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Instrumentos potenciadores da reabilitação da habitação social em Portugal

2.2. REABILITAÇÃO DE HABITAÇÃO SOCIAL EM PORTUGAL

2.2.2. Instrumentos potenciadores da reabilitação da habitação social em Portugal

O Estado como grande potenciador do mercado da construção e, face ao grande problema existente de alojamento, foi criando ao longo dos anos diferentes programas e estratégias para apoiar todas as iniciativas relativas à reabilitação do Parque de Habitação Social, identificando-se de seguida cada um dos programas que tiveram mais impacto nesta evolução: − “Casas da caixa” – parque do estado pertencente à Federação das Caixas de Previdência e oriundo das “Habitações Económicas” do regime anterior a 1974, programa que foi extinto em 1970 com a criação do FFH;

− “Casas do ex-FFH” – parque do estado pertencente ao Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado – IGAPHE, o qual foi criado em 1987 com a finalidade de receber os 40000 fogos pertencentes ao FFH para os gerir da melhor forma.

− Parques municipais antigos – parques de muito pequena dimensão, excluindo em Lisboa e Porto, que foram construídos ao longo dos anos na sequência de políticas municipais e de apoios estatais, donativos particulares e outros, constituídos por edifícios muito variados, com características abaixo dos padrões de qualidade mínimos estabelecidos, apresentando elevada degradação;

− Empréstimos às câmaras – parque de habitação social resultante de políticas de promoção municipal nos anos 60 e 70 resultantes de programas de promoção municipal no Quadro da Habitação Social e da Habitação a Custos Controlados, primeiro idênticas às de nível mais baixo das casas da Caixa de Previdência, depois idênticas às de nível mais baixo do FFH e nos anos 80 idênticas às

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promovidas pelos outros tipos de HS e HCC, por Cooperativas de Habitação Económica (CHE´s) ou por Empresas Privadas (Contratos de Desenvolvimento de Habitação - CDH´s, controladas por diploma e despacho oficial regulando as áreas máximas, os custos máximos e a qualidade mínima de construção e equipamentos através de Recomendações Técnicas oficiais) (Rodrigues, 2008); − Bairros de realojamento – parques municipais construídos pela aplicação do

Programa de Realojamento, criado em 1987, destinado à promoção municipal para populações insolventes, vivendo em barracas ou outras condições degradantes que acedem à habitação pelo regime de arrendamento quase exclusivamente social;

− Bairros do IGAPHE – parque com idade variável, geralmente dos anos 60 e 70, que pertenciam ao IGAPHE e que foram transferidos para os municípios das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto onde se localizavam, através de protocolos associados ao financiamento do PER, nesses municípios. Esta transferência efetuou-se posteriormente, também nos outros municípios, devido à extinção do IGAPHE. Em 2002 todas as competências do IGAPHE foram transferidas para o INH (Curado, 2014);

− Bairros PER – parques municipais criados através de promoção municipal de habitação ao abrigo do PER, através do qual foram construídos, entre 1994 e 2005, mais de 31000 fogos, com maior incidência no período entre 1996 e 1999 onde se ultrapassaram os 4000 fogos/ano. Entre 2004 e 2005 a construção de habitação social foi inferior a 1000 fogos/ano (IHRU, 2008).

Devido ao impacto que todos estes programas tiveram, o Estado apercebeu-se que não eram suficientes e que seria preciso ainda mais apoio para colmatar as necessidades na área da reabilitação de habitação social e urbana, pelo que foram criadas as seguintes ferramentas – RECRIA (Regime Especial de Comparticipação na Recuperação de Imóveis Arrendados - Decreto-Lei n.º 4/88, de 6 de Junho), ajudando com comparticipações a fundo perdido e pelos próprios municípios, que visava a reabilitação de fogos inseridos em edifícios de propriedade vertical (Curado, 2014). Como se confirma na Figura 6 o RECRIA teve um crescimento muito variável ao longo dos anos atingindo o seu máximo nos anos 1996 e 1997 com o financiamento de cerca de 5000 fogos nestes dois anos; REHABITA (Regime de Apoio à Recuperação Habitacional em Áreas Urbanas Antigas - Decreto-Lei n.º 105/96, de 31 de Julho); RECRIPH (Regime Especial de Comparticipação e Financiamento na Recuperação de

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Prédios Urbanos em Regime de Propriedade Horizontal - Decreto-Lei n.º 106/96, de 31 de Julho), prevê o apoio à recuperação de edifícios em propriedade horizontal e de espaços comuns e, por último, o SOLARH (Programa de Apoio Financeiro Especial Para a Reabilitação de Habitações - Decreto-Lei n.º 7/99, de 8 de Janeiro), criado em 1999 e alterado em 2001 (Marques & Madeira, 2010).

Figura 6. Número de Fogos Construídos e Custos Associados pelos Programas RECRIA/REHABITA (IHRU, 2006).

O Regime Jurídico Excecional de Reabilitação Urbana de Zonas Históricas e de Áreas Críticas de Recuperação e Reconversão Urbanística que cria as Sociedades de Reabilitação Urbana (SRU), em 2004, não disponibiliza qualquer apoio financeiro, constituindo sobretudo um enquadramento jurídico e institucional da intervenção pública municipal em matéria de reabilitação urbana (IHRU, 2008). Desde 2004 as SRU´s vêm racionalizando recursos destinados à reabilitação urbana, promovendo o desenvolvimento de processos de reabilitação integrada. Em 2012, existiam 13 SRU´S (INE, 2013).

Apesar da diversidade de programas e de instituições que operam no setor da construção, refere-se que Portugal tem um valor reduzido de fogos de habitação social, que representam cerca de 2.02 % no total de alojamentos familiares. No entanto, correspondem a 14.34 % dos alojamentos arrendados (INE, 2011). Relativamente aos restantes países europeus (Figura 7) o mercado da habitação social em Portugal é muito pequeno, quando comparado com países como o Reino Unido e a Bélgica, que apresentam maior diversidade e quantidade de subsídios, reduções de taxas e juros, e um maior número de empréstimos e comparticipações. Por exemplo, na Holanda, a habitação social representa 35 % do parque habitacional e 77 % dos alojamentos arrendados (IHRU, 2008).

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Figura 7. Quantidade de instrumentos financeiros empregados em cada país membro (BPIE, 2012).