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Os instrumentos e a geração dos dados

No documento UM OLHAR SOCIOCULTURAL SOBRE O FEEDBACK (páginas 80-83)

2 O ERRO E O FEEDBACK CORRETIVO ORAL APLICADO AO ENSINO DE

3.3 Os instrumentos e a geração dos dados

Os dados para esse estudo foram coletados por meio de instrumentos distintos, sendo que, dentre eles foram gravadas 15 horas em áudio e vídeo (tempo que foi disponibilizado pela professora titular da disciplina para o estudo) da interação em sala de aula. As gravações em áudio e vídeo permitem registrar em detalhes as ações da sala de aula, como a interação entre professor-aluno, trabalhos em pares e em grupos, possibilitando perceber aspectos verbais e não verbais das interações (BURNS, 1999).

O processo de coleta de dados teve a duração de três meses e duas semanas, do total de quatro meses de aulas, e ocorreu na mesma sequência em que os instrumentos33 estão apresentados no Quadro 4. Ele foi iniciado no início de março de 2013, concluído no final de junho de 2013, e foi acompanhado pela pesquisadora o tempo inteiro.

Quadro 4: Instrumentos empregados para a geração dos dados da pesquisa na ordem em que foram aplicados

1. Narrativa Inicial Narrativa pessoal com o professor e os

aprendizes na forma escrita da língua.

2. Gravação em Áudio e Vídeo Gravação de oito aulas ao longo do semestre.

3. Entrevista Semiestruturada Oral

Realizada face a face com todos os participantes em horário extraclasse e gravada em áudio.

4. Sessão de Visionamento A professora e cada aluno assistiram às

gravações individualmente e emitiram suas opiniões acerca das mesmas (sessão gravada em áudio).

33 As narrativas (inicial e final) assim como a entrevista semiestruturada e a sessão de visionamento foram

realizadas em português porque acreditamos que os participantes expressam melhor os seus sentimentos, crenças e suas opiniões na língua materna.

5. Notas de Campo Minhas anotações e impressões sobre a interação dos alunos e da professora em sala de aula.

6. Narrativa Final Narrativa escrita, individual e avaliativa do

semestre.

Fonte: Elaborado pela autora desta tese

Para as gravações das aulas em áudio e vídeo foram utilizadas duas câmeras, sendo que cada uma delas foi posicionada em lados opostos da sala de aula, a fim de que as ações da professora e dos alunos fossem gravadas com maior precisão. O tamanho relativamente pequeno da turma e da sala de aula facilitou o processo de filmagem das aulas como um todo. Do total de 15 aulas, como já foi dito inicialmente, foram gravadas oito aulas da turma, sendo que o primeiro vídeo foi descartado porque os participantes ainda não estavam confortáveis com a minha presença nem com a presença das câmeras, o que fez com que eles não agissem naturalmente. Depois disso, os sete vídeos das aulas subsequentes puderam ser aproveitados, uma vez que os participantes já estavam bem familiarizados com o contexto do estudo e não notavam mais a minha presença em sala de aula.

Salienta-se que as imagens gravadas em áudio e vídeo foram utilizadas exclusivamente para os fins desta pesquisa, sendo que a face de cada participante foi encoberta por uma tarja preta, com a finalidade de que a identidade dos alunos e da professora fosse preservada em todos os momentos da pesquisa. Os alunos e a professora assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexos D e E) antes do início do estudo, autorizando a utilização da imagem e dos dados coletados restritamente aos objetivos da pesquisa.

Logo no primeiro contato com os participantes, foi solicitado que eles narrassem (Apêndice A), por meio de um texto narrativo (escrito), a sua experiência como aprendizes de LE (como começou a estudar, qual foi a motivação, etc.). Justifica-se o uso das narrativas por serem uma fonte legítima de coleta de dados (PAVLENKO; LANTOLF, 2000), um meio de se obterem informações a respeito das experiências anteriores de aprendizagem dos professores e dos alunos, uma maneira de inferir algumas crenças e de investigar como as experiências e as crenças influenciam a prática docente e discente dos participantes do estudo (BARCELOS, 2008; KALAJA; BARCELOS, 2003).

As narrativas atribuem significados a contextos de aprendizagem sob o ponto de vista dos próprios aprendizes, dado que eles explicam como aprendem ou aprenderam uma língua (PAVLENKO, 2001). Para Bruner (1991), a narrativa é uma maneira de pensar, de ordenar a experiência humana, de organizar a apreciação a respeito de si mesmo, dos outros e do mundo onde se vive. Nós nos formamos como seres humanos e atribuímos significados às nossas vidas por meio das histórias que contamos e compartilhamos com os outros (CLANDININ; CONNELLY, 2000). A inclusão das narrativas no estudo fundamenta-se também na necessidade de se ter acesso aos conhecimentos e interpretações dos envolvidos nas interações da sala de aula, como uma possibilidade de contemplar a visão êmica dos mesmos (PAVLENKO; LANTOLF, 2000).

A entrevista semiestruturada (BURNS, 1999) também permitiu a coleta de informações sobre o feedback corretivo no contexto de interação oral em sala de aula, sendo utilizada como uma fonte de dados secundários na triangulação dos dados coletados por meio dos outros instrumentos. Esse tipo de entrevista se adéqua ao paradigma qualitativo por possibilitar uma flexibilidade das respostas pessoais e interações ricas entre os sujeitos (BURNS, 1999). A professora e os alunos participaram dessa etapa da pesquisa, individualmente e em horário extraclasse devidamente combinado com a pesquisadora, e suas respostas foram gravadas em áudio para a análise posterior (ver Apêndices B e C).

A análise das notas de campo (descrições de eventos no contexto de pesquisa, que são escritos de maneira objetiva (BURNS, 1999)) e das sessões de visionamento com a professora e com os alunos da turma foi feita com o intuito de evidenciar as impressões dos sujeitos sobre seu processo de atuação em sala de aula, com atenção especial ao feedback corretivo oral. De acordo com Vieira-Abrahão (2006, p. 227), as sessões de visionamento “envolvem a exposição das gravações em vídeos das aulas observadas aos participantes, professores e alunos, esperando levantar, com tal exposição, a perspectiva dos actantes sobre suas próprias ações”, além de criar a oportunidade para que alunos e professores externalizem seus pensamentos e interpretações sobre suas ações. Nessas sessões, o participante consegue ver- se, refletir e tecer comentários a respeito de suas atitudes e interações em sala de aula.

Assim, as sessões foram realizadas separadamente com a professora e com os alunos, ao longo das aulas e face a face, a fim de que cada um pudesse visualizar e pensar a respeito de sua ação pedagógica e das ações corretivas na sala de aula. Foram selecionados alguns momentos específicos das aulas, que representavam tipicamente a prática corretiva da professora e a interação dos aprendizes individualmente. A narrativa escrita final (ver Apêndice D), vista como um meio fundamental para compreender e organizar o nosso

entendimento sobre o mundo, permitiu que os alunos refletissem sobre o seu desempenho ao longo do semestre, a respeito do feedback corretivo e das atividades de interação propostas pela professora.

No documento UM OLHAR SOCIOCULTURAL SOBRE O FEEDBACK (páginas 80-83)