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2 BASE TEÓRICA-CONCEITUAL

2.2 CAPACIDADE ABSORTIVA DE CONHECIMENTO (CA)

2.2.5 Instrumentos para avaliar a capacidade absortiva

Nos últimos anos, cientistas têm proposto diversas formas de avaliar a CA de conhecimento. Por exemplo, Lane, Koka e Pathak (2006) construíram um instrumento com base na obra de Zahra e George (2002), utilizando 21 questões agrupadas em quatro dimensões para avaliar a capacidade absortiva: aquisição (seis itens), assimilação (três itens), transformação (seis itens), e explotação (seis itens).

Na mesma época, Lin, Tan e Chang (2002) desenvolveram um instrumento para avaliar capacidade absortiva tecnológica, o mesmo que avalia três dimensões: adaptação (quatro itens), produção (cinco itens) e

aplicação (quatro itens). Considerando essa orientação do instrumento a mensurar CA tecnológica, um construto diferente dos apontados no presente trabalho, é possível afirmar que o instrumento não atende aos objetivos desta pesquisa.

Na sua obra, que relaciona compartilhamento de conhecimento, capacidade absortiva e desempenho inovador em empresas de Taiwan, Liao, Fei e Chen (2007) desenvolveram um instrumento composto por 12 itens e que utiliza escala Likert de 5 pontos. A principal desvantagem do instrumento é a impossibilidade de desenvolver inferências relacionadas à CA potencial e CA realizada, devido ao fato de os itens não estarem classificados utilizando as quatro dimensões da CA apontadas por Zahra e George (2002).

Posteriormente, Cadiz, Sawyer e Griffith (2009) publicaram sua pesquisa, desenvolvida especialmente com o objetivo de produzir um instrumento para mensurar a capacidade absortiva. O instrumento, apresentado considera três dimensões para CA: avaliação (três itens), assimilação (três itens) e aplicação (três itens). Embora o instrumento utilize uma terminologia diferente, ele está baseado parcialmente no modelo de Zahra e George (2002). No instrumento, a dimensão “assimilação” corresponde à CA potencial, e a dimensão “aplicação” corresponde à CA realizada. Em adição, e em concordância com Todorova e Durisin (2007), os autores introduziram uma dimensão inicial chamada “avaliação”, que visa reconhecer o valor do conhecimento externo, prévio ao seu processamento. Tendo clareza de que o valor do conhecimento deve ser avaliado, considera-se que a inclusão dessa métrica em uma nova dimensão torna o instrumento incompatível com o modelo de Zahra e George (2002), adotado nesta pesquisa.

Mais recentemente, Camisón e Forés (2010), na sua obra orientada a desenvolver novos insights sobre o conceito e mensuração da CA, criou um instrumento de 19 itens, baseado na obra de Zahra e George: aquisição (quatro itens), assimilação (seis itens), transformação (cinco itens), explotação (quatro itens), o qual incorpora elementos relevantes extraídos de diversas pesquisas.

O instrumento, mesmo sendo uma ferramenta completa em abrangência, não foi utilizado nesta pesquisa devido a dois fatores.

Primeiro, avalia variáveis como desenvolvimento de patentes, que na realidade brasileira não necessariamente refletem o potencial inovador em empresas dos diversos portes. Segundo, a linguagem utilizada tem um nível de complexidade alto, o qual representa um risco pela necessidade de manipulação do instrumento ou pelos eventuais

erros durante a coleta de dados, devido a interpretações divergentes por parte dos respondentes. O instrumento de Camisón e Forés (2010) é apresentado no Quadro .

Quadro 10 – Escalas e itens dos construtos CA potencial e CA realizada CA Potencial

Aquisição

AD1. Conhecimento proveniente dos concorrentes AD2. Abertura para com o ambiente

AD3. Redes de cooperação para pesquisa e desenvolvimento AD4. Desenvolvimento interno de competências tecnológicas Assimilação

AS1. Assimilação de tecnologia AS2. Recursos humanos AS3. Benchmarking industrial

AS4. Estímulo para o compartilhamento do conhecimento

AS5. Participação em cursos de treinamento e eventos profissionais AS6. Gestão do conhecimento

CA Realizada

Transformação

TR1. Transmissão de conhecimento baseado em tecnologia TR2. Capacidade de renovação

TR3. Capacidade de adaptação

TR4. Intercâmbio de informação científica e tecnológica TR5. Integração das atividades de P&D.

Aplicação

AP1. Explotação de novo conhecimento AP2. Aplicação da experiência

AP3. Desenvolvimento de patentes AP4. Proatividade tecnológica

Fonte: Camisón e Forés (2010, p. 711).

Na obra intitulada A measure of absorptive capacity: Scale development and validation, Flatten et al. (2011) desenvolveram um instrumento baseado nas obras seminais de CA (COHEN; LEVINTHAL, 1990; ZAHRA; GEORGE, 2002). O instrumento de

Flatten e seus colegas utiliza escala Likert de 7 pontos, que contém 14 itens, conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 1 – Escala final para capacidade absortiva de Flatten et al. (2011) CA Potencial

Aquisição

AD1. A busca de informações pertinentes sobre o nosso setor é um negócio de cada dia em nossa empresa.

AD2. Nossa administração motiva os funcionários a usar fontes de informação dentro do nosso setor.

AD3. A administração espera que os funcionários lidem com a informação para além do nosso setor.

Assimilação

AS1. Em nossa empresa, as ideias e conceitos são comunicados de forma interdepartamental.

AS2. Nossa administração enfatiza o apoio interdepartamental para resolver problemas.

AS3. Na nossa empresa há um fluxo de informações rápidas, por exemplo, se uma unidade obtém informações importantes, ela comunica imediatamente essas informações a todas as outras unidades ou departamentos.

AS4. Nossa gerência exige reuniões interdepartamentais periódicas, para trocar novidades, problemas e conquistas.

CA Realizada

Transformação

TR1. Nossos funcionários têm a capacidade de estruturar e usar o conhecimento recolhido.

TR2. Nossos funcionários são usados para absorver novos conhecimentos, bem como prepará-los para outros fins e para torná-los disponíveis.

TR3. Nossos funcionários vinculam (de forma bem-sucedida) o conhecimento existente com novos insights/ideias.

TR4. Nossos funcionários são capazes de aplicar os novos conhecimentos em seu trabalho prático.

Explotação

EX1. Nossa administração apoia o desenvolvimento de protótipos.

EX2. Nossa empresa regularmente reconsidera tecnologias e as adapta em concordância com os novos conhecimentos.

EX3. Nossa empresa tem a capacidade de trabalhar de forma mais eficaz através da adoção de novas tecnologias.

A principal fortaleza desse instrumento é que representa de forma completa as dimensões e conceitos elencados na obra de Zahra e George (2002), utilizando um número adequado de questões, por não ser excessivo.

Por fim, Valentim, Lisboa e Franco (2015) desenvolveram o mais recente instrumento para mensurar a CA, visando determinar a relação entre esse construto e as práticas de GC. O instrumento utiliza uma escala Likert de 7 pontos, e contém 30 itens, agrupados em três grandes dimensões: aquisição do conhecimento (dez itens), conversão do conhecimento (oito itens) e aplicação do conhecimento (doze itens).

As fortalezas que apresenta o instrumento de Valentim, Lisboa e Franco (2015) são evidentes: os itens avaliam todos os elementos apresentados nos conceitos seminais de Cohen e Levinthal (1990) e Zahra e George (2002). Adicionalmente, foi construído em um estudo com PMEs e, portanto, a terminologia utilizada é adequada para esta pesquisa. Embora anterior, e de forma similar ao instrumento de Liao, Fei e Chen (2007), o instrumento não adota a classificação definida por Zahra e George (2002) e, portanto, não seria possível estudar a influência da CA potencial na CA realizada, e destes construtos sobre as práticas de GC e o desempenho organizacional.

A revisão dos instrumentos desenvolvida nesta seção evidencia que o instrumento de Flatten et al. (2011), utilizado 117 vezes em publicações indexadas nas bases de dados consultadas na presente pesquisa, parece ser o mais adequado aos objetivos deste estudo. Uma revisão com dois cientistas vinculados à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) verificou a pertinência e coerência desse instrumento, pois possui uma linguagem mais simples diante da população participante nesta pesquisa e porque o menor número de itens representa adequadamente o construto CA e minimiza o risco de obter questionários incompletos.

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