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CAPÍTULO 3 – PERCEPÇÕES DA IMPRENSA JORNALÍSTICA PORTUGUESA ACERCA DA INTEGRAÇÃO LUSÓFONA:

3.1 A integração e a imprensa portuguesa

Ao todo, duzentos e quatro matérias foram publicadas sobre a CPLP pelos periódicos portugueses Diário de Notícias e O Público no espaço de tempo que diz respeito às quatro fases focadas nessa dissertação: catorze em 1989; setenta e uma em 1994; oitenta e cinco em

1996; e trinta e quatro em 1997. Vale mencionar, para efeitos de contextualização, que essas matérias não esgotam o debate travado na imprensa portuguesa acerca da lusofonia ou da defesa da língua portuguesa. Diversos outros artigos trataram mais amplamente destes temas, no entanto a falta de menção direta à CPLP os exclui desta análise, haja vista a delimitação do objeto. A grande quantidade de matérias que tangenciam ou tocam diretamente o escopo da CPLP ilustram, de forma clara, a importância dada à questão pela opinião pública de Portugal. Com relação ao ano de 1989, observa-se que pequena quantidade de matérias foi publicada acerca do tema, o que se acentua frente ao número expressivo destas nas demais fases abordadas. Apenas três artigos de opinião foram veiculados nesse período, o que pode ser analisado como decorrente da pouca importância dada ao evento, em razão da relutância da opinião pública lusitana em tomar para si o projeto do IILP. Infere-se, das primeiras notícias que tratam do tema, que a relutância portuguesa tem como causa o fato de o projeto ter sido impulsionado pelo Brasil, que assume a vanguarda dos esforços de integração e de defesa da língua, papel que caberia a Portugal e não ao Brasil.231

Outro ponto que merece relevo é a constância na publicação de matérias sobre a CPLP durante os períodos tratados, tendo em vista a ligação existente entre a distribuição de matérias ao longo dos meses e a informação e interesse do leitor acerca o que é lido. Vê-se, assim, que, com exceção de 1989, a publicação de matérias relativas à Comunidade se deu de forma contínua em todos os demais anos investigados. O gráfico abaixo ilustra essa afirmação:

      

Figura 4 – Distribuição mensal das matérias sobre CPLP veiculadas nos jornais portugueses ao longo dos quatro períodos analisados

Gráfico elaborado pela autora com base no número de matérias coletadas na pesquisa realizada em Portugal.

É possível perceber, assim, nítida constância na publicação de matérias que versam diretamente sobre o tema, o que leva à conclusão de que a questão da lusofonia está inserida na agenda pública portuguesa de forma continuada. Tanto a continuidade da publicação quanto a amplitude de temas tratados permitem uma crescente familiarização da opinião pública com o assunto, além de possibilitar conhecimento mais aprofundado a seu respeito, por meio do maior debate estabelecido. O ano de 1989 contraria esse padrão, haja vista a menor inclusão de questões relativas ao IILP na agenda pública, o que se constata frente à forma com que se deu a publicação dessas notícias, limitadas aos últimos três meses do ano.

Quanto a 1994 e 1996, observa-se um número significativo de publicações distribuídas de maneira relativamente homogênea ao longo do ano – com exceção da concentração de matérias nos meses em que o tema esteve mais visado. Ressalte-se, ainda, que, a despeito dessa concentração, não houve ausência de notícias nos demais meses, o que permite falar em constância. Ademais, o grande número de notícias veiculadas nestes dois anos demonstra o aumento significativo da importância dada ao tema e o aprofundamento do debate público estabelecido. Setenta e um artigos foram publicados no ano de 1994, e oitenta e cinco, no de 1996, dos quais, respectivamente, catorze e vinte e quatro são opinativos.

O gráfico, a seguir, realça as diferenças percentuais existentes entre os quatro períodos investigados, explicitando o baixo interesse direcionado ao IILP - que contou com apenas 7%

do espaço total garantido ao debate acerca da Comunidade – e a grande atenção que a CPLP passa a receber da imprensa a partir de 1994. Assim, o gráfico explicita que, em 1994, a imprensa portuguesa já havia abandonado a perspectiva de disputa que se refletiu no menor espaço dedicado ao tema no ano de 1989, demonstrando maior interesse pela integração.

Figura 5 - Matérias sobre CPLP veiculadas na imprensa portuguesa: porcentagem anual relativa ao total das notícias publicadas acerca do tema ao longo dos quatro períodos analisados

Gráfico elaborado pela autora com base no número de matérias coletadas na pesquisa realizada em Portugal.

No que tange às matérias opinativas, nas quais o debate público é mais explícito e substancioso, verifica-se constância com relação ao total publicado, sendo possível perceber tanto o menor debate relacionado a 1989 quanto o maior espaço dedicado à CPLP no ano de 1996. Ao todo, quarenta e sete matérias opinativas foram veiculadas: três em 1989; catorze em 1994; vinte e quatro em 1996; e seis em 1997. No gráfico, a seguir, identifica-se o grande interesse da opinião pública lusa acerca da criação da CPLP, visto que o ano de 1996 conta com quase 50% do total de artigos publicados em todos os quatro períodos alvos desta análise.

Figura 6 - Matérias opinativas sobre CPLP veiculadas na imprensa portuguesa: porcentagem anual relativa ao total das notícias opinativas publicadas acerca do tema ao longo dos quatro períodos analisados

Gráfico elaborado pela autora com base no número de matérias opinativas coletadas na pesquisa realizada Portugal.

Da análise dos três gráficos apresentados, depreende-se a grande atenção dedicada, pela imprensa, à dimensão lusófona da política externa portuguesa. Considerando o fato de que a temática da CPLP não esgota o debate acerca da lusofonia, é possível afirmar que a reflexão sobre as relações de Portugal com o mundo de expressão portuguesa faz parte do imaginário português - o que se explica em razão da quantidade de africanos que vivem em Portugal.

Outro aspecto que intensifica o interesse por África lusófona ou Brasil junto à imprensa portuguesa é a ligação feita entre esta dimensão das suas relações internacionais e o seu peso político dentro da Comunidade Européia. Conclui-se, assim, que a língua portuguesa e as relações de portugal com as suas ex-colônias são percebidas como sendo seu diferencial de poder. A análise do conteúdo específico das matérias trará luz a esta perspectiva.