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1 O DIREITO TRIBUTÁRIO E O COMÉRCIO INTERNACIONAL EM

1.2 OS PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO LIMITANDO O USO DAS RESTRIÇÕES

1.2.3 Integração econômica e critérios de classificação

Integração econômica “consiste na aproximação, na interligação e, em última úistância, na &são de economias separadas num espaço econômico unificado”^’. Cabe salientar que o uso da expressão “integração econômica” é relativamente recente, tanto que não existe referência à expressão anterior à década de 1940'*".

A integração econômica também pode ser vista como “o status jurídico no qual os Estados entregam, cedem ou transferem uma de suas prerrogativas soberanas com o fim de constituir uma área dentro da qual, pela eliminação das barreiras, circulam livremente as pessoas, os bens, os serviços e os capitais, mediante a harmonização das políticas correspondentes e sob a égide supranacional”'".

É de se lembrar que os trabalhos teóricos a respeito do fenômeno recente da integração partem da teoria das uniões aduaneiras posta em 1950 por Jacob Viner e

39 FERREIRA, Graça Enes. A teoria da integração econômica internacional e o modelo de integração do

espaço econômico europeu. Op. cit., p. 17.

40 “Salioita F. Machlup, que o termo integração econômica vem sendo usado desde 1942, jxmto ao campo do estudo de economia. Até então, estendia-se a âmbitos de contornos políticos e cooperativos com fins comerciais. Contudo, para definir formas específicas de relações econômicas internacionais é relativamente recente. A partir de 1950, o conceito presta-se para delimitar tal definição, compreendendo a participação de Estados em área regional mais ampla”. OLIVEIRA, Odete Maria de. União Européia: processos de

integração e mutação. Curitiba: Juruá, 1999. p. 32.

Segundo Cunha ‘‘parece ter sido Paul Hoffinan, administrador da « E con om ic Co-operation Administration» - organismo encarregado da gestão do Plano Marshall, no que respeitava aos Estados Unidos — quem se referiu pela primeira vez a «integração econôm ica», em relação ao esforço de reconstrução europeia. Num discurso pronunciado perante o Conselho da O.E.C.E., reunido em Paris, em Outubro de 1949, Hoffinann sublinhou que essa instituição deveria empreender uma tareíà da maior importância, para além do objectivo imediato de administrar o auxílio americano. Tal missão seria a de «estabelecer um programa de longo alcance destinado a construir na Europa Ocidental uma economia mais dinâmica e expansiva (...). Isso exige uma integração da economia da Europa Ocidental . . . » . Prosseguindo, HofSnann esclareceu que « a substância da integração seria a formação de xim grande mercado único, dentro do qual se suprimiriam a título permanente as restrições quantitativas aos movimentos de mercadorias, as barreiras monetárias ao fluxo de pagamentos e, eventualmente, todas as ta r ife s » ”. CUNHA, Paulo de Pitta e. Integração europeia: estudos de economia política e direito

comunitários. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1993. p. 66.

41 “el status jurídico en el cual los Estados entregan, ceden o trasladan alguna de sus prerrogativas soberanas con el fin de constituir una área dentro de la cual, por Ia eliminación de Ias barreras, circulan libremaite Ias personas, los bienes, los servicios e los capitales, mediante la armonización de Ias políticas correspondimtes y bajo una égida supranacional”. DIAZ LABRANO, Roberto Ruiz. Mercosur:

acrescentada, depois, por outros autores como Meade (1956), Gehrels (1956/57), Lipsey (1957,1960 e 1970) por exemplo"\

A integração pode ser vista a partir de uma perspectiva dinâmica ou de uma estática. Na primeira “a integração econômica analisa-se como o processo no decurso e através do qual as diferentes economias se vão aproximando e interligando no sentido da unificação - a integração como o acto de integrar”, na segunda a “integração econômica é a situação, o resultado de um determinado processo integracionista - a integração como efeito”'*^ Estas servem como principais ângulos de análise utilizados pelos autores que tratam da Teoria da Integração Econômica'*''.

A integração econômica pode ser classificada de diversas formas dependendo do critério a ser utilizado. Se o critério for o econômico, classifica-se em integração setorial e integração geral, a primeira quando alcança alguns setores delimitados da atividade econômica, a segunda, quando todos os setores econômicos são abrangidos'*^

Se o critério for a forma de integração pode-se classificar em integração positiva e integração negativa. Esta ocorre quando se removem os obstáculos que impedem o comércio entre diversos Estados; aquela ocorre quando se aprofiinda a

42 PORTO, Manuel Carlos Lopes. Teoria da integração e políticas comunitárias. Op. cit., p. 215.

43 FERREIRA, Graça Enes. A teoria da integração econômica internacional e o modelo de integração do

espaço econômico europeu. Op. cit, p. 18.

44 Eduardo Raposo de Medeiros, ao conceituar integração, citando Haberler, “pelas relações econômicas mais estreitas entre certas áreas”, frisa que este conceito é extremamente amplo e que Bela Balassa estabeleceu uma definição mais precisa pois considerou a integração “como um processo, caracterizando este, ‘como um conjunto de medidas destinadas a suprimir as discriminações entre unidades econômicas pertencentes a diferentes países’, e como uma situação ‘caracterizada pela ausência de toda e qualquer discriminação entre economias nacionais’.” MEDEIROS, Eduardo Raposo de. Blocos regionais de

integração econômica no mundo. Op. cit., p. 16.

45 Exemplos de integração setorial - EFTA (alcança apenas os produtos industriais); a CECA (abrange os produtos siderúrgicos e o carvão) e a CEEA (alcança o uso da energia nuclear). O exemplo de integração geral é o caso da Comunidade Européia. FERREIRA, Graça Enes. A teoria da integração econômica

integração pela implementação de ações ditas positivas. Exemplo de procedimento na integração negativa é a remoção dos entraves de toda a ordem que impedem ou limitam as trocas mercantis entre duas economias, incluído aí os obstáculos aduaneiros'*®.

Eduardo Raposo de Medeiros afirma que a integração negativa “envolve a remoção das discriminações e restrições à circulação (caso em que se enceta um processo de desarmamento pautai ou se aplica uma normalização técnica)” e que a integração positiva “abarca as modificações das instituições e instrumentos, tendo em vista promover objectivos amplos de políticas harmonizadas no espaço integrado”"^.

Por fim, se o critério for o político-geográfico é possível classificar a integração em integração econômica nacional, integração econômica internacional e integração econômica mundial. No primeiro caso tem-se a integração entre as diversas regiões de um mesmo Estado; no segundo, tem-se a integração entre diversas economias nacionais construídas normalmente em uma determinada região geográfica'**; no terceiro caso, a integração ocorre entre todas as economias, entre todos os países'*®.

46 “En tant qu’instrumeiit d’intégration positive, c’est une méthode complexe, car pour réaliser cette harmonisation il Êiut tenir compte de différents aspects de chacun des systèmes juridiques nationaux, dans des domaines spécifiques, et en étudier les particularités propres à chacun. C’est ime méthode souvent utilisée aujourd’hui et qui ne doit pas être confondue avec celle de Tintégration négative, oü le travail de la CEE consiste plus à suprimer les obstacles qui se posent à la creátion du marché commun que de promouvoir une harmonisation des systèmes légaux nationaux”. BALTHAZAR, Ubaldo Cesar. La TVA

europeenne et son evolutionpar etapes en fonction duprocessus d'integration au sein de la C E E -période 1958-1991. Bruxelles: Université Libre de Bruxelles/Faculte de Droit. Tese de doutorado, 1992-1993. p.

30-31.

47 MEDEIROS, Eduardo Raposo de. Blocos regionais de integração econômica no mundo. Op. cit., p. 17. 48 Nem sempre a integração econômica internacional ocorre numa mesma região geográfica. Facilita a integração o íàto de estarem as economias geograficamente lado a lado, mas não é determinante, vide por exemplo o caso da EFTA. FERREIRA, Graça Enes. A teoria da integração econômica internacional e o

modelo de integração do espaço econômico europeu. Op. cit, p. 20.

49 Ao fezer-se esta classificação não desconsidera-se que não parece ser objetivo do GATT e nem da OMC uma integração mundial - poder-se-ia felar em cooperação mundial. FERREIRA, Graça Enes. A teoria da

integração econômica internacional e o modelo de integração do espaço econômico europeu. Op. cit., p.

A classificação feita em integração econômica nacional, internacional e mundial leva em consideração critérios político-geográficos. Também é possível utilizar outro critério, como o de quem toma as decisões nos processos de integração econômica. Neste sentido pode-se referir a uma integração econômica internacional e a uma

integração econômica regional.

Com este critério a integração internacional “é um processo comandado pelo mercado mundializado e pelos fenômenos da globalização e transnacionalização, sem controle da instância estatal”; e a integração regional “encontra-se marcada pelo objetivo político comum de Estados, no sentido de criar e manter seus próprios mercados econômicos protegidos”^®.

É possível ainda lembrar a diferença entre dois fenômenos que, à primeira vista, podem parecer semelhantes; o fenômeno da cooperação e o da integração econômica. No primeiro têm-se atitudes de cooperação entre dois Estados visando diminuir os níveis de discriminação existentes, no segundo, objetivam-se “integrar” pela supressão das discriminações, fortalecendo-se frente aos Estados terceiros, significando muitas vezes a cessão de parte de suas soberanias^'.

Presentemente as relações entre Estados, ou dito de outra forma, as relações econômicas entre dois ou mais Estados, tendem à integração, ao passo que as relações econômicas entre todos os países - uma integração universal, global, mundial - tende mais à cooperação.

O caso do Mercado Comum do Sul - Mercosul - serve de exemplo do fenômeno da integração, tanto que o Tratado de Assunção “não objetiva a mera

50 OLIVEIRA, Odete Maria de. União Européia: processos de integração e mutação. Op. cit., p. 35. 51 OLIVEIRA, Odete Maria de. União Européia: processos de integração e mutação. C^. cit., p. 33.

cooperação, mas a integração. É o que enuncia o art. 1°.: ‘Os Estados Partes decidem constituir um Mercado Comum’. O Mercosul deve ser uma organização internacional de integração e conseqüentemente uma entidade supranacional”^^.

São várias as fases de integração econômica regional (ou conforme o critério político-geográfíco, de integração econômica internacional) que podem ser assim dispostas; zona de livre comércio, união aduaneira, mercado comum, união econômica, união econômica e monetária. Em todas estas fases da integração econômica regional se fazem presente de forma determinante as questões de índole tributária, e, no seu interior, a tributação indireta e os princípios de origem e de destino.

Estas fases de integração econômica são modelos, poder-se-á dizer tipos ideais na acepção weberiana, portanto, não “existem” no mundo real, e neste sentido, as diversas integrações, v.g., o Mercosul, a União Européia, o Livre Comércio da América do Norte etc., podem conter notas de uma, duas ou mais fases de integração.