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O povoamento em sítios elevados, dispondo de condições naturais de defesa, parece não ser a única forma de habitat existente no Baixo Ave, nos finais da Idade do Bronze. Os dados disponíveis e os paralelos encontrados noutras regiões do Norte de Portugal sugerem a sua contemporaneidade com povoados tipologicamente distintos, que se vêm designando como "povoados com fossas". Trata-se de uma outra forma de habitat, caracterizada pela ocupação de sítios abertos, sem condições naturais de defesa, e que possuem fossas abertas no saibro que têm sido interpretadas como estruturas de armazenamento (JORGE S. 1988b, 91), reflectindo uma maior especialização económica destes povoados. Tudo indica que um povoado deste tipo tenha existido na Colina de Maximinos, em Braga (MARTINS 1990, 81, 200), assim como é provável que povoados semelhantes tenham existido em Beiriz, na Póvoa de Varzim (SILVA et alii 1993, 261, 286, Fig. 2, n° 14) e na Quinta dos Cavaleiros, Bagunte, em Vila do Conde (ALMEIDA C.A.B. 1992,44).

A análise dos nove povoados fortificados, cuja ocupação na Fase I e localização exacta nos foi possível precisar, mostrou a preferência pelo assentamento no topo ou na periferia de elevações de média altitude, distribuídas, maioritariamente, pelo intervalo altimétrico balizado entre os 200 e os 400 metros, com um número considerável de estações assentes, aliás, em relevos com altitudes entre os 250 e os 300 metros.

r \ 1. Terroso 5. Vasconcelos 12. Penices 13. Facho 20. Lages 27. Falperra 30. Monte da Forca 38. Alvarelhos 39. Monte Padrão

Apenas existe um caso, Santa Marta da Falperra, com implantação a uma cota superior aos 500 metros e, no campo oposto, só dois se situam abaixo dos 200 metros - Terroso e Penices, sendo a localização deste último extrema, pois ocupa um sítio com uma cota a rondar os 100 m.

A distribuição destes povoados preferencialmente pelas altitudes médias da região, resultará, certamente, de uma opção clara das comunidades, conforme parece evidenciar a relação entre a área correspondente ao espaço altimétrico considerado e o número de povoados que aí se situam. Efectivamente, enquanto mais de 50% dos povoados escolheram para assentamento os relevos compreendidos entre os 200 e os 400 metros, espaço altimétrico que representa pouco mais de 15% do território, apenas 22,2% (2 povoados) optaram pelo espaço altimétrico entre os 0 e os 200 metros que representam 79,4% do total do território considerado. Esta situação extrema-se ainda mais se juntarmos, igualmente, os povoados cuja ocupação durante o Bronze Final não ficou completamente esclarecida. Neste caso a percentagem de povoados situados no intervalo altimétrico 200-400 metros passaria de 55,6% para 66,7% e no intervalo 0-200 metros de 22,2% para 16,7%.

intervalos

altimétricos superfície

m

povoados (total) povoados

0-50 m 16.7 0

51-100 m 24.6 1 83

101-200 m 38.1 1 83

201-400 m 16.5 8 66.7

>400m 4.1 2 16.7

Quadro 5 - Povoados da Fase I1: Distribuição ai time trie a

Os dados parecem, assim, apontar para uma exclusão relativamente à ocupação do vale, bem como de alguns dos relevos mais acentuados da região. Nestes o clima é mais rigoroso nos meses frios, os campos de cultivo férteis mais escassos e as comunicações mais difíceis.

A opção pelos relevos intermédios poderá resultar da manifesta facilidade de acesso a um largo espectro de recursos económicos que o vale e as as zonas de planalto permitiriam.

- Consideram-se, neste quadro, os povoados do Monte da Saia, Bagunte e Sabroso, cuja ocupação, nesta Fase, não foi possível provar.

De realçar, no entanto, que alguns dos cumes dos interflúvios foram ocupados, como Santa Marta da Falperra (563 m) na linha divisória das sub-bacias do Ave e do Este e Monte Padrão (413 m) na da bacia do Ave com a do Leça. Esta ocupação permite à Falperra, como se pode observar no mapa da Est. LVIII, visualizar um total de três povoados, distinguindo- se, notoriamente, do padrão regular detectado que corresponde à visualização, apenas, do vizinho mais próximo. No extremo ocidental do território Bagunte detém situação semelhante, estabelecendo contacto com três povoados -Terroso, Penices e Saia, só que não foi provada a contemporaneidade com Bagunte e, dos dois, com Penices. Não existe, ainda, visibilidade total entre todos os povoados, já que de Alvarelhos não se vê, aparentemente2,

nenhum outro povoado da Bacia do Ave, assim como não há visibilidade entre os conjuntos da parte Noroeste com os da parte Ocidental.

A Fase II é caracterizada por um único tipo de habitat - povoados em altura, em sítios com boas defesas naturais, agora com vestígios claros de sistemas defensivos artificiais. Relativamente à Fase precedente verifica-se uma ruptura expressa na ausência dos habitats abertos -os denominados "povoados com fossas". Também assinalamos o abandono de pelo menos dois povoados assentes em altura, em sítios com boas condições naturais de defesa, ocupados anteriormente - Lages e Vasconcelos, no concelho de Braga.

A manifesta dificuldade encontrada na identificação da totalidade dos povoados com ocupação na Fase II, já atrás referenciada, não permite que se façam grandes considerações relativamente à estratégia do assentamento. Os dados disponíveis, que admitimos serem representativos de apenas uma parte do conjunto total, sugerem a continuação da mesma preferência pelo assentamento no topo ou na periferia de elevações de média altitude, distribuídas pelo intervalo altimétrico balizado entre os 200 e os 400 metros e a mesma falta de apetência pela ocupação das zonas de baixa altitude.

Para a Fase III dispomos da informação respeitante a 34 povoados que se distribuem entre os 570 metros - o sítio mais alto - ocupado pelo Castro de Pau de Bandeira e os 14 metros - o sítio mais baixo - ocupado pelo Castro de S. Paio, de Labruge.

z - Aparentemente, porque a vegetação e a inexistência de pontos de referência nalguns dos povoados torna

difícil a sua observação. No entanto, para ultrapassarmos este impedimento, traçamos na cartografia 1:25.000 perfis topográficos inter-povoados, como auxiliar de análise. No caso de Alvarelhos não ficou,

A observação do Gráfico n° 4 sugere, claramente, que o assentamento se revela bastante distinto, relativamente às fases anteriores. Torna­se perceptível uma modificação na estratégia de ocupação espacial, bem expressa no assentamento em áreas de baixa altitude, particularmente na fachada litoral.

Embora a maioria dos povoados continue a ocupar o topo ou a periferia de elevações de média altitude, distribuídas pelo intervalo altimétrico balizado entre os 200 e os 400 metros ­até porque admitimos não ter havido interrupção na ocupação dos povoados da Fase anterior­ encontrámos agora um número crescente de estações assentes em relevos com altitudes superiores a 400 metros, atingindo 3 deles quase os 600 metros. Da mesma forma, o intervalo altimétrico abaixo dos 200 metros recebe um conjunto quantitativamente importante, no total de 11 povoados, representando 32,4% do todo.

(metros) 600­ 400 200 y - , —^ ^ A A A

~i—■—i i i—i i i |—i-i—i—i—i—i—i i i |—i i i i i i—i i i |—i—i—i—i—i i i i—r—]—

povoados (n°) 10 20 30 40

V

Gráfico 4 - Povoados da Fase III: Distribuição altimétrica

Esta nova realidade ganha maior expressão se individualizarmos os relevos inferiores a 100 metros, representativos de 40% da superfície total do Baixo Ave, e que suportam mais de 20% dos povoados da Fase III. Este valor, no futuro, poderá vir a revelar­se, ainda superior, já que admitimos que a intensificação de trabalhos de prospecção sistemática possam fornecer mais exemplares, sem contar com os já desaparecidos, cujo melhor exemplo é o do Castro de S. João de Vila do Conde que se situava no morro do Mosteiro de Santa Clara e que, provavelmente, estaria ocupado nesta Fase.

intervalos

altimétricos superficie (%) povoados (total) povoados

m

0-50 m 16.7 3 8.8

51-100 m 24.6 4 11.8

101-200 m 38.1 4 11.8

201^00 m 16.5 16 47.0

>400m 4.1 7 20.6

Quadro 6 - Povoados da Fase III: Distribuição altimétrica

A análise da intervisibilidade entre povoados, ocupados nesta Fase, apresentada graficamente no mapa da Est. LIX, permite-nos demarcar alguns aspectos particulares:

- Em primeiro lugar, é notório o controle sobre o vale do curso médio do rio Ave, assim como do vale do curso inferior do rio Este.

- Não existe uma visibilidade total entre os castros do Baixo Ave, com ocupação nesta Fase, pois do Castro da Retorta não é possível avistar nenhum.

- Distingue-se, claramente, um conjunto de povoados, dispondo duma visibilidade superior em relação aos restantes, mantendo contacto visual com cinco, seis ou mais castros, e que, genericamente, corresponde às estações que assumiram maior protagonismo nesta Fase, traduzido no crescimento interno do povoado e na complexificação dos seus sistemas defensivos.

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