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2 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA

2.3 Instrumentos e procedimentos de coleta de dados

A entrevista semiestruturada define-se como um processo de interação social pesquisador-sujeitos com questões previamente construídas, como também a possibilidade de o entrevistado discorrer sobre outros temas do seu interesse. É uma conversa interessada que tem uma intencionalidade (MELLO, 2005).

Segundo Triviños (1987), a entrevista semiestruturada tem como característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam com o tema da pesquisa. O autor afirma que a entrevista semiestruturada “[...] favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...]” além de manter a presença consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações (TRIVIÑOS, 1987, p. 152).

De acordo com Manzini (1991, p. 154), a entrevista semiestruturada focaliza -se em um assunto sobre o qual se confecciona um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Segundo o autor, esse tipo de entrevista pode fazer surgir informações de maneira mais livre, e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas.

Manzini salienta que um roteiro bem elaborado não implica que o entrevistador deva limitar-se às perguntas elaboradas antecipadamente à coleta, pois uma das peculiaridades da entrevista semiestruturada é a possibilidade de realizar outras indagações com o intuito de compreender a informação que está sendo relatada no depoimento.

A entrevista semiestruturada, conforme Manzini, insere-se em um espectro conceitual maior que é a interação propriamente dita, que ocorre no momento da coleta. Dessa forma, a entrevista é concebida como um processo de interação social que ocorre face a face, de um pesquisador com um entrevistado.

Segundo o autor, é necessária a elaboração de perguntas básicas e principais para alcançar o objetivo da pesquisa. Dessa forma, Manzini (2003) aponta a importância do planejamento da coleta de informações por meio da elaboração de um roteiro com perguntas que atinjam os objetivos da pesquisa. O roteiro tem o objetivo de coletar as informações básicas, como uma forma para o pesquisador organizar-se para o processo de interação com o informante.

Abordando a questão da entrevista como forma para coletar informações, Manzini (2003) apresenta várias considerações sobre a elaboração de roteiros para entrevistas semiestruturadas, dentre essas, alguns cuidados que o pesquisador deveria observar ao formular as questões: 1) cuidados quanto à linguagem; 2) cuidados quanto à forma das perguntas; 3) cuidados quanto à sequência das perguntas nos roteiros.

Nas entrevistas, segundo Menezes (2009, p. 16), devem-se adotar os seguintes critérios:

planejar com rigoroso cuidado as perguntas, conectadas com os objetivos pretendidos; obter e sistematizar o conhecimento prévio do entrevistado; marcar com antecedência o local e o horário para a entrevista; estabelecer as condições de discrição; definir os entrevistados de acordo com o grau de familiarização e autoridade; listar as questões com destaque às mais importantes, bem como assegurar um número suficiente de entrevistados.

Depois de realizar a revisão bibliográfica, a definição dos objetivos e a formulação dos problemas, passa-se para o procedimento de coleta de dados, seguindo-se a orientação de Castro (1989): definição da população objeto do estudo, que, neste caso, trata-se da comunidade do Morro da Conceição, especificamente, os principais indivíduos que vivenciaram a educação popular em saúde, um total de nove entrevistados; elaboração do instrumento de coleta de dados; um conjunto de perguntas para orientar a captação de informações referentes aos objetivos do estudo; programação e realização da coleta dos dados. Para esse procedimento, seguimos os seguintes passos: identificação dos dados que se serviram de base para elaborar as questões e a tematização; seleção das perguntas que foram feitas considerando-se a vantagem-desvantagem de cada tipo com atenção ao tempo disponível para se obter os dados, para o modo de tabulá-los e analisá-los; organização das

perguntas relacionadas com cada dado e tema levantado e construído; análise das perguntas para verificar a redação no que diz respeito à clareza e ao conteúdo; codificação das perguntas visando à tabulação e análise, incluindo os códigos no instrumento; revisão dos instrumentos, assim como seu condicionamento a pesquisadores com mais experiência, ou seja, o orientador do estudo; submeter os instrumentos a pré-teste (CASTRO, 1978).

Dessa forma, realizou-se um pré-teste em janeiro de 2015 procurando analisar se o instrumento que foi utilizado na pesquisa apresenta validade, isto é, se todos os dados obtidos são necessários à pesquisa ou se algum elemento importante ficou de fora durante a coleta .

Segundo Marconi e Lakatos (2003), pelo pré-teste, pode-se ter uma estimativa dos resultados, podendo ocorrer ajustes dos objetivos. Nesse sentido, o pré-teste oferece ao pesquisador maior segurança para o desenvolvimento da pesquisa.

Para efetuar a análise dos dados, fundamentamo-nos nos princípios da técnica de Análise de Conteúdo de Bardin (2011). Dessa forma, utilizamos como ferramenta a análise do tipo temática categorial em que o tema é, portanto, a unidade de análise. Os procedimentos de análise basearam-se nos seguintes polos cronológicos: a pré-análise; a exploração do material; e o tratamento dos resultados obtidos e interpretação.

Como descreve Bardin (2011), a primeira etapa consistiu na pré-análise e se materializou por meio da seleção do material de investigação que foi submetido à análise, retomada dos objetivos e dos pressupostos iniciais da pesquisa e à formulação de indicadores que nortearam a interpretação final.

A seleção das fontes foi realizada por meio da “leitura flutuante” (BARDIN, 2011, p. 126) dos diversos materiais/textos pré-selecionados: os discursos provenientes das entrevistas e a bibliografia pertinente à problemática, realizando assim, uma organização criteriosa do material de investigação.

Assim, para a elaboração das categorias, procedeu-se na primeira etapa a uma leitura flutuante do material coletado, na tentativa de constituir o corpus, ou seja, a busca de sistematizar as ideias, tendo por embasamento as declarações com sentido equivalente que surgiram ao longo das entrevistas, resultando em quatro classes temáticas: diálogo entre os saberes; conscientização; saúde como instrumento de libertação; atuação na configuração da política de saúde.

A segunda etapa foi a exploração do material empírico e refere-se à execução sistemática das decisões tomadas na etapa da pré-análise e consistiu em codificar os dados, transformando os dados brutos em núcleos de compreensão, para deles se inferir significados.

Na sequência, foi preciso classificar, agregar, decompor e enumerar os dados em função dos objetivos pretendidos e, em decorrência, as categorias temáticas com reagrupamento semântico, resultando na edificação de quatro categorias temáticas.

A terceira etapa contemplou o tratamento dos resultados e interpretação por meio das categorias temáticas. Esse procedimento diz respeito à construção de uma rede de sentido e à construção de significados da temática em questão. Nesta pesquisa, refere-se à relação significativa entre o referencial teórico da educação popular em saúde e os discursos (entrevistas) dos sujeitos da pesquisa. É o cruzamento qualitativo dos dados objetivando fazer inferências e interpretações sobre eles, tendo como referência os objetivos e os pressupostos construídos e reconstruídos da pesquisa. Bardin (2011) enfatiza que a identificação do conteúdo das mensagens nem sempre está evidente ao observador comum, entretanto, uma vez sistematizado, pode indicar a direção para que se inclina o objeto em estudo com a análise do conteúdo do discurso.