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Pressupostos ontológicos, epistemológicos e metodológicos

6.5 Instrumentos de recolha

Nesta secção descrevem ‑se os instrumentos de recolha de dados, tendo em conta a sua aplicação em cada caso. Uma das principais preocupações da investigadora foi procurar escolher instrumentos que não impusessem práticas demasiado morosas ou trabalhosas que pudessem comprometer a motiva‑ ção de os participantes aderirem ao estudo, tirando partido das práticas já habitualmente utilizadas em contexto de sala de aula, tal como os cadernos de projeto, moodboard e “críticas ao projeto”.

Com o designer participante no estudo prévio, a recolha de dados realizou ‑se através de uma entrevista presencial com a investigadora, seguida de uma sessão expositiva destinada aos sujeitos participantes no estudo de caso, sobre os seus projetos e produtos desenhados para o processo FFF. O Quadro 7 estabelece a relação entre os diferentes casos e os respe‑ tivos instrumentos.

Quadro 6.2 Instrumentos utilizados nos estudos prévios e no estudo de caso Entrevista semiestrutu‑ rada Cadernos de projeto (alunos/ designer) Focus group

(alunos) Registos áudio (críticas ao projeto e moodboard) Ficha de recolha de dados Matriz de avaliação dos artefactos Observação participante da investigadora Estudo prévio I X X Estudo prévio II X X X X Estudo de caso X X X X X 6.5.1 Entrevista semiestruturada

As entrevistas não estruturadas a designers reconhecidos e com experiência são consideradas por Cross (2006) como um método de investigar em design “which sought to obtain these designers’ reflections on the processes and procedures they use – either in general, or with reference to particular works of design” (p. 30). A opção por uma entrevista semiestruturada permitiu com‑ binar uma estrutura de perguntas organizadas e predefinidas com a liberdade de abordar novos assuntos e de colocar novas perguntas geradas a partir das respostas do entrevistado (Thomas, 2009). Para tal, foi idealizado um guião (Anexo 2) com um conjunto de questões pensadas para explorar sobre os

métodos em design e o processo criativo do designer, bem como os artefactos por si desenhados para fabrico aditivo. A entrevista conduziu o designer a uma autorreflexão retrospetiva sobre o seu processo metodológico e cognitivo durante o projeto e o contributo/impacto do FA nos produtos desenhados. A entrevista foi registada em áudio e teve a duração de cerca de 120 minutos. A sua transcrição foi validada pelo entrevistado e encontra‑se no Anexo 3.

6.5.2 Cadernos de projeto

Tendo em conta que a atividade de um designer enquanto projeta é provisória, rápida e efémera, torna ‑se de todo pertinente a adequação dos instrumentos de recolha de dados. Para Pedgley (2007), um processo de design implica ati‑ vidade cerebral, capacidades cognitivas como pensar, imaginar e decidir, tal como atividades “práticas” e mais percetíveis como recolher e sistematizar a informação, desenhar e modelar, sendo algumas delas mais fáceis de recolher e mais percetíveis na sua análise.

Foram consultados os cadernos individuais de projeto dos dois traba‑ lhos decorrentes em contexto académico (estudo prévio II e estudo de caso) e os cadernos disponibilizados pelo designer profissional (estudo prévio I). Os cadernos de projeto permitiram observar dados sobre o processo dos estudantes durante a prática projetual, no que se refere a tarefas realizadas, dados analisados, imagens recolhidas e desenhos experimentais que reali‑ zaram durante as diferentes fases dos projetos.

6.5.3 Focus group

O método de recolha de dados focus group consiste numa “discussão ‑guiada” (Coutinho, 2015), moderada pelo investigador, a um grupo de pessoas cuidado‑ samente selecionadas, por características ou competências em comum, para debaterem de forma informal questões sobre o tema proposto, “to get at the understandings, beliefs and values of the participants” (Thomas, 2009, p. 170). No decurso da investigação foram realizadas três sessões de focus group.

No estudo prévio II, foram realizados dois focus group com vista à auscul‑ tação das perceções dos grupos de estudantes que desenharam produtos para fabrico aditivo acerca do contributo da TFA no projeto proposto. As sessões foram realizadas no final do projeto proposto, dinamizadas pela investigadora e tiveram, aproximadamente, a duração de 45 minutos por grupo, num total de 90 minutos. As transcrições das duas sessões validadas pelos intervenientes e o guião do focus group encontram ‑se no Anexo 4.

A terceira sessão de focus group reuniu dois participantes com expe‑ riência em fabrico aditivo, que, a partir de dois produtos produzidos pela TFA, avaliaram um conjunto de parâmetros representativos das potencialidades

únicas do fabrico aditivo, a incluir na matriz de avaliação dos artefactos. A sessão teve a duração de cerca de 60 minutos e resultou num conjunto de recomendações e propostas de melhoria a implementar na versão final da matriz.

6.5.4 Registos áudio das “críticas ao projeto” e moodboard

As críticas ao projeto ou “design reviews” são uma prática pedagógica bastante comum nas unidades curriculares de projeto de design, e consistem em breves reuniões entre os estudantes e os docentes, individualmente ou em grupo, para discutir a evolução do projeto (Cardoso et al., 2014). No estudo prévio II e no estudo de caso, ambos realizados em contexto académico, os estudantes apre‑ sentavam e discutiam o projeto, semanalmente, com os docentes, com vista à validação do trabalho desenvolvido até à data e à definição de orientações para as etapas seguintes. O registo áudio destas interações fez ‑se exclusiva‑ mente no estudo de caso (PDP II), onde todos os estudantes, organizados em grupos de dois, desenharam produtos para fabrico aditivo. Na UC de PDP II onde foi realizado o estudo de caso, é prática habitual da UC os estudantes discutirem o trabalho na presença de um moodboard que serve de painel de inspiração e simultaneamente como suporte de comunicação do projeto aos docentes. De acordo com as indicações dos docentes, o moodboard era atualizado semanalmente através de textos, imagens, palavras ‑chave, ideias e mindmaps. Para os estudantes, o moodboard ajuda a sistematizar o trabalho desenvolvido durante a semana, e para os docentes auxilia a avaliação do progresso do trabalho em curso. Numa fase final do projeto, as interações passaram a realizar ‑se junto ao computador, com um ficheiro CAD aberto no monitor, e no final, com a ajuda de modelos/protótipos físicos impressos.

A investigadora registou em suporte áudio todas as sessões, que tiveram uma duração de 3 horas (aulas práticas e de orientação tutorial), durante 13 sessões num total de cerca de 41 horas (aproximadamente) de interação entre os estudantes e os dois docentes. O registo áudio foi posteriormente transcrito e analisado. Note ‑se que os assuntos abordados no contexto de sala de aula cujo conteúdo a investigadora considerou irrelevante para a investigação em curso foram eliminados da transcrição. Em alguns casos, em paralelo com o registo áudio, foi necessária a visualização do respetivo moodboard por parte da investigadora, para compreender melhor a ideia ou o pensamento que o aluno pretendia comunicar. Nestes casos foram acrescentadas notas à transcrição.

6.5.5 Ficha de recolha de dados

No estudo de caso, a fim de recolher as perceções dos estudantes quanto à metodologia de projeto e ao seu processo cognitivo ao longo da prática pro‑ jetual, aplicou ‑se a ficha que se encontra no Anexo 1. As fichas de recolha de dados foram preenchidas pelos estudantes individualmente em contexto de sala de aula duas vezes no decurso do projeto. A ficha foi aplicada pela primeira vez, individualmente, na quinta semana de aulas, tendo a maioria dos grupos explorado, de forma sequencial ou alternada, as duas primeiras fases do modelo E62, Emergência e Empatia. A segunda ficha foi preenchida pelos estudantes na última sessão destinada às apresentações finais.

A ficha teve como objetivos a auscultação dos estudantes de modo a: (1) identificar as fases do modelo E6 (Emergência, Empatia, Experimentação, Elaboração, Exposição) e as respetivas subfases (Exploração e Avaliação) já percorridas; (2) identificar os mindsets alcançados até à data; (3) avaliar o conhecimento sobre as tecnologias de fabrico aditivo mais comuns; e (4) iden‑ tificar quais as vantagens e desvantagens da TFA reconhecidas pelos estudan‑ tes para o produto que estão a desenvolver. A análise dos dados recolhidos encontra ‑se na secção 9, que descreve a intervenção em PDP II.

6.5.6 Observação participante da investigadora

No estudo prévio II e no estudo de caso, a investigadora esteve presente como observadora, no entanto assumiu diferentes posturas consoante a informação que pretendia obter. No estudo prévio II na UC de PD III, os estudantes não conheciam a investigadora, tendo sido apresentada pelo docente responsável da UC. A investigadora explicou o propósito do seu estudo e quais as suas intenções e justificou a sua presença na sala de aula. A investigadora dinami‑ zou quatro horas e meia em três sessões nas semanas 1, 3 e 5 calendarizadas para o projeto, tendo estado presente na maioria das sessões até ao final do semestre, incluindo a apresentação final do projeto. A primeira sessão teve uma duração de duas horas, e procurou incentivar os estudantes a aceitarem o desafio proposto e desenharem um produto para fabrico aditivo. As seguintes intervenções tiveram a duração de uma hora cada, onde foi apresentado o modelo de Design Thinking Evolution 62 e algumas técnicas para a fase de geração de ideias que os estudantes poderiam recorrer.

No estudo de caso da UC de PDP II, os estudantes já conheciam a investi‑ gadora, enquanto docente da ESAN. Na primeira sessão, a investigadora deu a conhecer aos estudantes as suas intenções, a razão da sua presença habitual nas aulas e assumiu um papel menos participativo, procurando intervir apenas quando solicitada pelos alunos ou docentes para esclarecer algo relacionado com a sua investigação ou quando considerou que o seu conhecimento ao

nível da tecnologia, metodologia ou experiência profissional poderia ser uma mais‑valia para o trabalho em discussão e contribuir para o seu avanço e aper‑ feiçoamento. No decurso da investigação, a investigadora manteve um diário de campo onde foi registando semanalmente, após cada sessão que esteve presente ou dinamizou, os acontecimentos mais significativos, bem como os seus pensamentos, perceções e reflexões. Desta forma, pode afirmar ‑se que a participação da investigadora esteve, de acordo com Coutinho (2005), entre a observação reativa, que significa “que o investigador identifica, explica aos participantes quais as suas intenções, mas assume sempre o seu papel de investigador, não tentando mudar o rumo natural dos acontecimentos” (p. 138), e a observação semiparticipante. Em algumas situações a investigadora foi meramente uma observadora, e em outras sentiu necessidade de intervir, de forma a dar o seu contributo nos projetos em curso.