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Integração Curricular: competências

PARTE II – ESTUDO

4. CONTEXTUALIZAÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO DO ESTUDO

4.3. Integração Curricular: competências

É justamente a competência que constitui a meta a alcançar pelo currículo escolar.

(Roldão, 2003, p.16)

Após circunscrevermos aquilo que se entende por uma prática integrada do currículo e abordarmos o papel do professor, do aluno e da escola nesse âmbito, é chegada a vez de nos pronunciarmos sobre as competências essenciais que se desenvolvem aquando da integração do currículo.

Em primeiro lugar é importante percebermos o conceito de competência. Segundo Roldão (2004), a competência “institui-se como o garante de uma apropriação comum de saberes, que se constituem em saberes em uso, mobilizáveis, actuantes – e não inertes” (p. 181), isto é, a competência não está nos conhecimentos e nas capacidades a mobilizar, está na própria mobilização desses recursos, pelo que a competência é da ordem do “saber mobilizar”, e não é da ordem da simples aplicação, mas da ordem da construção (Le Boterf, citado por Roldão, 2003). A mesma autora completa esta definição ao referir que “ao falarmos de competência referimo-nos ao saber que se traduz na capacidade efetiva de utilização e manejo – intelectual, verbal ou prático – e não a conteúdos acumulados com os quais não sabemos nem agir no concreto” (Roldão, 2003, p. 20).

Já, no Currículo Nacional do Ensino Básico – Competências Essenciais (2009), a competência é definida da seguinte forma: “não se trata de adicionar a um conjunto de conhecimentos um certo número de capacidades e atitudes, mas sim de promover o desenvolvimento integrado de capacidades e atitudes que viabilizam a utilização dos conhecimentos em situações diversas (p. 9). Desta forma, a competência não se trata dos conhecimentos que o indivíduo possuí, mas sim a capacidade de mobilizar esses conhecimentos perante alguma situação em que esteja envolvido.

A par da competência, importa agora fazer a distinção com o objetivo, isto porque são dois conceitos diferentes, mas que, por vezes, se confundem no discurso dos professores. Assim, assume-se aqui uma grande diferença entre eles, em que a competência será aquilo que os alunos serão capazes de saber mobilizar e o objetivo é aquilo que pretendemos que o aluno aprenda. Esta diferença pode ser traduzida num exemplo prático, ou seja, um aluno que tenha conhecimento histórico não tem obrigatoriamente a competência de saber mobilizar esse conhecimento numa determinada situação, assim como, quando memorizamos conhecimentos não quer isso dizer que os entendemos na sua plenitude e, por isso, poderemos não ser capazes de aplicá-los na análise da realidade.

Reconhecendo a necessidade de promover uma gestão curricular do 1.º CEB numa lógica de desenvolvimento de competências, importa, por fim, determinar as competências que se desenvolvem nos alunos quando o professor opta por trabalhar o currículo de uma forma integrada.

Deste modo, a integração do currículo permite desenvolver outro tipo de competências mais significativas para os alunos em relação ao tradicional método expositivo. Pelo que, a opção da integração curricular é tida na tentativa de uma formação cidadã dos alunos, ou seja, uma formação que permita a aprendizagem de competências que os faça críticos e detentores do saber na sociedade e daquilo que os rodeia. Neste sentido, Alonso (2004) explica que,

na tentativa de encontrar respostas adequadas a estes desafios da sociedade do conhecimento que se enquadra a Reorganização Curricular em curso no nosso sistema educativo, a qual pretende colocar no coração do currículo a aprendizagem de competências e atitudes essenciais para aprender a aprender e a lidar com a mudança, assim como para aprender a colaborar e a participar na melhoria da sociedade. (p. 148)

Por isso, a globalização faz com que os alunos sejam expostos a outro tipo de abordagens que transcendem o programa curricular por disciplinas. Nomeadamente, o desenvolvimento de trabalhos de grupo ou de projeto, em que os alunos organizam todo o processo de aprendizagem em torno dos seus interesses, das suas experiências e da realidade que os circunda. A par disto, Bean (2003) refere que

prescrito – propósitos que estão relacionados com a expansão da teoria e da prática da democracia no dia a dia das escolas, e com o envolvimento dos jovens num currículo que se apresenta como um desafio à sua imaginação, que relaciona as suas escolas com a vida real, que aprofunda e alarga a compreensão de si próprios e do seu mundo. (p. 92)

Neste âmbito, a reforma do currículo permitirá uma mudança no ambiente de aprendizagem que, por sua vez, culminará na formação dos alunos para os desafios da sociedade. Essa formação irá permitir-lhes, a professores e alunos, as competências essenciais da autoformação, em que o professor confia ao aluno a possibilidade de este decidir sobre a escolha das aprendizagens mais significativas para ele; da reflexividade, em que o aluno é capaz de refletir ou analisar sobre os seus próprios atos; da comunicação, em que aluno é capaz de comunicar com o outro utilizando um discurso correto e coerente; da resolução de problemas, em que o aluno compreende o problema, mobiliza conhecimentos prévios, elabora um plano de ação e reflete sobre os resultados, deste modo, também o professor pode intervir solicitando a investigação de outras soluções; e, por fim, o da capacidade de trabalhar em equipa, aliado à comunicação e à resolução de problemas, em que tanto o aluno como o professor, em diferentes contextos, são capazes de partilharem aquilo que pensam e de aceitarem ideias diferentes das suas rumo a um determinado objetivo comum. (Gimeno, citado por Alonso, 2004). Às quais ainda podemos acrescentar as competências cidadãs, em que o aluno é capaz de analisar e intervir no meio que o circunda, investigativas, associado à pesquisa, à investigação e à resolução de problemas e a competência cognitiva, que não é nada mais que a mobilização dos saberes prévios do aluno.

Em suma, todas estas competências são possíveis de ser desenvolvidas a partir de qualquer área do currículo, mas veremos no subcapítulo a seguir que com maior destaque para o EM, pelo seu carácter integrado e integrador.

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