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1 O DIREITO TRIBUTÁRIO E O COMÉRCIO INTERNACIONAL EM

1.2 OS PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO LIMITANDO O USO DAS RESTRIÇÕES

1.2.5 Objetivos, custos e benefícios da integração econômica

Há uma reciprocidade constante entre os objetivos propostos por qualquer processo de integração econômica e o tipo ou o modelo de integração a ser adotado. Quanto mais complexo o modelo, forma ou fase de integração, mais complexos serão os objetivos a serem atingidos e vice-versa. A criação de uma zona de livre comércio tem em seu bojo finalidades distintas da criação de uma união aduaneira e esta de uma união econômica, por exemplo.

Os autores que tratam da matéria salientam, em regra, que o objetivo geral, ou primeiro, dos processos de integração econômica, é estabelecer a livre circulação de bens. Em decorrência desta “liberdade” comercial estabelecida, ocorreria uma melhora no nível de bem-estar dos Estados participantes da área integrada. A integração econômica, com a livre circulação de bens, proporcionaria também um incremento na competitividade das economias, ofertando aos cidadãos dos Estados-partes ou Estados-membros prosperidade e um maior conforto.

No estabelecimento do objetivo da livre circulação de bens na área integrada se fixam, além disto, outros objetivos comuns ao grupo o que facilitaria a coesão política dos Estados participantes^^.

69 Mais do que apenas a livre circulação de mercadorias na área integrada “o processo de integração representa a mudança na estratégia de desenvolvimento da economia nacional. A estratégia de substituição de importações, com a concomitante defesa do parque industrial nacional, está sendo substituída pela abertura de mercados num processo de globalização da economia mundial, caracterizado pelo aumento da competição intercapitalista e pela sobrevivência do mais eficiente.” LAGEMANN, Eugênio. Há necessidade de um imposto único sobre o consumo no âmbito do Mercosul? In: Seqüência - estudos

Assim os custos e os benefícios advindos da integração econômica, da criação de blocos econômicos regionais, podem ser avaliados a partir de três enfoques distintos: do ponto vista da eficácia global da economia; do ponto de vista da eqüidade ou distribuição de ganhos e perdas e do ponto de vista do impacto sobre o crescimento de longo pra2»™.

No que tange à eficácia global da economia, os ganhos podem ser: a) no tocante à localização dos fatores de produção, ou seja, o trabalho e o capital passam a dirigir-se para o lugar em que sua produtividade marginaF^ é maior, ocorrendo um ganho decorrente da melhor alocação de recursos; b) em relação à redução de preços ao consumidor pelo fato da eliminação de custos administrativos e barreiras alfandegárias; c) pela maximização das economias em escala; e, d) pelo aumento da concorrência, o que leva, em regra, a uma redução de preços. Os custos são conhecidos, como por exemplo, a desnacionalização de setores estratégicos - do sistema financeiro, das telecomunicações etc’^

Do ponto de vista da eqüidade em relação aos custos e benefícios que atingirão as diversas classes sociais, os diversos setores econômicos envolvidos, as diversas regiões etc., ou seja, da perspectiva de quem perde e de quem ganha com o

70 Com base em: MAIA, Cristina. Teoria da integração econômica. In: Curso de integração econômica e

direito internacional fiscal: programa de cooperação técnica. Op. cit., p. 49-52.

71 A produtividade marginal de imi fetor, por exemplo do trabalho, “define-se como a produção suplementar que provém do último trabalhador contratado. É então suficiente remunwar a um nível de salário igual a esta produtividade marginal (isto é, à produção suplementar). Se a empresa remmera acima desse valor, ela perde dinheiro. A análise microeconómica deduz desta constatação que o conjunto dos assalariados deve receber esta mesma remuneração”. CAPUL, Jean-Ives & GARNIER, Olivier. Dicionário

de economia e de ciências sociais. Op. cit., p. 366.

72 “De qualquer forma, segundo estimativas da Direcção Geral dos Assuntos Econômicos e Financeiros da UE, os ganhos de eficácia derivados da criação do mercado interno deverão rondar 4,5% do PIB comunitário, o que é significativo. Por outro lado, a redução do nível geral de preços resultantes da liberalização interna e do aumento da concorrência é estimada em 6%”. MAIA, Cristina. Teoria da integração econômica. In: Curso de irtíegração econômica e direito internacional fiscal: programa de

processo de integração são apontados os consumidores como seus maiores beneficiados. Por certo também alguém perde” e, para diminuir estas perdas, cogita-se um sistema de transferências para minimizar este “efeito”.

Em relação ao crescimento de longo prazo, os países participantes de vima integração poderão melhorar a sua especialidade no plano internacional, bem como terão maior poder de barganha internacional por fazerem parte de uma área econômica significativa’'*.

Em resumo pode-se, por primeiro, perceber que, por um lado, tem-se uma “clara preferência pela situação de comércio livre’”^ nas áreas em integração, devido à importância cada vez maior do comércio internacional nas economias nacionais, isto é, a quantidade das trocas internacionais e em que patamares elas são feitas determinam o bem-estar da população de um determinado país. Por outro lado, tem-se as restrições ao comércio para proteger em última instância esse mesmo “bem-estar”^*.

Portanto, há que se entender o fenômeno da integração econômica em uma relação ambivalente, ou seja, como um processo de redução das restrições impostas

73 Neste sentido perdem os produtores internos das mercadorias objeto dos benefícios alcançados aos consumidores.

74 As vantagens resultantes da integração econômica podem ser também assim expressas: “i) Aumentos de produção decorrentes da divisão internacional do trabalho e da especialização internacional, fiinção das vantagens comparadas; ii) Aumentos de produção fece ao aproveitamento das economias de escala; iii) Melhoria das razões de troca da área fece a países terceiros; iv) Mudanças forçadas na eficiência, geradas pela pressão concorrencial; v) Mudanças induzidas pela integração, decorrentes de avanços tecnológicos, afluxo de capitais e diferentes velocidades de circulação de factores”. MEDEIROS, Eduardo Raposo de.

Blocos regionais de integração econômica no muruio. Op. cit, p. 17.

75 MALA, Cristina. Teoria da integração econômica. Ia: Curso de integração econômica e direito

internacional fiscal: programa de cooperação técnica. Op. cit., p. 47.

76 “Em suma, a integração econômica é um instrumento para aumaitar o bem-estar econômico das economias participantes. Por isso o quadro básico de anáUse é o ‘ôptimo de Pareto’, com base no qual toda a observação é realizada. Cabe à Teoria da Integração Econômica Internacional a análise desse ‘instrumento’ e a determinação dos seus efeitos e virtualidades”. FERREIRA, Graça Enes. A teoria da

integração econômica internacional e o modelo de integração do espaço econômico europeu. Op. cit., p.

ao comércio internacional e também como um processo que fixa e toma clara quais são as restrições ao mesmo.

Neste sentido, uma segunda observação; cada vez mais os acordos internacionais, os processos de integração econômica em curso, limitam o uso das formas tradicionais de restrições ao comércio internacional, no caso, do direito aduaneiro. Devido a este fenômeno é que a coordenação e a harmonização tributária - passando necessariamente pela discussão dos princípios de tributação no Estado de origem ou no Estado de destino - fazem parte das primeiras medidas a serem adotadas nos processos de integração, ou seja, medidas para limitar ou diminuir as restrições ao comércio internacional - ou ao menos - ao comércio intrabloco em formação.

Além desta constatação - a limitação do uso das formas tradicionais de restrições ao comércio -, verifica-se uma queda acentuada da importância dos tributos sobre o comércio exterior na composição da arrecadação fiscal. Para tanto, observe-se,

v.g., o caso de Portugal quando de seu ingresso na EFTA, a partir de 1960, em que os

tributos alfandegários significavam na época 20,7 da estrutura percentual das receitas dos vários tipos de tributos e, em 1995, significavam apenas 2,0” .

Assim, levando em consideração os tributos alfandegários, quanto aos seus objetivos, protecionistas ou de arrecadação de receitas fiscais, percebe-se uma queda nestes seus dois aspectos e, mais, uma elevação dos tributos sobre o consumo na criação dos blocos ou mercados integrados.

77 Enquanto que a tributação geral sobre o consumo, em 1970, tinha o percentual de 8,4, em 1995, atingiu

0 percentual de 22,2. Para maiores detalhes consultar PORTO, Manuel Carlos Lopes. Teoria da integração e políticas comunitárias. Op. cit., p. 110 e ss.

Salienta-se que os benefícios e custos eidvindos da criação de uma zona de integração merecem ser cuidadosamente estudados, pois “a integração econômica nem sempre conduz aos resultados esperados na solução dos complexos problemas de desenvolvimento regional e sectorial e, não raras vezes, vem despoletar situações latentes de crise, em virtude dos desajustamentos estruturais da economia, que se projecta na incapacidade de dar resposta à intensificação da concorrência no espaço econômico integrado’”®.

Em acréscimo a esta preocupação é de se notar que “a afirmação de que o comércio mundial acirra a concorrência e acarreta a redução dos custos - o que representa, em última ^ l i s e , uma vantagem para todos, é evidentemente cínica. Omite- se que existem duas formas de se reduzir custos: alta economicidade (tecnologia e organização avançada etc.) ou então desrespeito aos padrões de trabalho e produção. Cresce também, neste caso, a rentabilidade, mas em função de uma recaída numa variante tardia de pirataria transnacional’”®

Cabe olhar com atenção que o conceito de integração econômica pode ser exposto a partir de uma visão liberal ou de uma perspectiva intervencionista. Os que defendem um conceito liberal para a integração sustentam que o “livre comércio mundial” estabelece um plano de concorrência que leva a uma melhor adequação das economias. Ao passo que, na perspectiva intervencionista, o Estado exerce uma ílmção

78 ALEXANDRE, Mário Alberto. Harmonização fiscal no processo de integração econômica. In: Ciência

e Técnica Fiscal n°. 365. Lisboa: Centro de Estudos Fiscais, 1991. p. 85.

79 BECK, Ulrich. O que é globalização? Equívocos do globalismo, respostas à globalização. Tradução de André Carone. São Paulo: Paz e Terra, 1999. p. 207.

predominante na economia administrando, fiscalizando, intervindo no jogo do “livre mercado”*®.

Diante destas afirmações cabe um resgate, mesmo que breve, das principais perspectivas teóricas em tomo do fenômeno da integração e como tem ocorrido a construção de alguns blocos econômicos de integração para, com mais propriedade, situar a discussão do princípio de tributação no Estado de origem e no Estado de destino.