários estruturados até às entrevistas não estruturadas. Segundo Bogdan (1994:134), as entrevistas podem ser utilizadas de duas formas: “podem constituir a estratégia dominante para a recolha de

dados; ou podem ser utilizadas em conjunto com a observação participante, análise de documentos e outras técnicas”. Ghiglione e Matalon (1997:65) pensam que definir uma

“entrevista como uma conversa tendo em vista um objectivo é suficientemente vantajosa

para englobar uma grande variedade de entrevistas possíveis, mas é muito vaga para distinguir os diferentes tipos de entrevista”. Quanto a estes autores, a distinção essencial

faz-se entre uma entrevista com um objectivo de diagnóstico e uma entrevista de “estudo”, que visa uma generalização. Neste segundo caso, a entrevista é requerida pelo entrevistador e apresenta um conjunto de características que se podem situar em um dos quatro níveis:

• controlo de uma questão específica com o objectivo de validar parcialmente os resultados obtidos algures; neste caso, a entrevista não é o método principal;

• verificação de um domínio de investigação cuja estrutura conhecemos já, mas do qual queremos saber, por exemplo, que factores terão eventualmente evoluído;

• aprofundamento de um campo cujos temas essenciais conhecemos, mas que não consideramos suficientemente explicado num ou noutro aspecto;

• exploração de um domínio que não conhecemos.

Seguindo esta linha de pensamento, os autores são unânimes em dizer que as entrevistas de estudo não têm consequências no comportamento dos entrevistados, pois estes submetem-se à entrevista porque aceitam, num determinado momento, arrebatar um

aprofundamento, tendo em linha de conta que já conhecíamos o tema e precisávamos de mais explicações em determinados aspectos.

De acordo com o objectivo de estudo, são diversas as metodologias possíveis, desde o controlo da forma, da extensão e do conteúdo da resposta. Segundo Bogdan (1994: 209),

“ as questões desenvolvidas para orientar um estudo analítico devem ser de natureza mais aberta e devem revelar maior preocupação pelo processo e significado, e não pelas suas causas e efeitos”. Por outro lado, o mesmo autor explica que quando a “entrevista é a técnica principal do estudo, recomenda que se use o gravador” (1994: 172).

Ghiglione e Matalon (1997:83) distinguem três tipos de entrevista:

• directiva ou estandardizada - obedece a um quadro de referência

anteriormente definido tanto ao nível dos temas como a nível das categorias de abordagem;

• semi-directiva - a conversa acontece segundo um esboço, isso é faz-se um

guião de entrevista, onde se coloca ao entrevistado um determinado quadro de referência global sobre os temas, deixando liberdade para a sua abordagem;

• não directiva - o entrevistador coloca um tema inicial para inserir a

conversa, deixando que o entrevistado ajuíze livremente sobre o tema em estudo.

Como princípio orientador do nosso trabalho, no terreno, preferimos escolher uma entrevista semi-directiva, porque era o tipo de entrevista mais adequado aos nossos objectivos.

Relativamente à estrutura das nossas entrevistas, tentámos ser sensíveis à criação de um clima confortável que permitisse aos entrevistados falar naturalmente, num tom de conversa. Por isso, tivemos necessidade de elaborar um guião de entrevista, tendo em vista a consecução dos objectivos definidos, seguindo os princípios estabelecidos por Bardin (2003), constituindo quadros de referência para a sua realização. Deste modo, organizámos as entrevistas em blocos, correspondendo a cada um os objectivos gerais, objectivos específicos e um formulário de perguntas. Os blocos serão comuns a todas as entrevistas (Anexo II).

Os blocos ficaram estruturados da seguinte forma:

Bloco 1 – Legitimação da entrevista

Com este bloco pretende-se informar os entrevistados da natureza e propósitos do trabalho a realizar, sendo assegurada a confidencialidade das suas declarações.

Pretende-se recolher dados relativos à situação profissional dos professores: Qual a sua situação profissional? Há quantos anos lecciona? Qual a sua idade? Qual o seu sexo? Fez formação no âmbito do projecto?

Bloco 3 – Conceito de ELAN

Propõe-se com este bloco recolher informações sobre a criação do ELAN, recolher opiniões dos professores sobre o que é um ELAN e verificar a adequação do fundo documental e do espaço. Assim, formularam-se as seguintes questões:

• A escola aderiu ao projecto “ Lendas, Contos e Tradições do Alto

Tâmega e Barroso: Do Contexto Oral à Expressão Escrita,” através do

qual foram criados os Espaços de Leitura Animada – ELAN. Como é que a direcção da escola tomou conhecimento da existência deste projecto?

• A quem pertenceu a ideia de adesão ao projecto? • Quais são, em seu entender, as finalidades do ELAN?

• Quem promoveu ou promove as actividades nestes espaços? • Qual a sua opinião sobre o fundo documental?

• O espaço onde está instalado o ELAN é adequado? • Quais as vantagens ou desvantagens deste espaço?

Bloco 4 – O ELAN e as práticas dos professores

Procura-se com este bloco verificar os modos de actuação dos professores no ELAN, a forma como aplicaram os conhecimentos adquiridos nas acções, se enquadram esse espaço no projecto curricular de turma e, por fim, recolher opiniões sobre o papel dos ELAN nas práticas lectivas dos professores. As questões colocadas foram as seguintes:

• Este espaço trouxe algo de novo à actividade normal do funcionamento da escola?

• Quando utiliza o espaço de leitura? • De que forma o utiliza?

• Frequentou alguma formação no âmbito deste projecto? • Aplicou alguns temas tratados nas acções de formação?

• Nas aulas, alguma vez, utilizou os livros ou excertos de livros do ELAN, como meio didáctico para leccionar as suas matérias? Porquê? • Que áreas privilegia na utilização dos recursos do espaço de leitura? • Utiliza o ELAN para individualizar o ensino?

• Estas actividades facilitam a formação de leitores? Porquê?

• De que forma contribuiu este projecto para realizar novas práticas pedagógicas e obter maior sucesso escolar?

Bloco 5 – Relação entre os ELAN e as novas práticas na promoção do livro e da

leitura

Com este último bloco pretendemos obter dados sobre a forma como o ELAN influencia o processo de aquisição de novos hábitos de leitura nos alunos, solicitando aos entrevistados opiniões sobre:

• De que forma os alunos utilizam o ELAN?

• Os alunos frequentam este espaço quando têm actividades curriculares ou extracurriculares

• A utilização do ELAN é feita de igual forma pelos quatro anos de escolaridade?

• Como considera a reacção dos alunos? Positiva ou negativa em relação ao interesse e entusiasmo?

De uma forma geral, pretendemos que as entrevistas se desenvolvessem segundo as orientações de Bogdan (1994) definindo-se o seguinte contexto:

• apresentação dos objectivos da entrevista;

• aberta e flexível, linguagem clara e significativa para o entrevistado; • moderado número e precisão nas questões;

• cuidado especial com a primeira questão;

• ausência de qualquer juízo de valor e permitir ( em silêncio e com interesse) o fluir da intervenção do entrevistado;

• intervir apenas se necessário;

• duração da entrevista ( máximo sessenta minutos); • gravação da entrevista .

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