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Como forma de alcançar os dados almejados, caracterizamos metodologicamente esta investigação como uma Pesquisa Qualitativa do tipo Participante. A coleta dos dados aconteceu no mês de julho de 2013, em quatro momentos: no momento da inscrição através de conversas informais, no início da oficina com a aplicação do um questionário online; durante a oficina com a observação; e depois do encerramento da oficina com a entrevista individual semiestruturada.

Os instrumentos de coleta foram selecionados tendo em vista contemplar a natureza do objeto e distribuídos entre as etapas metodológicas

da oficina como forma de ter acesso aos dados almejados no próprio ambiente de produção, tomando por foco identificar e analisar o fenômeno de Letramento(s) Digital(is) por jovens de periferia em diferentes práticas e etapas de produção dos vídeos de bolso contempladas pela metodologia da oficina.

Quadro 4 | Técnicas e Instrumentos de coleta e respectivos objetivos específicos

Técnicas e Instrumentos

Objetivos Específicos

Conversas informais no ato da inscrição da oficina com notas de campo

Mapear perfil e expectativas dos jovens participantes.

Questionário online

(Formulário Google .Docs).

Identificar como os jovens pesquisados vivenciam a Cultural Digital, dentro e fora da escola.

Observação Participante com notas de campo e registros em vídeo.

Identificar e analisar os tipos de letramento(s) digital(is) mobilizados pelos jovens no processo de produção do vídeo, considerando o modelo teórico de (Multi)letramento(s) Digital(is) de Selber (2004) nas abordagens de letramentos digitais: funcional, crítico e retórico.

Entrevista individual semiestruturada

Analisar as expressões sociais de Letramentos(s) Digital(is) em relação ao seu contexto de cultura digital.

Fonte | Própria autora

No ato da inscrição todos os participantes foram informados que a oficina fazia parte de uma pesquisa acadêmica e que no primeiro dia iríamos aplicar um questionário online, que seriam feitos registros em vídeo durante todo o processo e, ao final, todos participariam de uma entrevista individual com a pesquisadora. Para formalizar a ação e garantir a sua idoneidade foi entregue aos jovens um termo de consentimento para que os pais ou responsável(is) autorizasse(m) sua participação na pesquisa (apêndice III).

No primeiro dia da oficina, assim que reuni o grupo, foram distribuídos os termos de consentimento entre os presentes acompanhados da orientação de que todos deveriam devolver os termos assinados no dia da entrevista.

Como um dos participantes solicitou um certificado de participação na oficina, condicionei a sua entrega à devolutiva do termo de consentimento autorizado pelos pais e/ou responsável(is).

A partir dessas informações, dei início à aplicação do questionário online utilizando o formulário da plataforma Google Docs como forma de obter informações gerais sobre o perfil do grupo e como vivenciam a Cultura Digital em seus diferentes espaços sociais. Para Gil (1989) o questionário consiste numa como “técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.” (p.124). Do ponto de vista de Richardson (2009), os questionários cumprem pelo menos dois importantes papéis na obtenção de dados de pesquisa: “descrever as características e medir determinadas variáveis de um grupo social” (p.189).

A plataforma Google Docs foi escolhida por otimizar o tratamento dos dados, além de ser digital, acessível, online, gratuita, de interface amigável e possuir funcionalidades que facilitam a interação entre o sujeito e o instrumento de coleta. A plataforma, também, disponibiliza para os pesquisadores mecanismos que geram gráficos estatísticos e planilhas, a partir das respostas dos participantes, que podem ser exportadas para outros aplicativos. Tem-se ainda a opção de não permitir perguntas sem respostas garantindo a uniformização dos dados coletados.

Quanto à formulação do questionário, buscou-se combinar questões fechadas e abertas, compreendendo que

as perguntas fechadas, destinadas a obter informação sociodemográfica do entrevistado (sexo, escolaridade, idade, etc.) e respostas de identificação de opiniões (sim – não, conheço - não conheço, etc.), e perguntas abertas, destinadas a aprofundar as opiniões do entrevistador (RICHARDSON, 2009, p.193).

Mesmo sendo um questionário online, optei por aplicar o questionário no laboratório de informática da escola, em grupos de cinco, enquanto aguardavam o início da oficina. Esse contato direto possibilitou minimizar a ansiedade e a dispersão dos jovens, comportamentos característicos desse

grupo social e, também, explicar os objetivos da pesquisa e do questionário, esclarecer termos e tirar algumas dúvidas que os entrevistados apresentassem em perguntas mais elaboradas, evitando, assim, distorções nas respostas.

A distribuição das perguntas no questionário procurou utilizar uma linguagem mais direta e acessível com orientações adicionais quanto ao preenchimento dos campos como forma de obter um pouco mais da atenção dos jovens. A sequência das perguntas também procurou facilitar a interação, deixando-os mais a vontade para participar da ‘conversa’. Para tanto se utilizou a ordem de disposição de questões assinaladas por Richardson (2009):

 Introduzir o questionário com itens sociodemográficos com informações objetivas que não formulam problemas;

 Incluir perguntas referidas a problemática do estudo, mas de uma forma geral, contextualizando a realidade do entrevistado;

 Incluir perguntas um pouco mais complexas ou emocionais que exijam um pouco mais de atenção e reflexão por parte do entrevistado;

 E, por fim, Perguntas abertas e subjetivas, em pequeno número, para possibilitar ao entrevistado expressar suas opiniões e sentimentos (apêndice I).

Cumprida mais esta etapa demos início à oficina de vídeos de bolso. Em um segundo momento, durante os dois dias de oficina, foi utilizada a técnica de Observação Participante com registros em vídeo e notas de campo. A metodologia de Observação consiste em direcionar o olhar, ter a sensibilidade de ver, identificar e descrever as interações e as relações humanas em seu ambiente natural. Contudo é essencial que o pesquisador tenha um olhar sensível, investigativo e fortalecido por uma questão norteadora, além de ter em mãos um roteiro do que se pretende observar. Para Ludke e André (1986) o caráter científico da técnica de observação é influenciado por vários fatores, a saber: história de vida, contexto cultural, grupo social, aptidões e predileções que influenciam o olhar do pesquisador no sentido de privilegiar certos aspectos e não outros. Para tanto se justifica o seu

uso pelo fato de ser ordenada e sistemática, tendo como condição válida “a existência de um planejamento cuidadoso do trabalho e uma preparação rigorosa do observador” (p. 25).

Os estudos observacionais conduzem à observação de campo, técnica bastante utilizada em pesquisas qualitativas que requer descrições detalhadas de acontecimentos, sujeitos, ações e objetos em um determinado contexto. Para alcançar este objetivo na pesquisa, busquei deter o olhar para um campo especifico de interesse do estudo, no caso as práticas de letramento dos participantes ao se posicionarem diante das discussões propostas na metodologia da oficina (quadro 3) e observar o fluxo de eventos e práticas de leitura e escrita coletivas em contato com as TIMS e TIC durante o processo de produção do vídeo, “sem influenciar demasiadamente nos mesmos e sem se tornar cúmplice dos fatos observados ou promover distorções nos eventos” (VIANNA, 2003, p.41). A participação do pesquisador, nessa técnica de coleta de dados, vai requerer uma atenção redobrada e vigilante dos passos tomados durante todo o processo educativo, o domínio das técnicas e segurança nos objetivos do estudo para não se distanciar ou perder o foco da finalidade da pesquisa.

Entretanto, na Observação Participante, também é possível ao pesquisador por sua própria iniciativa situar-se ao nível dos outros elementos que compõem o fenômeno a ser observado e por meio da criação de situações testar hipóteses, provocando a reflexão ou a mudança de estratégia quanto à atuação ou reformulação de ideias por parte do observado, para assim, ir de encontro aos dados almejados. Sobretudo, porque o pesquisador “não é apenas um espectador do fato que está sendo estudado” (RICHARDSON, 2009, p.261), e sim um observador participante. Constata-se esta situação na metodologia da oficina nos momentos de discussões (retroalimentação), nas quais os jovens eram instigados a participar e expressar suas experiências, opiniões e sentimentos a partir de uma reflexão coletiva ou de uma situação lançada. Em outro momento, durante a execução das atividades práticas de gravação e edição quando o grupo em interação com as TIMS e TICs era questionado sobre a melhor estratégia para se resolver os impasses tecnológicos que surgiam durante o processo de produção do vídeo.

Para Viana (2003) na observação participante, o pesquisador- observador é parte integrante dos eventos que estão sendo pesquisados e como tal tem acesso a situações na perspectiva dos sujeitos, as quais poderiam passar despercebidas a um observador externo. Esta condição lhe permite a observação não somente dos comportamentos, mas, sobretudo, das atitudes, opiniões e sentimentos. O autor esclarece que:

A observação participante deve ser entendida como um processo: o pesquisador deve ser cada vez mais um participante e obter acesso ao campo de atuação e as pessoas. A observação deve, aos poucos, se tornar cada vez mais concreta e centrada em aspectos que são essenciais para responder as questões da pesquisa (VIANA, 2003, p. 52).

Diante desses pressupostos, busquei seguir a sequência metodológica de observação nas três fases descritas por Viana (2003, p. 52-53), em referência aos estudos de Spradley (1980):

Observação descritiva – registro dos fatos gerais do campo de estudo, quantidade de participantes, dispositivos que cada um levou para oficina, a participação individual e coletiva, a formação dos grupos (sociabilidades), as primeiras gravações, situações de destaque, dúvidas e questionamentos dos participantes.

Observação centrada – a perspectiva de observação nesta fase é direcionada em relação ao processo e as situações que delimitam e procuram dar sentido as questões da pesquisa;

Observação seletiva – Na última etapa de observação, centra-se a coleta nas novas questões e exemplos para os tipos de prática e processos que foram filtrados na fase anterior, dando uma atenção especial aos novos insights que poderão surgir e dar novos encaminhamentos a pesquisa, como, por exemplo, o surgimento de dados inesperados.

Conforme descrito anteriormente, as observações foram registradas em vídeo durante os dois dias de oficina, visando facilitar a compreensão e análise dos fatos em detalhes que muitas vezes passam despercebidos no momento

dos acontecimentos, tornando-se impossível o seu registro escrito, principalmente pela dinâmica da PP e OP, visto que estava atuando também como oficineira e por se tratar de jovens, sendo eles muito inquietos e multitarefas, pois possuem tempos e maneiras diferentes de trabalhar em grupo, fazem muitas coisas ao mesmo tempo e não conseguem esperar, vão logo buscar informações em outros locais, com outras pessoas, ou partem para outra atividade, comportamento muito característico da geração digital. Assim, tive que acompanhar individualmente os grupos de acordo com o surgimento das dúvidas, principalmente nas atividades que necessitavam de um pouco mais de conhecimento técnico, como por exemplo, na edição, quando eles começaram a descobrir o software Movie Maker, ou para os que já conheciam, apresentamos os passos para o tratamento de imagens e áudio. Algumas observações situadas foram anotadas no caderno de campo ao final dos encontros e relembradas em detalhes através das gravações.

No terceiro e último momento, em idas e vindas à escola, após o encerramento da oficina, foi aplicada uma entrevista semiestruturada individual na perspectiva de traçar tendências gerais observadas durante a oficina que nos apontavam para expressões e práticas digitais, individuais e coletivas, permitindo, dessa forma, um maior aprofundamento e análise dos Letramentos(s) Digital(is) mobilizados pelos jovens durante a oficina. Segundo Medina (2000) a entrevista é uma técnica de interação social, de interpenetração informativa que possibilita quebrar isolamentos grupais, individuais, sociais, podendo também servir à pluralização de discursos e à democratização da informação por diferentes perspectivas.

Para Triviños (1987) a entrevista semiestruturada tem como ponto de partida a formulação de questionamentos básicos fundamentados por teorias e hipóteses as quais norteiam a pesquisa, ampliando, assim, o campo de interrogativas, frutos de novas hipóteses que vão surgindo com as respostas dos entrevistados. A conversa entre o entrevistador e o entrevistado guia-se sempre pelo foco principal do estudo, seguindo a linha de pensamento e experiências do entrevistado que com essa interação passa a ser também um colaborador na elaboração do conteúdo da pesquisa. O autor ressalta ainda que a entrevista semiestruturada, além ter a presença consciente e atuante do pesquisador, “favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas

também sua explicação a compreensão de sua totalidade tanto dentro de sua situação especifica como de situações de dimensões maiores” ao ampliar sua visão (TRIVIÑOS, 1987, p.152).

Manzini (2004) contribui com a discussão enfatizando que a elaboração de entrevista semiestruturada deve focar um tema central sobre a qual se planeja um roteiro, com perguntas principais que servirão de subsídios para outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Segundo o autor, esse tipo de entrevista propicia o surgimento de informações mais livres e as respostas não são condicionadas a uma padronização de alternativas, como acontece no questionário.

Nesse sentido, buscou-se na pesquisa desenvolver um roteiro com questões abertas como forma de promover uma melhor interação com o entrevistado, não se distanciar do foco principal e ao mesmo tempo provocar reflexões e opiniões sobre as atividades e as experiências individuais e coletivas que surgiram durante o processo de produção dos vídeos, relacionando-as às temáticas desenvolvidas pelos jovens, ao uso da tecnologia, ao processo criativo, as mensagens e sentidos das narrativas, aos tipos de linguagens, as dificuldades, as perspectivas futuras e aos novos saberes (apêndice II).

Quanto à elaboração das perguntas na entrevista semiestruturada, Triviños propõe duas estruturas distintas, uma fundamentada no enfoque fenomenológico e outra no histórico-estrutural dialética. No enfoque teórico fenomenológico as perguntas devem ser de natureza descritiva dando ênfase a clareza nas descrições dos fenômenos que permitirão ao pesquisador descobrir os significados dos comportamentos dos sujeitos de determinados meios culturais. Já no enfoque teórico histórico-estrutural dialética, as perguntas são designadas como explicativas e causais que tem por objetivo identificar razões imediatas e mediatas do fenômeno pesquisado. O método dialético exige do pesquisador uma “capacidade reflexiva ampla, precisa do apoio de vasta informação e de sensibilidade para captar os significados e explicações dos fenômenos não só a nível de sua aparência, mas também, muitas vezes, de sua essência” (TRIVIÑOS, 1987, p.152).

Baseados nesses pressupostos, com a entrevista, busquei compreender a experiência dos entrevistados e os significados que eles atribuem para essas

experiências e, assim, colher o máximo de informações que nos indicasse: os sentidos que os mobilizaram a participar da oficina, como acontece a sua participação no mundo digital, a forma como se apoderam das Tecnologias Móveis Sem Fio (TIMS) e as práticas de Letramento(s) Digital(is) que darão indícios de qual(is) dimensão(ões) de Letramento(s) Digital(is) eles demonstram ter desenvolvido.

A pesquisa fundamentou-se em três procedimentos de coleta de dados que aplicados de modo independente constituem a base para análise dos objetivos propostos pela pesquisa. O questionário possibilitou mapear o perfil dos pesquisados, as características e estilos em comum, ou seja, um primeiro olhar do pesquisador, as primeiras impressões do grupo que auxiliaram, inclusive, no refinamento dos demais instrumentos de coleta. A observação participante constituiu o registro de todo o processo educativo do percurso metodológico da Pesquisa Participante, empregado como meio para identificar os tipos de Letramentos Digital(is) mobilizados pelos jovens durante o processo de produção de vídeos. Os sujeitos de pesquisa tiveram a oportunidade de conhecer as etapas de produção de um vídeo (criação da narrativa, roteirização, gravação e edição), praticá-las e desenvolver suas próprias narrativas audiovisuais num trabalho coletivo repleto de discussões, reflexões e troca de saberes. A entrevista, por sua vez, propiciou a compreensão e interpretação das experiências e saberes dos jovens com o uso das tecnologias, constituídas antes e durante as oficinas e análise das práticas de Letramentos Digitais, consistindo em um elemento importante para a construção teórica e metodológica desse estudo.