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Os entrevistados apresentam níveis de integração na sociedade portuguesa bastante elevados tendo em conta as cinco dimensões chave propostas por Jiménez (2011): o domínio da língua; o local de residência; situação socioeconómica; situação política e vida social.

Analisando cada uma das dimensões mencionadas, verifica-se que o domínio da língua do país de acolhimento é essencial no processo de integração pois permite a interação com a população local, possibilitando o relacionamento social que muitas vezes se traduz na oportunidade de emprego ou no acesso à cultura e serviços básicos como a saúde, educação ou a justiça. No caso dos três entrevistados verifica-se que dominam razoavelmente bem a língua portuguesa permitindo, entre outras coisas, a Igor estar a criar a própria empresa aproveitando subsídios estatais, a Maria frequentar um

81 curso superior numa universidade portuguesa e a Natália poder usufruir da cultura erudita como frequentar concertos e ler poesia portuguesa.

(…) agora com mais conhecimento da língua estou mais interessada pela cultura não só popular porque essa assisti nestes dez anos, agora comecei a ler em português para mim isto é um grande alcance, nem todos os livros são fáceis sinceramente mas agora descobri os escritores que mais ou menos consigo compreender. Comecei a saborear poesia portuguesa que já consigo compreender, adoro música portuguesa gosto muito de assistir concertos aqui no teatro municipal de Faro e acho eu que quando nós imigrantes nos começamos a aproximar desta cultura fundamental não é só popular isso já é um ponto alto da nossa integração e através disto já começamos a sentir-nos, desculpe minha pátria, mas metade portugueses (risos). (Natália)

O tipo de habitação e o local onde residem são aspetos fundamentais para a integração social dos imigrantes tendo em conta o facto de que existe uma relação direta entre o lugar onde um indivíduo vive e a qualidade de vida que essa mesma pessoa apresenta perante a sociedade. Todos residem no centro da cidade, inseridos no meio de bairros portugueses de classe média, sendo que Maria e Igor possuem casa própria que compraram com recurso a crédito bancário e Natália vive num apartamento alugado.

A integração política na sua dimensão formal consiste na obtenção do estatuto legal, considerado um aspeto importante na medida em que vai determinar outras dimensões da integração e no acesso à cidadania. Como já referido, os três possuem vistos de residência permanentes e gozam dos mesmos direitos sociais e civis que os cidadãos portugueses e pelo tempo que já residem em Portugal podem também requerer a nacionalidade portuguesa.

Em relação ao convívio social com portugueses verifica-se, no caso de Igor e Natália, que ele é feito essencialmente através dos eventos proporcionados pela associação ao contrário de Maria que revela ter um relacionamento mais próximo pois refere ter amigos portugueses que frequentam a sua casa.

No entanto todos eles se sentem parcialmente integrados devido à sua situação profissional pois verifica-se que a situação legal e o domínio da língua portuguesa não geraram descontinuidade nos padrões de ocupação profissional.

82 A dificuldade em obter o reconhecimento das suas habilitações académicas e o fato de não poder ter um emprego compatível com elas é referido por Igor como um entrave à sua completa integração:

Não posso dizer que me sinto completamente integrado porque se por exemplo eu tinha feito a equivalência do meu diploma e conseguia um trabalho para que estudei e onde investi alguns anos da minha vida. Agora não estou a dizer que foram desperdiçados aqueles anos ainda acredito que vou ……não vou ser um fiscal, mas estudamos muita coisa e espero aproveitar isso ou abrir um próprio negócio ou uma coisa parecida. (Igor)

Natália e Maria mantêm a mesma ocupação profissional principal de empregadas domésticas:

Neste momento tenho ocupação profissional e geral muito forte, posso dizer assim. Durante a semana eu trabalho em 4 casas como empregada doméstica. Trabalho um dia ou dois em cada família. Depois no fim de semana eu trabalho como professora de língua e literatura ucraniana na escola ucraniana que se chama CECLU- Centro Educativo Luso-Ucraniano Escola Tarás Schevchenko onde também sou subdiretora. Essa escola funciona no domingo. Outro trabalho que tenho quase 2 anos é como tradutora- intérprete com o Alto Comissariado para a Integração e Diálogo Intercultural (ACIDI), significa que eu tenho estar disponível ao telemóvel das 9 da manhã até às 6 da tarde. A qualquer hora podem ligar-me e eu tenho que dar tradução- interpretação logo, porque muitas coisas acontecem no hospital, na polícia, na segurança social, no SEF e noutros sítios. Nas Finanças estou registada com estas duas atividades, como professora da escola ucraniana e como tradutora-intérprete. (Maria)

(…) aqui em Portugal há mais ou menos dois anos que faço a mesma coisa, trabalho em limpezas e durante sete anos cuidei de pessoas idosas. Pronto, não gosto de fazer limpezas, gosto de cuidar de pessoas idosas mas no fim de dois anos claro que aborrece fazer este trabalho por isso como eu costumo dizer, a minha vida principal passa por aos domingos aquilo que é mais importante para mim é nossa escola ucraniana que já funciona à nove anos na Escola Neves Júnior aqui em Faro, no próximo ano letivo vamos fazer dez anos de escola, sou diretora da escola ucraniana e à sete anos fazia parte da direção da Associação dos Ucranianos no Algarve, fazia papel de vice presidente, presidente e agora sou presidente de mesa de assembleia e no

83 mesmo tempo já à nove anos como diretora da escola ucraniana. É meu cargo eleito por isso acho que é um orgulho, já há nove anos que confiam em mim e já há nove anos que sou eleita como diretora da escola. (Natália)

Nestes relatos de Natália e Maria vale a pena evidenciar o fato de que a pertença à associação lhes permite ter atividades profissionais de acordo com as suas habilitações académicas mas exercidas só a tempo parcial o que não permite que elas se sintam realizadas profissionalmente como refere Natália.

(…) eu não estou bem realizada aqui, eu quero fazer aquilo de que eu gosto e que eu tenho jeito 40 horas por semana eu não quero fazer aquilo só 6 horas por semana. (Natália)

Referem que não sentem, atualmente, nenhum tipo de discriminação por parte da sociedade, e têm uma perceção positiva em relação às instituições portuguesas com que de algum modo têm que interagir, seja através da associação ou pessoalmente, sentindo- se tratados em igualdade de circunstâncias com os cidadãos portugueses.

(…) aqui nunca tive nada contra a comunidade, contra… sempre fui bem aceite e nunca me senti humilhada no geral, por instituições nenhumas nem na Segurança (Social) nem nas Finanças, sinto que falam comigo de forma igual como se fosse portuguesa, como cidadãos próprios por isso acho que isso é muito importante para qualquer país e agora como estamos nesta situação de crise que cada vez o mundo é mais internacional que acho que já são poucos os países que podem contar só com os cidadãos próprios por isso…..(Natália)

A confiança nas instituições, e a atitude mais ou menos positiva que delas se tem, poderá, de acordo com Vilaça (2008), ser um indicador de proximidade e de integração sistémica na sociedade portuguesa. Para isso terá contribuído, como nos diz Natália a atuação do governo através de políticas de integração:

(…) também gostei muito daquela ideia, a ideia é mais portuguesa porque não oiço muito nos outros países que através do meu cargo comunico muito com ucranianos dos outros países da União Europeia, aqui houve uma altura em que deram muita atenção à integração dos imigrantes na comunidade portuguesa e isso é muito

84 importante, cursos de português oferecidos e também festas multiculturais para conseguirmos conhecer uns dos outros, (Natália)

Constata-se que a pertença à associação, através das redes e das interações que promove, é uma importante fonte de capital social contribuindo para a integração social dos entrevistados e, no plano institucional, para a integração sistémica.