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Considerando os objetivos da investigação, os instrumentos mais adequados para a recolha de dados foram a pesquisa documental e a entrevista semi-estruturada, constituindo métodos complementares entre si. A combinação de métodos de investigação é designada por triangulação, e permite um conhecimento mais abrangente sobre a realidade que pretendemos estudar (Patton, 1999). No entanto, existem várias conceções de triangulação e, segundo as tipologias de Denzin (1978, cit in Flick et al., 2004), a triangulação utilizada nesta investigação foi a triangulação de dados, que se define pela utilização de diferentes fontes de dados, mas sem usar metodologias distintas (quantitativas e qualitativas), como é o caso do uso da pesquisa documental e da entrevista semi-estruturada.

Numa fase inicial, consultei os processos individuais de cada jovem e, posteriormente, procedi à realização das entrevistas com os jovens e com os profissionais.

9.1. Pesquisa documental

A pesquisa documental visa tratar e interpretar informação bruta existente em suportes estáveis (como áudio, vídeo ou documentos escritos), permitindo aceder a informações essenciais que dão resposta a determinadas questões que nem sempre são possíveis de esclarecer durante a entrevista (Carmo & Ferreira, 2008). Este tipo de pesquisa evita também o recurso abusivo a outros métodos (Quivy & Campenhoudt, 1998).

Na presente investigação, a pesquisa documental baseou-se nos processos individuais de cada jovem e foi realizada previamente às entrevistas, constituindo um suporte para elaborar os guiões de entrevista, visto que foi possível responder a algumas questões que poderiam ser introduzidas no guião das mesmas, e permitiu também recolher informações estruturadas que não poderiam ter sido obtidas através de outro método.

Os processos individuais de cada jovem contêm a informação relativa a todo o percurso que culminou na medida tutelar de internamento, e ao processo educativo e de integração do jovem dentro do Centro Educativo. Em termos de documentos oficiais, estão presentes no processo todas as deliberações por parte do Tribunal, documentos relativos a institucionalizações anteriores (como, por exemplo, relatórios), relatórios de perícia sobre personalidade, relatórios sociais com avaliação psicológica e relatórios de avaliação periódica, para além do instrumento de avaliação de risco Youth Level of Service/Case Management Inventory (YLS/CMI) e do Plano Educativo Pessoal de cada jovem. A análise do YLS/CMI e do Plano Educativo Pessoal foram de extrema

importância, uma vez que foi possível perceber quais os fatores de risco identificados, respetivo grau de risco e, em função destes fatores, como foi estruturada a intervenção.

Segundo Carmo & Ferreira (2008), é crucial criar um bom sistema de registo de dados. Assim sendo, tendo em conta os objetivos da minha investigação, construí uma grelha de registo documental4 que, durante o processo de pesquisa documental, foi sofrendo alterações, consoante o surgimento de informações pertinentes à investigação não previstas inicialmente

9.2. Entrevista semi-estruturada

A entrevista é um método que permite aceder a informações sobre o entrevistado ou sobre o tema em estudo (Carmo & Ferreira, 2008), sendo um método de excelência na recolha de informações relativamente profundas de factos, comportamentos, perspetivas e significados atribuídos pelo entrevistado (Quivy & Campenhoudt, 1998), sendo a interação direta a base da mesma, num contexto de partilha voluntária de informação (Carmo & Ferreira, 2008; Quivy & Campenhoudt, 1998). A entrevista pode ser estruturada e realizada com questões abertas e questões fechadas. As questões fechadas pressupõem um menor grau de liberdade e expressão do entrevistado (Carmo & Ferreira, 2008), enquanto que as questões abertas permitem que o entrevistado exprima as suas perspetivas e pontos de vista livremente (Cohen & Crabtree, 2006).

A entrevista é, normalmente, precedida de observação informal, para perceber quais os aspetos que serão necessários abordar na mesma, de forma a desenvolver um guião de entrevista pertinente (Cohen & Crabtree, 2006). Deste modo, ao invés de realizar observação direta, optei pela análise documental, como foi explicado anteriormente. A vantagem deste método foi responder a muitas das questões de forma estruturada e objetiva, deixar outras por responder que foram incluídas nas entrevistas e, ainda, levantar outras, tendo sido um importante mecanismo de auxílio na construção dos guiões.

Em relação à entrevista semi-estuturada, o investigador guia-se por um conjunto de questões ou tópicos relativamente abertos (Quivy & Campenhoudt, 1998), presentes num guião de entrevista, e que devem ser abordados durante a mesma (Cohen & Crabtree, 2006). O investigador pode seguir o guião estritamente, mas se considerar apropriado e se se proporcionar no decorrer da entrevista e da partilha de informação, pode fazer um desvio ao guião (Cohen & Crabtree, 2006). Dado que as entrevistas tinham como objetivo aceder às perspetivas dos sujeitos

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sobre a medida de internamento e posterior reinserção na sociedade, optei por utilizar a entrevista semi-estruturada.

Previamente à realização das entrevistas, é necessário definir os objetivos da mesma e construir um guião. Depois de delimitados os objetivos, há que operacionalizar esses objetivos em variáveis e inserir no guião questões adequadas, que respondam a esses objetivos (Carmo & Ferreira, 2008). Sendo que as entrevistas foram aplicadas à totalidade da amostra, foi necessário proceder à construção de três guiões diferenciados: um destinado à direção, outro aos jovens e o último aos Técnicos Superiores de Reinserção Social. Cada um destes guiões era constituído por perguntas abertas e fechadas, direcionadas e adequadas ao entrevistado e às informações que se pretendia obter de cada um deles, sendo que algumas delas eram comuns em dois dos guiões de entrevista.

O primeiro conjunto de entrevistas realizado foi aos jovens, em dois dias distintos, cujo guião5 foi constituído por três grupos de questões relacionadas com o historial antes da entrada no Centro Educativo, com o decorrer da medida de internamento e perspetiva face à mesma e, por último, com as perspetivas em relação à reinserção social.

Depois das entrevistas aos jovens, realizou-se a entrevista à direção. O guião6 elaborado dividia-se em cinco partes atinentes aos dados do profissional e da equipa de trabalho, à caracterização do Centro Educativo, dos jovens, dos regimes e da intervenção, e às perspetivas face à reintegração dos jovens na sociedade.

Posteriormente, foi realizada a entrevista ao Técnico Superior de Reinserção Social. As questões do guião7 foram organizadas em três secções distintas, relacionadas com os dados do profissional, com a intervenção e com as perspetivas relativamente à reintegração dos jovens na sociedade.

As entrevistas foram gravadas, para depois serem transcritas e codificadas. Cohen & Crabtree (2006) afirmam que as entrevistas devem ser gravadas, devido ao uso de questões abertas, em que o entrevistado pode expressar livremente as suas perspetivas e, por este motivo, as mesmas podem prolongar-se e divagar do inicialmente previsto, e o entrevistador pode não conseguir tomar nota de todas as informações que foram partilhadas. Depois deste processo, as

5 Anexo 3

6 Anexo 4 7 Anexo 5

entrevistas foram submetidas a uma análise de conteúdo (Quivy & Campenhoudt, 1998), que irá ser explorada no ponto seguinte.